A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO 10: ENCONTRO

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2627 palavras
Data: 18/04/2025 03:11:38

Eu olhava para o espelho, girando o corpo para todos os lados, tentando encontrar alguma perspectiva em que aquela roupa fizesse sentido. Mas não fazia.

— É isso. Eu não tenho nada legal para usar. — Falei, jogando os braços para o alto, derrotado.

Nathan, que estava confortavelmente esparramado na minha cama, segurando meu controle como se já fosse dono dele, bufou com exagero dramático.

— George, na boa, tu tá surtando. É só um piquenique, não uma premiação. — Ele se sentou, apoiando os cotovelos nos joelhos. — Usa algo leve, confortável. Você não quer parecer um doido no meio do parque.

Eu suspirei e voltei para o armário, remexendo entre as peças.

— Por mim, você iria todo de preto. Um sobretudo fosco, uma calça de alfaiataria e uma bota. Cara, você ia ficar muito gato. — Nathan comentou, como se fosse um estilista conceituado.

— No verão? No meio de um parque? — Virei para ele, incrédulo.

— O que importa é o conceito, meu caro. — Ele ergueu as mãos, teatral. — Mas já que você insiste em ser razoável, coloca uma camisa simples e uma calça confortável. Pronto, resolvido.

Voltei para o espelho, segurando uma camiseta e uma calça jeans, ainda incerto.

— Sei lá... Eu só... Eu não sei como agir perto dele. — Confessei, largando a roupa em cima da cadeira e passando a mão pelo cabelo.

Nathan me observou por um momento, depois deu um sorrisinho curioso.

— Isso é porque tu gosta dele. A gente sempre age feito um idiota perto de quem a gente gosta.

— Não é só isso... — Suspirei, me sentando ao lado dele na cama. — Você sabe que ele infernizou minha vida, né? — Olhei para Nathan, que apenas ergueu a sobrancelha. — Emmett e eu... A gente era inimigo declarado. Ele me zoava o tempo todo, me fazia tropeçar nos corredores, espalhava apelidos ridículos sobre mim... Eu odiava cada minuto.

Nathan se inclinou para frente, interessado.

— E o que mudou?

— O furacão. — Respondi, dando de ombros. — A gente perdeu muito. E, de alguma forma, a gente se encontrou nisso. Ele também tá tentando entender quem é agora, igual a mim. Eu sei que ele sente culpa pelo que fez no passado, dá pra ver nos olhos dele... Só que tem um pedaço de mim que ainda lembra tudo. — Cruzei os braços, sentindo um aperto no peito. — E agora, de repente, eu tô nervoso por sair com ele. Como se nada tivesse acontecido.

Nathan me deu um leve empurrão no ombro.

— Talvez seja porque, no fundo, você quer que isso dê certo. E eu acho que o Emmett também quer.

Fiquei em silêncio, absorvendo as palavras dele. Nathan podia ser excêntrico, mas às vezes tinha uma visão assustadoramente precisa das coisas.

— Então veste logo essa roupa e para de surtar. Senão, você vai chegar atrasado no teu próprio encontro. — Ele apontou para o relógio na parede.

Revirei os olhos, mas sorri de leve. Nathan estava certo. Eu precisava me acalmar.

Levantei e finalmente vesti a roupa. O primeiro encontro com Emmett estava prestes a acontecer.

Sabe quem ficou feliz? A mamãe. Não pelo encontro com o Emmett, mas por eu ter apresentado o Nathan. Desde a morte do Zeek eu não tinha levado outro amigo para casa. Ela fez questão de preparar um dos pratos que servia no Food Truck do meu pai. Ela se apaixonou pelo Nathan, principalmente, pelo cabelo dele, que dessa vez estava com mechas verdes.

— Sra. Sanches, essa tortilha está maravilhosa. — Comentou Nathan de boca cheia.

— Então, crianças, eu preciso ir. O Emmett está chegando. — Avisei, e a mamãe sorriu com um entusiasmo que eu nunca vi.

— Querido, por favor, verifica se todas as comidas estão aqui. — Ela pediu. Era a décima vez que a mamãe me pedia para verificar as comidas. — Coloquei também as coisas da Cachorra. — Disse.

— A cachorra precisa ir?

— Claro, filho. Ela merece passear um pouco também. — A mamãe estava certa. A Cachorra estava sendo de grande ajuda, principalmente para me orientar na rua.

— Vem, Cachorra. — A chamei. Não demorou muito, a cadela apareceu toda saltitante e coloquei seu guia.

— Cara. — Nathan pegou no meu ombro. — Boa sorte e não fica nervoso. Apenas seja você.

— Isso mesmo, meu filho. — A mamãe concordou com meu amigo.

— Obrigado, torcida. — Agradeci e peguei a cesta de piquenique. — Quer carona? — Perguntei para Nathan, que ainda devorava a tortilha.

— A minha mãe vem me pegar. Posso esperar aqui, Sra. Sanches?

— Claro, querido. Inclusive, vou preparar algumas tortilhas para você levar. — Disse a mamãe animada.

Deixei o meu novo amigo com a mamãe. Algo que poderia ser perigoso. Fazer novos amigos é como ter um HD novo: aos poucos, vamos enchendo ele com informações pessoais e assim a vida segue. Mas esse HD não precisa ver fotos antigas ou vídeos meus do ensino infantil. Certeza que a mamãe vai mostrar os álbuns antigos.

Podemos deixar o papo do HD para outra hora?

Pois a cena que está na minha frente precisa de atenção. É o Emmett. Ele saiu do carro e estava me esperando na calçada.

Emmett parecia ainda maior de perto. Seu porte atlético continuava impressionante, mesmo depois do furacão e da reabilitação. O rosto era anguloso, marcado por sobrancelhas grossas e um queixo forte. O cabelo castanho estava levemente bagunçado pelo vento, e seus olhos verdes tinham um brilho tranquilo.

O meu colega vestia uma camiseta preta justa, que evidenciava os músculos do peito e dos braços, e uma calça jeans um pouco surrada. A manga do lado direito de sua camiseta tinha sido cuidadosamente ajustada, costurada de forma que não ficasse sobrando tecido onde seu braço já não existia. Ultimamente, ele passou a usar roupas assim, feitas para se ajustar à sua nova realidade.

Meu coração começou a bater mais forte. Por que o Emmett faz isso comigo? Antes do furacão, eu meio que tinha um crush no Zeek, mas acabamos ficando só na amizade. E confesso que nunca dei atenção para outros garotos. Só que com o Emmett é diferente. Eu passei a prestar atenção em seu rosto, nos músculos do seu corpo e, para minha infelicidade, a visão dele de sunga não sai dos meus pensamentos.

— George? — A voz dele me chamou de volta para a realidade. Ele estava acenando, o que indicava que essa não era a primeira vez que tentava minha atenção.

— Oi. — Respondi rapidamente, tentando disfarçar. — Pronto?

— Sim.

— Quer ajuda com a cesta?

— Não. Eu consigo.

— Ei, posso levar a Cachorra? — Perguntei, mudando de assunto.

— Claro. — Ele se aproximou da cadela, afagando seu pelo com carinho. — Oi, Cachorra. Tudo bem, garota?

Ela respondeu com um latido e abanou o rabo. Emmett sorriu, coçando atrás da orelha do animal.

— Boa garota. — Ele então pegou a guia da minha mão e colocou a Cachorra no banco de trás.

Com a ajuda de Emmett, deixei a cesta no porta-malas e entrei no carro. O trajeto até o parque foi... constrangedor. Um silêncio esquisito se instalou entre nós. Emmett tentou quebrar o gelo, comentando sobre o clima e o trânsito, mas nada parecia fluir naturalmente. Eu estava nervoso. Ele parecia nervoso. A Cachorra no banco de trás era a única que não ligava para nada disso.

Foi então que a rádio começou a tocar "One", do U2. E, sem pensar muito, começamos a cantar juntos. Eu olhei para o Emmett e sorri. Sua voz era horrível.

— Que foi? — Ele perguntou, notando meu sorriso.

— Sua voz é péssima. — Brinquei.

— Ei, eu canto muito bem, viu? E o U2 é a banda favorita do meu pai, logo, é a minha também. Cresci ouvindo a voz do Bono Vox. — Revelou, orgulhoso.

— Papai também. Ele me levou a um show do U2. Foi massa. Eu e o Zeek...

— Ei, tudo bem falar do Zeek. Vocês eram como unha e carne. Confesso que tinha inveja da amizade de vocês. — A voz de Emmett saiu um pouco mais baixa.

— Eu e o Zeek éramos apaixonados pelo U2. No dia do show, a gente fez o papai chegar cedo e conseguimos ficar perto do palco. Foi mágico. — De repente, uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Limpei-a rapidamente.

— Que demais. Eu já fui a um show deles, mas sozinho. O papai nunca teve tempo de ir comigo. — Emmett comentou, com um sorriso melancólico.

Após esse momento, a conversa entre nós começou a fluir melhor. Falamos sobre infância, escola e momentos embaraçosos. Emmett me contou que sempre foi uma criança quieta e obediente. Inclusive, já chegou a dedurar toda a turma quando a professora saiu da sala e a maioria dos alunos levantou. Ele exigiu que todos se sentassem de novo antes que ela voltasse. A imagem dele, pequeno e mandão, me fez rir alto.

Emmett escolheu o Ed Austin Regional Park para o nosso encontro. Ele contou que o pai sempre o levava lá para brincar e jogar futebol. Pelas fotos, o lugar parecia realmente maravilhoso e tranquilo. E, para melhorar, o clima estava perfeito — nem muito quente, nem muito frio.

O ronco suave do motor se calou quando estacionamos perto do início da trilha pavimentada. Abri a porta e senti o cheiro fresco de grama molhada e árvores altas, como se a natureza tivesse dado um reset em tudo — no mundo, na minha cabeça. Talvez até no coração. Cachorra, que estava no banco de trás, soltou um latido empolgado, como se reconhecesse o cheiro de aventura.

— Calma, Cachorra. — Pediu Emmett, já abrindo a porta dela antes que eu pudesse sequer tirar o cinto. Ele sorria. Aquele sorriso... o tipo que me desmontava mesmo quando eu fingia que não.

Enquanto eu pegava a cesta com os lanches — cuidadosamente preparada com frutas, sanduíches, suco de uva e até biscoitinhos caninos —, Emmett já prendia a guia da Cachorra, que parecia mais animada que nunca. A cauda dela balançava como se tivesse acabado de ganhar na loteria dos parques.

— Acho que alguém aprovou o lugar — Emmett comentou, rindo, enquanto Ceci o puxava em direção ao bosque.

— E eu achando que você era competitivo. Ela te supera.

Seguimos pela trilha pavimentada que serpenteava entre as árvores. Casais de mãos dadas, crianças correndo, ciclistas com capacetes coloridos... tudo parecia muito vivo, muito inteiro. Um contraste gritante com o que às vezes ainda sinto por dentro. Mas estar aqui, com Emmett, tornava tudo mais fácil de respirar.

Encontramos um canto tranquilo, perto da área de piquenique, sob a sombra de um carvalho gigante que parecia ter assistido a mil histórias de amor, despedidas e recomeços. Estendi a toalha quadriculada — sim, clichê, mas romântico — e começamos a montar nosso pequeno acampamento de comida.

Emmett soltou Cachorra na área cercada para cães grandes. Ela correu como se estivesse fugindo do passado, livre, sem coleira e sem medo. Talvez eu estivesse começando a entender o que era isso também.

— Ela é rápida —Disse ele, sentando-se ao meu lado e pegando um dos sucos.

— É a ansiedade em forma de cachorro. Acho que puxou o dono.

Ele me olhou com aquela expressão meio debochada, meio carinhosa, e deu um gole na bebida. Por um tempo, só ficamos ali, em silêncio, assistindo a Cachorra correr, tropeçar, rolar na terra, e se enturmar com um labrador dourado do tamanho de uma van.

Além dos lanches preparados carinhosamento pela minha mãe, o Emmett trouxe sucos frescos, garantindo que tinha sido ele mesmo quem preparou. O sabor da comida se misturava com o cheiro da grama e a brisa leve que passava, criando um momento de paz.

A conversa fluiu naturalmente e, com o tempo, fui descobrindo mais sobre Emmett. Ele tinha medo do escuro e só dormia com um ponto de luz aceso, era alérgico a camarão, nunca havia tirado uma nota abaixo da média, e o futebol americano tinha sido uma imposição da mãe, mas ele acabou gostando da adrenalina. Cada nova informação me fazia gostar mais dele.

— Eu posso te fazer uma pergunta? — Questionei, sentindo meu coração acelerar.

— Claro. — Emmett pousou o copo no chão e me encarou com curiosidade.

— Depois do furacão... algo mudou em você? Quero dizer, internamente?

Ele suspirou e desviou o olhar por um instante.

— Muita coisa mudou, George. — Sua voz saiu mais baixa. — Eu passei a ter pesadelos. E... também comecei a urinar na cama. Pode rir...

— Ei. — Segurei sua mão, sentindo-a um pouco trêmula. — Eu não sou esse tipo de pessoa, Emmett. Não vou rir de algo que te machuca.

Ele relaxou um pouco e sorriu de lado.

— Eu sei. E é por isso que gosto de você. Desculpa, não queria ser um babaca. Tem coisas que eu só digo na terapia.

— Eu também tenho pesadelos. — Confessei, sentindo um nó na garganta. — Sonho que não consigo salvar o Zeek e a Rachel. Também passei a ter explosões de humor. — Uma lágrima escorreu, mas limpei rapidamente. — Desculpa, não queria estragar o encontro...

Antes que eu pudesse terminar a frase, fui surpreendido por um beijo. Os lábios de Emmett tocaram os meus de forma tranquila, quente, e eu fechei os olhos, sentindo um arrepio correr pelo meu corpo. Ele segurou meu rosto com delicadeza, como se eu fosse algo precioso. Naquela noite no ginásio, durante o furacão, eu sofri muito porque ainda não tinha beijado ninguém. E agora, estava aqui, beijando Emmett.

O latido da Cachorra nos trouxe de volta à realidade. Nos afastamos devagar, e eu toquei de leve no rosto dele, sorrindo.

— Bem, acho que temos torcida. — Brinquei, rindo ao ver a empolgação dela.

— Obrigado pela conversa sincera, George. — Ele suspirou e sorriu. — E obrigado pelo beijo incrível.

Eu nunca pensei que algo assim fosse acontecer. Quero dizer, claro que pensei. Imaginei, sonhei, mas sempre descartei como uma possibilidade distante, um desejo que eu não teria coragem de realizar. Mas aconteceu. Eu beijei Emmett Montgomery-Kerr. Ou ele me beijou. Ou nos beijamos ao mesmo tempo. Tanto faz. A questão é: aconteceu.

— E agora? — Minha voz saiu num sussurro, como se ao dizer em voz alta, a realidade pudesse desmoronar.

Emmett fez uma careta engraçada, e eu quis sorrir, mas o nervosismo me impediu.

— E agora? — Ele repetiu, como se estivesse saboreando as palavras, como se quisesse brincar com a ideia antes de dar uma resposta.

Meu coração parecia prestes a sair do peito. O medo e a euforia travavam uma batalha dentro de mim.

— Não sei. Você foi o primeiro garoto que beijei. — Soltei de uma vez, e logo me arrependi. Meu Deus, como isso soava dramático! — Meu Deus! E se a tua mãe descobrir? A gente não pode fazer isso, Emmett, e se...

— Ei. — O toque dele no meu rosto me silenciou. Sua mão era quente, firme, e o carinho que fez com o polegar na minha bochecha se tornou instantaneamente a minha segunda coisa favorita no Emmett. A primeira era o beijo. — Vamos por partes, que tal?

— Por partes. — Repeti, tentando colocar meu coração no compasso certo de novo.

— Vem cá. — Ele me puxou para um abraço, e naquele instante, o mundo inteiro ficou em silêncio.

O calor do corpo dele contra o meu, o cheiro misturado de grama, chuva e o perfume que ele sempre usava... Me senti seguro. Pela primeira vez em muito tempo, seguro.

Mas e se for um erro? E se as coisas saírem do controle? E se a Sra. Montgomery-Kerr descobrir? O medo insistia em me puxar de volta para a realidade. A verdade era que eu vivia em um eterno jogo de 'e se'. E se eu nunca tivesse perdido meu olho? E se nunca tivéssemos sobrevivido ao furacão? E se Emmett ainda fosse apenas um idiota insuportável?

Mas 'e se' também pudesse ser o começo de algo novo? E se Emmett realmente gostasse de mim? E se eu permitisse que esse momento fosse apenas o que era — um beijo, um abraço, uma chance?

Talvez essa fosse a questão. Algumas segundas chances não precisavam de explicação. Algumas apenas precisavam ser vividas.

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Comentários

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oi escrevo amor, nossa adoro suas historias te acompanho desde as primeiras historias , mas tive imprevistos que nao consegui ler, se der por favor me responda , as historias antigas vai ter continuação ? a ultima vez que se me respondeu se falou que tava pensando , e nao sei se já teve, e se teve tem alguma dica para eu ne atualiza ? kkk eu sempre li e gostei dos seus contos, parabens voce é um grande autor espero um dia ser assim

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O.medo e o ior conselheiro. Os 2 estam se permitindo a acreditar

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Mais uma vez, parabéns pelo conto incrível, fico ansioso pelo próximo capítulo!

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