🚨 AVISO DE GATILHO: SAÚDE MENTAL 🚨
Este conteúdo pode conter temas sensíveis relacionados à saúde mental e outros assuntos que podem ser difíceis para algumas pessoas. Caso esteja enfrentando dificuldades emocionais ou psicológicas, procure apoio especializado.
Em situações de urgência, entre em contato com um serviço de apoio emocional, como o CVV (Centro de Valorização da Vida) pelo telefone 188. Assim que possível, busque acompanhamento profissional.
Cuide de você e lembre-se: pedir ajuda é um ato de coragem e um passo essencial para o seu bem-estar.
*
Acordei e a gatinha não estava nos meus braços. Após me higienizar, fui até o quarto das crianças e, graças a Deus, a paz havia sido selada entre os brothers. Os dois já estavam brincando juntos e se divertindo. Me joguei em cima deles, fingindo estar com preguiça, e eles riam, tentando sair debaixo de mim.
— Nossa, que saudade eu estou dos meus filhotes que nem ligam mais para a mãe deles — dramatizei.
— Não é verdade, mãaae — disse Kaká, me abraçando.
— Ontem eu queria tantos beijinhos e vocês chegaram virados no 70 — falei, em tom melancólico.
— Então agora vamos encher a senhora de beijinhos — disse Milena, saltando para cima de mim.
E eu ganhei uma surra de beijinhos dos meus bebês grandes.
Quando eles foram se organizar para o banho, fui procurar Júlia e a vi na área da piscina, deitada.
— Bom dia, gatinha! — cumprimentei e a surpreendi com um longo e lento beijo, deitando por cima dela.
— Bom dia, amor! — ela respondeu, enchendo meu pescoço de cheirinho.
— Tá a fim de fazer alguma coisa diferente para comemorar o grande milagre que é estarmos finalmente bem? — perguntei, rindo.
— Não sei o que te faz pensar que estamos bem — Juh disse convencida, soltando os braços do meu pescoço.
— Creio que você esfregando a periquita na minha cara é um ótimo sinal — brinquei, e ela fechou minha boca com as mãos, rindo e olhando assustada para observar se havia alguém por perto.
— Não fala essas coisas tão alto, amoooorr — Júlia pediu, e eu ri mais ainda.
— Quer ou não quer? — insisti.
— Quero... Mas o quê? — Juh questionou.
— A gente pode sair amanhã, caçar um lugar diferente, fazer um programinha de casal... Sem roteiro — sugeri.
— Gosto da ideia... Estou com saudade de ficar de amorzinho — Juh respondeu, afagando meu cabelo e me puxando para um abraço.
Nós ficamos um tempo ali no sol e, depois, resolvi tirar a paz dos meus irmãos. Já era hora de acordar. Juh me acompanhou. Segundo ela, para evitar uma conversa com os pais; contudo, acredito que ela também queria perturbar Lorenzo e Loren.
Os quartos são uns de frente para os outros, então eu bati em uma porta e Juh na outra. Victor abriu rápido, ele estava se arrumando para ir ao haras, e eu fui falar com minha irmã.
— Decidimos os nomes! — ela falou, animada.
— Sério???? Quais? — Juh perguntou.
— Alice e Tiago — Victor respondeu, voltando até a cama para depositar muitos beijos na barriga de Loren, que estava bem grandinha.
— Tá vendo, amor? Nome de gente — brinquei com Juh.
— Ahhhh, tá!!! Eu que queria chamar meu filho de Orion — ela replicou, nos fazendo rir.
— Adorei os nomes dos meus sobrinhos — e dei um beijinho na barriga da minha irmã também — Titia tá ansiosa para que vocês cheguem logo, tá? — falei com eles.
— Eu também amei, não vejo a hora de poder carregá-los!!! — exclamou Juh, também sentando na cama.
Mas as crianças a chamaram e ela partiu para atendê-las.
Lorenzo entrou no quarto e se jogou na cama, juntando-se a nós.
— Foi você quem bateu na porta, não foi? — me perguntou retoricamente — Pode nem dar um trato na mulher em paz, ter irmã é uma praga mesmo — ele reclamou, inconformado.
Eu comecei a rir da cara que ele fez, e o meu irmão acabou rindo da própria indignação.
Enquanto a gente conversava sobre a novela mexicana de Júlia, peguei o meu celular e vi a notificação do e-mail que havia recebido antes de pegar no sono. Era do escritório do Psiquilord, desmarcando o nosso encontro.
Aquilo mexeu comigo. Eu fiquei muito triste imediatamente, tentando imaginar o que poderia ter acontecido para tal ação.
A primeira coisa que pensei foi que, com certeza, alguém o informou sobre os últimos acontecimentos públicos relacionados a mim, e o Psiquilord viu que não valeria a pena ter alguém como eu ao lado.
Despertei dos meus pensamentos quando minha irmã repousou a cabeça um pouco abaixo do meu peito. A minha respiração não estava legal, e a pressão colocada não me ajudou.
— Caramba, o seu coração tá acelerado — Loren falou, olhando para mim assustada e interrompendo algo que o nosso irmão falava.
Eu comecei a tentar controlar a inspiração e expiração e, por mais que eu não quisesse transformar o clima em algo caótico, eu não conseguia falar nada para acalmá-los.
— O que tá acontecendo, Lore? — ouvi o meu irmão perguntar.
Apenas segurei firme as mãos dos dois, tentando passar algum tipo de conforto, e prossegui até me sentir mais tranquila.
— Transtorno de Ansiedade. Estou em tratamento... — falei para eles.
Os dois ficaram visivelmente surpresos.
— Mas... Desde quando? Por que não nos contou antes? — Loren questionou.
— Eu estava esperando o momento certo, quando eu me sentisse à vontade para falar. Não queria que fosse dessa maneira. Porém, que bom que aconteceu em um momento em que já me sinto confortável... Não queria forçar nada, me entendem? — questionei, e eles balançaram a cabeça de forma positiva.
Os dois estavam tristes.
— Por isso você não estava beben... Pera aí, esses dias aqui você bebeu, não foi? — perguntou Lorenzo.
— Estou sem a medicação, ficou em casa — respondi, e eles compreenderam.
— Poxa... Sinto muito... — disse a minha irmã, após algum tempo em silêncio.
— Tá tudo bem. Às vezes consigo controlar... Então acho que o tratamento está sendo funcional... Acreditem, isso foi fichinha perto do que já aconteceu — falei para eles.
Lembrei do gatilho que despertou a crise e senti o meu coração disparar novamente. Para o meu azar, minha mãe apareceu bem na hora na porta do quarto. Ela foi ver como Loren estava e acabou encontrando nós três.
Fiz sinal para não contarem nada, e minha irmã saiu com ela, pedindo um chá para disfarçar.
Eu não estava bem novamente, e acho que ficou claro para o meu irmão. Ele me abraçou bem apertado, dizendo que ia ficar tudo bem e que ele, mais do que ninguém, sabia o quão forte eu era e que passaria por mais aquilo para poder contar de forma vitoriosa no final das contas.
Eu o percebia muito nervoso e decidi pedir para ele pegar um copo de água. Às vezes, delegar funções dispersa a agitação interna por ter que se concentrar em executar uma tarefa.
E nisso, Juh entra no quarto.
— Amor, as crianças foram buscar os cava... — ela ia dizendo animada, quando se deparou comigo naquela situação — O que tá acontecendo???? — Júlia se apressou em perguntar enquanto corria até mim.
Eu não consegui dizer nada, e a inquietação interna estava cada vez pior. Sentia a minha carne tremer, conforme o meu coração batia.
— Calma, amor... Vai ficar tudo bem, tá?! — ela dizia, muito confiante — Vai passar! — Juh falou, segurando no meu rosto e fazendo-me encará-la — Vamos respirar juntas, vai dar certo! — ela me garantiu, segurando a minha mão em cima do seu abdômen para que eu pudesse acompanhá-la. E foi funcionando perfeitamente bem.
Lorenzo chegou com a água. Eu bebi e fui para o quarto, já me sentindo melhor.
Júlia deitou primeiro e me chamou. Fiquei longos minutos dentro dos braços dela, tentando não pensar em nada, enquanto recebia o melhor carinho do mundo. Uma de suas mãos deslizava sobre as minhas costas e a outra me fazia um cafuné. De vez em quando, sentia ela depositando alguns beijinhos em mim.
— Quer conversar, amor? — Juh perguntou, e eu apenas desbloqueei o celular para que ela visse a mensagem e entendesse.
— Ahhhh, nossa... E você não sabe o porquê, não é? — ela questionou, e eu neguei.
— Mas acho que ele ficou sabendo daquelas coisas que saíram sobre mim... Mesmo sendo provado que nada ali fazia sentido, não pega bem... — concluí, e Juh intensificou os carinhos.
— Esse cara é um bobão se te dispensou por causa disso! — Juh falou, brava, e isso me fez rir.
— Ele tem uma imagem a zelar, entendo não querer se envolver com polêmicas — falei, conseguindo devolver o carinho, passando o polegar em seu rosto.
— Mas se trata de você, amor... Quem ele acha que é? — Juh questionou, e eu gargalhei.
— Amor... Ele tem uma carreira nacional foda e é conhecido internacionalmente... — expliquei.
— Pois que não o conheço! — Júlia exclamou — Quer dizer... Só o que você fala sobre ele... — disse, pensativa.
— Ele é foda, amor — falei.
— Porém, sabe quem eu conheço? Você! E você, eu tenho certeza que é realmente foda, tanto como profissional quanto, principalmente, como pessoa — ela disse, enquanto intercalava selinhos em minha boca, me fazendo soltar um sorrisinho bobo.
— Não me importo tanto com o fato de ele ter desistido, sabe? O que pega é o que motivou, se foi mesmo isso que estamos pensando... Fico me questionando o quanto isso vai me atrapalhar no futuro... Tudo que poderia ser feito para desmentir já foi executado... Só quero seguir minha vida e carreira em paz — finalizei.
— Você quer chorar? — Juh me perguntou.
— Não... Acho que não... — respondi, após refletir um pouco sobre o questionamento.
— Quer descansar? — ela me perguntou.
— Huuuum... Onde estão as crianças mesmo? — questionei.
— Foram ao haras buscar os cavalos, devem ter encontrado com Victor no caminho — Júlia me respondeu.
— Então vamos esperar lá na rede e ficamos juntinhas os observando se divertindo — propus, e ela topou.
Fomos descendo as escadas bem devagar enquanto conversávamos.
— Lore... — Juh me parou no meio da escada — Desculpa... — Ela me agarrou enfiando o rosto em mim — Eu não devia ter te tratado dessa maneira, desconsiderei totalmente tudo que está acontecendo... E a culpa nunca foi sua... Nunca... Desculpa... — Júlia concluiu, me apertando bem forte.
— Tá tudo bem, gatinha... Já passou e conseguimos superar mais isso juntas... — Falei, segurando-a pelo queixo, para que me olhasse nos olhos e finalizei dando diversos beijos em sua boca.
Acabamos tomando café com o pessoal na mesa antes de ir e, alguns minutos depois de deitarmos, Kaique despontou correndo com um sorriso de um canto ao outro, enquanto Brad corria atrás dele. Logo atrás vinha Milena montada no Spirit e Victor no Cavalo.
Observando melhor, não acreditei.
— O Brad está... Não! — exclamei, desacreditada.
— O Brad que tá puxando o Spirit — completou Juh, também sem crer no que via.
— Meu Deus, como é que eu vou ter dois filhos com o homem que permitiu isso e ainda tá se divertindo junto? — Loren se perguntou, mas com humor.
— Tenho pra mim que vocês dois são iguaiszinhos, e isso é o que mais te encanta nele — falou meu pai, rindo.
E eu concordei.
— Eles vão matar o Brad dessa maneira — disse Juh, se levantando para intervir.
— Ahhh, ele parece estar gostando bastante... — falei, brincando, e ela foi até eles.
Assim que o Brad a avistou, mudou o rumo em que ia para poder encontrá-la. Ela conversou com as crianças — aparentemente foi tranquilo — e levou o doguinho para beber água. Quando retornou, já veio com ele em sua cola.
— Vai colocar ele aqui na rede também? — perguntei, fingindo ciúmes.
— Pena que não dá! — Juh exclamou, em tom bem-humorado, e me deu um selinho.
O celular começou a vibrar. Era um número com DDD 21.
— É ele? Não atende, não, amor... — pediu Júlia.
— Salvei o número dele, mas pode ter relação... Vou atender, quero entender — falei.
— Mas e se... você sabe... — ela disse, segurando as minhas mãos.
— Não vai... Fica tranquila... — falei, sem confiança alguma naquelas palavras.
Atendi. Coloquei no alto-falante para que Juh também pudesse ouvir, e era a secretária do Psiquilord. Ela pediu inúmeras desculpas pela data e disse que, infelizmente, ele não poderia me encontrar no dia marcado. Contudo, foi solicitada a antecipação, para o dia 27 de dezembro, e queriam saber se eu estaria disponível.
Eu olhei para Júlia e ela acenou que sim, porém sem animação. Eu só precisava da confirmação dela. Não queria magoá-la por serem datas reservadas para a nossa família, porém queria muito ouvir o que aquele senhor tinha a me dizer. Confirmei com a secretária e desliguei.
— Sei que é importante pra você, mas agora estou preocupada... — Juh falou baixinho, de forma que somente eu a escutasse.
— Eu tenho a leve impressão de que será uma boa proposta. Ele não ia me deslocar de um estado para outro para falar qualquer besteira, não acha? — falei, na intenção de acalmá-la.
— Eu não acho mais ele um bobão — Juh disse, sorrindo.
— E eu nunca achei — falei, sorrindo e roubando alguns selinhos.
— E se ele te chamar pra trabalhar no Rio? — ela me perguntou, em um tom de voz chateado.
— Vai ser horrível, mas terei que deixar minha família inteira e refazer a minha vida do zero — disse-lhe, brincando, e recebi uns tapinhas — Se ele me quiser por lá em tempo integral, inviável. Agradeço por ter pensado em mim e volto pra cá... — falei, decidida, e isso me fez ganhar muitos beijinhos.
Milena estava bem melhor, só pela disposição já se tornava notável. Eles brincaram bastante, e passamos um bom tempo ali na varanda apenas conversando e os observando.
Meus irmãos estavam com alguns olhares esquisitos para mim, e isso me fez ter certeza de que seria necessária uma conversa entre nós. Eu precisava garantir para eles que estava tudo sob controle e que eles não precisariam se preocupar...
Mas não eram somente eles que estavam estranhos. Meus sogros estavam rondando Juh, tentando uma nova conversa a sós, e ela os evitava de todos os jeitos, na maioria das vezes me usando de empecilho.
Com essa viagem marcada e tão próxima, era a deixa perfeita que Dona Jacira e Seu José precisavam.
Continua... 🔥