Era uma sexta à noite. Eu tinha passado o dia inteiro tentando fazer tudo certo. Limpei o apartamento, deixei o jantar pronto, me depilei com pressa porque sabia que ele gostava assim. Tomei banho, fiquei um tempão passando creme nas partes que costumavam ficar irritadas — entre as coxas, nos braços, nas dobras. Me olhei no espelho e vi meu corpo redondo, a barriga marcando por baixo da camiseta, os pelos crescendo de novo nos ombros. Suspirei. Eu sabia que não era o tipo que homens como Daniel exibem por aí.
Mas ele tava comigo. Isso era o que eu repetia o tempo todo. Ele tava comigo. Pelo menos oficialmente.
Quando ele chegou do trabalho, nem me olhou direito. Passou por mim no corredor e foi direto pro quarto, jogou a mochila na cama e tirou a camiseta com um movimento seco. Eu fiquei parado na porta, observando aquele corpo forte, as costas largas, os músculos definidos. Ele parecia irritado — ou talvez só entediado. Nunca dava pra saber ao certo.
— Vai tomar banho — ele disse, sem nem me encarar. — Tô com visita hoje.
Na hora meu estômago virou. Eu sabia o que aquilo significava. Já tinha visto esse “visita” antes. Um garoto magro, mais novo, com cara de quem sabia muito bem o que o corpo dele causava. Ele já tinha trazido esse mesmo cara antes. Da última vez, eu fiquei ouvindo os dois transarem no quarto ao lado, e gozei escondido dentro do armário, com a cueca do Daniel enfiada na boca pra não fazer barulho.
Fui pro banheiro em silêncio. Tirei a roupa, olhei meu reflexo. A pele branca marcada, a barriga grande, os mamilos sensíveis de tão rosados. Peguei a lâmina e passei nas partes que ele sempre reclamava: virilha, peito, ombros. Quando saí do banho, ele já estava no sofá com o celular na mão. De cueca. A rola dele armando uma tenda na frente, grossa, pesada. Aquela rola que eu adorava ajoelhar pra servir. Aquela rola que ele ia enfiar em outro.
— Veste aquela cuequinha preta. Fica quietinho hoje. — ele disse, ainda sem me olhar.
Eu vesti. Aquela cueca me apertava, fazia meu pau parecer ainda menor. Eu sempre me sentia ridículo nela, mas Daniel gostava. Disse uma vez que me deixava com cara de “pornô gay barato”.
Dei um jeito na cozinha. Coloquei um som ambiente baixo, pra tentar parecer que a casa era acolhedora. Uma hora depois, o interfone tocou. Meu coração disparou. Fui abrir a porta e lá estava ele: o “amigo” do Daniel. Magro, tatuado, jeans justo, jaqueta de couro, olhar debochado. Me olhou dos pés à cabeça e sorriu. Aquele sorriso de quem sabia exatamente que lugar eu ocupava ali.
Eles entraram e foram direto pro quarto. Daniel fechou a porta, mas não trancou. Como sempre. Como se soubesse que eu ia querer ouvir. E, claro, eu ouvi. A cama rangendo. A voz do outro gemendo alto. Os tapas. A rola do Daniel entrando e saindo com força. A mesma rola que às vezes ele deixava eu cheirar, mas raramente engolir.
Fiquei de joelhos no corredor, com a testa encostada na parede, ouvindo. Eu podia imaginar a cena com clareza: o outro de quatro, o pau do Daniel entrando fundo, aquele olhar frio dele enquanto fod*ia alguém com vontade. Aquilo me deixava completamente duro. Ao mesmo tempo em que doía, fazia meu corpo inteiro pulsar.
Depois de um tempo, tudo ficou em silêncio. A porta abriu e Daniel saiu primeiro, suado, satisfeito, sem dizer nada. Passou por mim, ainda ajoelhado no chão. Eu levantei os olhos e vi o pau dele semi-ereto, brilhando de porra e lubrificante.
— Vai limpar lá — ele disse, como quem manda o cachorro buscar o jornal.
Entrei no quarto. O outro garoto ainda estava deitado, nu, com um sorriso besta no rosto. Tinha porra no lençol, no corpo dele, no chão. A cena inteira parecia uma piada cruel. Mas eu não podia dizer nada. Apenas comecei a juntar as roupas jogadas, limpei o chão com um pano úmido e tentei não tremer enquanto fazia isso.
Quando o outro foi embora, Daniel me chamou pro quarto. Ele estava deitado de barriga pra cima, pelado, com o pau mole descansando sobre a coxa.
— Vem aqui. — disse.
Fui. De joelhos ao lado da cama.
— Cheira.
Aproximei meu rosto e inalei. O cheiro era forte, misturado. O cheiro do outro cara ainda estava ali. Senti meu pau pulsar dentro da cueca apertada.
— Gosta disso, né? Gosta de saber que meu pau não é só teu.
Assenti, envergonhado.
— Fala.
— Eu gosto, Dani... gosto quando você me trai... gosto de sentir que seu pau é de outro...
Ele deu um leve sorriso. Me puxou pelo cabelo e disse:
— Então engole. Mostra que é bom de ter você só pra limpar.
E eu engoli. Com o gosto amargo do outro ainda fresco. Com o coração apertado. Com a vergonha escorrendo junto com minha baba.
Eu sabia que eu não era o namorado. Eu era o pano de chão. O brinquedo de estimação.
E, mesmo assim eu muito naquela noite.