Naquela noite, ainda conversei com Luke por mensagem. Depois, ele me ligou, e ficamos conversando por quase meia hora. Foi uma conversa leve, cheia de risadas e declarações.
Falei um pouco sobre o meu dia, mencionei que havia estudado com Carlos, mas, claro, omiti a parte em que ficamos juntos. Cheguei a considerar contar a verdade, mas preferi guardar aquele segredo. Talvez a escolha certa tivesse sido ser sincero com Luke, mas eu ainda era imaturo. Um adolescente sem inteligência emocional suficiente para lidar com aquilo.
O resto da semana na escola transcorreu normalmente. Luke e eu sempre arranjávamos um jeito de fugir para algum banheiro, onde trocávamos beijos apressados. Às vezes, ele ia para minha casa, outras vezes, eu ia para a dele.
Carlos, por outro lado, manteve-se mais distante. Nosso contato se restringia ao vôlei. Em um dos treinos, ele tentou investir em mim novamente, mas desta vez eu o afastei. Eu já tinha traído Luke uma vez, e não queria repetir o erro.
No sábado, fui para a casa de Luke junto com dois amigos dele da sala, Isaac e Yan. Eu não era muito próximo deles e eram nerds, bem diferentes dos meus amigos, mas, por serem amigos de Luke, acabei me aproximando também.
Nos reunimos para fazer um trabalho. Achamos que levaria o dia inteiro, mas, como eram três mentes brilhantes trabalhando juntas, terminamos rapidamente. Com tempo livre, decidimos aproveitar a piscina da casa de Luke.
Brincamos na água, rimos e bebemos algumas garrafas de Ice. Conversamos sobre várias coisas, e foi a primeira vez que passei um tempo com Isaac e Yan fora da escola. Gostei da experiência. O papo era diferente do que eu costumava ter com meus outros amigos.
Luke e eu evitávamos qualquer tipo de toque mais íntimo. Ainda não estávamos prontos para nos assumir, e a proximidade dos outros exigia discrição.
No fim da tarde, subimos para o quarto de Luke, tomamos um banho rápido e colocamos roupas secas. Depois, nos jogamos na cama para assistir a um filme. Luke trouxe uma bacia enorme de pipoca e um prato de brigadeiro, e todos comemos enquanto assistíamos.
Dividimos um cobertor. Yan e Isaac estavam ao lado, distraídos com o filme, mas Luke, debaixo da coberta, me tocava discretamente. Passava a mão de leve pelo meu pau, minha bunda, depois passava a mão na minha perna. Era excitante fazer aquilo bem debaixo do nariz dos nossos colegas, eu também fui um pouco ousado e fiquei tocando uma punheta discretamente para o Luke. Ainda acho que Yan percebeu alguma coisa, mas, se notou, não disse nada. Ficamos nesse jogo silencioso de toques e pegação até o filme acabar. Quando olhamos o relógio, já eram quase nove da noite. Luke pediu uma pizza. Pouco depois, seu pai, o Sr. Lúcio, apareceu para nos cumprimentar. Conversou conosco por um tempo antes de se despedir e ir para o seu quarto. Acabamos dormindo todos na casa de Luke. Jogamos videogame, assistimos a vídeos e conversamos até altas horas da madrugada, até que, finalmente, fomos dormir. Luke e eu ficamos na cama dele, enquanto Yan e Isaac ocuparam o sofá-cama no quarto. Naquela noite, Luke e eu trocamos apenas alguns beijos. Nada além disso. Mas, para mim, a parte mais importante era simplesmente estar ao lado dele.
No domingo, os meninos foram embora cedo, e eu fiquei o resto do dia com Luke. Seus pais haviam saído para um aniversário, e aproveitamos a tarde a sós para namorar. Depois do almoço, estávamos no quarto de Luke, deitados na cama, trocando beijos, logo o Luke ficou pelado, arrancou minha roupa, e o começamos a transar ali, estávamos despreocupados, já que seus pais só voltaram final da tarde, então o Luke enfiou seu pau em mim, e foi metendo devagar e aumentando o ritmo, enquanto segurava meu pau e me beijava também, eu sentia prazer levando o pau do Luke, no toque dele no meu pau, e seu beijo, eram múltiplas formas de prazer, e eu estava gemendo gostoso, e pedindo pra ele meter mais e mais. O mundo parecia pertencer apenas a nós dois, sem preocupações, sem segredos. Eu podia sentir seu coração acelerado, misturado ao calor dos nossos corpos. Foi quando ouvimos a porta se abrir de repente. Nos separamos assustado, mas já era tarde demais. O Sr. Lúcio estava parado ali, olhando para nós com uma expressão de puro ódio.
— Que porra é essa?! — ele rugiu, a voz carregada de fúria.
Luke congelou, pálido. Sua respiração ficou entrecortada, e ele tentou formular uma resposta.
— P-pa-pai... Você não ia chegar mais tarde? — gaguejou.
Mas Lúcio não queria ouvir desculpas. Seus olhos estavam vermelhos de raiva, e seu rosto contorcido demonstrava todo o desprezo que sentia naquele momento.
— Então é isso que você faz quando eu não estou em casa?! — ele esbravejou. — Pensei que tínhamos superado essa merda! Mas não... Você não tem jeito! Nasceu uma bichona mesmo!
Aquelas palavras foram como facadas no peito de Luke. Seus olhos se encheram de lágrimas instantaneamente, e ele tentou se levantar, mas o pai foi mais rápido. Sem aviso, Lúcio avançou e desferiu um soco no rosto de Luke. O impacto foi seco, e ele caiu de lado na cama, gemendo de dor.
— Junta suas coisas e VAZA daqui, seu viado! — gritou Lúcio comigo, cuspindo as palavras com ódio. Eu congelei. Meu coração batia forte, o medo me paralisava. Eu queria fazer alguma coisa, queria reagir, queria defendê-lo... Mas o choque me travou. Então, sem pensar muito, vesti minhas roupas às pressas. Enquanto isso, Luke tentava se levantar, mas Lúcio o empurrou de volta contra a cama.
— Você me envergonha.
Cada palavra era um golpe pior do que qualquer soco. Luke soluçava, segurando o rosto onde o soco tinha acertado. Meu estômago se revirava de raiva, de impotência. Mas eu era só um adolescente, e aquele homem era um monstro na minha frente. Eu não sabia como agir. Eu não sabia o que fazer. Meus olhos se encheram de lágrimas quando desci as escadas correndo, engolindo o choro. Foi então que vi Juliette, a mãe de Luke, sentada na sala. Ela não parecia surpresa. Não perguntou nada. Apenas me encarou com frieza e disse:
— Eu te levo para casa.
Sua voz era vazia, olhei para ela em busca de alguma compaixão, de alguma esperança de que defendesse o próprio filho. Mas não encontrei nada além de indiferença. E isso doeu tanto quanto o soco que Luke levou. Entramos no carro em silêncio. O motor roncou suavemente enquanto Juliette dirigia, os olhos fixos na estrada. O silêncio era pesado, quase sufocante. Depois de alguns minutos, ela quebrou o gelo, mas sua voz soou distante, como se falasse mais para si mesma do que para mim.
— Vocês deram bandeira… Mas isso é só uma fase. Logo o Lúcio aceita.
Eu virei o rosto para ela, sentindo um nó se formar na garganta.
— A senhora sabia? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas engolindo a seco.
Ela suspirou, sem desviar os olhos da estrada.
— É só somar um mais um… Conheço meu filho. Sei quando ele está envolvido com alguém. E nos últimos tempos, ele andava feliz… muito mais do que o normal.
Ela fez uma breve pausa, ajeitando as mãos no volante antes de continuar.
— O que, para mim, é algo bom. Mas o Lúcio… O Lúcio não entende. Ele não aceita que Luke seja assim.
Senti um aperto no peito. "Assim" era uma palavra que cortava como uma lâmina.
— Ele estava batendo forte nele… — minha voz saiu num fio, trêmula, quase um sussurro.
Juliette fechou os olhos por um segundo e suspirou profundamente.
— Não é a primeira vez… — disse baixinho.
Meu coração disparou.
— Como assim?
— O Lúcio tem um gênio difícil. Sempre teve. Quando Luke se assumiu pela primeira vez, foi um inferno. Achei que com o tempo ele fosse aceitar, mas… Ele só aprendeu a fingir melhor.
Meu estômago revirou.
— E a senhora? Nunca tentou impedir?
Juliette apertou os lábios, hesitando.
— Eu tento… Mas você não entende como as coisas são entre mim e Lúcio. Ele é um homem difícil, e às vezes, quando perde a cabeça… — Ela fez uma pausa e olhou rapidamente para mim antes de voltar os olhos para a estrada. — Eu sei que ele vai se arrepender. Sempre se arrepende. E isso vai deixá-lo ainda mais amargo, mais deprimido… Mas o estrago já vai ter sido feito.
Um silêncio tenso se instalou no carro. O que mais me machucava era a frieza na voz dela, como se tudo aquilo fosse inevitável, como se fosse apenas um ciclo que ela já havia aceitado.
— E o Luke? O que acontece com ele? — perguntei, minha voz embargada.
Ela olhou para mim, seus olhos carregados de algo que parecia culpa.
— Luke só vai ter mais raiva do pai. Vai se afastar ainda mais… E eu vou perder um filho aos poucos.
Um nó apertou minha garganta. Aquilo era uma tragédia anunciada.
— Quanto a você… — ela continuou. — É melhor dar um tempo até que as coisas se acalmem. Mas eu te garanto… No fim, tudo vai ficar bem.
Eu não sabia se acreditava naquilo.
— Obrigado… — murmurei. — E, por favor… Não comente nada com a minha mãe. Lá em casa ninguém sabe sobre mim.
Ela assentiu.
— Certo. Não se preocupe.
O carro parou em frente à minha casa. Saí devagar, sentindo um peso nos ombros. Parte de mim queria acreditar que tudo realmente ficaria bem, mas outra parte sabia que não era tão simples assim. Enquanto via Juliette partir, pensei em Luke, ele estava sozinho naquela casa, e eu só podia torcer para que ele fosse forte o bastante para suportar mais essa dor.
No dia seguinte, na escola, o Luke não apareceu. Tentei me convencer de que não era nada demais, mas meu coração parecia estar se apertando dentro do peito, numa agonia silenciosa. Mandei mensagem pra ele logo cedo, mas até então não tinha tido resposta. O “visto por último” no WhatsApp ainda marcava 16:50 — exatamente a hora em que eu ainda estava na casa dele.
Fiquei ali encarando aquela informação, com o celular tremendo na minha mão. Talvez ele estivesse de castigo, talvez o pai dele tivesse tomado o telefone. Tentei relaxar, mas era como se meu corpo não me obedecesse. Eu suava frio, meus pensamentos corriam mais rápido do que eu conseguia organizar.
No intervalo, o Carlos tentou puxar conversa. Eu mal consegui responder. Dei um aceno vago, desviei o olhar. Meu coração não estava ali, minha cabeça também não.
Quando a aula terminou, decidi não ir pro treino de vôlei. Não conseguiria pensar em nada até saber se o Luke estava bem. Pedi à minha mãe o número da mãe dele, a Juliette. Falei que era urgente, que ele não tinha ido à aula nem respondia. Ela não fez perguntas, apenas me passou o contato.
Pensei em mandar uma mensagem, mas algo dentro de mim gritava que eu precisava ouvir a voz dela. Liguei. Cada toque era uma eternidade.
Ela atendeu na quarta chamada.
— Alô?
— Oi, Juliette… é o Lucas. Tudo bem? Queria saber como o Luke está… ele não apareceu hoje, e eu tô bem preocupado.
Houve uma pausa longa do outro lado.
— Ah… você… — ela suspirou. — O Luke está internado. Tivemos que levá-lo ao hospital de madrugada.
Minha respiração falhou.
— O quê? Como assim internado?! O que aconteceu? O que o Lúcio fez com ele?!
— Ele está estável. O pior já passou… Mas… — ela fez uma nova pausa, e quando voltou a falar, sua voz era fria, cansada. — Olha, Lucas, a melhor coisa que você pode fazer agora é se manter distante, e desligou. Fiquei olhando pro celular como se ele tivesse virado uma bomba nas minhas mãos. Meu chão desmoronou naquele instante. O Luke… internado. O que o pai dele tinha feito? Ele realmente estava bem? Por que a Juliette falava como se eu fosse parte do problema? Um nó apertou minha garganta, me engasguei com o próprio ar. O frio na barriga virou uma onda de desespero. Tive vontade de sair correndo até o hospital, de invadir aquela casa, de gritar com o mundo. Mas eu era só um garoto. Um garoto sozinho. E com o coração despedaçado. Voltei pra casa sem saber direito como cheguei lá. Quando entrei, fui surpreendido por algo ainda mais raro do que uma boa notícia: meu pai estava em casa. Ele nunca estava. Sempre no escritório, sempre ocupado demais. Mas naquele dia, ele me esperava. Ele se virou pra mim assim que entrei, com os olhos cheios de raiva. Aquele olhar que atravessava a pele.
— Que bom que chegou. A gente precisa conversar.
Senti outro frio na espinha. Algo me dizia que eu já sabia exatamente o motivo daquela conversa.
— O que houve?
Ele se levantou, com uma expressão dura.
— O que houve? Você me pergunta isso? Você sabe muito bem! O Lúcio me ligou … Você, dando a bunda pra aquele garoto… o Luke! Meu Deus… o que foi que eu fiz pra merecer um filho viado?
As palavras dele cortaram como navalhas. Mas eu já estava cansado de fingir, de me esconder. Meu rosto ainda estava molhado das lágrimas do hospital, mas minha voz saiu firme.
— Sim. Eu tava com o Luke. A gente namora. E qual o problema?
Ele arregalou os olhos. A raiva agora transbordava. Antes que eu pudesse dar um passo pra trás, ele avançou.
O soco foi direto no meu rosto, e logo depois, um chute forte no estômago me derrubou no chão. Senti o gosto de sangue na boca.
— O problema é eu ter criado um filho viado! Uma vergonha pra essa família!
Tentei me levantar, com as lágrimas escorrendo pelo rosto, o corpo inteiro doendo.
— Você é um péssimo pai… — falei entre soluços. — Nunca me aceitou. E pelo visto… nunca vai.
— Você não é mais meu filho! — ele gritou, com o rosto a centímetros do meu. — Só não te expulso dessa casa por causa da sua mãe. Mas saiba… você é a maior decepção que já tive! Ele saiu, me deixando ali, caído, quebrado — por fora e por dentro.
Fiquei deitado no chão por alguns minutos, tentando recuperar o fôlego, a lucidez. Mas era como se eu tivesse sido arrancado do meu próprio corpo. O mundo parecia distante, abafado. Tudo girava. Naquela noite, descobri o que era dor de verdade. Não a dor física — essa ia passar. Mas a dor de não ser amado. De não ser aceito. De ser tratado como um erro por quem deveria te proteger. E mais do que nunca, eu sentia falta do Luke. Porque, mesmo em silêncio, ele era meu único lugar seguro.