Entre Sombras e Revelação

Um conto erótico de Lauro Costa
Categoria: Gay
Contém 947 palavras
Data: 07/04/2025 12:19:54
Assuntos: Gay

O telefone tocou às três e meia da madrugada. O nome de Aldebaran piscava na tela com a insistência de um náufrago prestes a se afogar.

Atendi sem dizer nada. O silêncio do outro lado me disse tudo.

— Você bebeu de novo? — perguntei, seco. Nem me dei ao trabalho de fingir paciência.

— Me desculpa, Leo… eu tentei… — a voz dele era arrastada, vulnerável. — Foi o Pedro. Ele apareceu no passeio. Com ela. Com meus filhos. Eles... eles riram de uma piada dele. Como se ele fosse o pai.

Fechei os olhos por um segundo. A imagem de Aldo, desequilibrado, tentando se segurar na própria sombra, era quase patética. Quase.

— Estou indo.

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Mais cedo naquele dia, eu o havia encontrado no centro de treinamento. Ele estava suando no tatame, com o tipo de concentração que só a culpa dá.

— Você devia levar sua família pra passear — sugeri, jogando a provocação como quem joga carne pra um cão ferido.

— Passear? — Ele me olhou, desconfiado.

— Isso. Sair do ringue por um instante. Vai a um parque. Faz de conta que é um pai funcional. Pode ser que até se convença disso.

— Você fala como se eu fosse um lixo.

— Não. Lixo é reciclável. Você, no máximo, é material orgânico em decomposição.

Ele deu dois passos em minha direção, o peito estufado, mas hesitante.

— Você não sabe o que é… ver sua filha feliz com outro cara.

— E você não sabe o que é ser um segredo de infância. Meu pai só me reconheceu depois dos dez. Antes disso, eu era o erro da amante. Cresci em Paraisópolis, sem sobrenome, sem quarto, sem nada.

Aldo empalideceu. A postura caiu.

— Paraisópolis? Eu também…

— Olha só, mais uma coincidência trágica. Devíamos escrever um livro: "Do barraco ao fracasso".

Ele riu, sem graça, e abaixou o olhar.

— Talvez eu leve eles pra sair… tentar alguma coisa diferente.

— Faça isso. Quem sabe você convence sua filha de que ainda serve pra alguma coisa além de escândalos.

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Ele tentou. Me mandou uma foto brega dos três no parque, sorrisos tortos, roupas mal combinadas. Mas claro que a paz não duraria.

Pedro Moraes apareceu. O novo namorado da ex-mulher. O lutador limpinho da televisão. Camila, a filha de Aldo, tirou uma foto com ele. Sorrisos genuínos.

O mundo de Aldo desabou. E, como de costume, ele caiu na garrafa.

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O apartamento era um retrato do caos: garrafas no chão, um pote de sorvete vazio, cheiro de álcool e derrota.

— Você é previsível demais, Aldo. Devia colocar alarme de recaída no celular.

— Não começa, Leo…

— Não vou começar. Vou terminar. Essa farsa de redenção, esse teatrinho de pai arrependido… você é só um covarde com complexo de mártir.

Ele me encarou, olhos vermelhos. Então me empurrou contra a parede, o braço bloqueando minha fuga. Estávamos cara a cara, com ódio e frustração escorrendo entre nós.

— Você me humilha como se fosse melhor. Mas você é tão quebrado quanto eu.

— A diferença é que eu sou funcional. Você é uma bomba-relógio molhada: não explode, só fede.

Ele vacilou. A respiração pesada. E então… chorou. Não discretamente. Desabou como um prédio mal projetado. Eu me afastei, peguei minhas chaves e saí sem olhar para trás.

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Na manhã seguinte, ele me ligou. Voz trêmula, devastada.

— Me perdoa, Leo… por tudo. Eu vou mudar. Eu juro.

Desliguei. Eu não acreditava. Mas talvez… acreditasse um pouco.

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Com a cabeça ainda quente, resolvi avançar na investigação sobre minha querida irmã Luiza e o canalha do Felipe. Vasculhei conversas, mensagens, rastros digitais. E ali estava: Felipe, o moralista, enrolado com a filha de um cliente importante da Luiza. A garota, rica, entediada e cheia de caprichos, vivia visitando o escritório com desculpas esfarrapadas e depois saía para longas tardes com Felipe. Clichê de novela ruim, mas real o suficiente pra ser útil.

Delícia de podre, não?

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No fim da tarde, alguém bateu à minha porta. Uma batida aflita, de gente sem dignidade.

Abri e encontrei Olga, tremendo, olhos esbaforidos e maquiagem borrada como se tivesse brigado com um furacão.

— Ele me mandou abortar, Leo! Disse que eu era pobre, que eu não era nada perto da princesinha Luiza Sampaio! — cuspiu as palavras com raiva, quase me empurrando ao entrar.

— Calma. Senta. Me conta tudo com detalhes. — Fui até a cozinha buscar um copo d’água. Quando voltei, ela ainda tremia.

— Eu continuei com ele, Leo. Mesmo depois daquela confusão. Mesmo depois de você ter dado um jeito de salvar ele do meu marido. — Ela respirou fundo. — Eu sou uma idiota, eu sei. Mas… eu me apaixonei. E agora eu tô grávida.

— Tem certeza que é dele?

— Meu marido fez vasectomia faz cinco anos. E Felipe foi o único… o único nesses últimos meses. — A voz dela se quebrou. — Ele me tratou como lixo. Disse que era só diversão. Que Luiza era o futuro dele, e eu… eu era só entretenimento barato.

— Polaca dos infernos… — murmurei, balançando a cabeça. — Você se meteu com o diabo e agora quer que eu te traga água benta?

— Não quero milagre. Quero vingança. Quero ver ele rastejar.

Suspirei, sentando de frente pra ela.

— Então você veio à pessoa certa.

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À noite, fui até o centro de treinamento. Aldo estava com um grupo de adolescentes, ensinando técnica de clinch como se estivesse salvando o mundo com cada golpe.

Quando me viu, o clima entre nós oscilou.

— Vim com uma proposta — falei. — Centro de treinamento em Paraisópolis. Projeto social. Você no comando. Eu na gestão. Sem escândalos. Sem recaídas.

— Isso é sério?

— É. Porque mesmo a merda pode virar adubo, se bem trabalhada.

Ele hesitou. Mas dessa vez, não fugiu.

— Vamos fazer isso direito, então.

Sorri.

— Uma chance. Só uma. Não desperdiça.

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