O dia amanheceu arrastado, mas Gabrielle chegou no restaurante com um brilho diferente nos olhos. Ainda sentia os dedos dele em sua pele, o cheiro do corpo de Fernando, o gemido abafado contra sua nuca. O corpo doía gostoso, e a alma... essa, dançava.
A noite havia sido gostosa, havia se masturbado três vezes pensando no pinto duro de Fernando invadindo seu bumbum apertado.
Mas felicidade de trans bonita nunca dura muito. Bastou ela entrar no restaurante com a moral elevada pra ver Carol, de braços cruzados, encostada na bancada, o olhar de víbora afiado.
— Acordou animadinha hoje, traveco? — ela disparou, com o sorriso venenoso escancarado. — Ficou fazendo o quê ontem até mais tarde, hein? Não deu em cima do meu namorado não né?
Gabrielle parou no meio do salão. O ar ficou mais gelado do que o freezer. Alguns colegas fingiram não ouvir, outros disfarçaram com um “ihh...”.
— Em cima? Não dei em cima dele não — Gabrielle respondeu especifica — Se é esse o problema pode ficar tranquila — Sorriu de lado.
Carol a olhou decima embaixo
— Esse sorriso torto aí, tava usando alguma droguinha na favela onde você mora né? Ou chegou tarde em casa por que é longe pra caralho e aí fica com essa cara de cansada?
— Dormi tarde mesmo... Tava ocupada fazendo uma coisa que você nunca fez bem: dando prazer pra alguém.
Carol arregalou os olhos, empalideceu.
— Você tá se achando porque tem uma bunda empinada e um pau no meio das pernas, é isso? Isso não te faz mulher, viu? Muito pelo contrario, ninguém acha traveco mulher, só essa tua laia
Gabi se aproximou com passos lentos, perigosos.
— E ser mulher agora é o quê? Ser recalcada, vazia e dependente de um macho que goza pensando em mim?
Carol abriu a boca pra rebater, mas não saiu som. A cozinha chamou no microfone e Gabi virou as costas como uma diva que sabe que venceu, mas se arrependeu de dar a briga que Carol queria.
Fernando estava no estoque, conferindo as caixas de batata. Quando ela entrou, ele levantou os olhos e parou. Ficaram se encarando por segundos longos, tensos, até que ele largou o bloco de notas e veio até ela.
— Gabi... a gente precisa conversar.
Ela encostou na parede, cruzou os braços sob os seios que ainda não tinha, mas o corpo inteiro gritava feminilidade.
— Fala.
— Ontem... aquilo foi... inacreditável. Só que... — ele coçou a nuca, nervoso — eu não sei o que tá acontecendo comigo. Eu nunca fiz aquilo. Nunca nem toquei num... num pau que não fosse o meu.
Gabi deu um sorrisinho maroto.
— Tocou com gosto, viu? Apertou e tudo
— É, eu sei. E gostei. Isso é que tá me deixando louco! — ele explodiu, andando de um lado pro outro. — Eu tô me perguntando se sou gay. Mas... eu não me sinto gay. Eu gosto de mulher. Sempre gostei!
Ela caminhou até ele com calma, atenta a quem chegasse perto e pegou a mão dele, colocando novamente sobre o próprio pau — ainda por cima da calça de tecido grosso.
— Então olha pra mim, Fernando. Eu sou uma mulher. Eu ajo como mulher, eu me visto como mulher, eu vivo no mundo como mulher. Isso aqui — ela apertou um pouco a mão dele, fazendo sentir o volume dela e fazendo ela mesma sentir um arrepio pelo toque — é só uma parte de mim. E você não é gay por gostar de mim.
Ele engoliu seco, os olhos fixos nos dela.
— Mas... eu senti tesão nisso também. No seu pau.
— E isso te assusta? — Ela se afastou dele, tinha medo que alguém visse, olhou em volta
Ele não respondeu. Ela deu um passo mais perto, agora com o corpo colado no dele.
— Escuta... um cara gay gosta de homens. De corpos masculinos, de vozes grossas, de barbas, de peitos peludos. Eu não sou isso. Eu sou fêmea, Fernando. Com ou sem pau. E você tá com tesão em mim, na fêmea na sua frente. Isso é só desejo. É humano. E é delicioso.
Ela levou a mão ao rosto dele, fazendo-o olhar em seus olhos castanhos, doces, mas firmes.
— Você não é gay. Você só tá se permitindo algo novo. E tá tudo bem.
Ouviram um barulho, ela se afastou e foi para trás das prateleiras pegando umas caixas, ficou alguns segundos e quando voltou Fernando não estava mais
O turno naquele dia correu normalmente, ela desviou de Carol o quanto pode, e de Fernando também, sempre que se olhavam um sorriso cumplice era inevitável, estava se sentindo bem e amada.
No fim do turno, algumas pessoas se mobilizavam para a limpeza de manutenção
Fernando esbarrou em Gabrielle e ela sentiu algum no bumbum, algo no bolso de trás, enfiou a mão, era um papel.
Carol apareceu e deu um beijo em Fernando
— Gato, meu pai vem me pegar hoje, vamos na casa da minha avó — Ela falou animada se despedindo do namorado
No ambiente estava Fernando, Carol, Gabrielle e mais quatro mulheres, Carol fez questão de enfatizar
— Tchau meninas — Olhou para Gabrielle — Tchau pra você também
Carol parou na porta e girou nos calcanhares
— Eu sei que você não deve ter aprendido isso por que você é homem, mas sutiã serve pra evitar essa vulgaridade aí — Apontou para os seios de Gabrielle que estavam entumecidos pelo tesão que sentia em Fernando
Gabrielle cruzou os braços se protegendo e se encolhendo, Carol riu malvada.
Fernando seguiu Carol como fazia sempre, até a porta do shopping
O lugar era escuro, ela já havia passado por ali, mas era um canto isolado, quase desativado do restaurante, um mezanino superior onde só tinham caixas que não se usavam normalmente, vinho, vinagre, toalhas de mesa, cadeiras.
Olhou para o papel que Fernando deixou com a localização do lugar, estava intrigada, ele demorou alguns minutos para aparecer e ela começou a se perguntar o que viria, chegou a conclusão que ele iria falar para eles não terem mais nada, provavelmente estava tendo uma crise de masculinidade e heterossexualidade pois havia tocado no pau dela.
Gabrielle sentiu aquela dor no peito e respirou fundo sentindo-se insegura
— Eu não queria ser assim — Disse para si mesmas — O que eu faço Deus?
A portinhola se abriu, a cabeça de Fernando apareceu no escuro, ele bateu no interruptor, a luz não acendeu, o mesmo havia acontecido com Gabi, ele deixou a portinhola aberta para iluminar mais o ambiente com a luz que vinha de fora, o rosto parecia tranquilo, olhou para ela nos olhos esperando se acostumar com a escuridão, viu a silhueta preocupada e insegura de Gabrielle no escuro.
— Pois não? — Gabi perguntou erguendo uma sobrancelha
Ele avançou para cima dela a pressionando na parede, o beijo foi brutal e ela correspondeu de imediato, ele beijou o pescoço dela, mordeu, ela sentiu o cheiro dele e revirou os olhos de tesão, ele passou a mão por cima da camiseta dela, os mamilos marcando.
Sem pensar ela ergueu a camiseta mostrando os pequenos e delicados seios empinados e rosados para ele
— Sua namorada gostou, experimenta e fala pra ela se são bons
Imediatamente Fernando abocanhou chupando os mamilos pequenos e sensíveis de Gabrielle, ela gemeu
— Devagar bezerrinho — Ela falou acariciando a cabeça dele — São supersensíveis — Ele moderou a força — Assim, você gosta de mamar né?
Gabi falava coisas para dar tesão nele e também nela, então ele parou de chupar.
Fernando respirava fundo, como quem tentava se convencer de algo. Mas o corpo dele já estava convencido há tempos. Ele escorreu a mão para apertar o pau dela, agora com mais firmeza. Gabi soltou um gemido baixinho, mexeu os braços desengonçada, não sabia o que fazer, encolheu-se protegendo os seios.
— Posso?
— Já passou da hora de parar de perguntar — ela respondeu, abrindo o zíper devagar. — Não pergunta, só faz
Ele desceu a mão e puxou o dela para fora, por alguns segundos ele ficou encarando o membro dela com uma mistura de fascínio e tesão. Acariciou de leve puxando a pele para trás e expondo a glande molhada e cor-de-rosa devagar, depois com mais vontade repetindo os movimentos, vendo Gabi fechar os olhos e morder os lábios encostada na parede e se contorcendo.
— É bonito — ele murmurou
— Claro que é. É meu — ela respondeu, com um sorriso de lado. — Tudo meu é bonito — falou convencida
Ele se ajoelhou sem nem perceber. E ela passou os dedos no cabelo dele, guiando os movimentos. Era uma entrega. Um ritual silencioso de descobrimento, sem culpa, só desejo.
Ser tratada daquele jeito não era algo muito comum para Gabi, o coração dela batia como tambor, normalmente ela não deixaria um homem fazer aquilo, mas era diferente, ele era bonito, delicado, ela não sabia o que era diferente, só sabia que daria certo...
Fernando beijou a ponta, estava úmida, Gabrielle viu quando um fio viscoso se formou entre o seu membro e os lábios de Fernando.
Ela gemeu quando sentiu o calor dele envolvendo-a enquanto a mão dele acariciava as partes inferiores com carinho e firmeza
Não demorou muito, Gabrielle anunciou, mas ele não parou, ela explodiu direto na boca dele.
Fernando ficou estático, parecia com medo, deixou ela terminar enquanto ela gemia e contraía o abdômen
Fernando se levantou e olhou em volta procurando um lugar para cuspir, algo para se limpar
— Corre pro banheiro — Gabrielle disse ofegante se arrumando
Ele olhou para ela e fechou os olhos fazendo uma careta de uma criança que engole um remédio amargo, engoliu a energia quente de Gabrielle que estava em sua boca
— Você me bebeu! — Ela disse fascinada — Que lindo
Avançou e beijou ele novamente, sentiu o gosto salgado
— Foi bom? — Ele perguntou curioso
Ela riu e beijou ele de novo
— Você tem talento, vou querer repetir isso depois — Ela disse animada se dirigindo à saída do lugar
Mas do lado de fora do estoque... alguém escutava passos. Alguém com olhos cheios de ódio e unhas vermelhas afiadas como garra e um celular com câmera de altíssima resolução.
Carol.
E ela ia fazer de tudo pra destruir aquilo.
***
Autora: Lidiane Tobor
Abril 2025
Casa dos contos
Temática: Amor transexual
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