Paixão e Sangue - Parte 4 - Rinha de "Galas"

Um conto erótico de Nanda e Mark
Categoria: Heterossexual
Contém 4273 palavras
Data: 26/04/2025 14:16:19

Ricardo nesse meio tempo, permanecia encostado na viatura, vigiado pelo Peçanha, este de poucas palavras, mas nem seriam necessárias muitas, afinal, sua cara fechada já dizia muito e mesmo que não fosse assim, nada que saísse daquela boca pareceria ser favorável à situação de Ricardo, e ele estava certo...

[...]

[CONTINUANDO]

- Quem que tá chegando preso!? - Perguntou Jonas Jackson ao seu produtor Andradinho, quase dando pulos de alegria, enquanto, no palco de seu programa, um cantor qualquer entoava uma sofrência da pior qualidade para um palco com poucas pessoas que pareciam mais interessadas em dar uma próxima curtida no Instagram de alguém do que naquele show patético.

- Ricardo Santino. Parece que ele espancou a esposa e foi preso em flagrante.

- CA-RA-LHO! Eu já estava mesmo preparando numa matéria bombástica sobre o filme que a esposa dele “estrelou”, só eu pensei que ele fosse um desses cornos mansos que a gente não vê por aí, mas sabe que existe. - Falou Jonas para seu produtor, fazendo aspas com os dedos, dando a entender um duplo sentido: - Mas ser preso!? Tá na cara que ele foi chifrado e se vingou na esposa. Caralho, cara, foi muito melhor. Prepara tudo! Vamos entrar “ao vivo”. Cê conseguiu aquela participação lá do… do…

- Maurício Pinheiro?

- Isso! Esse... Conseguiu?

- Consegui, chefe.

- Beleza! E ela já foi editada?

- Já sim! Estava só esperando você preparar o restante da matéria e para incluí-la.

- Joia! Vamos improvisar. Vou fazer tudo “ao vivo”. Acerta tudo lá com o Silvano, mas já vou fazer uma chamada agora. Deixa só o Leopardo terminar de miar no meu palco.

[...]

Em frente à delegacia, Silvano recebia as orientações pelo celular e já se preparava para entrar “ao vivo”. Sargento Pena, preocupado com a sua participação, tinha ido lavar o rosto e pentear os cabelos:

- A gente vai entrar na delegacia ou não? - Perguntou Ricardo ao Peçanha, alheio a tudo o que acontecia.

- A cela não vai sair do lugar, mermão. Fica frio aí, senão vou precisar passar a minha borracha em tu! - Foi a resposta pouco convencional.

Silvano explicou ao Sargento Pena como fariam, fingindo que ele seria abordado como se estivesse chegando naquele momento, para causar um clímax ainda maior. Ensaiaram a situação algumas vezes e até mesmo algumas falas. O policial se mostrou um exímio burro para interpretações, aliás, para ser um burro faltava-lhe apenas os chifres e zurrar. Ele não conseguia desenvolver duas frases sem gaguejar e chamar o Peçanha para confirmar. Silvano já cogitando trocá-lo pelo Peçanha, afinal, apesar de falar pouco, ele, pelo menos, parecia falar bem. Silvano já estava ficando desesperado quando recebeu o link para entrar no programa “Hora da Verdade”. Todos se posicionaram…

[...]

No palco, Jonas Jackson tentava despachar Leopardo, o autodeclarado “Tigre do Serrado”, como se “leopardo” fosse um “tigre” e pior, como se existisse tigre no serrado brasileiro, mas o tal cantor insistia em mandar as suas cantadas de alto nível da 5ª série do ensino fundamental, sacramentando sua vergonha ao finalizar sua participação com uma encarada para a câmera 3 e dizendo:

- Pensa em mim! Liga pra mim! Vem “ni’mim” que eu tô faciiiiiinho, morena!

Jonas, envergonhado da vergonha alheia, tratou de finalizar ainda mais rápido aquele brilhante apresentação:

- E essa foi a participação, mais que excepcional do grande cantor, Leoparrrrrrrdo! - Frisou, com um caquético que ele achava ser o máximo reproduzir em seu programa e ainda finalizou copiando a forma de falar de um já consagrado apresentador dominical: - Vai pra lá, Leopardo, vai pra lá… Má. Oi! Mas meus queridos e minhas queridas colegas de trabalho, hoje tem notícia quente. Quente, quente, quente…

Um som monocórdico soou tentando criar um clima de suspense e logo Jonas Jackson encarou a câmera 2, chamando-a num zoom:

- Fecha em mim, Madureira! Vem mais, mais, mais, maaaaaais. Aí! Foca em mim! - Ele fez uma cara de falsa preocupação, balançando negativamente a cabeça e após um longo e audível suspiro: - Vergonha!

Novo som monocórdico soou. Após segundos em que aguardou sabe-se lá o quê, Jonas continuou:

- Vergonha nacional! Vergonha pra mim, vergonha pra você, vergonha pra seu vizinho, pro seu amigo… Vergonha para a família brasileira…

Várias tomadas de câmeras começaram a se alternar para captar as “emoções” do apresentador, até que a câmera 2 focou novamente nele e ele continuou:

- DENÚNCIA! Acabamos de ser informados que o célebre roteirista Ricardo Santino foi preso, EM FLAGRANTE… - Encarou a câmera com dentes cerrados: - Preso! O vagabundo do meliante safado foi preso por ter espancado covardemente a doce Bruna Brunetti, sua esposa.

Jonas parou, apertando os olhos com a mão trêmula, suspirando pesadamente e depois voltou a encarar a câmera, fingindo um ódio inexistente, quase pastelão:

- Vagabundo… Espancador de mulheres indefesas… Ralé como você, senhor Ricardo Santino, deveria ser algemado numa parede e levar surra de vara de marmelo até o couro derreter! - Jonas fechou os olhos e suspirou profundamente, resmungando algo, fingindo estar entoando um mantra qualquer: - Já temos um link ao vivo, Andradinho?

Uma voz soturna, rouca, quase maquiavélica, soou:

- Já sim, chefe. Silvano Silva aguarda o seu contato.

- PÕE NA TELA! - Gritou Jonas, histérico, apontando para um telão atrás de si.

Nesse telão, a imagem se um Silvano, fingindo uma seriedade inexistente, estava a postos:

- Silvano, está me ouvindo? - Perguntou Jonas.

- Tô sim, Jonas.

- Que história é essa que nos surpreendeu a todos, meu querido? Ricardo Santino preso por agressão!? É isso mesmo?

- Isso mesmo, chefe.

- Conta melhor essa história para a gente, por favor.

- Pois é, Jonas, Ricardo Santino, o célebre jornalista e roteirista, acabou de chegar aqui na DP da Barra Funda e parece que a coisa foi séria. Estou aqui com o policial Sargento Pena que tem mais informações para a gente.

O câmera ampliou a imagem para enquadrar também o policial e Silvano continuou:

- Sargento, bom dia.

- Hummm… Aham! Bo-Bo-Bom… di-dia.

- Sargento, explica para a gente como tudo aconteceu. Como foi a abordagem? Foi denúncia, flagrante na rua, como que a prisão se deu?

- En-tã-tão, é que… a gente “fomos” acionados pela central do “190”, né não, Peçanha?

- Positivo e operante! - Retrucou uma voz não enquadrada na imagem.

- Então… Então, comparecemos até o local, eu e o meu colega, o Peçanha, né isso, Peçanha?

- Positivo e operante, Sargento!

Nisso surgiu o Peçanha trazendo a reboque o pobre Ricardo, assombrado em ver a sua vida agora sendo devassada pela imprensa sensacionalista:

- Não foi isso, Peçanha? - Perguntou o Sargento Pena novamente.

Peçanha o encarou surpreso, afinal, ele já havia confirmado essa informação e mesmo sem saber o que dizer, reafirmou o óbvio:

- Po-Positivo, sargento…

- Certo. Então, vocês receberam uma denúncia, foram acionados e compareceram… Ok, isso nós entendemos, mas onde?

- No local dos fatos… - Respondeu o Sargento Pena.

- Certo. E onde foram os fatos?

- Onde o crime aconteceu. - Insistiu o Sargento Pena.

- Certo, isso a gente já entendeu. Mas onde foi isso, na rua, em alguma casa, no comércio, onde foi?

- Na casa da bonitinha. Da atriz lá… da… da… agredida. - Falou o Sargento Pena.

- Era apartamento, sargento. - Retrucou Peçanha.

- E o apartamento não é a casa onde ela mora, Peçanha?

- É, sim senhor.

- Então, caralho, não me atrapalha as conclusão, pô!

Silvano deu uma rápida olhada para o seu cameraman e depois para a câmera como se olhasse nos olhos do próprio Jonas, suspirou fundo após essa breve e brilhante discussão e decidiu mudar o foco, indo até o Ricardo que se mantinha ali, cabisbaixo, mas seguro nas algemas pelo Peçanha:

- Senhor Ricardo Santino, é verdade que o senhor agrediu covardemente a sua esposa, tendo sido necessário o seu socorro até o hospital de referência?

- Como é que é!? - Perguntou Ricardo, assombrado.

Mas antes que ele respondesse a pergunta, uma voz o calou e chamou a atenção de todos:

- Não! É uma puta de uma mentira! - Falou Bruna quase gritando, que chegava naquele momento acompanhada de sua advogada, a linda e loira doutora Denise.

Antes que ela voltasse a falar, a alta advogada com corpo de modelo e rosto de divindade nórdica, a conteve e assumiu a entrevista:

- Primeiro, o marido da minha cliente não cometeu crime algum! Os policiais que estão aqui, tentando conseguir alguma falsa fama temporária, cometeram, no mínimo, três crimes: invasão de domicílio, falsa comunicação de crime e abuso de autoridade, haja vista que a minha cliente nunca fez qualquer denúncia, não se colocou na condição de vítima em momento algum e nega ter sofrido qualquer forma de agressão por parte do seu marido, o senhor Ricardo Santino.

- Doutora, sou Silvano Silva, repórter do “Hora da Verdade” de Jooooonas Jackson, bom dia. - Após uma encarada inconformada da advogada que o desconcertou momentaneamente, ele insistiu: - Doutora, nós temos fontes fidedignas que nos confirmaram as agressões e…

- E quem são suas fontes? - A advogada o interrompeu: - Esses policiais? Esses mesmos que irei processar e fazer de tudo para que a corporação os expulsem por estarem simulando crimes e efetuando prisões ilegais? Boa sorte para você, para o Jonas e para o “Hora da Verdade”!? - Silvano confirmou com a cabeça e ela continuou: - Porque vou processá-los todos também, um por um, para lhes ensinar que não se deve manchar a imagem de uma pessoa honesta, baseada em denúncia infundada.

[...]

No palco do programa, Jonas Jackson assistia a tudo de olhos arregalados e decidiu encerrar o link com Silvano Silva:

- Tudo bem, já temos toda a verdade aqui. - Ele voltou a encarar a câmera 2 e gritou: - FOCA EM MIM, Álvaro!

Nesse instante, alguém da produção jogou um gato de pelúcia dos mais vagabundos bem no meio da cara do apresentador que ficou possesso e pegou o brinquedo, esbravejando:

- MAS QUE PORRA É ESSA, CARA!?

- É uma foca, Jonas. - Respondeu a voz soturna de Andradinho.

- Foca!? Isso é a porra de um gato, mas mesmo que fosse uma foca, por que jogar na minha cara, Andradinho?

- Ué!? Você falou foca em mim…

Jonas, legitimamente inconformado, balançou a cabeça em negação e jogou o bicho de pelúcia em alguém, avisando:

- Na próxima é rua. - Voltou a encarar a câmera dois e insistiu: - Agora, FOCA EM MIM, Álvaro.

Alguém novamente jogou o bicho nele, mas agora Jonas, ladino, desviou, sorriu e encarou a câmera outra vez. Agora sim, com o palco todo para si e sem qualquer oposição, começou a fazer a sua própria defesa, dizendo-se um injustiçado que apenas queria trazer à população a verdade por trás das câmeras. Foram longos minutos de um discurso da mais desarrazoada argumentação possível. No final, ele chorou e ainda contemporizou:

- E para provar que não fui leviano em momento algum, vou trazer agora para vocês uma rápida entrevista com o consagrado ator Maurício Pinheiro. Sim! Ele mesmo. O Caduzinho Lasanha da novela “Apetite por Você”. Ele, o Caduzinho… Não! Digo… Ele, o Maurício, foi agredido CO-VAR-DE-MEN-TE… - Gritou abanando insistentemente os braços como se quisesse voar: - Foi agredido pelo mesmo Ricardo Santino. Sim! Por aquele mesmo meliante safado e covarde, agressor de mulheres indefesas, que vocês viram agora há pouco.

Nisso surge no telão a imagem congelada de Maurício Pinheiro. Apesar dos esforços logo após o soco que recebeu, Maurício ainda estava com a região dos olhos bastante roxa, inchada e o nariz, antes perfeitamente triangular, agora parecia uma batata inglesa amassada:

- FOCA NELE! - Gritou Jonas, vendo alguém atirar um outro gato de pelúcia no telão que o fez olhar para o público e suspirar profundamente antes de continuar: - Andradinho, SOLTA A IMAGEM!

Falando com dificuldade, pois não conseguia respirar pelo nariz, Maurício falava gentilezas com uma repórter que não aparecia na imagem, respondendo algumas perguntas:

- Poderia nos contar como tudo aconteceu, Maurício?

- Foi uma surpresa! Ninguém esperava aquilo, ninguém! Estávamos todos comemorando o sucesso do meu novo filme, “Paixão e Sangue”, no qual protagonizo com a linda e querida Bruna Brunetti quando o Ricardo, o marido dela, insanamente e sem qualquer justificativa, veio e me agrediu.

- Mas… Por qual motivo ele teria feito isso, Maurício?

- Não sei ao certo… Talvez tenha ficado com ciúmes da química que eu e a Bruna Brunetti desenvolvemos durante as filmagens, mas não o culpo, porque, modéstia à parte, realmente a nossa interpretação foi espetacular. Formamos mesmo um belíssimo casal e as cenas foram muitíssimo bem encenadas e da mais alta qualidade, e digo mais, se eu não fosse um homem sério, de moral inabalável e realmente comprometido com minha esposa, ficaria bastante balançado pela Bruna.

- Ok… - Disse a repórter e fez um suspense: - Corre um boato de que algumas cenas do filme foram mais do que “muitíssimo bem encenadas”. Dizem que você e a Bruna chegaram a praticar sexo de verdade durante elas. Isso é verdade?

- MENTIRA! BLASFÊMIA! Isso é mentira desse povinho mal amado e que se acha no direito de espezinhar o bom trabalho desenvolvido pelos outros? É tudo inveja… - Ele desviou o olhar, olhando para cima, como se pensasse e logo falou: - Mas, olha… Agora pensando por esse lado, talvez esse boato tenha chegado ao ouvido do Ricardo e isso o tenha feito me agredir. Pobre coitado…

Houve um breve silêncio e a repórter pegou um tablet:

- Maurício, e quanto a esta cena?

Ela exibiu para Maurício um recorte da cena em que os protagonistas transavam, bem aquela em que o seu pau aparecia, deixando-o de olhos arregalados.

Nesse mesmo instante, num canto do telão do programa do Jonas Jackson, a mesma cena era exibida, explicitamente, sem cortes ou disfarces, em pleno horário nobre e em rede nacional, deixando a todos boquiabertos. Até mesmo Jonas ficou surpreso com a cena explícita e a encobriu com o próprio corpo, abrindo os braços e pernas, enquanto gritava:

- PORRA, ANDRADINHO, TIRA ESSA COISA DA TELA!

Enquanto a produção suspendia a exibição do trecho do filme, a repórter voltava a falar com Maurício que também estava boquiaberto:

- Não é uma cena muito… é… realista, Maurício?

- Onde você conseguiu isso!?

- Não vem ao caso agora. O que você tem a me dizer sobre essa cena? Vocês realmente fizeram sexo explícito para esse filme?

- Eu acho que a entrevista já terminou. Não sei quem te arranjou essa cena, mas é tudo falso. FALSO! - Falou já se levantando, enquanto a filmagem era pausada.

No palco, refeito do susto, Jonas Jackson agora sorria com malícia para a câmera e logo disse:

- Acho que temos bem claro o porquê do Ricardo Santino ter ficado agressivo com a esposa e com o seu amante, não acham? - Um som de suspense inundou o ambiente e ele continuou: - Mas agora eu pergunto a vocês, meus telespectadores, meus queridos companheiros de trabalho… Vocês teriam agido diferente? Imaginem a situação vexatória desse pobre homem ao descobrir, durante uma exibição de um filme, que a sua esposa, sua amada, querida e pudica esposa, a atriz protagonista do filme, se envolveu sexualmente e…

Ele se calou por um instante enquanto observava o gato/foca voar de um lado ao outro do seu palco:

- Andradinho, meu querido, prende o gato! A foca… Esse bicho aí… - Então ele voltou a encarar a plateia e continuou: - Vamos falar a língua do povo, né, gente?... Essa safada do caralho, messalina dos infernos, ela DEU para o outro ator! Porra! Ela chifrou o inocente do marido e ainda fez questão de esfregar isso na cara dele. O rapaz surtou! Ué!? E está no direito dele! Se fosse eu, ó… - Simulou dar uns tapas e socos no ar, mas logo continuou: - Por sorte, minha Maria Amélia é uma santa, mulher acima de qualquer suspeita, porque senão… - Voltou a estapear o ar.

A tela de fundo agora exibia a última imagem de Ricardo em frente à delegacia, onde Jonas pousou a sua mão, sobre o rosto dele, agora falando:

- Estamos com você, Ricardo. Hoje, você não é agressor, você é a vítima!

Som de uma vinheta começa a ser ouvida e a luz do palco vai esmorecendo, ouve-se apenas a voz do Jonas:

- E na semana que vem, vamos contar a reviravolta da história do seu Pedro, que se apaixonou pela sua cabrita Carminha e a traiu com a Genoveva, a galinha do vizinho. Parece que eles se acertaram e agora vivem em paz, num trisal… Semana que vem gente. Não percam!

As luzes se apagam um pouco mais e quando o som da vinheta termina, ouve-se uma voz dizendo “CORTA!”. Então, Jonas explode:

- PORRA, ANDRADINHO, QUE MERDA FOI ESSA, CARA!? De onde surgiu aquela louca, com advogada e tudo fodendo a minha denúncia?

- Sei não, chefe, mas o senhor foi brilhante! Pegou toda a situação e deu um duplo twist carpado, fazendo o Ricardo passar de agressor para vítima.

- É, mané, mas ainda acho que não vamos escapar de um processinho dessa vez...

[...]

Na frente da delegacia, a confusão ainda estava armada, mas a linda e loira advogada não dava chance para os policiais se explicarem. Nesse instante, sai de dentro da delegacia, uma mulata alta e forte, com curvas esculpidas em alguma academia. Seu nome é Amanda Vasquez e ela é a delegada geral do distrito. Já chega interrompendo a bagunça:

- Que porra é essa na frente da minha delegacia de polícia!? Calem a boca ou levo todo mundo preso!

- Como é que é!? - Disse a doutora Denise de maneira calma, suave, quase cantada, porém a encarando com sangue nos olhos: - Vai ter a pecha de me ameaçar?

- Nã-Nã-Não, doutora. Todo mundo é forma de dizer… Todos, menos a senhora. - Ela voltou a encarar os demais envolvidos e os colocou todos para dentro da delegacia: - Todo mundo pra dentro! Vamos resolver esse porra lá dentro, como tem que ser.

Dentro da delegacia, com todos numa sala, os policiais insistiram na tese da agressão, mas Bruna reiterou que não houve agressão alguma e que tanto ela, como sua advogada, estavam lá para defender a honra de Ricardo, seu marido. A delegada, mulher esperta e vivida, convidou Bruna e sua advogada para entrarem em sua sala e foi direta:

- Dona Bruna, quero falar aqui no reservado em frente a sua advogada que a senhora não precisa temer nada, nem ninguém, nem mesmo o seu marido. Se ele te agrediu, por qualquer forma que seja, atos, palavras, gestos, ou força física, pode me falar que eu tomarei as providências que a lei me autoriza a tomar contra ele. Posso até mesmo conseguir uma “protetiva” para a senhora e…

- Ele nunca me agrediu, doutora! Tivemos uma discussão, mas nem me ofender ele ofendeu. O que aconteceu é que eu… - Bruna pigarreou, envergonha de ter que assumir a verdade e após respirar fundo, continuou: - Ele estava com a cabeça quente e queria sair de casa, mas eu fiquei em seu caminho, tentando acalmá-lo e num momento qualquer, acabei me desequilibrando e caindo, mas fui eu, um erro meu, não dele. Ele é totalmente inocente.

A delegada parecia desconfiada, mas sem a palavra da vítima, sem testemunhas ou qualquer prova da agressão, não haveria inquérito a ser instruído, porque tudo havia acontecido dentro de uma unidade residencial. Acreditar pura e simplesmente na palavra de policiais que estavam do lado de fora, seria de uma temeridade sem tamanho. Ela encarou a doutora Denise e perguntou:

- Bem, ele está livre, doutora. Há mais alguma coisa que eu possa fazer pelas senhoras?

- Há sim, doutora. Vou confirmar com o Ricardo, mas acredito que ele desejará representar criminalmente contra os policiais pela denunciação caluniosa que sofreu. Além disso, achei muito estranha toda essa armação feita aqui na frente da delegacia por eles e o repórter Silvano. Vou conversar com o Ricardo, mas acredito também que irá querer apurar o que aconteceu porque, a meu ver, no mínimo houve a ocorrência de crime contra a honra dele.

A delegada se recostou em sua cadeira, olhando para ambas em silêncio por alguns segundos. Depois falou:

- Tem certeza, doutora? Vale mesmo a pena mexer nesse vespeiro?

- A decisão será dele. Quanto a mim, estarei à disposição para processar civil ou criminalmente e punir quem tiver extrapolado.

A delegada coçou a cabeça e suspirou profundamente, já imaginando o trabalho que aquilo tudo daria. Pediu licença e saiu de sua sala, retornando até onde Ricardo e os policiais ainda aguardavam, junto de dois investigadores parrudos que malhavam na mesma academia que ela:

- Sargento, tire as algemas do rapaz. - Pediu.

- Doutora, ele é perigoso, agressivo…

- Ele é inocente! A mulher dele desmentiu vocês e acho que irá colocar o de vocês na reta.

- O que é isso, doutora? A gente “somos” honestos, né não, Peçanha?

- Po-Positivo, Sargento. - Respondeu o Peçanha, agora com olhos esbugalhados e sem a mesma desenvoltura.

- Ué!? Nós só fizemos o que tínhamos que fazer, afastar o agressor da agredida, né não, Peçanha?

- Positivo, sargento. - Resmungou Peçanha, baixinho, quase inaudível.

- Tire as algemas, agora! - Insistiu a delegada.

Mesmo a contragosto, o Sargento Pena a obedeceu, mas discretamente, antes de fazê-lo, cochichou próximo ao ouvido de Ricardo:

- Pensa bem no que vai fazer, moço. Seu pneu pode furar um dia e a gente pode não estar lá para ajudar, ou pode… “Sacoméquié”, né!?

Ricardo o encarou de soslaio e nada disse. Agora livre, a doutora Amanda o convidou para acompanhá-la até a sala onde Bruna e Denise os aguardavam. Ali, deu-lhes alguns minutos a sós para conversarem.

Ricardo se sentou de frente para ambas, mas praticamente ignorou a presença de Bruna, com quem não trocou um olhar sequer. Instruído, Ricardo ponderou e decidiu aceitar os conselhos da advogada, porém disse já ter seu advogado que certamente adoraria cuidar daquele assunto, mas, por zelo, pediu também um cartão dela, afinal, era uma bela de uma advogada.

Aliás, até mesmo para não desperdiçar a oportunidade, pediu que ela cuidasse dos procedimentos que fossem necessários para formalizar aquela situação para futuras deliberações. A doutora Denise saiu da sala deixando os dois a sós e embora Ricardo continuasse cabisbaixo, evitando encarar a esposa, Bruna não perdeu a oportunidade:

- Como você está, amor?

- Menos pior… - Respondeu sem desviar o olhar de uma marca no tapete gasto do chão.

- Eu queria… Eu sei que você ainda está com a cabeça quente, mas será que a gente não poderia tentar terminar aquela nossa conversa?

- Você tem mais alguma coisa relevante para me contar? - Perguntou Ricardo, agora encarando os olhos úmidos da esposa.

- Eu… - Bruna suspirou profundamente sem desviar o olhar dele: - Eu… queria tanto que as coisas tivessem sido diferentes, amor, mas a gente não controla a nossa própria vida, né?

- Como não!? Controla sim! Ninguém trai sem querer. A traição é uma decisão que envolve quase sempre duas pessoas. Você me traiu e me expôs da forma mais humilhante possível. Sinceramente, Bruna? Não acredito que ainda exista algo que você possa me falar que vá mudar o que aconteceu…

- Eu sei que não! - Bruna, ansiosa, quase chorando, o interrompeu: - Mas eu queria… queria… eu te amo! Só queria o seu perdão, voltar a ser como éramos antes.

- “Voltar a ser”!?... Impossível! Eu e você, juntos!? Nem a pau! Talvez eu te perdoe um dia, porque nunca quis, nem quero te desejar mal, mas voltar a viver com você… eu sinto muito.

Ricardo desviava o olhar para o chão novamente quando a porta se abriu e a linda e loira doutora Denise voltava a entrar, seguida agora da não menos bela delegada Amanda. Esta, que não havia participado de nenhum engodo, não se furtou em lavrar a ocorrência, mas agora colocando Ricardo na condição de vítima e como “supostos” autores os policiais militares, Pena e Peçanha, o repórter Silvano Silva e patrão deste, Jonas Jackson, por terem exibido uma matéria em rede nacional, sem permissão prévia dos envolvidos, causando-lhes possíveis crimes contra a honra.

No final, a doutora Denise ainda solicitou e foi atendida pela delegada Amanda, que o comando da PM fosse oficiada do ocorrido, o que certamente resultaria na abertura de um processo administrativo disciplinar contra os dois policiais.

Na saída da delegacia, o sargento Pena, sentindo que não passava uma agulha por sua rosca, tentou conversar agora amistosamente com Ricardo, mas foi interrompido pelos dois parrudos investigadores e pela própria delegada, que o orientou a não se aproximar:

- Mas… Mas por que? - Perguntou o sargento Pena.

- Para não configurar uma reincidência na prática do delito, Sargento, ou talvez até outro novo, não é? Algo tipo uma ameaça, um constrangimento ilegal, sei lá…

Pena deu-se por vencido e em voz alta, para que não pairasse nenhuma dúvida contra si, disse:

- Sinto muito por qualquer inconveniente aí, seu Ricardo. Lamento o ocorrido aí e, “exclusive”, eu e o meu companheiro, estamos muito sentidos em termos sido envolvidos nessa maracutaia aí toda bolada pelo repórter.

Ricardo nada respondeu, orientado pela bela doutora Denise, apenas se afastou até o carro de Bruna, estacionado no pátio central, ao lado do de Denise. Ricardo, por um instante ficou em dúvida em qual entrar, mas sabendo que suas malas ainda estavam em seu apartamento, precisaria ir buscá-las, mas avisou:

- Quero deixar bem claro e na frente da doutora que estou voltando com você apenas para buscar as minhas malas, ok, Bruna? Não estou voltando, certo?

Bruna, perdida, chateada, inconformada com a cadeia de acontecimentos, apenas concordou com um meneio de cabeça. Despediram-se da doutora Denise que ainda deu algumas orientações para Ricardo e se colocou à disposição para que o seu advogado ligasse, para buscar algum eventual detalhe. Depois cada um entrou em seu carro e partiu. O clima dentro do veículo não podia ser pior e piorou ainda mais quando ficaram presos num engarrafamento. A vida realmente parecia conspirar contra Ricardo…

[CONTINUA]

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.

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Comentários

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Levou chifres, foi enxovalhado… era processar todos e andar para a frente , venha o próximo capítulo

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capitulo muito bacana e interessante e divertido e ainda mais confusão para o Ricardo, vcs estão mesmo com raiva dele

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Ao menos, a esposa traíra, foi positiva e operante nesse caso! Mas de resto, é difícil mesmo perdoar, concordo com o Ricardo.

Nanda, uma pergunta, vocês são muito cuidadosos com a saúde nesses relacionamentos liberais mas,e o sexo oral? Dizem que pode-se pegar algumas doenças através desse tipo de sexo. Vocês não se preocupam com essa possibilidade?

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