O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.17

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 1993 palavras
Data: 01/04/2025 17:41:05

Cheguei cedo na sorveteria, como de costume. As mesas estavam organizadas, o balcão limpo e os freezers cheios de sorvete recém-preparado, hoje era a folga de Welington e dia do Mateus fazer a abertura.O cheiro doce no ar misturado com café fresco era uma combinação que eu não sabia que ia gostar tanto.

Eu havia marcado a entrevista com Camila para dali a pouco, então aproveitei para revisar algumas anotações sobre o estoque. Mas não demorou muito para que o sininho da porta tocasse, e, ao erguer os olhos, vi uma garota de aparência simples, mas com um sorriso que iluminava o lugar.

— Oi! Você que é o Pedro? — Ela perguntou, com uma energia que imediatamente me agradou.

— O próprio. Você que é a Camila? Pode sentar. — Apontei para uma das cadeiras em frente ao balcão.

Ela se sentou, ajeitando a postura de um jeito meio formal, mas ainda assim descontraído. Havia algo de leve nela, algo que fazia parecer que a entrevista não seria uma conversa robótica e ensaiada. Isso já era um ponto positivo.

— Então, me fala um pouco sobre você. Já trabalhou com atendimento antes?

— Sim! Já fui garçonete por dois anos em uma lanchonete bem movimentada. Sempre gostei do contato com clientes, de ajudar na escolha dos pedidos e até de aprender quais são os sabores favoritos de quem aparece sempre. Acho que um bom atendimento faz diferença.

Gostei do que ouvi. Ela parecia entender algo básico, mas que muita gente ignorava: uma boa experiência fazia o cliente voltar.

— E você lida bem com pressão? Tipo, se chegar um monte de gente ao mesmo tempo, você consegue manter o controle?

— Com certeza! Já tive que atender clientes impacientes, lidar com crianças fazendo birra e até gente tentando passar a perna no troco. No começo foi difícil, mas agora acho até divertido.

Não pude evitar um pequeno sorriso. Ela parecia ser exatamente o tipo de pessoa que eu queria trabalhando aqui.

— Ótimo. Outra coisa… Você tem alguma expectativa para esse trabalho?

Camila pensou um pouco antes de responder.

— Quero aprender mais sobre esse ramo. Talvez um dia eu tenha algo meu, como você. Sei que parece um sonho distante, mas acho que todo começo vale a pena.

Aquilo me pegou de jeito. Vi em Camila um pouco de mim, um pouco da vontade de crescer, de não ficar parado esperando a vida acontecer.

— Bom, acho que já ouvi o suficiente. Você tá contratada.

Ela piscou algumas vezes, como se não tivesse certeza se tinha ouvido direito.

— Sério? Assim rápido?

— Assim rápido. Eu sei quando vejo alguém que combina com o lugar. Pode começar amanhã?

— Posso! Nossa, muito obrigada, Pedro. Você não sabe o quanto isso significa pra mim.

Ela saiu animada, e eu fiquei ali, refletindo. Camila parecia uma boa pessoa, alguém com vontade de trabalhar e crescer. Acho que ela se encaixaria bem aqui.

Fiquei ali mais um tempo, ajeitando algumas coisas, até ouvir uma voz nos fundos da sorveteria. Fui até lá sem fazer barulho, apenas para ver o que estava acontecendo.

— Cara, na moral, às vezes o Wellington é insuportável. — A voz de Mateus ecoou pelo pequeno depósito.

Fiquei parado, ouvindo.

— E, mano… fede! Eu juro, não sei se ele tem preguiça de tomar banho ou se é algum problema, mas às vezes é difícil aguentar.

Senti um nó estranho no estômago. Não que eu me importasse com o Wellington, mas a forma como Mateus falava… fria, sem qualquer preocupação se estava sendo cruel ou não.

Fiquei ali por mais alguns segundos, esperando se ele ia dizer mais alguma coisa. Mas logo a conversa mudou de assunto, e eu voltei para o balcão, tentando agir naturalmente.

Por mais que tentasse ignorar, aquilo ficou na minha cabeça. Será que Mateus só estava desabafando, ou será que ele realmente não gostava do Wellington? Pior: será que ele só estava usando o cara por algum motivo? Com base no tipo de lixo que Mateus foi na adolescência, não duvido que ele só esteja usando o pobre Wellington!

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O início da tarde estava nublado, e a sorveteria tinha acabado de passar pelo horário de maior movimento. Depois do almoço, o fluxo de clientes diminuía um pouco, o que me dava tempo para resolver algumas pendências. Enquanto organizava o caixa, meu celular vibrou no bolso da calça. Peguei o aparelho sem muita pressa, mas assim que desbloqueei a tela, meus olhos se arregalaram.

**Flávio:** *"Saudade de ver esse seu corpo de perto... Aposto que ficou ainda mais gostoso depois desse tempo todo."*

Revirei os olhos, mas um sorriso involuntário apareceu no canto da minha boca. Flávio nunca mudava. Sempre direto, sempre provocador. Antes que eu pudesse digitar uma resposta, outra mensagem chegou.

**Flávio:**"Tá muito ocupado ou dá pra matar a saudade?"*

Olhei para a mensagem por alguns segundos, sem saber se ria ou suspirava. Mesmo depois de tanto tempo, ele continuava o mesmo. Digitei uma resposta rápida.

**Eu:** *"Sempre direto ao ponto, né? Mas agora tô focado em outras coisas."*

Dessa vez, a resposta demorou um pouco mais. Quando finalmente chegou, foi diferente do que eu esperava.

**Flávio:** *"Tô brincando... quer dizer, nem tanto, mas enfim. Também senti falta de conversar com você. Cê tá bem né gatinho?

Uma pergunta simples, mas que carregava mais do que eu queria admitir.

**Eu:** *"Estou bem! Obrigado por perguntar!"

**Flávio:** *"Se precisar de qualquer coisa, tô aqui. E não tô falando só de sacanagem, viu? Tô falando sério."*

Suspirei, guardando o celular no bolso. Flávio podia ser provocador, mas no fundo, sempre teve um lado mais carinhoso. Era estranho pensar nisso agora. Meu foco era outro.

Rresolvi finalmente cuidar de algo que vinha adiando: voltar para a academia. Então deixei Mateus tomando conta da sorveteria e dei partida na minha nova moto que comprei!

O sol ainda queimava quando estacionei a moto em frente ao prédio de vidro espelhado. Era uma academia nova na cidade, bem equipada e espaçosa. Assim que entrei, fui recebido por um instrutor alto e musculoso, que me cumprimentou com um sorriso profissional.

— Boa tarde! Vai fazer matrícula?

— Isso. Quero voltar a treinar regularmente. Faz um tempo que parei, mas já treinei bastante antes.

— Entendi. Temos planos mensais, trimestrais e anuais. E algumas aulas em grupo, se te interessar.

Peguei a ficha de matrícula e dei uma olhada rápida pelo salão. O som dos pesos batendo e da música eletrônica ambiente me trouxe uma sensação familiar. O cheiro de suor misturado com ferro me fez lembrar dos treinos antigos.

— E os horários? — perguntei, entregando a ficha preenchida.

— Pode vir a qualquer horário dentro do funcionamento da academia. Se quiser um personal, só precisa agendar.

— Beleza. Vou começar amanhã à tarde.

O instrutor sorriu.

— Bem-vindo de volta, então.

Saí da academia sentindo um peso diferente no peito. Mas não era algo ruim. Pelo contrário, era a sensação de retomar um pedaço de mim que ficou pelo caminho.

Eu estava voltando, no meu ritmo. Um passo de cada vez.

Voltei pra sorveteria e fui organizar o caixa, era impressionante como ele sempre estava bagunçado, notas amassadas, moedas espalhadas, um verdadeiro caos, mas hoje até que entendo, pois o Mateus havia ficado sozinho, com Camila amanhã isso mudaria!

Enquanto eu tentava organizar tudo,Mateus atendia no balcão. Apesar de tudo, ele era estava começando a ser um bom funcionário. Simpático, rápido e, pelo que percebi, chamava a atenção de muita gente.

Foi então que notei algo estranho.

Um homem alto e bem vestido se aproximou do balcão e começou a conversar com Mateus. Não consegui ouvir direito no meio do barulho da sorveteria, mas bastou olhar para entender a situação. O cliente sorria de forma sugestiva, inclinando-se um pouco demais sobre o balcão, enquanto Mateus o escutava com um meio sorriso.

Por um instante, achei que ele ia afastar o cara, mas, ao contrário, continuou a conversa. O olhar de Mateus mudou. Primeiro, parecia surpreso, depois, claramente interessado. E então, o detalhe que me fez travar.

A calça dele.

Disfarcei pegando algumas notas do caixa, mas minha visão periférica captava tudo. Ele estava excitado.

Aquela constatação me fez apertar os dentes. Ele realmente era fácil de manipular. Tão fácil que bastavam algumas palavras certas para deixá-lo daquele jeito no meio do trabalho.

Naquele momento, algo dentro de mim se acendeu.

Eu já sabia que a vingança era necessária. Mateus precisava pagar pelo que me fez no passado. Mas agora, olhando para ele, percebi que eu estava demorando demais para começar.

E o primeiro passo seria separar ele do Wellington.

Se Mateus era tão fácil de seduzir, não devia ser difícil criar uma situação para que Wellington perdesse a confiança nele. Uma traição, uma mentira bem contada, algo que fizesse o relacionamento deles desmoronar.

E depois?

Depois, Mateus cairia. Um a um, os apoios dele sumiriam, até que não restasse nada. Até que ele terminasse na sarjeta.

Exatamente como eu um dia fiquei.

Um plano começou a se formar na minha mente enquanto eu contava o dinheiro do caixa, tentando esconder o sorriso que ameaçava surgir.

O dia tinha sido movimentado na sorveteria, mas agora o lugar estava silencioso. Só o som do relógio na parede preenchia o espaço enquanto eu fechava o caixa. Meus dedos deslizavam pelas notas e moedas, mas minha mente estava distante.

O cansaço era normal depois de um dia cheio, mas o que eu sentia agora não era apenas exaustão física. Era algo diferente. Algo que vinha rastejando do passado, como uma sombra que eu achava ter deixado para trás.

Suspirei e fui até a porta, trancando-a. Peguei um pote de sorvete que tinha sobrado e me sentei no balcão. Dei uma colherada, mas o gosto doce não parecia tão bom como de costume. Pelo contrário, algo em mim revirou, como se meu próprio corpo rejeitasse aquilo.

E então, do nada, a lembrança veio.

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O cheiro azedo me fez torcer o nariz, mas a fome era maior que o nojo. Meu estômago doía. Meus olhos varriam o chão imundo do beco, procurando qualquer coisa que pudesse servir de comida.

Era difícil acreditar que minha vida tinha chegado àquele ponto. Pouco tempo atrás, eu tinha um quarto, uma cama, comida no prato. Mas bastou ser expulso de casa para que tudo desmoronasse.

Minha primeira noite na rua foi um choque. A segunda, um pesadelo. Mas a terceira... A terceira me ensinou que, se eu não me adaptasse, morreria ali mesmo.

Eu já tinha vasculhado algumas lixeiras naquela noite, mas nada parecia aproveitável. Quando passei por trás de um restaurante, vi um saco preto mal fechado. Meu coração acelerou. Me aproximei, abrindo o plástico com dedos trêmulos.

Arroz. Feijão. Um pedaço de carne meio mastigado.

Nojo e fome travaram uma guerra dentro de mim. Mas a fome venceu.

Peguei o que parecia estar menos estragado e enfiei na boca, tentando não pensar na procedência daquilo. Mastiguei devagar, sentindo cada textura estranha, cada sabor errado. Minha garganta resistiu, mas forcei o engolir.

Minha visão ficou embaçada por lágrimas. Eu queria gritar, mas para quem? Quem se importaria?

Um barulho de porta se abrindo me fez congelar.

— Ei, moleque! Sai daqui! — a voz do cozinheiro ecoou no beco.

Me virei e corri. Corri com o pouco que tinha conseguido pegar, como se minha vida dependesse daquilo. E, de certa forma, dependia.

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O som do relógio me trouxe de volta.

Minha respiração estava acelerada, e eu apertava a colher com força. O pote de sorvete estava intocado no balcão.

Passei a mão no rosto, sentindo a pele suada. Eu achava que estava bem. Achava que tinha superado tudo aquilo. Mas, ultimamente, os traumas do passado pareciam estar voltando com tudo.

Talvez fosse a volta para essa cidade. Talvez fosse o reencontro com velhos fantasmas.

Ou talvez eu só estivesse me enganando o tempo todo.

Fechei os olhos por um momento.

Era hora de aceitar que eu não podia fugir disso para sempre.

Talvez estivesse na hora de voltar para a terapia.

Continua...

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