O homem que queria mamar

Da série A Patroa
Um conto erótico de Feminive
Categoria: Heterossexual
Contém 1628 palavras
Data: 26/04/2025 16:42:28

Eu acordei cedo, sem escolha. O candidato a governador ia descer no Complexo do Alemão para um comício, e junto disso viriam as inaugurações de sempre: uma clínica meia-boca e uma creche que não ia durar um ano depois das eleições. Tudo financiado com o nosso dinheiro, mas vendido como presente para o povo. A Família decidiu que eu devia estar lá, sorrindo e representando.

Não era novidade para mim. Já tinha passado por centenas desses eventos, apertando mãos sujas, distribuindo sorrisos falsos, fingindo interesse. Uma Lady Di, acenando para uma multidão que me olhava com aquele misto de inveja e admiração. Eu detestava, mas fazia bem. Sabia jogar o jogo.

Essas aparições nunca eram simples. Eu não dava um passo sem uma comitiva inteira me cercando — assessores, imprensa, seguranças, gente do marketing — todos ali para garantir que a imagem da Família permanecesse intocável. Poder tem que ser escancarado, exibido sem pudor. As pessoas precisam ser lembradas de quem manda.

As favelas sempre me pareceram um cenário curioso. A polícia estava no nosso bolso, os traficantes também. Cada arma, cada quilo de droga, cada operação… tudo passava pela gente. E aquelas pessoas ali, coitadas, acenando para mim como se eu fosse uma deusa. Mas também, pudera. Eu estava vestida dos pés à cabeça de Louis Vuitton. Só minha bolsinha comprava umas três ou quatro daquelas casinhas pobres.

Meu estagiário, o Timóteo, corria de um lado para o outro, caneta e caderninho na mão, anotando os pedidos de reunião dos politiqueiros que rodeavam o candidato a governador. Um bando de aventureiros de meia tigela, todos querendo um pedaço do bolo. E sim, estou falando do Timóteo. O mesmo da cocaína. Você se lembra do merdinha? Tá bom, eu sei que você quer saber o que aconteceu com ele. Mas calma, eu conto depois.

Naquele dia, eu estava com ele numa salinha me divertindo um pouco e apontei a arma para a cabeça dele. Mas escuta, aprende uma coisa: nunca entre armada num lugar quando a outra pessoa está acuada e lutando pela vida, ainda mais com cocaína até o talo nas ventas. O desgraçado podia muito bem se soltar, vir para cima de mim, tomar minha arma e me matar. Mas eu sabia o que estava fazendo. Quando peguei o revólver, era só para assustar mesmo. O Janjão tinha tirado as balas. Quando fui conferir a trava, era só para garantir que ele realmente tinha feito isso. Eu atiro desde pequena, sei muito bem como manejar um trabuco.

Depois daquilo, levantamos os dados dele, pegamos de volta a parte do dinheiro que ele tinha roubado, dispensamos o nosso funcionário que estava no esquema — quebrando ele inteiro, claro. Aí fiz uma proposta para o Timóteo: ou ele trabalhava para pagar o que devia, ou eu matava a família dele inteira. Simples. Acho que foi uma boa oferta.

No fim, ele aceitou. Hoje, além de estagiário, virou meu assistente pessoal. Eu maltrato ele, mas é porque gosto dele. E ele… bom, parece gostar também. Nunca reclamou de nada.

O calor do asfalto misturado com o cheiro de fritura e esgoto fazia o ar parecer mais pesado enquanto eu sorria para as câmeras e distribuía simpatia. Tirei fotos com as crianças, apertei mãos, fiz o teatro direitinho. Parte do jogo. Mas precisava de mais. Eu não estava ali só por obrigação, tinha planos. Sempre tive. Política não é sobre quem faz mais, é sobre quem parece fazer mais. E fotos minhas com o povo pegavam bem.

Então resolvi andar um pouco pela favela, ver o dia a dia de perto. Comi um pastel encharcado de óleo e tomei caldo de cana numa barraca suja, coisa que nunca tinha feito na vida. O gosto era bom, e a foto ficaria ótima. Enquanto sinceramente aproveitava aquilo, percebi uma mulher ali perto, sentada com duas crianças pequenas que me chamou a atenção. Uma delas, um bebê gordo e fofo, mamava no peito dela bem ali, no meio da rua em toda a sua paz. Aquela cena mexeu comigo. Meu ponto fraco sempre foi bebê, não sei explicar, mas fico emotiva quando vejo um.

Foi nesse momento que um cara, na casa dos trinta, passou por nós. Olhou para mim, fez aquela cara escrota de “ô gostosa”, e quando passou pela mãe amamentando, soltou a pérola:

— Ô… Ô tia do bebê! Eita, hein! Queria era eu estar mamando nessas tetas!

O silêncio veio primeiro. Depois, alguns homens ao redor protestaram, chamando o desgraçado de animal. Até o Janjão, que nunca se abala, balançou a cabeça negativamente. Aquilo, para ele, era o equivalente a um ataque de fúria. Ele me olhou, esperando uma ordem. Eu dei, baixinho:

— Descobre quem é. Manda o dono do morro dar um bote nele. Quando pegarem, me liga.

Janjão acenou discretamente para um dos nossos caras, que saiu logo atrás do sujeito.

— Nossa, que pessoa desagradável! — comentei, como quem apenas desabafa.

A mulher não tinha trato social algum e me respondeu até de forma ríspida, mais por falta de educação formal que virtude.

— É, dona, um babaca. Ele é conhecido aqui, mas só mexe com quem sabe que não vai dar problema. Com mulher de bandido, ele não tem essa coragem, não. Já tomou umas coças, mas os meninos novos no movimento não mexem mais com ele. Dizem que tem um esquema com o gerente novo.

— Ah, é? Que triste saber disso… Mas Deus é por nós, amiga! Ora que melhora.

O cinismo na minha voz era quase palpável. Aquilo só me deixou com mais raiva. Raiva suficiente para perder a paciência com aquela palhaçada toda. Resolvi ir embora dali.

Já era noite quando o telefone tocou. Atendi sem pressa.

— Deus a abençoe, senhora! É o Pastor aqui falando!

— Eu sei que é você, Pastor. O seu número aparece quando você liga.

— Glória a Deus! Olha, o dono do morro pegou o seu boneco lá. Pode matar?

Respirei fundo.

— Não, Pastor. Avisa que eu vou subir. Diz pra polícia que não quero ninguém lá essa noite. Não me mete em tiroteio, entendeu?

— Aleluia! Não vai acontecer isso com a graça de Deus!

— Pastor, quero o dono e o gerente lá. Ouviu?

— Sim, senhora! Pode deixar! Os anjos agirão em nosso favor!

A noite estava pesada. O tipo de escuridão que engole qualquer lampejo de esperança. Entramos no blindado preto, discreto, sem detalhes chamativos. Eu vestia algo simples, sem brilho, sem excessos. Nada que chamasse atenção. O carro deslizava pelas vielas escuras da favela, os becos se abrindo diante de nós. Nenhum farol piscou, nenhuma luz interna foi acesa, nenhum vidro abaixado. Eles sabiam que estávamos chegando.

O silêncio era estranho. A favela inteira parecia contida, como se alguém tivesse dado um toque de recolher. Poucas sombras vagavam pelas ruas. Era como se o próprio lugar prendesse a respiração. Seguimos pelos atalhos, os caminhos que só quem manda conhece, até o alto do morro. O carro parou diante de uma clareira onde a cidade se dissolvia na escuridão da floresta.

O vento batia forte, levantando poeira e trazendo o cheiro ácido de lixo queimado. Um cheiro de morte.

Saímos do carro. Meus olhos varreram o ambiente. Oito homens estavam à nossa frente, um deles ajoelhado, machucado, a cabeça baixa. O dono do morro veio até mim, tentando forçar uma postura de respeito. Estendeu a mão, numa tentativa patética de mostrar educação.

— Fala ae tia, prazer! Eu sou o Menor 3Pika — ele se apresentou com orgulho.

O nome era ridículo. Mas ele acreditava que significava alguma coisa.

— E aí, patroa… dá o papo. A senhora chamou, e nós é fiel, tá ligada?

Sorri de leve, sem pressa.

— Claro, amor… eu confio minha vida em você. Você tá indo muito bem. Parabéns.

Mentira. Eu nem sabia quem ele era direito. Esses caras morrem como moscas, substituídos por outros iguais a cada mês. Eu não perdia tempo acompanhando quem comandava qual biqueira. Tinha gente para isso.

Apontei para o homem ajoelhado.

— Esse é o que eu mandei pegar?

— Sim, senhora.

— E esse é o gerente?

— Exatamente, madame.

O gerente era um verme magrelo, cheio de tatuagens de facção, o olhar inquieto de quem sabe que a qualquer momento pode ser o próximo a cair.

O silêncio ali era brutal. Eles não faziam ideia do que eu estava prestes a fazer. O ar estava frio, carregado de expectativa e medo. Eu sabia o risco que corria ao entrar ali do jeito que entrei. Era arrogância. Poder puro. Eles podiam simplesmente me matar e pegar uma recompensa generosa dos meus Tios ou Primos. Mas não fariam. Eram ralé demais para sequer se aproximar desse nível de gente.

Dei um passo à frente, os olhos fixos no homem de joelhos. Seu rosto estava destruído, um misto de resignação e medo. Ele sabia que ia morrer. Ninguém era trazido para esse lugar e saía vivo. E se saísse… não seria inteiro.

— Fica de pé — ordenei, a voz firme, sem pressa.

Ele hesitou por um segundo antes de se levantar, os movimentos pesados, a respiração curta.

Estendi a mão para o Pastor. Sem dizer nada, ele entendeu o que eu queria. Com toda a calma do mundo, colocou o cabo da minha .45 rosa na minha palma.

Julinha. Esse era o nome dela. Uma homenagem a uma namorada que tive quando era mais nova.

Continua

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