Ficamos ali por minutos longos, envoltos num silêncio que não pesava. O quarto ainda exalava o cheiro da gente — suor, pele, perfume, prazer. A janela semiaberta deixava a chuva entrar como um sussurro distante. Eu estava deitada sobre o peito dele, sentindo o ritmo desacelerado de sua respiração, ouvindo o som grave e calmo do coração.
Rodrigo me fazia cafuné com a ponta dos dedos. Não dizia nada, e eu não precisava que dissesse.
Porque tudo o que era pra ser dito já estava marcado no meu corpo.
Eu passei a mão pelo peito dele, desenhando formas invisíveis com a unha. Pequenas marcas ainda estavam na pele — arranhões leves, vermelhidão recente. Sinais de algo que existiu. Que não foi sonho. Que, mesmo sem futuro, teve sua eternidade ali.
"Isso muda tudo, né?", eu murmurei, sem me mover.
"Já mudou antes mesmo de acontecer", ele respondeu, com a voz mais grave, mais humana do que eu já tinha escutado.
Fechei os olhos. A cabeça girava com uma mistura de êxtase e realidade. O que fizemos não podia ser desfeito. E, mais do que isso: eu não queria desfazer.
"Se eu dissesse que me arrependi, estaria mentindo", sussurrei.
"Se você dissesse, eu fingiria acreditar. Mas não conseguiria."
O toque dele voltou a percorrer minhas costas, desta vez mais leve. Mais sensual do que sexual. Como se dissesse: você ainda está aqui. Ainda é minha. Ainda somos nós.
Senti meu corpo se acender de novo. Não era fome. Era necessidade. Uma sede que só ele parecia saber como saciar.
Levantei o rosto devagar e encontrei os olhos dele. Não havia mais medo neles. Nem dúvida. Só um desejo quieto, maduro, fundo.
Beijei-o devagar. Dessa vez sem pressa. O gosto da boca dele era um vício novo. E quanto mais eu provava, mais queria.
Ele me virou com delicadeza, me colocando por baixo dele, mas sem peso, sem força. Como quem conduz uma dança.
Suas mãos voltaram a explorar minha pele — dessa vez com mais intimidade. Tocavam meus braços, meus ombros, minha cintura com um tipo de reverência que me desarmava. Seus dedos paravam em cada curva, como se me redescobrisse. Como se cada parte minha agora tivesse um novo significado, uma nova história.
"Você é linda demais", ele repetiu, com os olhos grudados nos meus.
"Então me olha enquanto me faz sua."
E ele olhou.
Rodrigo entrou em mim de novo — dessa vez mais lento, mais fundo. Seus olhos não desviaram dos meus. Eu sentia cada centímetro, cada pulsação, cada movimento como se fosse poesia escrita por dentro.
O ritmo era íntimo. Um encaixe perfeito, como duas peças que o tempo moldou para que se reconhecessem.
Minha mão subiu até o pescoço dele, puxando-o para um beijo mais fundo. Nossos corpos se moviam como um só. Meu quadril respondia aos movimentos dele com fluidez. Um balé úmido, quente, desesperadamente suave.
Ele sussurrava meu nome entre gemidos roucos.
"Larissa... Larissa... você é minha..."
E eu era.
Me entreguei sem defesa. Sem máscara. Sem medo.
As mãos dele agora estavam entrelaçadas às minhas, acima da minha cabeça. Ele me prendia, mas não com força. Com presença. Com certeza. Eu me sentia segura. Desejada. Finalmente inteira.
A fricção entre nós se intensificava. Eu sentia os músculos das minhas pernas se contraírem, o calor se acumular em ondas crescentes. O prazer vinha em camadas, me afogando com doçura.
"Eu tô perto...", gemi.
"Vem comigo..."
E viemos.
Juntos.
O clímax nos atravessou como um terremoto suave. Meu corpo se arqueou sob o dele, os músculos tremiam, e minha voz falhou em gemidos entrecortados. Rodrigo gemeu forte, enterrando o rosto no meu pescoço, me abraçando mais forte enquanto seu corpo se desfazia no meu.
Foi intenso. Foi completo. Foi... absoluto.
Depois, ficamos lado a lado. As mãos entrelaçadas, os corpos ainda quentes, mas relaxados. Ele me olhava como se o mundo inteiro estivesse ali. Eu sentia algo entre a paz e a vertigem.
"Se isso for um erro", disse ele, "é o único que eu teria orgulho de cometer de novo."
"Você acha que a gente pode simplesmente voltar à rotina? Fingir?"
"Não sei. Mas sei que eu precisava disso. Precisava de você."
"Eu também. Muito antes de saber."
Nos beijamos de novo, agora com ternura. E, mesmo no pós-orgasmo, nossos corpos ainda pediam um ao outro. Era uma fome que não acabava. Um vício recém-descoberto que o corpo exigia repetir.
E repetimos.
Na cama. Depois no chuveiro, onde o calor da água se misturou ao calor da pele. Ele me pegou por trás, me segurando pela cintura enquanto nossos corpos se fundiam de novo. O vapor preenchia o box, e a sensação era de que o tempo tinha parado. As mãos dele nas minhas coxas, a boca no meu ombro, os gemidos abafados pela água...
Nunca me senti tão viva.
Naquela noite, adormeci no peito dele, como se o mundo lá fora não existisse. Como se não houvesse mais Amanda, mais Andrey, mais regras.
Só existíamos nós.
Acordei com o toque suave dele no meu rosto.
"Preciso ir à sala", disse, baixinho. "Antes que Linara volte e estranhe."
Assenti, ainda sonolenta.
Ele me deu um último beijo nos lábios, depois na testa, e saiu do quarto como um ladrão de madrugada.
Mas ele não levou nada de mim.
Porque eu já era dele. Cada parte. Cada pensamento. Cada lembrança daquele fim de semana que mudou tudo.
A questão agora era: o que faríamos com esse desejo que finalmente havia saído da sombra?