A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO 3: CORAJOSO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1833 palavras
Data: 09/04/2025 04:33:57

A chegada ao hospital de campanha foi um choque para os meus sentidos. Feridos por todos os lados, gritos de dor e o cheiro de sangue misturado com desinfetante tornavam o ambiente sufocante. Julian, o homem que nos resgatou, seguia à frente, em silêncio. Emmet e eu fomos levados a uma tenda de triagem, onde o médico, apesar do cansaço evidente, manteve a compostura ao nos avaliar.

— Achamos mais dois. Um deles está em estado grave. — Disse Julian ao médico, que apenas assentiu. Emmet, inconsciente, estava deitado em uma maca atrás de mim.

Diana, que ainda nos acompanhava, conseguiu alguns cobertores para nos aquecer, pois a temperatura começava a cair. Ela também me entregou duas pílulas para dor, que aceitei de bom grado. Fui deixado em uma tenda para aguardar atendimento, cercado pelo caos. Pessoas gritavam de dor, outras chamavam por parentes desaparecidos. Eu só conseguia pensar na minha família, torcendo para que estivessem em segurança.

— Olá. — Um médico me cumprimentou ao entrar na tenda com uma prancheta na mão. — Seu nome, por favor.

— George Sanches, senhor. — Respondi, ciente de que precisava fornecer mais informações. — Moro na Rua Lucena, 1909. Meus pais se chamam Carlos e Rebecca Sanches.

— Muito bem, filho. — Ele anotou os dados e fixou a prancheta em um suporte na entrada da tenda. — E o nome do seu colega?

— Emmet Montgomery-Kerr. — Respondi, hesitante. Não sabia muito sobre ele. — Ele é o quarterback da escola, senhor. Ainda está inconsciente. — Olhei para Emmet na maca ao lado. — Ele vai morrer?

— A equipe de resgate aplicou uma dose de morfina. Ele vai ficar bem, mas precisa de atendimento urgente. Aliás, todos aqui precisam. — Explicou. — Sou o Dr. David Murphy.

Ainda atordoado, flashes do furacão passavam pela minha mente. O Dr. Murphy começou a fazer um curativo no meu olho, informando que eu precisaria de uma cirurgia para tentar salvar minha visão. O desespero tomou conta de mim, mas fiz o possível para me manter firme. Não queria ser um peso para ninguém.

Enquanto examinava Emmet, o médico murmurou: "Pobre garoto". Em seguida, colou um adesivo vermelho na roupa dele — um sinal de emergência.

— George, preciso atender outros pacientes. — Contou ele, tirando duas garrafas de água e dois sanduíches da mochila. — Estarei naquela tenda verde. — Apontou para uma tenda não muito distante. — Se Emmet acordar, me procure.

— Ok. — Respondi, tentando esconder o pânico.

— Vai dar tudo certo. Você está sendo muito corajoso. — Ele apertou meu ombro antes de sair.

Meus pensamentos estavam em desordem. Vou ficar cego? Meus pais estão vivos? Emmet vai perder o braço? As perguntas não paravam de surgir, e não havia ninguém com quem desabafar. Do lado de fora, os gritos continuavam. Todos estavam perdidos, e eu não era diferente, mas sabia que não era hora de ceder ao medo.

O cansaço me venceu, e adormeci na cadeira. Acordei de um pesadelo onde era lançado dentro de uma piscina. Ao abrir os olhos, preferia continuar dormindo. O Dr. Murphy, com a ajuda de uma enfermeira, estava amputando o braço de Emmet.

Minha visão ficou turva, e corri para fora da tenda, vomitando. Uma senhora com uma criança no colo se aproximou e acariciou minhas costas de forma reconfortante.

— Está tudo bem, querido. Vai ficar tudo bem. — Ela afirmou suavemente.

— Como você sabe? — Perguntei, a voz trêmula.

— Já passei por muita coisa nessa vida. Você acha que esse é o meu primeiro furacão? Claro que não. — Ela riu de leve. — A gente pode cair, mas precisa encontrar forças para se levantar.

Seu discurso me emocionou.

— Obrigado. — Murmurei, sentindo uma gratidão genuína.

Cada vez mais pessoas chegavam ao hospital de campanha. Equipes da Cruz Vermelha, agentes do governo e voluntários de ONGs se uniam para dar conforto às vítimas do furacão. Voltei para a tenda, ainda abalado, mas tentando me manter firme.

Não demorou para que o Dr. Murphy retornasse com uma notícia desagradável: eu precisaria de cirurgia para salvar minha visão. Tentei argumentar, dizendo que não sentia dor, mas ele insistiu que cada minuto era crucial.

Com medo, segui para uma área improvisada com contêineres que não estavam ali antes. O ambiente parecia moderno, e a mesa de operação lembrava a de um consultório odontológico. Infelizmente, não seria o Dr. Murphy a realizar o procedimento, e sim o Dr. Carter, um homem mais velho, com uma expressão igualmente cansada.

Ainda assim, ele tentou tornar o ambiente mais acolhedor, garantindo que faria tudo o que pudesse para salvar minha visão. Respirei fundo e deitei na mesa, pronto para enfrentar mais esse desafio, rezando para que, ao final de tudo, ainda pudesse enxergar — e encontrar minha família em segurança.

Deitado na mesa de operação improvisada, meu coração martelava no peito. O Dr. Carter estava ao meu lado, os olhos fundos, as rugas no rosto parecendo ainda mais profundas. Era evidente que ele estava no limite. Mas, afinal, quem não estava?

— George, a cirurgia será delicada, mas prometo fazer tudo o que for possível para salvar sua visão. — Explicou o médico, a voz firme apesar do cansaço.

— Eu sei, mas... nunca passei por algo assim. Minha mãe...

Minha voz falhou quando as lembranças de Rebecca inundaram minha mente. Ela sempre me acompanhava nas consultas médicas. Até poucos dias atrás, eu achava um mico visitar o velho Dr. Stann, meu pediatra. Agora, daria tudo para ter minha mãe ao meu lado.

— Eu sei que dá medo, George. Essa situação é difícil para todos. Eu mesmo estou sem notícias da minha esposa e filha, mas decidi continuar salvando vidas. — Ele engoliu em seco, lutando para conter a emoção. — Todos nós perdemos algo, e você está sendo muito corajoso. — Ele apertou meu ombro de forma reconfortante. — A enfermeira Harter vai te medicar, e eu darei início à cirurgia.

Meu Deus. Meu Deus. Sei que nunca fui uma pessoa de fé, mas, por favor, me ajude.

A enfermeira Harter injetou um sedativo em minha veia. Aos poucos, o mundo ao meu redor foi escurecendo, e minhas preocupações começaram a se dissipar.

No sonho, eu estava em uma praia. Zeek e Rachel, meus melhores amigos, brincavam na areia, como fazíamos quando crianças. Corri até eles, mas, ao me aproximar, disseram que ainda não era hora de brincarmos juntos.

De repente, um furacão começou a levantar a areia da praia, e eu os perdi de vista. Tentei alcançá-los, mas foi inútil. Meu coração disparou, e as lágrimas escorreram inevitavelmente.

— Zeek... Rachel... — Murmurei ao acordar. Para minha surpresa, não estava mais na sala de cirurgia, mas de volta à tenda. A sensação era surreal, como se tivesse emergido de um pesadelo para outro.

O som ao meu redor era ensurdecedor. Pessoas ainda gritavam de dor, e os chamados por parentes desaparecidos não cessavam. Minha visão estava embaçada, mas percebi que havia curativos ao redor do meu olho. Uma mistura de alívio e ansiedade tomou conta de mim. Não sabia se a cirurgia tinha sido bem-sucedida, mas estava vivo.

Diana apareceu ao meu lado com um sorriso de alívio.

— George, você está acordado. Como se sente?

— Tonto... e meu olho? O Dr. Carter disse que a cirurgia era para salvar minha visão. — Minha voz soou fraca enquanto eu tentava processar tudo ao meu redor.

— Você foi muito corajoso, George. O Dr. Carter disse que a cirurgia correu bem, mas precisaremos esperar um pouco para ver como sua visão se recupera. Por ora, descanse. — Ela orientou com um tom reconfortante.

— E o Emmet? — Perguntei, ao notar que meu colega não estava ali. Diana hesitou antes de responder.

— Ele está estável. O Dr. Murphy conseguiu conter o sangramento, e ele está sendo monitorado de perto. A recuperação será longa, mas ele está vivo. — Explicou, entregando-me uma marmita com frango e arroz. — Coma alguma coisa. Até mais.

— Diana. — Chamei-a antes que se afastasse, e ela prontamente me olhou. — Obrigado por tudo.

— É o meu trabalho. — Respondeu, mas um sorriso suave se formou em seus lábios.

Eu estava faminto. Comi, precisando recuperar minhas forças. Depois de algum tempo, dois homens trouxeram Emmet, que agora estava limpo e com roupas trocadas.

Mais tarde, fui chamado até a barraca verde, onde encontrei o Dr. Murphy. Ele analisou o resultado da cirurgia e anotou algo em seu bloco de notas. Logo depois, um Julian exausto entrou e me entregou uma muda de roupa nova.

Aparentemente, algumas doações estavam chegando de diferentes partes do país. Por coincidência, recebi um moletom com meu nome. Espere... esse moletom é meu.

— Julian, quem te deu essa peça? — Perguntei, sentindo meu coração acelerar.

— Um homem trouxe em uma caminhonete de tacos. Inclusive, ele está distribuindo comida. Por quê?

— Pai...

Corri. Passei por pacientes e voluntários que circulavam pelo hospital de campanha. E então o vi: o velho "Tacos Sanches", o food truck que eu sempre detestei, mas que agora parecia a coisa mais maravilhosa do mundo. Meu pai estava ali, descarregando caixas. De longe, avistei o caminhão e, em seguida, minha mãe, que conversava com algumas mulheres.

— Mãe! — Gritei com toda a força que consegui reunir.

Ela se virou, os olhos se arregalando ao me reconhecer. Num instante, correu em minha direção.

— Filho! — Exclamou, a voz embargada.

Nos abraçamos com força, sentindo o calor e a segurança que só o abraço de uma mãe pode proporcionar. Meu pai, ao ver a cena, largou as caixas no chão e correu até nós. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e percebi que minha mãe também chorava. Até meu pai, que raramente demonstrava emoções, tinha os olhos marejados.

Os abracei com toda a minha força, sentindo o alívio e a gratidão inundarem meu ser. Por um momento, nada mais importava. As preocupações, as dores e os medos desapareceram enquanto estávamos juntos.

Eu tinha tantas perguntas, mas naquele instante, nenhuma delas importava. Estávamos reunidos, e isso era tudo de que eu precisava. Enquanto nos abraçávamos, as lágrimas continuavam a cair, mas eram lágrimas de alívio e felicidade.

Mal sabia eu que, apesar desse reencontro, minha vida estava prestes a passar por uma transformação completa nos próximos meses. Mas, por enquanto, naquele momento, tudo estava bem. E isso era o suficiente.

— Você está bem, filho? Estávamos tão preocupados. Esse é o segundo ponto de resgate que visitamos. — Contou minha mãe, tocando meu rosto.

— Eu vou ficar bem, mãe. Agora, só falta encontrar meus amigos. — Afirmei, sorrindo, mas percebi que algo na expressão dela mudou.

— A senhora está bem? Onde está a Anne?

— Ela está bem, dormindo no caminhão. — Respondeu meu pai.

— Mãe, por que ficou estranha quando falei do Zeek e da Rachel?

— Eu...

— Fala, mãe. — Pedi, sentindo um aperto no peito.

— Querido, não há uma forma fácil de te contar isso. — Ela olhou para meu pai, buscando apoio.

— Ele precisa saber da verdade, amor. — Disse meu pai, com a voz grave. — Filho, o Zachary morreu. Encontraram o corpo dele perto da escola.

— Não... não pode ser. O Zeek, não... — Murmurei, sentindo o chão sumir sob meus pés.

Me levantei de súbito, e tudo começou a girar.

— George! — Gritou meu pai antes que eu desabasse no chão.

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Comentários

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Tem goteiras nos meus olhos! Esse conto está muito bom, os capítulos poderiam ser mais longos! hehe

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