PARTE 1 – O Silêncio Entre Nós

Um conto erótico de MalevoloMagnus
Categoria: Heterossexual
Contém 1001 palavras
Data: 16/04/2025 18:42:46

Vou narrar o que Larissa escreveu, o que seu que Larissa escreveu

Rodrigo entrou na minha vida como quem atravessa uma sala sem fazer barulho — mas muda o ar por onde passa.

Ele chegou pouco depois da separação da minha mãe. Na época, a casa ainda estava reorganizando as emoções. Amanda, minha mãe, tentava preencher os vazios com barulho: risadas altas, agendas lotadas, conversas demais. Eu observava tudo em silêncio, tentando entender o que ficava, o que mudava, o que vinha depois.

E o que veio depois… foi ele.

Camisa social sempre impecável, perfume discreto, olhar firme — Rodrigo parecia sempre saber onde pisava. Ele era o oposto do que Amanda tinha vivido antes: presença, estrutura, rotina. E se tornou, rapidamente, parte da nossa. Da dela. E da minha.

Com o tempo, Rodrigo passou a fazer parte dos meus dias de forma natural. Estava lá nas conversas de final de noite, nas piadas de domingo, nas pequenas atenções que pareciam banais — mas diziam muito. Aos poucos, sem que fosse dito, ele se tornou o ponto mais firme da minha vida.

Mas não foi sempre assim. Eu precisei crescer pra ver.

E quando vi... não consegui mais desver.

Não sei quando, exatamente, começou a mudar. Talvez tenha sido durante uma das muitas viagens de Amanda. A casa ficava mais silenciosa. Rodrigo ficava mais leve. Trocava as camisas por camisetas. Caminhava descalço pela sala. Ria com mais facilidade. Era como se, sem ela por perto, ele se mostrasse mais... dele mesmo.

E talvez tenha sido isso que me atraiu primeiro.

Eu dizia a mim mesma que era admiração. Afinal, ele sempre foi presente. Interessado. Educado. Mas não demorou pra perceber que havia algo diferente ali. Uma tensão nos gestos. Um não-dito pairando no ar. Um cuidado demais. Um silêncio que, se a gente escutasse direito, parecia gritar.

Foi em um dia qualquer que eu notei.

Ele tinha acabado de sair do banho. Toalha no ombro, cabelos ainda úmidos, e aquele cheiro de pós-barba leve no ar. Tinha ido até o escritório resolver alguma coisa, e eu fui pedir ajuda com um problema no meu computador. Quando entrei, ele estava ali, sem camisa, concentrado. Os ombros largos, a pele clara marcada com poucos pelos, os músculos tensos de quem corre toda manhã.

Falei qualquer coisa, e ele levantou o olhar.

Naquele instante, algo dentro de mim apertou.

Eu saí dali com o corpo em chamas.

Com o tempo, comecei a reparar em coisas que antes não via. Como ele passava a mão pelo pescoço ao pensar. Como ajeitava a gravata no espelho. Como mordia de leve o canto da boca quando ouvia alguma coisa que gostava. Pequenos gestos que, agora, me afetavam de um jeito que eu tentava — e falhava — em disfarçar.

Às vezes, quando estávamos sozinhos, eu testava os limites.

Pedia toalhas no banho, sabendo que não havia mais nenhuma no armário. Deixava a porta entreaberta, com o vapor no ar, esperando que ele se aproximasse. Ele sempre vinha. Às vezes só deixava a toalha pendurada na maçaneta. Outras vezes, abria um pouco a porta, e por um segundo — só um segundo — os nossos olhares se encontravam. E havia algo ali.

Não acontecia nada.

Mas ao mesmo tempo... tudo acontecia.

Amanda continuava ausente. Presente fisicamente, talvez. Mas emocionalmente distante. A relação entre ela e Rodrigo parecia mais uma aliança comercial do que um casamento. Dormiam em quartos separados nos períodos mais tensos. Falavam baixo demais quando discutiam, como se ninguém percebesse. Mas eu via. E sentia.

Nesse vácuo, algo em mim crescia. Uma vontade que eu não sabia nomear. Que ia além do toque. Era mais sobre presença. Sobre como ele me olhava sem perceber. Sobre como ele me ouvia. Como me tocava quando me entregava uma xícara, ou apertava meu ombro depois de um dia cansativo.

E então veio a primeira massagem.

Eu estava sentada de forma torta no sofá, mexendo no notebook. Ele passou, percebeu e comentou sobre minha postura.

“Tá com dor nas costas?”

“Um pouco. Muito relatório, muita tensão...”

“Quer massagem? Fiz fisioterapia por um tempo, aprendi alguns truques.”

Hesitei.

Mas disse sim.

Ele veio por trás do sofá. As mãos grandes tocaram meus ombros com firmeza. A pressão certa, o calor certo. O toque não era erótico. Mas o meu corpo... reagia como se fosse.

"Aqui?", ele perguntou, pressionando um ponto perto da escápula.

"Uhum."

Fechei os olhos. Mordi os lábios. Quis não sentir. Mas senti.

Quando ele terminou, eu agradeci. Tentei sorrir. Tentei não corar.

Mas naquela noite... sonhei com ele.

Não foi um sonho explícito. Foi pior. Sonhei com a gente na varanda, falando sobre coisas que não existem. Ele pegava minha mão. Nossos rostos se aproximavam. E ficávamos ali, no quase. No limiar.

Acordei com o corpo em brasa.

Desde então, passei a testá-lo mais.

Usava vestidos mais leves quando ele estava em casa. Deixava o cabelo solto. Passava perfume antes de descer. Pedia conselhos sobre roupas, como quem não quer nada.

E ele respondia.

Não com palavras.

Mas com silêncios carregados.

Com olhares que se demoravam demais.

Com a respiração levemente mais pesada.

Com a mandíbula apertada.

E eu sabia. Sabia que ele sentia. Porque o corpo fala. E o dele gritava quando o meu se aproximava.

Um dia, estávamos vendo um filme. A casa só com a gente. Amanda fora. Linara, também. Andrey — meu namorado — viajando. O filme era bobo, e eu sabia exatamente o que fazia quando me assustei de propósito em uma cena. Me joguei contra ele. Rimos. Mas ele tocou meu joelho. Por um segundo. Só isso.

Foi suficiente.

Meu corpo reagiu. Ele percebeu.

E não dissemos nada.

Mas aquele toque... ficou.

Ficou como promessa.

Como aviso.

Como o início de algo que ainda estava se desenhando.

Naquela noite, encarei meu reflexo no espelho.

Vi ali uma mulher. Uma mulher que sentia. Que desejava. Que sabia o que queria.

E, pela primeira vez, aceitei.

O que sinto por Rodrigo é perigoso.

Mas é meu.

E não vai embora.

escrito por malevolomagnus

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