Leninha não era feia, mas também não era bonita. Vivia naquela meia-luz traiçoeira, entre o prazo de validade do casamento e o rastro inevitável das rugas. Tinha, porém, o veneno da inteligência, o ritmo da segurança e aquele mistério que faz os homens babarem e as mulheres rangerem os dentes. Era o prato do dia nos mexericos da rua, um banquete para as línguas pequenas e venenosas.
— Meretriz, isso sim! Vende o corpo nos becos, onde ninguém vê! — cuspia Dona Zuleica, a ratazana da sacristia, com o terço pendurado como troféu de santidade.
— Pernóstica, cheia de pose, um nojo! — cochichavam as velhas na missa, os olhos baixos, os dedos contando Ave-Marias e pecados alheios.
— Lésbica ou frígida, só pode! — decretavam os bêbados do boteco, entre um gole e um arroto.
— Uma boa surra da vida e esse nariz empinado ia pro chão! — rosnavam as fofoqueiras nos bancos da praça, entre uma dezena e um riso maldoso.
Leninha? Leninha passava por tudo isso como quem atravessa uma chuva fina: sem se molhar, sem se abalar. Caminhava pela calçada com a elegância de uma rainha e o rebolado de uma devassa, os cabelos soltos, o olhar distante. Mas a verdade — ah, a verdade, essa cadela sem dono — era outra. Leninha se entregava aos prazeres da carne com a gula de um bicho faminto. Longe dali, em outro bairro, numa obra qualquer, sob o véu sujo do anonimato, ela alinhava os operários como quem organiza um exército. Debaixo de um banco torto de madeira, oferecia o orifício proibido, o buraco sagrado da imundície. Era disso que gostava: da selvageria, do cheiro de suor, da falta de cerimônia.
Nas paradas de caminhão, a boleia virava seu palco. Escolhia um motorista, um bruto qualquer, e lhe dava tudo que a esposa dele jamais sonharia dar, sob a cumplicidade safada do luar. Era o êxtase da entrega sem amarras, sem nome, sem pudor. Não havia limite que ela não rompesse, nem oferta que não fizesse. Vil, réles, lasciva — e feliz assim.
Mas o destino, esse cínico, gosta de brincar com fogo. Tanta confiança, tanto sucesso nos desvios ardentes, e Leninha cometeu o pecado mortal: quebrou a regra de ouro. Rendeu-se ao prazer na própria vizinhança. Foi na roça de mandioca, logo ali, atrás da rua dela. De joelhos no chão, as mãos na terra, a calça de ginástica arriada, o top jogado pra cima. E quem a socava? João, o velho gordo, sujo, suado, mas com uma estaca que não amolecia. Batia nela como quem mói café no pilão, com força, com raiva, com tesão.
Entre gemidos e urros, Leninha não ouviu o estalo dos galhos, o tropico dos pés. Quem vinha? Dona Zuleica, a velha mexeriqueira, a beata de fachada, farejando a fofoca como rato fareja lixo. Esgueirou-se, caiu, levantou-se, até que deu de cara com a clareira: Leninha e João, engatados, num balé obsceno. Zuleica ficou ali, muda, os olhos arregalados. E então sentiu: a roupa de baixo molhou. Sem querer, a mão desceu, tocou, e um choque — o prazer que ela nunca conhecera — subiu como um raio. Gemeu, se contorceu, se perdeu.
Leninha, entre os cachos bagunçados, viu a velha. E sorriu — um sorriso de maldade, de triunfo.
— Zuleica, vem cá — chamou, a voz melíflua, o tom de quem manda.
Mas Zuleica ficou paralisada, a boca aberta, o coração aos pulos. Queria fugir, mas então João puxou o botalão da gruta quente de Leninha. Era grosso, preto, molhado, ainda duro como pedra. Zuleica ofegou, o olhar preso naquele mastro, depois subindo até o véu escuro do ventre de Leninha. E molhou-se mais, um rio de vergonha e desejo.
Leninha foi até ela, segura como um predador. Pegou suas mãos, beijou-a — um beijo molhado, com língua, com fome. Dedilhou a umidade de Zuleica, fez a velha tremer como vara verde. Depois, encaixou a coxa entre as pernas dela, as peles se roçando, escorregadias de prazer. Quando viu que Zuleica estava pronta, entregou-a ao chão, na mesma posição de antes: a égua no cio.
João entendeu o recado. Enterrou-se na alma da velha, com um ânimo de touro novo. Zuleica urrou, gemeu, chorou — não de dor, mas de uma sofreguidão que ela nem sabia que tinha. Entre gemidos, falava, rezava:
— Gostoso, fode, me fode!
Engatados, sacudiam a terra. Zuleica cravou os olhos nos dele, trincou os dentes, cuspiu, levou um tapa na cara e pediu mais:
— Me fode, me fode com força!
João agarrou as ancas flácidas e socou, socou até o corpo dela tremer e ele jorrar dentro, um rio quente escorrendo pelas pernas magras. Zuleica caiu de cara no barro, bufando, o suor misturando-se à lama, os cabelos grudados na testa.
Leninha sorriu outra vez. Era a vingança contra a fofoqueira, mas também uma certeza, uma lei que ela carregava no peito: toda mulher, no fundo, era meretriz. Bastava o empurrão certo.