A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO 12: AGORA OU NUNCA

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2715 palavras
Data: 26/04/2025 14:28:26

Eu nunca imaginei que estaria aqui. Na arquibancada de uma quadra esportiva, prestes a assistir uma competição de natação. Não é como se eu odiasse esportes, mas eles nunca foram meu ponto forte, e depois do furacão... bom, não era como se eu tivesse muita paciência para isso. Mas, de alguma forma, aqui estava eu, cercado por pessoas vibrantes, gritos de torcida e o cheiro inconfundível de cloro que impregnava o ambiente.

A piscina da Cleverfield High School era nova em folha, e a diretoria achou que seria uma boa ideia sediar competições para marcar esse investimento. Segundo Emmett, os atletas da escola tinham uma vantagem, já que treinavam nela regularmente. Ele disse isso com tanta naturalidade que quase esqueci que, até pouco tempo atrás, ele também era um atleta.

— Falta muito para começar? — perguntou Sofia, soando tão entusiasmada quanto um tijolo.

— Cadê o teu espírito esportivo, irmãzinha? — provocou Nathan, bem mais animado do que o normal.

— Ele tá animado porque a Britney Thompson topou sair para um date — dedurou Sofia com um sorriso carregado de malícia. — O Nathan vai perder o BV.

Nathan ficou vermelho instantaneamente.

— Sério? — olhei para ele, surpreso. — Mandou bem, cara! — Exclamei, puxando-o para um abraço desajeitado.

— Vocês são insuportáveis — resmungou Nathan, tentando se desvencilhar, mas não conseguindo conter um sorriso.

O burburinho ao nosso redor foi aumentando conforme os atletas se aproximavam da piscina. Alguns faziam alongamentos, outros mergulhavam para se aquecer. A agitação era contagiante, e mesmo que eu não estivesse particularmente animado, não podia negar que havia algo eletrizante no ar.

Eu nunca fui muito de torcer em competições esportivas. Para falar a verdade, eu sempre fui aquele cara que ficava no canto da arquibancada, lendo um livro ou mexendo no celular, esperando tudo acabar. Mas hoje era diferente. Hoje eu estava ali por ele. Pelo Emmett.

Ele treinou duro para esse momento. Mesmo depois de tudo que aconteceu, ele se recusou a desistir. A professora Yadav, treinadora da equipe de natação, estava confiante. Ela dizia que Emmett tinha talento, que ele era um competidor nato. Eu queria acreditar nela. Eu acreditava nele. Mas, conforme os minutos passavam e eu não via o Emmett entre os outros atletas, uma sensação estranha começou a crescer dentro de mim. Um aperto no peito, um peso nas costas. Algo não estava certo.

Levantei e fui até o vestiário.

Lá estava ele. Apenas de sunga, parado diante do espelho, encarando a cicatriz no que restava do seu braço direito. Era um olhar vazio, perdido em pensamentos que eu não conseguia decifrar. Mas quando ele percebeu minha presença através do reflexo, algo dentro dele pareceu ceder.

— Às vezes, eu sinto a minha mão, sabia? — Sua voz soou baixa, quase como um sussurro. — Sinto os dedos coçarem. — Ele riu, mas não era uma risada de verdade. — Eu sou muito patético, olha só onde eu me meti?

— Emmett, não faz isso, por favor. — Me aproximei devagar, como se qualquer movimento brusco pudesse quebrá-lo.

Ele desviou o olhar do espelho e encarou o chão.

— E você, George? O que eu estou fazendo com você? Olha só o monstro que você está ficando. — A voz dele tremeu enquanto ele levantava o braço e olhava para a cicatriz como se fosse uma sentença. As lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.

Aquilo foi a gota d'água.

— Chega! — Minha voz ecoou pelo vestiário. — Para com isso. Tá esperando o quê, hein? Que eu faça bullying com você como você fazia comigo? Para de se lamentar, Emmett! Você é um ótimo atleta e se desafia o dia todo para superar suas limitações. E eu te amo, porra. — Eu me aproximei ainda mais e o beijei, sentindo sua respiração ofegante contra a minha. — Você é a porra de um atleta e nada vai mudar isso. Mostre essa cicatriz com orgulho, porque você é um sobrevivente e não uma vítima, lembra? — Olhei bem nos olhos dele antes de beijá-lo novamente, tentando transferir para ele toda a força que ele achava que não tinha.

— Arrasou, Sanches. — A voz da professora Yadav ecoou pelo vestiário. Nos viramos assustados e encontramos a treinadora encostada na porta, os braços cruzados e um sorriso satisfeito no rosto. — Eu mesma não faria um discurso tão emotivo e verdadeiro. Ei, Emmett, preciso de você naquela piscina. Apostei cinquenta dólares em você. — Ela riu, dando um tapinha no ombro dele. — Vai!

Emmett respirou fundo e passou a mão no rosto, secando as lágrimas. Quando olhou para mim, seu sorriso era diferente. Verdadeiro.

— Eu te amo também. — Ele disse, ainda sorrindo, antes de sair do vestiário.

Fiquei parado ali por um momento, tentando recuperar o fôlego, quando a professora Yadav se virou para mim.

— Já pensou em ser coach, Sanches? — Ela perguntou, fazendo uma careta engraçada. — Agora vai para a arquibancada, eu preciso de torcida.

EMMETT

O George é um cara incrível. Só ele para me dar um discurso motivacional no meio de um vestiário. E pior, ele tem razão. Eu me dediquei completamente à natação nas últimas semanas, seguindo cada dica da treinadora Yadav, cada novo movimento para me adaptar dentro da água. A competição de hoje era um teste, um desafio pessoal. A treinadora queria que eu focasse mais em torneios voltados para pessoas com deficiência, mas eu podia estar onde quisesse. Eu tinha o direito de competir. De mostrar para mim mesmo que eu conseguia.

A preparação antes da prova foi intensa. Minha assistente, Vivian, ajudou em tudo. Ela era uma voluntária, determinada a conseguir uma vaga em uma grande universidade. E, para isso, ela se dedicava a ajudar "os necessitados". Foi o que ouvi ela comentar com uma amiga no corredor. Não gostei da expressão, mas deixei passar. A verdade é que ela realmente ajudava. Segurava minha toalha, ajeitava meus óculos de natação e, o mais importante, nunca me tratava com pena. Era metódica e eficiente. Eu respeitava isso.

Minutos antes da prova, minha respiração estava controlada. O frio do piso abaixo dos meus pés me mantinha alerta. Ao meu lado, outros nadadores se preparavam, cada um em seu próprio ritual. O juiz se aproximou e anunciou a contagem.

"A postos!"

Meu coração disparou.

""

O apito soou, e eu me joguei na água. O impacto foi imediato, o mundo ao meu redor se transformando em bolhas e silêncio. Braçada após braçada, segui avançando, sentindo o ritmo que treinei tantas vezes. Mas então, aconteceu.

Um flash. Não da luz da piscina, mas do passado. O Furacão Fernandes. O ginásio desmoronando. A piscina da antiga escola engolindo a mim e ao George. Pedaços de teto e destroços caindo sobre a água. Eu tentando nadar, tentando manter minha cabeça fora, procurando George no meio do caos.

Meu peito apertou. O ar parecia sumir, mesmo debaixo d'água. As braçadas se tornaram erráticas.

"Por favor, não..." minha mente sussurrava. Eu queria sair dali. Sair da minha própria cabeça.

Então, ouvi.

"Eu acredito em você, Emmett!"

A voz de George cortou o barulho ao meu redor, forte e cheia de certeza. Meu peito se abriu para o oxigênio quando cheguei ao final do percurso e ergui a cabeça da água.

Respirei fundo.

Eu era um sobrevivente.

Eu não ia desistir.

GEORGE

Sabe aquele momento em High School Musical 3, durante a música "Now or Never", em que a Gabriella grita: "Troy!", passando toda a sua coragem para o grande amor da sua vida? Bem, eu acabei de viver um momento parecido. Tudo bem que minha garganta ficou doendo, mas valeu a pena.

Emmett, meu namorado, conquistou o terceiro lugar nos 100 metros do estilo livre em sua primeira competição. Um feito e tanto. A insuportável da Vivian, sua ajudante, o ajudou a tirar os óculos e a touca, entregando-lhe a toalha com aquele sorrisinho de superioridade que me dava nos nervos. Mas hoje eu estava feliz demais para me incomodar com isso.

Ele se transformou em um verdadeiro peixe, e ver sua dedicação sendo reconhecida me fez sentir uma alegria absurda. Acho que fiquei mais animado do que gostaria, porque Nathan e Sofia me encaravam com aquele olhar de julgamento ímpar que apenas gêmeos excêntricos conseguem ter. Mas eles também se divertiram, cada um do seu jeito peculiar.

— Bem, eu queria ficar para a comemoração, mas eu tenho um encontro. — anunciou Nathan com um sorrisinho convencido. — Como estou? — Ele fez uma pose dramática, ostentando seu sobretudo preto, uma blusa social branca, calça de alfaiataria e uma bota estilosa que parecia saída de um clipe de k-pop.

— Você vai beijar muito! — exclamei, o abraçando com entusiasmo.

— Eu tenho um encontro do culto Wicca. — disse Sofia, como se isso fosse um evento comum de sexta-feira.

Era engraçado como a Sofia sempre estava presente, mas nunca realmente estava presente. Entende? Ela tinha essa aura misteriosa e tranquila. Diferente do Nathan, que fazia questão de ser o centro das atenções, Sofia apenas seguia conosco porque queria e porque, aparentemente, não via razão para procurar outros amigos.

— Tá, acabei de ser abandonado pelos dois. — brinquei, fingindo uma tristeza exagerada.

— Você vai estar com o atleta gostoso. Acredite, vai estar melhor que a gente. — rebateu Sofia com sua habitual afiação. Ela nos abraçou e desceu as escadas sem pressa, como quem tem todo o tempo do mundo.

— Vou nessa, irmão. — Nathan também se despediu e desejei boa sorte para ele.

Agora, só restava eu e Emmett. O garoto que um dia foi meu maior problema e agora era a melhor parte do meu dia.

O vi de longe, vibrando de felicidade. O medalhista da noite. Emmett segurava sua conquista com um orgulho genuíno, e eu não podia negar que sentia o mesmo por ele. Além da medalha, ele também exibia um voucher para um jantar em um restaurante famoso da cidade. A professora Yadav estava ao seu lado, sorrindo como se fosse ela quem tivesse subido ao pódio. Tirou uma selfie com ele, toda orgulhosa. Da nossa escola, Emmett foi o único a conquistar um lugar entre os vencedores.

Preferi esperar no carro, dando espaço para que ele comemorasse com os colegas de time. Liguei o sistema de som, uma melodia suave preenchendo o espaço ao meu redor. Fechei os olhos e permiti que um sorriso escapasse. Nos últimos tempos, minha vida tinha mudado tanto, e eu nunca me senti tão bem com isso.

— Você fica lindo viajando em uma música. — A voz de Emmett me pegou desprevenido.

Meu coração disparou, e eu abri os olhos rapidamente.

— Nossa, garoto, que susto. — Resmunguei, mas não consegui segurar o sorriso. — Garoto não, né, medalhista.

— Terceiro lugar. — Ele corrigiu, entrando no carro. — Quer comer de graça? — Ele ergueu o voucher, os olhos brilhando. — Acho que meu garoto merece uma comida de qualidade.

— Seu garoto? — Arqueei uma sobrancelha.

— Sim. — Emmett se inclinou e me beijou, como se essa fosse a resposta mais óbvia do mundo. — Obrigado por tudo. Pelo discurso e pelo grito.

— Olha, a minha garganta tá doendo até agora. Mas valeu a pena. Eu vou comer de graça. — Brinquei, o puxando para mais um beijo antes de darmos partida.

O restaurante Macy's era aconchegante, com um cheiro irresistível de massa fresca e molho de tomate no ar. O ambiente era rústico, decorado com luzes amareladas e mesas de madeira escura. Escolhemos um canto mais reservado e fizemos nossos pedidos. Eu fui de Spaghetti alla carbonara, enquanto Emmett escolheu Tagliatelle alla bolognese.

A comida era incrível. O melhor macarrão que eu já tinha comido em muito tempo. O clima entre nós estava perfeito. Conversar com Emmett sempre parecia tão fácil. O jeito como ele sorria entre uma garfada e outra, como me olhava enquanto falava de qualquer coisa banal... Eu queria guardar cada detalhe daquele momento.

Foi então que meu celular vibrou. Uma notificação. Peguei o aparelho distraidamente, mas congelei ao ver a tela.

Uma mensagem de Sofia.

Estranho. Ela quase nunca mandava mensagens.

Abri rapidamente e vi um link para um vídeo. O aperto no peito veio antes mesmo de dar play. Assim que as imagens começaram a rodar, meu sangue gelou. Um grupo de garotos jogava tomates em Nathan. Meu estômago revirou, e eu me levantei no mesmo instante.

Sofia também enviou um endereço. Não ficava tão longe.

— George? O que foi? — Emmett perguntou, preocupado.

Engoli em seco, respirando fundo antes de responder.

— Precisamos ir. Agora.

Como as pessoas podem ser tão maldosas? Essa era a pergunta martelando na minha cabeça enquanto explicava tudo para Emmett. Ele ficou tão revoltado quanto eu, e com razão. O bullying tinha acontecido em uma praça movimentada, um ponto de encontro para vários jovens da região. Era absurdo que ninguém tivesse feito nada.

Foi ali que encontramos Nathan, sentado em um banco, sujo, sem o sobretudo que sempre usava. Apenas uma blusa branca coberta de manchas vermelhas e outras sujeiras que eu nem queria imaginar o que eram.

— O que aconteceu? — perguntei ao me aproximar dele.

— Nada, eu quero ir pra casa. — Ele respondeu, tremendo, enquanto tentava se levantar.

— Que merda aconteceu? — Fui mais incisivo dessa vez. — Me conta, Nathan.

Ele respirou fundo e abaixou a cabeça.

— Eles me viram com a Britney. Os caras do time de futebol. Começaram a fazer piadas. Eu tentei manter a calma, mas acabei partindo pra cima de um deles.

— E eles apareceram com tomates do nada? É impossível. Cadê o teu sobretudo?

— Não sei. Na confusão, acabei deixando para trás. — Nathan explicou, a voz fraca.

Meu sangue ferveu.

— Vamos recuperá-lo. Onde eles estão?

— Bebê, não adianta fazer nada de cabeça quente... — Emmett tentou me acalmar.

— Ah, Emmett, eu não tô de cabeça quente, eu tô puto da vida! Eu quero sangue! — Gritei, mais dramático do que deveria.

Nathan, hesitante, nos levou até onde os babacas estavam. Sentados perto de uma fonte, rindo, como se fossem donos do mundo. E ali estava o sobretudo de Nathan, jogado no chão como um troféu. Cada segundo que passava, minha raiva crescia mais.

— Quem fez isso com meu amigo? — Perguntei com um tom que eu mesmo nunca tinha usado antes.

Um dos garotos, com o boné do time da escola, riu.

— Olha só, Brent, o viadinho quer saber quem mexeu com o namorado bizarro dele.

Emmett tentou intervir.

— Cara, a gente não quer confusão.

— Tá todo mundo calmo aqui, Nemo. — O idiota debochou, se referindo ao personagem do filme, destacando a deficiência de Emmett.

— Os especiais estão aqui? — A voz venenosa de Jennifer cortou o ar. — Vamos, Britney. — Ela saiu puxando a garota, que parecia prestes a chorar.

— Acha mesmo que a Britney ia ficar com uma aberração...

Não pensei. Apenas agi.

Meu punho acertou o rosto do garoto, jogando-o direto para dentro da fonte. O caos se instaurou. Eles vieram para cima, mas não fiquei sozinho. Emmett e Nathan estavam ao meu lado. Quatro contra três? Dane-se, a gente tinha muito mais ódio engasgado.

A briga foi ridícula, desajeitada. Socos errados, chutes no ar, Emmett derrubando um cara e quase caindo junto. E então Sofia surgiu do nada, pulando nas costas de um dos brutamontes e... mordendo ele! Eu juro que vi um pedaço de pele sair. Foi selvagem, insano, e totalmente inesquecível.

Conseguimos. Peguei o sobretudo de Nathan, e saímos correndo como se estivéssemos fugindo de um crime.

No estacionamento, ofegantes e rindo, olhei para Emmett. Ele estava todo ferrado.

— Você acha que tua cara está melhor? — Ele riu, tirando uma foto.

Me olhei no reflexo do carro. Um hematoma roxo no meu olho bom. E então percebi: meu olho de vidro tinha sumido.

— Caralho, eu tô fodido. — Soltei, exasperado.

Sofia tentou animar Nathan.

— Ei, não liga pro que eles falaram, viu? Aquela Britney é uma vaca. Vou fazer um feitiço pra ela.

— A gente deu uma surra no time de futebol. — Nathan disse, surpreso, como se só agora tivesse assimilado o que aconteceu. — Tipo, a gente acabou com eles. — E caiu na risada.

E rimos com ele. Como loucos. Como amigos que tinham acabado de fazer algo épico. Entramos no carro de Emmett e dirigimos sem destino. No som, "Now or Never" do High School Musical.

E ali, no meio da adrenalina e do riso, eu percebi algo.

Eu não apoio a violência. Longe disso. Mas às vezes, sair dos trilhos também pode ser a solução. Talvez haja consequências, mas uma coisa eu prometo: nunca mais vou baixar a cabeça para ninguém.

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