Voltar àquela ilha com a Lore mexeu comigo de um jeito muito doce. Foi ali que, há um ano, ela me pediu em namoro, um momento que guardo com muito carinho no meu coração.
Ela não é o tipo de pessoa naturalmente romântica e estávamos no início de uma vida, nos conhecendo. Então, Lore sempre diz que, se pudesse, mudaria a maneira como me pediu, porque foi basicamente eu querendo muito a garantia de que não íamos ficar com outras pessoas. Apesar de não ter o mínimo interesse em terceiros, eu já a queria inteiramente para mim, e ela, indo contra o jargão que andava repetindo por onde pisava: " Não quero relacionamento sério." E foi sem pressão, até porque, naquele tempo, eu nem sabia nada sobre isso. Foi o nosso amor falando mais alto, e por isso eu valorizo tanto o jeito como aconteceu. Eu não mudaria NADAAAAA. Foi perfeito do jeitinho que foi.
E, de repente, um ano juntas ❤️
Fato curioso: nós contamos o início do nosso relacionamento de formas diferentes. Eu considero a data do pedido de namoro, enquanto a Lore prefere marcar a primeira vez que foi ao meu apartamento. Como são dias bem próximos e geralmente comemoramos no fim de semana mais conveniente, no fim das contas, isso nunca foi um problema. Essa é a nossa data mais especial. Claro, nunca esquecemos das outras, todas têm um lugar guardado com carinho, mas o início oficial da nossa história ficou gravado de um jeito especial, talvez por todo o contexto complicado em que nos encontramos naquela época.
Voltar à Ilha de Itaparica, com ela ao meu lado e com o título de noivas, me trazia uma sensação difícil de explicar. Nós sabíamos que não precisávamos de planos grandiosos, só de tempo juntas, no nosso ritmo e isso já bastava para ser especial. O brilho no olhar de Lore, o jeito como sorria para mim... só reforçava o quanto aquele fim de semana era mais do que uma fuga da rotina, era um reencontro com tudo o que somos uma para a outra. A comemoração do que seria um dos tantos melhores anos da minha vida, que eu teria dali para frente.
A viagem levou mais tempo do que imaginávamos. Não acho que isso tenha só a ver com o trânsito. Tenho certeza de que a ansiedade que eu estava sentindo contribuiu bastante para essa sensação. Apesar de me sentir muito extasiada e feliz, ao observar o tempo passar e o céu anoitecer, comecei a ficar insegura. Havia recém-passado por um trauma nas ruas e ainda estava evitando sair à noite. Eu sentia muito medo de tudo. Qualquer homem desconhecido automaticamente me parecia um perigo, uma ameaça. Era uma noite especial, um dia especial, e eu não queria estragar nada. Geralmente nós costumamos sair, e eu não me sentia confortável para isso. Tinha plena certeza de que Lore não me forçaria a nada e até me entenderia muito bem, como já estava fazendo, mas... e se ela tivesse planos? Eu ia atrapalhar a concretização?
Não disse nada, apenas repousei minha cabeça sobre seu braço, e ela me deu um rápido beijo, voltando sua atenção para a pista. Chegamos ao hotel só à noite, como eu já imaginava, e fomos direto para o banho. Eu pulei em seu colo e nos beijamos a caminho do chuveiro.
Lore é a pessoa com as mãos mais ágeis que eu conheço. Tudo bem que, nesse contexto, eu não fui nada inocente, sabia exatamente o que queria quando me joguei nos braços dela, sem roupa, mas eu me surpreendo com a capacidade dela de transformar rapidamente o clima de um ambiente somente com seus gestos. Ela regularmente escapa do óbvio, parece estar sempre um passo à frente das situações. Lore é sensual e provocante por si só, de uma maneira completamente e milimetricamente natural e ela sabe disso... O que é um perigo, porque ela sabe exatamente o efeito que causa e age carregada de intenções. Ela sabe me desarmar, sabe que me desmonta, e sabe que eu sou completamente caidinha e apaixonada também por esse jeito dela.
Costumo dizer que Lorena não impõe presença, ela preenche! Ela só precisa estar lá. Às vezes, um olhar insinuante; outras, um toque mais ousado, um beijo mais quente e, quando percebo, já estou respirando mais ofegante, sentindo o tempo passar de outro jeito, mais devagar, somente para eu senti-la mais. Como se o mundo tivesse diminuído o volume dos seus ruídos só para escutar o que ela tem a me dizer, às vezes sem nem usar palavras. A segurança que Lore me passa para eu ser quem eu sou e expressar minha excitação e satisfação é muito acolhedora. Eu posso me revelar sem medo de julgamento, até porque ela é muito pior que eu, rs. Eu sou naturalmente introvertida e, infelizmente, desenvolvi a timidez dentro de mim, mas Lore me ensinou com perfeição que o prazer não precisa e nem deve ser velado. Com ela, sinto-me livre para explorar os meus desejos, sabendo que todos eles serão aceitos e apoiados (às vezes nos rende algumas risadas, como vocês bem sabem...). Mas cada gesto, cada palavra, cada olhar, cada toque me transmite uma confiança que me permite me entregar ao momento, sem receios. Essa liberdade de ser e sentir é algo que valorizo muito e somente ela tem isso de mim. Lore transforma tudo em algo genuíno, seguro e prazeroso, e isso me possibilita a minha própria exploração e expressão, sem inibição, e com toda a confiança possível de que eu posso agir como quiser.
Naquela noite, em meio aos beijos, a minha insegurança me fez questionar se Lore desejava sair. Ela me respondeu com outra pergunta: — Eu estou com cara de quem quer sair?
E não, ela não estava. Ela tinha a expressão mais safada do mundo inteirinho e já me tocava de maneira íntima, de um jeito que esvaiu toda a razão que existia dentro de mim. Nós nos unimos de uma maneira diferente de todas as outras. Foi tudo muito intenso. Não conseguimos permanecer no chuveiro e fomos para a cama. Lá, nos amamos loucamente até não aguentarmos mais.
Quando consegui me recompor, fui para o banho e, ao dar uma olhadinha para trás antes de entrar no banheiro, dei um largo sorriso ao ver a cama molhada com o rastro do amor que fizemos e Lore ainda totalmente extasiada e ela sorriu de volta para mim.
Enquanto a água caía sobre a minha pele, eu estava toda bestinha, passando as mãos pelo meu corpo e me recordando do que tinha acabado de acontecer. Logo, meus pensamentos foram longe, em como eu mudei em um ano, o tanto de coisas que vivi, e como eu já me sentia verdadeiramente especial por ter alguém tão foda ao meu lado. Eu estava passando por um período bem chato, e ela se mostrou tão paciente, tão prestativa e tão atenta.
Gastei toda a sorte da minha vida quando nossos mundos colidiram — e eu não me arrependo nem um segundo sequer.
Saí do banho e nos encontramos na porta. Ela estava indo fazer o mesmo que eu, então demos vários selinhos e seguimos.
Me vesti. Estava fazendo um pouquinho de frio e joguei o roupão por cima. Fui para a varanda. A noite estava linda!
A lua brilhando muito — só não mais do que o meu coração naquele momento. Eu estava muito feliz, e há dias eu não me sentia tão plena como naquele dia. Senti os braços de Lore na minha cintura e beijos no meu pescoço. Mostrei como a lua e o mar estavam lindos. Nós ficamos ali, entregues a carinhos, e começou a me surgir aquela dúvida novamente.
— Você fez planos pra gente sair? Eu estou estragando?
— Meus planos são ficar com você, onde você estiver, e para o resto da vida — ela me respondeu.
Eu a agarrei como se não fosse soltar nunca mais e expressei minha gratidão por tudo que Lore vinha fazendo. Eu realmente sou muito sortuda!
A noite estava muito linda mesmo e, ali, mais um tempinho observando, eu tomei uma decisão.
— Vamos apreciar de lá? — sugeri, apontando para a rua.
— Tem certeza que quer isso? — Lore se certificou, e eu confirmei. Então, nós fomos.
O vento suave tocando nossos rostos e nossos corpos entrelaçados enquanto caminhávamos até a orla. Dávamos passos tranquilos e, novamente, eu sentia o mundo em pausa só para nós duas. Quando sentamos, ela ficou atrás de mim, me acolhendo entre suas pernas. Inclinei a cabeça nela e fechei os olhos por um instante. A sensação era de paz. No peito de Lore, eu me sinto em casa.
O céu parecia mais estrelado agora, e a lua imensa lançava seu brilho sobre as ondas que quebravam nas pedras com força, levantando respingos d’água ao longe. Enquanto ela tomava um vinho, eu só queria permanecer ali, sentindo seus dedos deslizando pelos meus braços e sua mão acariciando a minha. Sentia o meu coração bater com calma, diferente do medo que eu estava sentindo à noite. Ali, com ela, só havia espaço para o agora e o presente tinha cheiro de mar e gosto de amor.
Ela me apertava mais forte de vez em quando, como se quisesse me lembrar que estava tudo bem, que era seguro. E era. Era seguro demais. O celular vibrou em minhas mãos. Meia-noite. Sorri, lembrando do que aquele horário significava para nós. Um ano. Um ano desde o nosso primeiro “eu te amo”, um ano de nós duas juntas. Meu peito se encheu de um sentimento impossível de conter e, impulsiva, gritei o mais alto que pude, fazendo o nome dela ecoar junto com as palavras mais sinceras que conheço:
— LORENA, EU TE AMOOOOOOOOOOOOOOOO!
E comecei a rir, descontroladamente e tomada pelo sentimento.
— JÚLIA, EU TAMBÉM TE AMOOOOOOOOOOOO! — Lore respondeu, rindo junto comigo.
— A GENTE VAI SE CASAR, MEU AMOOOOR! — gritei mais uma vez, e continuava rindo.
— E AUMENTAR A NOSSA FAMÍLIA! — ela disse, e foi como multiplicar o que eu sentia. Eu já nem achava possível que isso acontecesse, e segurei o queixo dela para dar um beijo.
Rimos muito, alto, com verdade. Como só quem está completamente entregue consegue rir. E, entre beijos e promessas feitas com a alegria de quem acredita, falamos sobre o futuro como quem fala do próximo dia. Era tudo tão, tão certo. Sempre foi. Ela me olhava como se eu fosse feita de tudo que é bom, e mesmo que às vezes eu duvidasse disso, quando estava com ela, parecia verdade.
Fomos lembrando do início, de quando nós soubemos que era amor, de como tudo começou a mudar quando ela apareceu. As certezas antigas foram ficando pequenas diante da forma como ela me via e me tratava. Com respeito. Com cuidado. Com amor. Tudo que sempre insinuaram que eu não merecia, ou que era errado, ela me deu sem questionar. O meu jeito, que sempre foi problemático ou dito como chato, para Lore era perfeito. E, sem perceber, ela se tornou o meu lugar seguro. O mundo que eu achava que era meu virou do avesso. E ela e Mih passaram a ser o meu novo centro, a minha família.
Enquanto conversávamos, o céu mudava de cor lentamente. De repente, o azul da noite começou a dar lugar aos primeiros traços dourados do dia. O sol nascia, testemunhando o nosso amor. E ali, deitada entre os braços dela, eu tive a certeza, mais uma vez, de que, por mais que existissem dias difíceis, eu nunca deixaria de ter a resolução dentro daquele abraço.
Voltamos para o hotel pela areia, molhando os pés na água do mar. Descansamos um pouco e, mais tarde, fomos aproveitar a praia de outra maneira. Foi divertido. Alguns jovens apareceram e brincamos com eles. Depois, fiquei agarradinha com meu amor em uma espreguiçadeira. Não sei por quê, mas ela acha muito legal ir à praia e ficar somente na areia... Como ela cede para mim, eu também a acompanho de vez em quando, mas até hoje, ainda implico dizendo que é o jeito errado de curtir. E Lore zoa ao contrário, que a minha maneira é justificável até os cinco anos de vida.
Lógico que é apenas uma brincadeira. Com tantos anos, a gente aprendeu a conciliar as vontades — e sempre dá certo.
Recado para o amor da minha vida: Lore, eu te amo! Obrigada por ser o meu lar e cuidar de mim desde o nosso início!!!! 😘❤️