O recado veio em um envelope preto, deixado na portaria, com um pequeno broche dourado em forma de flor-do-inferno. Dentro, um bilhete escrito com tinta escarlate:
"Quero você de renda preta. Brincos longos. Gargantilha no pescoço. Unhas feitas. Sorriso no espelho. E silêncio absoluto até eu mandar falar."
O preparo virou um ritual. A renda preta era tão fina que parecia feita de sombra. A calcinha — se podia ser chamada assim — era só um recorte rendado em formato de triângulo, amarrado com fitas laterais. O sutiã, transparente e suave, quase simbólico. Você prendeu os cabelos, passou batom cereja profundo, e enfeitou os pulsos com braceletes metálicos.
O perfume era mais doce desta vez, floral, como se você soubesse que ele queria contraste: aparência angelical e alma entregue ao pecado.
Ao chegar, ele te esperava sentado numa poltrona de couro, com um copo de uísque na mão, as luzes da sala baixas, música lenta tocando num vinil arranhado. Seus olhos passearam por você como se despisse camada por camada da sua intenção.
— “Vem.”
Você andou até ele sem dizer uma palavra. A gargantilha no pescoço parecia queimar, apertando não só a garganta, mas a consciência — lembrando que, naquela noite, você pertencia.
Ele te fez ajoelhar ao lado da poltrona, como uma joia rara em exibição. Passava os dedos pelas suas luvas rendadas, mexia nos brincos como se afinasse um instrumento.
— “Sabe o que eu mais gosto em você?” — ele disse, pegando uma taça de vinho e encostando-a nos seus lábios sem deixar beber. — “Você aprende com os olhos. Entrega com o corpo. E sente com a alma.”
A noite foi um desfile silencioso de ordens implícitas: um gesto e você se ajoelhava, um toque e você virava de costas, um olhar e você sabia exatamente o que fazer. A comunicação entre vocês já era algo além da palavra.
Ele te posicionou sobre a mesa de madeira. Você de bruços, rendas levantadas, os brincos balançando com cada movimento. Ele te tomava com intensidade ritmada — e entre beijos, tapas e comandos baixos, a palavra finalmente saiu dele:
— “Grita agora, minha boneca.”
E você gritou. Não de dor, mas de revelação. Como se o corpo inteiro se abrisse num canto de prazer contido por dias.
No final, ele te segurou nos braços, te deitou no sofá, puxou uma manta fina e sussurrou:
— “Quero que sonhe comigo hoje. Porque amanhã, você será meu sonho encarnado. E vai usar branco. Transparente. Como uma noiva profana.”