Após a aula, Joaquim, dedicou a tarde ao seu treino de vôlei. Ele sabia que precisava manter sua mente e corpo ocupados para não pensar tanto nas complicações do relacionamento escondido. Quando o treino acabou, ele se jogou em uma corrida ao redor do lago, sentindo o vento bater no rosto, ele não conseguia para de pensar em Hugo. Foi então que ele pegou o celular e enviou uma mensagem para o namorado.
JOAQUIM: Estou com saudade de você, venha em csa hj a noite para eu te encher de beijos, mas vem logo.
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Enquanto isso, Felipe fez uma chamada de vídeo para confirmar a ida até a pracinha perto da casa de Hugo para jogarem conversa fora e comer churros. Esse era um hábito que eles resolveram adotar as quartas-feiras, para deixar a semana menos chata. Eles seguiam esse compromisso religiosamente, era a tradição pessoal entre os amigos, porém Hugo precisou recusar pois já tinha aceitado o convite de Joaquim .
HUGO: Hoje não vai dar, amigo. Passei a tarde toda fazendo simulado do enem e treinando redação, acabei perdendo a noção do tempo. Eu estou tão cansado que não tenho energia para mais nada. Desculpa.
FELIPE: A gente sai no sábado então, Tchau! – Felipe estava chateado, mas ele não gostava de implorar por nada. Se o amigo não estava com animo, paciência. Entediado e com vontade de comer doce, Felipe resolver ir sozinho até o carro de churros da simpática Dona Genoveva. Enquanto realizava o trajeto, Felipe avistou Hugo saindo de casa. Intrigado, ele resolveu o amigo. O churros poderia esperar, pois agora ele estava com fome de outra coisa... curiosidade!
A perseguição durou cerca de vinte minutos. Felipe estava se sentindo um espião. Seguir o amigo estava sendo um trabalho fácil, pois em nenhum momento Hugo olhava para trás. O local era uma casa com portão de ferro e muro de pedra. Ele não precisava ser um gênio para saber quem morava naquela residência. De longe ele observou Hugo abrir o portão lentamente.
FELIPE: Ah Hugo, eu não acredito que você mentiu na cara dura para se encontrar com macho as escondidas. – Aquilo deixou Felipe furioso. Ele não, queria bancar o amigo ciumento, mas o melhor amigo tinha desmarcado o compromisso deles que já tinha virado um ritual semanal, para ir escondido até a casa do namorado. Naquele instante, Felipe desejou apenas uma coisa, dar o troco e ele já sabia como iria fazer isso.
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Por morarem em uma cidade pequena, os locais em que Hugo e Joaquim poderiam se encontrar com tranquilidade e sem nenhuma preocupação eram escassos, portanto, a única forma de conseguirem se encontrar era Hugo ir escondido a casa de Joaquim a noite ou quando seus pais não estivessem em casa.
Joaquim deixou o portão destrancado, Hugo só precisaria ir até o fundo da casa sem fazer barulho. O portão rangeu imperceptivelmente quando ele o empurrou com todo o cuidado do mundo. Estava destrancado, como Joaquim tinha prometido, porém parecia pesar toneladas sob seus dedos trêmulos. Hugo lançou um olhar nervoso para a janela iluminada da sala — dali vinham as vozes abafadas e as risadas dos pais dele, mergulhados na televisão.
Prendendo a respiração, moveu o portão devagar, milímetro por milímetro, com medo que qualquer rangido denunciasse sua presença. Cada estalo minúsculo soava como um trovão aos seus ouvidos.
Finalmente, aberta a passagem, ele se esgueirou para dentro, sentindo o coração martelar descompassado no peito. Um passo em falso, um ruído mais alto, e tudo estaria perdido.
Agora, era só cruzar o quintal — e torcer para que nenhum dos sogros ouvisse nada.
Do ladro dentro, Joaquim tinha tomado um banho quente para relaxar e, finalmente, deitou-se na cama. A sensação de cansaço nas pernas contrastava com a tensão que ainda sentia na cabeça. Ele pegou o celular e começou a mexer nas redes sociais, a espera de Hugo.
JOAQUIM: Que carinha é essa? – Disse com um leve tom de preocupação, após beija-lo.
HUGO: É sempre uma tensão entrar na sua casa feito um bandido. Ainda bem que você não tem cachorro, se não eu estaria fodido – disse rindo – Posso usar seu banheiro, para secar meu rosto? Não quero que você me beije todo suado.
JOAQUIM: Pode sim – Enquanto aguardava Hugo voltar do banheiro, Joaquim passava os dedos pela tela do celular, uma notificação fez seu celular vibrar. Uma mensagem apareceu na tela, de um número desconhecido. Joaquim franziu a testa, curioso, clicou para abrir a notificação.
Anônimo: Qualquer pessoa teria sorte de ter você como amigo.
JOAQUIM: Eai, acho que você se enganou.
Anônimo: Não me enganei. É com você mesmo que eu queria falar, Joaquim. Você é uma pessoa que sabe muito bem guardar segredos. Guarda tão bem que ninguém desconfia do seu namorinho secreto, mas esse segredo não é mais tão secreto assim.
Joaquim sentiu um embrulho em seu estomago. Ele ficou paralisado por alguns segundos. O ar pareceu faltar, e uma sensação estranha de apreensão tomou conta de seu peito. Como alguém poderia saber? Será que alguém tinha escutado a sua conversa com Hugo no banheiro? Mas quem poderia ser essa pessoa? As perguntas eram infinitas. Ele olhou em volta, sentindo o ambiente se tornar mais claustrofóbico. Seu coração acelerou. Ele foi tirado de seus pensamentos com Hugo retornando do banheiro.
HUGO: O que foi, Jota? Parece que viu um fantasma – disse se aproximando da cama
JOAQUIM: Não é nada de mais, é só o Paulo falando merda como sempre – disse tentando tranquilizar o namorado – Agora vem aqui vem, que eu estou querendo ficar agarradinho com o meu namorado
Joaquim abraçou Hugo com força, trazendo o namorado para perto de si. Hugo pensou que aquela era uma demonstração de carinho, mas para Joaquim significava outra coisa. Ele estava com medo e buscou abrigo na pessoa em que ele mais confia, como forma de se reconfortar após o recebimento daquela mensagem. Hugo estava concentrado na televisão que não percebeu que uma lágrima escorria no rosto de Joaquim. E se descobrirem tudo? Pensou.