Sinopse: Um fim de semana especial na vida da Família Martin em que eles comemoram o Dia das Mães.
Noite de sábado e Nívea descobre uma nova forma de ser amada.
E na 2a feira de aula, nossa protagonista enfrenta uma nova crise em torno do seu futuro universitário.
***
Os dias seguiram tranquilos após o resultado das provas do primeiro bimestre. Os e-mails vindos da diretoria deram uma trégua mas eu sabia que em pouco tempo eles iriam retornar.
Era uma sexta-feira e, após chegar do colégio e de banho tomado, enquanto eu penteava os meus cabelos de frente para o espelho, ouvi as risadas e os passos dos meus pais pelo corredor.
- Filha! - com a porta aberta, minha mãe entrou no meu quarto ao lado do meu pai, ambos contentes - Temos uma novidade incrível para te contar!
- Ah, é? - sorrindo, deixei meu pente em um pote que ficava na minha mesa de estudos e me virei na direção deles para dar atenção à notícia - O que houve?
- Antes de encerrarmos nossos expedientes, eu, sua mãe e sua tia Sophie realizamos uma vídeo conferência - meu pai começou a explicar - Já estava um pouco tarde em Lyon mas ela fez questão de nos chamar.
- Sério? E como ela está?
- Mais feliz do que nunca, meu anjo! - minha mãe não conseguia conter a empolgação.
- Nossa! O que aconteceu? - perguntei, tomada pela curiosidade.
- A partir do próximo semestre ela será a nova Coordenadora do curso de História da universidade de Lyon! - meu pai revelou.
- Nossa, isso é demais! - Eu também mal conseguia segurar a emoção - Será em setembro, não é?
- Isso mesmo, mon chère. Na verdade, tem uns dois anos que ela escondeu da família que estava em treinamento para assumir o cargo. Alguns Coordenadores da Universidade estavam próximos da aposentadoria e o de História era um deles. Sua tia prontamente se ofereceu para ocupar o cargo mas o treinamento era necessário.
- Eu mal consegui acreditar quando ela contou - minha mãe completou - Uma mulher tão sem freio ocupando um cargo dessa importância.
- Verdade, mãe. - parei pensativa - Minha madrinha é a pequena amostra de um furacão por onde passa.
- Com a família e os amigos ela é tudo isso mesmo, mas é uma profissional incrível. - meu pai comentou.
- Vamos enviar umas flores para ela, mãe?
- Claro! Amanhã você escolhe um buquê bem bonito e envia de presente.
- Além disso, ela confirmou que também irá para a Sardenha com vocês. Vai ser uma forma de comemorar em família o novo cargo.
- Vai ser tudo de uma vez, papa. A mudança da Madeleine para Paris, o Henry terminou o Ensino Médio e agora a novidade da minha tia. Aliás, eu também tenho uma coisa para contar à vocês.
- O que foi, filha?
- É sobre a cerimônia de formatura. Ela foi adiada do primeiro para o segundo final de semana de dezembro. Hoje, a Dona Jacqueline foi até a nossa sala informar da mudança de data mas também vai enviar e-mail para os responsáveis.
- Ótimo. Vai dar tempo para os seus avós organizarem com calma a vinda para o Rio e participar da sua formatura.
- Seria maravilhoso se todos pudessem vir... - comentei um pouco chateada.
- Ah, meu amor, até lá muita coisa pode acontecer. Vamos torcer para que os seus primos venham.
- Eu iria amar.
- Apenas o seu tio Jeróme eu não garanto a vinda pois sabemos bem que dezembro é o mês em que ele não pode deixar a loja - meu pai explicou - E bom, hoje é sexta-feira, final de semana do Dia das Mães, que tal se nós três saíssemos para comemorar? Na verdade nós recebemos um convite.
- Que convite?
- Pois bem - percebi meu pai dando um leve suspiro - O Simon esteve hoje na minha sala nos convidando para uma pequena reunião na casa deles.
- É mesmo? - perguntei intrigada - O Frederik não comentou nada comigo no colégio.
- Talvez ele também não saiba, meu amor. Deve estar sabendo agora.
- Ele disse que não é nada grandioso, a Denise também convidou alguns poucos amigos da editora e eu achei indelicado recusar.
- E esse convite é pelo domingo das mães? - eu quis saber.
- Exactement ! - meu pai confirmou - Domingo todos estarão em família mas ele fez questão de reunir os amigos.
- Por mim...
- Se vamos nós três juntos, fico menos preocupada com o que talvez aconteça por lá - minha mãe me observava e alisava meus cabelos ainda úmidos.
- É, eu espero que tudo corra bem - meu pai completou.
- Posso convidar a Melissa?
- Claro, mon chère, não vejo problema.
- Merci, papa.
- Eu e sua mãe vamos nos arrumar para ir - me deu um beijo no topo da minha cabeça e saíram - Quanto mais cedo chegarmos lá, melhor.
- Tá bom.
Observei meus pais deixando o meu quarto e em seguida peguei meu celular que estava na minha mesa. Ao ver as notificações do WhatsApp, havia uma mensagem da Melissa de mais ou menos meia hora atrás.
Ní, estou no aeroporto. Minha tia convidou a gente para passarmos este final de semana em Curitiba para o Dia das Mães. Só voltamos no domingo à noite.
Poxa Meli, que pena! Ia te enviar uma mensagem te convidando para ir pro Frederik com os meus pais. Uma reunião por lá a convite do Sr Simon.
Enviei a mensagem e deixei o aparelho de volta em cima da mesa e fui até o guarda-roupa. Achei melhor ir de forma mais básica. Quase não era adepta de calças jeans mas escolhi uma de cor escura junto de uma blusa rosa bebê com uma das mangas caindo nos ombros e um par de sandálias na cor azul-marinho para combinar com a calça.
Após finalizar a maquiagem nos olhos e um batom cor de boca, vi a mensagem de retorno dela.
Jura?
Sim! O Felipe está com vcs?
Está, já estamos dentro do avião, daqui a pouco vamos decolar.
Tá bom, amanhã o meu sábado não será o mesmo, rsrsr...
Se tivesse um jeito de vc se encontrar com o Eric...
Sem a ajuda de vcs fica difícil. Mas não se preocupa, aproveita bastante. Eu converso com o Eric amanhã.
Tá legal.
Boa viagem e divirta-se! Bjs
Beijão.
Encerrei a conversa e tudo o que me restou era lamentar por não passar o final de semana ao lado do meu amor. Olhei a tela e já passava de sete da noite.
Não vai adiantar enviar uma mensagem para ele explicando. Amanhã pela manhã eu faço isso, pensei.
Esperei meus pais ficarem prontos para sairmos, o que demorou quase uma hora.
- O que vocês acham de irmos sem carro hoje? - estávamos na sala quando meu pai sugeriu - Não sabemos se vamos ficar até altas horas por lá e eu não gosto de dirigir de madrugada, vocês sabem.
- Acho ótimo - minha mãe concordou.
- Será que vai acabar muito tarde?
- Normalmente essas reuniões acabam sim, meu anjo. A Denise já havia me convidado algumas vezes este ano e eu sempre inventava uma desculpa. Mas desta vez não podíamos recusar.
- Entendi.
Meu pai pediu um carro pelo uber e foi o tempo de sairmos e esperar pelo motorista na portaria. Apenas torci para que tudo corresse bem...
***
Como meu pai tinha falado, a reunião não era nada grandiosa...
Chegamos na cobertura e carinhosamente fomos recebidos pelos donos da casa que já nos esperavam pela enorme sala.
- Que bom que aceitaram vir esta noite - Denise, ao lado do marido, não conseguia esconder o quanto estava satisfeita em nos ver.
Em todos os momentos que nos encontrávamos, eu sempre ficava encantada com a sua beleza. Ao mesmo tempo que era um pouco triste saber que, mesmo sendo tão bonita, ela era enganada o tempo todo naquele casamento.
- Foi um convite um pouco inesperado mas o motivo especial.
- Confesso que foi mesmo em cima da hora - Simon afirmou - E já que no domingo estaremos em família, tive a ideia de reunir os mais próximos nessa comemoração antecipada de Dia das Mães.
- O Frederik está aqui? - perguntei enquanto observava alguns convidados do lado de fora da cobertura.
- Ele não sabia dessa noite e muito menos que vocês viriam - Denise explicou - Está trancado no quarto. Mas vou avisar que você chegou.
- Por favor, fiquem à vontade. Os convidados estão lá fora. - Simon nos acompanhou até a área aberta onde havia algumas pessoas e também mesas e cadeiras espalhadas - Não é nada formal.
Cruzamos a enorme sala de estar e pude ver a movimentação de alguns funcionários de um buffet pela cozinha.
Escolhemos uma pequena mesa redonda com quatro cadeiras e nos sentamos onde eu fiquei entre os meus pais. O céu estava lindamente estrelado e o clima agradável.
Eu não conhecia a maioria das pessoas presentes ali, talvez eram colegas de trabalho da editora em que a mãe do Frederik era a Diretora.
- Será que não vem ninguém da empresa de vocês, papa ?
- O Simon convidou o Nicolas mas parece que a Sarah não estava se sentindo muito bem de saúde por esses dias então ele recusou.
- Eu não vi a Carina - minha mãe falou baixinho bem perto de nós.
- Será que ela não vem?
- Se ela não está aqui, então não veio. Os dois são grudados dentro e fora da empresa. Carina teria vindo com o Simon após o fim do expediente. - meu pai comentou - No entanto, eu vejo uma presença interessante aqui...
- Quem, Jacques?
- Que presença?
- Eu preciso falar baixo - eu e minha mãe nos aproximamos dele ainda mais - Estão vendo aquele homem ali? - meu pai discretamente apontou na direção de um dos convidados que usava um blazer preto - Ele é o Paulo Garcia, Diretor Editorial e sócio da Denise na editora literária.
- O de cabelos brancos? - minha mãe quis confirmar.
- Ele mesmo. Não é tão velho, apesar da aparência.
- E o que tem ele?
- Paulo e Denise foram namorados no passado.
Minha mãe e eu ficamos em choque ao mesmo tempo.
- Jacques...
- Pois é. Denise ainda estagiava em jornalismo quando começou a trabalhar na editora e depois de formada, ela e o Paulo iniciaram um romance. Mais ou menos na mesma época em que eu vim para o Brasil atrás da sua mãe - ele pegou na mão dela e deu um beijo no dorso.
- E como o Senhor Simon apareceu na história? - a curiosidade me consumia.
- Bom, naquela ocasião a editora enfrentava um processo sobre os direitos de publicação das obras do escritor Érico Veríssimo. A briga era entre os familiares dele contra a editora. E com isso, o Paulo contratou uma empresa de advocacia para representá-los no processo que viria. Adivinhem quem era o advogado responsável?
- Uau... - cobri a boca com uma das mãos.
- Ele mesmo - meu pai deu um meio sorriso de canto para nós duas e depois observou o homem que conversava com os outros convidados - Simon Bertrand.
- Então o Simon roubou a Denise dele?
- Sim... - meu pai continuava a acariciar a mão da minha mãe - Em resumo foi isso. O desgaste na justiça foi tão intenso que pelo visto, atingiu o relacionamento. Simon apenas aproveitou a oportunidade.
A família Bertrand cada vez mais se mostrava uma caixinha de surpresas. Observei o homem o qual meu pai contava a história e vi que ele era bonito. Ao mesmo tempo em que eu não consegui deixar de pensar no Frederik e no turbilhão familiar que ele vivia sem imaginar.
- Mas e ele? - minha mãe perguntou - Por acaso é casado?
- Esse é um dos pontos curiosos da história. O Paulo continua sendo um típico solteirão convicto até hoje e totalmente dedicado ao trabalho pois parece que nunca se conformou em ter perdido o seu grande amor para o advogado que defendia os interesses da empresa.
- Nossa, estou em choque - minha mãe riu seco.
- E eu... Que fofoca quente.
- Que isso fique entre nós três.
- Foi o Simon quem te contou tudo, papa ?
- Sim, contou com enorme satisfação e fala também que faz questão de mostrar o quanto é feliz ao lado da Denise quando o encontra. Uma típica provocação. Esta noite talvez veremos isso acontecer.
- E o resto da história eu já sei - afirmei - A Denise engravidou do Frederik durante a lua de mel.
- Isso mesmo.
- Ele deve ser um homem extremamente frio para manter a postura profissional nesses anos todos. E ainda ver a Denise conquistando um alto cargo na empresa e trabalhando ao seu lado - minha mãe analisou.
- Ele se viu obrigado a colocar o trabalho acima de tudo - meu pai reafirmou - Na tentativa de apagar a fogueira do sentimento, reduzindo à cinza em pó.
Frederik chegou, usando regata e bermuda preta e de imediato veio nos cumprimentar.
- Eu juro pra vocês que não sabia sobre hoje à noite aqui em casa - ele disse e meus pais levantaram-se da mesa quase que ao mesmo tempo.
- Eu disse isso para a Nívea - minha mãe o abraçou e o sorriso dela se ampliou na presença dele.
Meu pai lhe deu um abraço mais caloroso e era uma situação a qual me fazia lembrar o quanto as esperanças dele sobre nós dois pareciam crescer ainda mais, me causando um reboliço chato no estômago.
- Como você passou a semana? - meu pai manteve o cumprimento mantendo um afago no ombro o observando do mesmo modo que um pai orgulhoso observa o filho.
- Foi tranquila. Agora que as provas terminaram só nos resta esperar pelas próximas. Terceiro ano será apenas isso. Não é, Nívea?
- Sim - já em pé e ao seu lado, Frederik me deu um leve beijo no rosto - Os e-mails da Dona Jacqueline daqui a pouco voltam.
Um garçom se aproximou e deixou dois pequenos pratos com alguns salgados feitos no forno.
- Minha mãe disse que tem uma mesa de frios lá do outro lado da varanda. Quer comer alguma coisa, Nívea?
- Bom, eu não comi nada desde o almoço no colégio...
- Pode ir, meu anjo! Eu e seu pai ficaremos bem.
- Claro - suspirei de leve.
Segui com o Frederik até a mesa que ele havia falado e não pude deixar de ouvir as conversas calorosas que aconteciam entre os convidados. Me servi com alguns pequenos pedaços de queijos, pequenas torradas e patês todos bem separados pelo prato que estavam na tábua de madeira. Frederik fez o mesmo e nos sentamos nas cadeiras que estavam à disposição.
- E o Evandro e a Norma? Não os vi quando chegamos... - coloquei o prato no meu colo e usando um garfo de sobremesa, comi um pequeno queijo muçarela em formato de bola.
- Depois que chegamos da escola, meu pai deu o fim de semana livre para o Evandro e a Norma não gosta dessas recepções que os meus pais inventam - ele riu - Ela está recolhida no quarto.
- Entendi.
- Assim que eu soube, falei com o Patrick e ele disse que estava indo para o heliporto com a Gabi e a avó Raquel.
- Ah, eles viajaram?
- A essa hora eles já devem ter chegado em Búzios. O William e a Natália chegam amanhã de manhã por lá.
- Que coincidência, a Meli também viajou.
- Mesmo? - ele perguntou enquanto cortava com o garfo um pedaço de peito de peru e passava de leve pelo patê.
- Sim, viajou para a casa da tia.
- Ah sim, aquela que mora no Sul.
- Ela mesma.
- Você vai fazer alguma coisa amanhã?
- Eu ainda não sei... - dei de ombros, observando o meu prato e peguei uma pequena torrada e passei um pouco do patê, comendo em seguida - Devo passar o sábado com os meus pais e no domingo com certeza meu pai irá nos levar para almoçar.
- Ah, legal!
Por mais que eu soubesse que o Frederik jamais forçaria uma situação, era estranho ficarmos apenas eu e ele "a sós". Enquanto conversávamos, eu podia ver o brilho nos seus olhos. Ele me admirava, ficava atento a cada coisa que eu falava. Eram raras as chances em que ficávamos assim.
Olhei na direção dos meus pais e os vi conversando animadamente com a Dona Denise. Frederik e eu continuamos a conversar sobre a turma do condomínio e nesse tempo, nos servimos com mais opções de frios da tábua, tirei meu celular do bolso traseiro da minha calça e fiz uma foto do meu prato, publicando no stories do Instagram.
- Frederik? - ouvi a voz e quando me virei na direção era o Paulo, a pessoa da história contada pelo meu pai.
- Oi, Paulo - Frederik imediatamente deixou o seu prato de lado e o cumprimentou com um abraço - Tudo bom?
- Tudo sim, percebi que você estava acompanhado e resolvi não interromper a conversa - disse, enquanto me olhava com certa admiração.
- Que isso, essa é a Nívea, minha amiga do colégio. Estudamos juntos desde pequenos.
- Prazer em conhecê-la, minha jovem.
- É um prazer - estendi minha mão e ele fez o mesmo. Foi um aperto gentil e caloroso.
- É sempre ótimo conhecer os amigos do Frederik, eu o vi nascer - ele sorria ao falar.
- Minha mãe e o Paulo são amigos desde que ela era solteira, sabia?
- Nossa - disfarcei demonstrando surpresa - então são muitos anos.
Meu Deus, será que ele não sabe?
- Bastante. Lembra quando eu te contei que passei o dia na editora logo depois do meu aniversário? Pois o Paulo foi o meu mentor e me mostrou toda a rotina da Literação.
- Ah, que legal.
- Pretende estudar jornalismo também?
- Eu? Não, o mais provável é que eu estude Economia.
- Nossa, isso é muito bom. Caso queira estagiar durante a graduação, o setor financeiro da Literação estará de portas abertas para você.
- Eu agradeço.
- Vi este menino nascer e crescer - Paulo observava o Frederik com ternura - E não vejo a hora de vê-lo trabalhando ao meu lado.
- Com toda certeza você verá, Paulo - o pai do meu amigo aproximou-se e percebi que a expressão no rosto do sócio endureceu no mesmo instante ao ouvir tal voz - Afinal, o Frederik foi o filho que você sempre sonhou em ter, não é mesmo?
Era nítido o sarcasmo naquela fala.
- Você melhor do que ninguém sabe que sim, Simon.
- Não liga não, Nívea. Meu pai e o Paulo implicam um com o outro desde sempre.
- Claro - dei um leve sorriso sem graça.
- Nunca vou cansar de dizer que você é um homem sortudo, Simon, por ter um filho como o Frederik.
- Nisso, eu e você sempre iremos concordar. - ele cruzou os braços de forma triunfante - Mais sorte ainda por ter a mulher perfeita ao meu lado que tornou-se a mãe dele.
Paulo suspirou.
- Tenho total certeza disso - ele afirmou após um breve silêncio de sua parte ao ouvir as verdades ditas pelo dono da casa e então voltou-se para mim - Foi um prazer conhecê-la, Nívea. O convite para ir visitar a editora está feito.
- Obrigada, de verdade.
O sócio da Literação afastou-se, indo de encontro com algumas convidadas e o que meu pai disse antes, confirmou-se: o pai do Frederik fez questão de provocá-lo.
A informal reunião entre amigos seguiu pela noite sem outras situações inusitadas. Ela teria sido mais divertida se Gabriele, Patrick e Melissa estivessem presentes. Meus pais e eu voltamos para casa perto de uma da manhã e da minha parte ainda me sentindo um pouco triste por passar o sábado sem o Eric.
***
Já passava das dez da manhã e a imagem de um arranjo médio de flores do campo ocupava a tela do computador do meu pai. Foi o que eu escolhi para enviar de presente para a minha tia em Lyon. No entanto, o assunto entre eu e os meus pais no escritório era outro.
Minha mãe estava sentada na cadeira comigo em seu colo e meu pai sentado ao lado. Os braços dela envolviam minha cintura o que lembrava muito quando eu era criança.
- Se não contarmos o que aconteceu entre o sócio da Denise e o Simon, a noite foi divertida - minha mãe comentou ainda usando uma longa camisola branca de seda. Na verdade, todos estávamos com roupa de dormir.
- O Frederik que me preocupa. Sinto por ele - disse em seguida e recebi um beijo no rosto da minha mãe.
- A única coisa que podemos fazer é torcer para que isso acabe da melhor maneira. - foi a vez do meu pai comentar - Frederik não é mais criança mas caso a separação entre Simon e Denise aconteça um dia, que ele não sinta tanto.
- Eu também torço por isso. - concordei e minha mãe me abraçou com força, me dando um beijo mais apertado.
- Vamos sair hoje, meu amor? Que tal irmos ao shopping para umas comprinhas?
- Depois do almoço? - perguntei.
- Pode ser. Almoçamos em casa e depois saímos.
- Vamos também, papa?
- Vão vocês. - ele se levantou da cadeira em direção à porta - Ainda me sinto um pouco cansado por ontem à noite mesmo dormindo bem.
- Tá bom.
Eu e minha mãe ficamos mais alguns minutos visualizando outros modelos de arranjos de flores e depois deixamos o escritório cujo computador permaneceu ligado.
Lembrei que havia deixado meu celular no criado-mudo ao lado da minha cama e fiquei surpresa quando vi um bocado de ligações perdidas do Eric.
- Ele deve estar ocupado agora, montando os planos de aula da semana... - falei baixinho, sentada na beira da cama com o aparelho nas mãos enquanto observava a tela. Coloquei meu celular de volta onde estava e decidi estudar um pouco antes do almoço e então sair com a minha mãe.
Era quase uma hora da tarde quando finalizei as disciplinas que dei mais atenção e fui para o chuveiro tomando um banho rápido. Enrolada na toalha, olhei meu celular e mais uma ligação do Eric de minutos atrás. Retornei a chamada. Após dois toques ele atendeu.
- Finalmente consigo falar com você... - a voz rouca no modo menino pidão me desmanchou - Tá tão ocupada assim?
- Mais ou menos, cheguei tarde em casa ontem de noite.
- É mesmo, mocinha? E você foi pra onde, posso saber?
- Fui pra casa do Frederik com os meus pais.
- Hum...
- Não começa!
- Não estou falando nada!
- Sei... Eu vi suas ligações mais cedo mas não retornei porque você com certeza estava ocupado.
- É, eu estava mesmo. Mas e ontem, tudo tranquilo por lá?
- Foi. Semana que vem eu te conto tudo.
- Como assim semana que vem? E hoje?
- Acho que você não sabe. Melissa e Felipe viajaram com os pais e só voltam amanhã de noite.
- Isso não vai ser problema, vou dar um jeito de nos encontrarmos hoje.
- Mas como, Eric? Você não pode aparecer aqui do nada.
- Quem disse que estou falando de mim?
- Não entendi.
- Ainda hoje você vai entender.
- Ah, me conta!
- Se eu contar agora, perde a graça.
- Então vai ser no fim da tarde. Vou almoçar e depois sair com a minha mãe.
- Sem problemas, ma petite. Apenas me avise quando estiver de volta.
- Tá... - fiquei pensativa - Não vai mesmo me contar agora?
- Não precisa ficar preocupada. Vai dar certo. Je t'aime, ma petite.
- Je t'aime aussi.
***
Blusas, sapatos e alguns acessórios ocupavam quase toda a cama dos meus pais. Sendo Helena Toledo tão consumista, achei razoável a quantidade de compras. Da minha parte, eu não comprei nada. O final de semana era para ela com direito a usar o cartão de débito do meu pai.
Sentada na ponta, pude ouvir a movimentação vinda do seu enorme closet onde com certeza ela tentava arrumar algum espaço para guardar o que tinha comprado.
- Ainda acho que você deveria começar a pensar no seu vestido para o baile de formatura, meu anjo - ela comentou quando veio até a cama e pegou duas blusas novas e observava os modelos - Se deixar para comprar alguns dias antes, tenho certeza de que não vai encontrar nada do seu agrado. - aconselhou.
- A Gabi quer que eu compre o vestido nas nossas férias quando chegarmos em Paris e eu ainda acho cedo.
- Pois ela está certa! Ocasiões assim merecem atenção com o máximo de antecedência.
- Vamos combinar uma coisa?
- O quê?
- Depois do seu aniversário, saímos juntas e eu compro mais de um vestido. Não sou indecisa mas vai ser bom ter mais de uma opção.
- Combinado! - ela sorriu empolgada.
Me levantei, fui até ela dando-lhe um beijo no rosto e a deixei curtindo as compras realizadas. Ao chegar em meu quarto, vi meu celular na cama e lembrei do que o Eric havia pedido.
Já estou em casa.
Enviei a mensagem e fiquei distraída algum tempo no Instagram visualizando as postagens recentes de quem eu seguia, curti e comentei em uma foto das minhas primas. Louise estava no colo da Madeleine onde parecia ser em um restaurante. Elas sorriam em uma foto e na outra, Louise dava um beijo no rosto da irmã.
- Filha... - meu pai apareceu na porta - Tem visita pra você.
- Pra mim?
- Uhum - ele sorriu - Veio sem avisar mas sendo uma pessoa tão querida não tinha problema.
Saí da cama tomada pela curiosidade e chegando na sala, foi o momento em que fui pega de surpresa.
- Luciana?
- Oi, Nívea.
Estavam ela e minha mãe próximas à porta quando me viram. Me aproximei e nos cumprimentamos com dois beijos do rosto.
- Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
- Está tudo ótimo. Eu vim até aqui para te fazer um convite.
- Convite?
- Isso. Eu estou em fase de mudança e quero te convidar a vir comigo até o meu apartamento para me ajudar. Separar e colocar tudo em caixas. O que você acha?
- Olha, por mim não vejo problema - meu pai comentou envolvendo os meus ombros - Este final de semana está sendo entre mãe e filha mas se a Nívea quiser ir, tudo bem.
- Se ficar muito tarde, o meu anjo pode passar a noite na sua casa?
- Sim, a ideia é essa mesmo. Eu ia convidar a Melissa também, mas vi pelo Instagram que ela viajou e como estamos no início da noite, eu não sei se vamos demorar - e virou-se para mim - E então, Nívea? Aceita o meu convite? - Luciana sorriu e piscou para mim.
Será que...?
- Bom, eu ia ler um pouco e depois eu e a minha mãe íamos continuar a programação do dia das mães vendo filme.
- Não se preocupe meu amor, amanhã o dia será todo nosso.
- Claro, mon chère, a reserva no restaurante já está feita. - meu pai concordou.
- E eu também vou ficar com a minha mãe e os meus irmãos, por isso amanhã bem cedo eu te trago de volta.
- Então tá, só vou preparar uma mochila com uma muda de roupas se tudo acabar tarde.
- Vai lá, eu te espero.
Voltei para o meu quarto e ainda pude ouvir do corredor minha mãe sendo uma boa anfitriã lhe oferecendo algo para beber. Peguei minha mochila de viagem cor-de-rosa e pus um pijama de dormir, uma muda de roupas e um par de chinelos. Minha escova de dentes, um pente, meu sabonete líquido e o meu perfume favorito.
Foi um convite simpático, porém bastante inesperado. Era o que eu pensava enquanto arrumava tudo na mochila e quando foi a vez de guardar o meu celular, enviei outra mensagem para o Eric.
A Luciana está aqui em casa e veio me convidar para ir até o apartamento dela ajudar com as coisas da mudança.
Guardei o aparelho na mochila e deixei o quarto.
- Divirtam-se, viu? - minha mãe disse enquanto eu recebia um beijo no rosto e meu pai fez o mesmo no topo da minha cabeça.
Seguimos o caminho de carro até onde ela morava, conversando sobre o colégio e o trabalho dela na faculdade.
O prédio ficava em uma parte mais reclusa do bairro de Copacabana.
- Por que você vai se mudar? - perguntei enquanto o elevador subia até o andar onde ela morava.
- Eu quero um lugar com mais espaço. Esse apartamento eu consegui alugar de urgência logo depois que me separei e seria algo provisório. Provisório que já dura todo o meu tempo de divórcio. Espero me mudar até o recesso da faculdade em julho.
- Entendi - sorri - Pensa em continuar no bairro?
- Estou em vista de um apartamento aqui e outro em Botafogo. Mas adoraria continuar em Copacabana. Depois que eu passei a viajar para Búzios no réveillon, meus pais ficam hospedados aqui para assistirem a queima de fogos.
- Isso é bom.
- Pois é, vamos ver, tomara que eu consiga comprar o daqui.
O elevador chegou e no curto caminho até a porta de madeira, Luciana rapidamente pegou o chaveiro no pequeno compartimento da sua bolsa e abriu a maçaneta. Um corredor pequeno e um móvel foi o que eu vi de imediato, porém meu coração não estava preparado e deu saltos quando eu vi a pessoa sentada no sofá retrátil com braços dobrados e as mãos apoiadas atrás da cabeça.
- Eu não acredito... - falei paralisada.
- Eu disse que ia dar um jeito, não disse?
- O amor da sua vida só faltou implorar para que eu o ajudasse. Você tem que dar um jeito de tirar a Nívea de casa! Quase entrou pelo celular. - e riu.
Deixei a minha mochila no pequeno sofá ao lado de onde o Eric estava e fui para os seus braços sentindo o seu abraço apertado e sua boca afundando no meu pescoço.
- Pra falar a verdade, eu desconfiei de que você tinha alguma coisa a ver com a visita da Luciana lá em casa e antes de sair te mandei uma mensagem.
- Eu sei. Eu vi mas não respondi. Não ia conseguir ficar longe de você, ma petite.
- É, mas amanhã é Dia das Mães e eu vou ficar mais tempo com a minha.
- E não podemos ficar umas horinhas juntos, não?
- Se quiserem ficar aqui, estejam à vontade. - Luciana disse da cozinha enquanto abria a geladeira.
- Vamos ficar aqui ou não? - perguntei.
- Eu só estava te esperando para irmos lá pra casa mas antes eu quero saber sobre ontem na casa do seu amigo.
Contei ao Eric sobre a noite na casa do Frederik incluindo o momento do climão que eu presenciei entre o sócio da Dona Denise e o Senhor Simon.
- Quem quer apostar que existe um chifre trocado nessa história toda? - Comigo em seu colo, Eric analisou com os braços em torno da minha cintura.
- Ah Eric, não começa com as suas teorias!
- Eu estou com o Schneider nessa - Luciana concordou enquanto comia um pedaço de bolo de baunilha em um prato pequeno, usando um garfo de sobremesa - Se o pai do Frederik tem a secretária como amante, a mãe dele pode não ser essa esposa santa e vitimizada que todos pensam. Eu não duvidaria.
- Vocês acham?
- Pelo que você me contou, esse sócio agiu de forma bem comportada ontem. Se ele e a mãe do seu amigo são realmente amantes, os dois fazem muito bem feito escondido de todos.
- Ao invés de professor, você deveria ser detetive particular.
- Seria uma boa, já que eu vivo correndo riscos - e, com a mão no meu queixo, me deu um selinho apertado me fazendo sentir a sua barba macia.
Ouvimos um telefone tocar e ao ver a Luciana pegar o aparelho, visualizar a tela e ficar com a expressão séria no rosto, ela apenas o colocou de volta no braço do sofá.
- Não vai atender?
- Depois eu retorno.
- Essa com certeza eu vou adivinhar. Evandro? - Eric disse e Luciana apenas bufou.
- É mesmo o Evandro? - fiquei levemente surpresa.
- Eu falo com ele amanhã...
- Sabe o que é, meu amor? A nossa amiga aqui está há um mês, desde que recebeu as flores, dando um bolo nele. Ele convida pra sair e ela recusa.
- Sério? Mas por quê?
- É complicado... - ela suspirou.
- É você quem complica. - a voz do Eric ficou séria.
- O Evandro é um cara legal, Luciana - elogiei - Mas se você não se sente pronta para um novo relacionamento, eu te entendo.
- Eu prefiro não passar de novo pelo que eu passei.
Em um final de semana que passamos juntos após o Carnaval, Eric me contou sobre o casamento da Luciana e a forma triste que ele tinha acabado. E com isso, ela trancou o seu coração. Deveria ser terrível para uma mulher a dor da traição principalmente do jeito que foi com ela.
- Você sabe o que faz - Eric se levantou e eu fiz o mesmo - E sabe também que uma hora ele pode cansar e partir pra outra.
- Que seja - ela deu de ombros - Eu deixei bem claro pra ele que só seria amizade.
***
Terminei de colocar a segunda bola de sorvete de flocos na taça e após guardar o pote no congelador da pequena geladeira, saí da cozinha seguindo para cama onde o Eric estava deitado, lendo um texto de poucas folhas. A luz do abajour refletia na sua direção e ele permanecia concentrado, usando seus óculos transparentes. Seria possível ele ficar mais lindo? A calça de moleton cinza claro que permitia exibir seu abdômen definido o aproximava perto do que eu achava que era a perfeição. Além de me fazer ficar um pouco sem ar.
Tentei desviar todos os pensamentos que me deixavam em chamas e me sentei ao lado dele e de frente, cruzando as pernas em forma de borboleta e comecei a tomar o sorvete.
- Está lendo o quê? - quis saber após tomar a primeira colherada.
- Um artigo do periódico do curso de Literatura Francesa da Sorbonne. Quem escreve é um dos meus ex-professores.
- Hum, legal... - tomei mais um pouco do sorvete - E mesmo sendo ex-aluno você consegue acessar a área restrita do site da Universidade?
- Na verdade, não - ele mantinha os olhos voltados para o texto - Mas eu sou inscrito na newsletter que a própria universidade divulga e isso sim me dá acesso às publicações. Recebo a atualização de novos textos pelo e-mail. Caso o assunto seja interessante, eu faço um debate com os meus alunos do curso daqui.
- Entendi - continuei a tomar o sorvete antes que derretesse.
- Aliás, isso era uma coisa que você deveria fazer. - ele enfim, pausou a leitura e passou a me encarar.
- O quê? Me inscrever também para receber os artigos?
- Não exatamente e sim, saber o que a Universidade de Lyon produz e divulga sobre a área que você pretende se graduar.
- Ah não, e lá vamos nós de novo - revirei os olhos e suspirei quase bufando - Só preciso pagar cinquenta centavos e assim terei a minha vassoura.
- Eu disse pra você que não ia esquecer esse assunto.
- E eu disse que não ia falar sobre ele. Também me lembro muito bem quando você ficou mal em me pressionar e que meu foco era nas minhas notas deste ano.
- Eu sei, mas Nívea, nós estamos chegando na metade do ano letivo. Você precisa focar na sua graduação! Dê ao menos um pouco de atenção.
Fiquei quieta encarando a taça com o sorvete quase no fim.
- Meu amor - ele deixou o texto e os óculos em cima da mesa de cabeceira, sentando-se na cama e me puxou de leve pelo queixo, olhando nos meus olhos - Se eu te cobro a respeito, é pelo seu bem. Com um pouco de organização, dá para conciliar os dois: as provas do terceiro ano e a sua graduação. Vai estudar Economia?
- Eric, por favor... Vamos mesmo discutir por causa disso?
- Quem aqui está falando em discussão?Estamos conversando.
- Uma conversa que me deixa sufocada!Chega, tá bom? - me afastei, deixando a taça de sorvete no chão ao meu lado da cama e me deitei de costas pra ele, apertando os lábios na tentativa de segurar as lágrimas que insistiam em se formar.
Respirei fundo, querendo me acalmar e quem sabe, dormir. Não havia clima para mais nada depois daquilo.
- Eu não quero brigar com você, ma petite... - seu corpo se aproximou do meu na tentativa de uma conchinha, junto da sua voz próxima ao meu ouvido - Eu só fico preocupado...
- Acha que eu sou uma irresponsável, isso sim... - apertei os meus lábios sentindo a primeira lágrima rolar.
- Eu não achobeijo nos meus cabelos - Nunca achei... Não fica assim - Sua mão afastou os fios do meu pescoço permitindo a sua boca na minha pele, quando senti seu corpo encaixado ao meu, com o braço em volta da minha cintura - Se isso te faz chorar, não vamos mais conversar sobre isso, tá bom? Prometi que não ia te fazer chorar, não foi?
- Você não é bom com promessas... - falei chorosa.
- Vou me esforçar. Vai ser tudo no seu tempo. - sua boca continuou a espalhar beijos carinhosos pelo meu pescoço e a nuca, trilhando um caminho até a minha bochecha.
O encarei de volta e seu polegar secou uma das minhas lágrimas. Meu coração batia descompassado depois aquela conversa.
- Eu entendo que isso é importante mas as minhas provas do colégio também são.
- Eu seiselinho apertado surgiu com todo aquele carinho - Me desculpa - um outro selinho. E mais outro e outro e outro...
Que se transformou em um beijo lento, apaixonado onde não existia espaço para nada que poderia me entristecer novamente.
As mãos do Eric se uniram às minhas acima da minha cabeça e nossas bocas perderam o controle. Permiti o seu corpo se encaixar junto ao meu e de imediato o volume por dentro da sua calça cresceu entre as minhas pernas, que a abraçaram pela cintura. Em meio ao beijo, um gemido saiu da minha garganta e aquela boca deliciosa começou a sugar o meu pescoço me deixando quase sem fôlego.
- Você é muito teimosa sabia, mocinha?
- Por quê? - segurei no seu rosto para encará-lo.
- Insiste em ficar de calcinha aqui quando sabe o que eu quero.
- Não sei... O que você quer?
O rosto do Eric endureceu e ele voltou a me beijar com força, erguendo mais as minhas pernas formando o encaixe perfeito.
- Tira essa calcinha! - exigiu - Tira ou será mais uma que eu rasgo!
Remexi meu corpo na cama, tirando a peça que ficava entre nós e joguei em uma direção qualquer fazendo o mesmo com a camisola que usava. Ao me ver sem nada, Eric se levantou, permanecendo de joelhos por entre as minhas pernas. Sua respiração falhava e seus lindos olhos azuis percorriam cada detalhe do meu corpo.
Um olhar que fazia meu coração bater pelo corpo inteiro e implorar para que eu e ele nos tornássemos um só.
Sem tirar os olhos de mim, Eric desatou lentamente o laço da calça e pôs para fora seu membro duro, apontado para o alto e com a cabecinha melada.
Mordi o lábio inferior ao vê-lo tirando a calça, ficando completamente nu. Suas mãos deslizaram pela parte de dentro das minhas coxas e sua boca beijou o meu ventre, indo de encontro até aonde eu enlouquecia todas as vezes em que era tocada. Os pelos macios daquela barba que eu tanto amava acariciavam a minha pele e sua língua brincava sem pressa.
Quando na verdade era uma tortura a qual eu não queria que acabasse.
Eric sabia exatamente como fazer para me deixar à beira de um precipício com cada lambida, cada beijo, cada ponto a ser sugado. Principalmente quando eu já estava inchada e latejante, com o corpo implorando para atingir ao orgasmo.
Minha mãos bagunçavam os fios dos seus cabelos, impedindo que ele parasse e eu rebolava na sua boca querendo por mais.
- Eric... - sussurrei o seu nome, contorcendo o meu corpo, agarrando com força o lençol e sentindo sua língua socando lentamente a minha boceta.
O céu não era mais o limite quando senti meu corpo explodir em um orgasmo arrasador. Era algo além dele. Que fez o meu corpo inteiro pulsar por minutos que pareciam eternos. Tudo girava ao meu redor e o caminho de beijos que senti enquanto ainda buscava pelo fôlego que me faltou, terminou na minha boca onde senti o meu próprio gosto.
Sem me penetrar, Eric mergulhou suas mãos por dentro dos fios dos meus cabelos me tirando a respiração que eu ainda buscava e fiz o mesmo, o agarrando pelo pescoço.
- Eric...
- Hum... - sua boca faminta não tinha limite. Sugava a minha pele, explorava a minha bochecha e o meu pescoço com o meu corpo ainda esgotado. Mesmo assim, ele se arrepiava por inteiro querendo mais.
- Eu... Eu quero...
- O que você quer? - perguntou enquanto mordia o lóbulo da minha orelha com aquela voz rouca e deliciosa.
- Faz daquele jeito... Daquele jeito que eu gosto...
- Não me pede isso, por favor...
- Mas foi assim que você fez na minha primeira vez! - encarei ele novamente.
- Eu praticamente te rasguei!
- Eu sei, mas depois das outras vezes foi ficando bom.
Eric continuou a sugar e beijar o meu rosto de todas as formas, chegando até a minha boca. Com as minhas pernas ainda cruzadas na sua cintura, o puxei para perto querendo-o dentro de mim o mais urgente possível.
E sem perder tempo eu o senti. O seu membro duro e latejante de uma vez me fazendo arrancar um gemido alto, interrompendo o beijo. Grudei o seu corpo perfeito junto ao meu e suas mãos foram parar nos meus quadris onde ele começou a socar firme e com força sem parar por nenhum instante.
- Desse jeito, não é danadinha? - perguntou, com o seu rosto grudado ao meu.
Sempre contida nos meus gemidos, cravei minhas unhas no alto das suas costas, como se o quisesse impedir de se afastar. Sua boca invadiu a minha novamente em mais um daqueles beijos que me enlouqueciam. Meu corpo unido ao dele começou a reagir, sentindo o meu coração bater de forma errada, meu baixo ventre formigando gostoso e a minha boceta o apertando sem controle.
- Eric... Meu amor...
- Se entrega, meu tesão... Isso...
Como o amor por uma pessoa era capaz de provocar a mais deliciosa forma de prazer em seu próprio corpo?
Era a sensação de estar em um looping infinito da montanha-russa mais radical que poderia existir. Na realidade, era possível descrever tal emoção.
- Olha pra mim, ma petite... - Eric pediu e seu corpo continuou a invadir deliciosamente o meu até o instante em que vi o seu rosto endurecer.
Ainda que estivesse sob o efeito de todas aquelas sensações, eu sorri e então o senti derramar todo o seu gozo em mim, com as suas mãos na minha cintura, até a última gota. Seu rosto e o meu grudaram-se mais uma vez e nossos corpos esgotados em meio ao suor daquela transa.
- Não sai de dentro de mim...
- Da boceta mais deliciosa e apertada que eu já fodi? Jamais.
Juntos, respirávamos ofegantes ainda tomados pelo calor do momento. Mais beijos eu senti na minha pele me fazendo suspirar, até aquele lindo par de olhos azuis cruzar com os meus.
- Eu te amo...
- Eu amo mais... E quero te provar isso.
- O quê? - ele me olhou curioso - Me provar como? - quis saber enquanto acariciava a minha testa úmida com alguns fios de cabelo grudados.
Respirei fundo, olhando nos seus olhos. Era algo que o Eric havia me pedido há algum tempo, eu neguei e ele respeitou.
- Você pode fazer se quiser... Eu... eu deixo...
- Fazer o quê, Nívea? Como assim?
- O que você me pediu uma vez. Pode fazer por trás... - engoli em seco.
Eric conseguiu o impossível: ficar mais branco do que já era. Ele encarava cada parte do meu rosto sem acreditar no que tinha acabado de ouvir e foi a sua vez de tentar engolir o bolo que, com certeza, formou em sua garganta.
- Nívea... - E somente assim, ele se separou de mim, me puxando para ficarmos sentados de frente um para o outro.
- Você sempre quis, não quis?
- Sim, mas você não precisa fazer disso uma prova de amor. Seu corpo tem um limite e eu vou respeitar esse limite. Sempre.
- Mas Eric...
- Por acaso é o que você quer?
Mais uma vez, permaneci calada.
- Viu só? - ele sorriu - Não está fazendo por você.
- Quero experimentar isso por nós dois. Ou será que é você quem não quer?
- Claro que eu quero, eu desejo isso com você mas não poderia ser esta noite.
- Ué...
- Desde que começamos a namorar eu nunca mais comprei preservativos.
- E precisa de proteção?
- Claro que precisa. - sua mão acariciou meu rosto - O homem que não se preocupa em proteger a mulher, é no mínimo um babaca.
- Ainda não está tão tarde e deve ter alguma farmácia aberta...
Eric continuou a me fitar, absorvendo o que eu havia acabado de dizer.
- Tem certeza de que quer isso?
- Se eu sentir dor e te pedir para parar você para?
- Acha mesmo que eu sou algum tarado psicopata para te forçar?
Sorri e me aproximei dele, dando um beijo repleto de carinho no que fui correspondida da mesma forma. Claro que eu estava nervosa, pois era algo novo na nossa relação. Porém, eu sabia que podia confiar no homem que eu amava.
- Fica quietinha aqui que eu não vou demorar - suas mãos seguraram o meu rosto em mais um beijo apertado e o acompanhei com o olhar, saindo da cama apressado, pegando sua calça de moleton pelo chão, vestindo-se rapidamente, indo até o guarda-roupa pegando uma blusa regata para fazer o mesmo. Pegou seus óculos e seus objetos pessoais na sua mesa de trabalho, colocando-os em um dos bolsos e voltou na minha direção, me dando um último beijo antes de sair.
Me deitei na cama, após ouvir a porta bater e pensei em tudo: se seria bom, se seria ruim, se iria doer, se eu iria gozar... Se, se, se...
***
Ainda deitada, olhando na direção da varanda que estava aberta, meu coração disparou quando ouvi o ruído da chave abrindo a porta. Me virei na direção, ficando sentada, com o corpo coberto pelo lençol branco e vi o Eric entrar carregando uma sacola média de plástico da farmácia na cor verde. Foi quando nos encaramos novamente e um breve silêncio surgiu.
Eu estava tensa e ele parecia estar da mesma forma. Tenso, preocupado e pensando em muitas coisas. Era isso que eu percebia em seu olhar. Foi quando aquele silêncio foi quebrado.
- Demorei muito?
- Não... Foi rápido - respondi olhando a sacola - Comprou mais coisas além das camisinhas?
- É... - ele riu sem jeito e se aproximou da cama - Coisas para não te machucar.
- Ah...- coloquei uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, desviando o olhar e sentindo meu pescoço esquentar.
- Nívea, você pode desistir se quiser...
- Não, tudo bem. Só estou nervosa.
- Eu sei...
- O que foi que você comprou?
- Isso você só vai saber na hora.
- Tá bom - e dei um meio sorriso.
Observei com atenção quando o Eric pôs a sacola na cama e novamente se despiu para mim. Sentou-se de frente e me puxou para perto pela cintura onde trocamos mais um beijo. Envolvi o seu pescoço com meus braços e nos grudamos, dominados por aquele momento de pura paixão e desejo.
- Vou precisar que você fique deitada, de lado...
- Vai doer, não vai?
- Vou tentar fazer de tudo para não doer. Mas você também precisa relaxar...
Fiquei calada, sentindo sua boca beijando lentamente o meu rosto e o abaixei, tentando acalmar a minha respiração. Fiz o que ele me pediu e me deitei de lado na direção do abajour.
- Prefiro não olhar, tudo bem?
- Claro, do jeito que você quiser...
Rapidamente, percebi que ele pegou a sacola e espalhou pelo colchão tudo o que havia comprado. Novamente, se aproximou e formou um abraço de conchinha, beijando o meu pescoço sem nenhuma pressa.
Sua mão deslizou pela curva do meu corpo, chegando até o quadril onde apertou firme me colocando quase que de bruços. Ouvi o rasgo do pequeno pacote e sabia o quanto ele tinha experiência e habilidade com o que estava fazendo.
E sem que eu esperasse, senti em seus dedos algo parecido com uma geleia deslizando dentro do meu bumbum.
- Eric!
- Shiuuu... Continua assim como você está...
- O que é isso?
- Isso é o que vai fazer diminuir a dor... - continuou a passar, colocando um dos dedos bem no meio e acariciando com calma - Relaxa... - me pediu.
- Isso é quente assim?
- É - ele riu e me beijou na ponta da orelha - Esquenta aos poucos...
Eric terminou o que havia feito e deitou-se abraçado a mim, pela cintura e cheirando o meu pescoço. Ficou assim por alguns minutos.
E aconteceu.
Fez o seu membro, protegido pela camisinha, deslizar para cima e para baixo no meu bumbum e o que ele havia passado em mim esquentava cada vez mais, me fazendo ficar relaxada.
Até o instante em que senti.
A ponta forçar bem devagar na minha entrada apertada no que me fez agarrar o travesseiro e meu corpo inteiro travar.
- Relaxa... - ele pediu carinhosamente baixinho no meu ouvido.
Senti quando Eric conseguiu enfiar aos poucos bem devagar e um incômodo eu não consegui evitar. Sua mão na minha cintura e o lento vai e vem me fizeram morder o lábio inferior e tudo o que podia fazer era relaxar ao máximo para aproveitar aquele momento.
Pouco a pouco, com toda paciência do mundo, fui sentindo o tamanho dentro de mim. Até perceber que eu me tornei do Eric por inteira.
- Nívea... - ele sussurrou - Você é perfeita... - Sua respiração no meu ouvido era intensa e ofegante.
- Então é desse jeito?
- Uhum... Sente dor?
- Um pouco...
- Vou ficar assim até você se acostumar.
E ficamos. Sua mão deslizava pela parte de dentro da minha coxa direita e todo aquele corpo que eu amava estava encaixado perfeitamente no meu.
Bem lentamente, Eric começou a fazer o que ele tanto desejava e seus sussurros cada vez mais constantes.
Eu não esperava o que iria acontecer. Senti minha boceta esquentar gostoso e comecei a esfregar uma coxa na outra, apertando o travesseiro e querendo mais do que acontecia com o meu corpo.
- Não é bom?
- Muito...
- Se você quiser, eu paro...
- Não...
Era delicioso saber e sentir o quanto nossos corpos já se conheciam. O quanto pertencíamos um ao outro. E naquele momento por completo.
Sua mão tocava o meu seio e meu rosto virou-se na direção do seu para mais um beijo. E tudo isso sem que ele parasse de me penetrar.
- Me toca Eric... Por favor...
Era como se uma corrente elétrica estivesse passando em cada parte por onde seus dedos deslizavam devagar até chegar onde eu mais desejava.
Com o rosto colado no meu, Eric não conseguiu conter um gemido alto quando me sentiu totalmente molhada e começou a perder o controle enquanto estava dentro de mim.
- Você desse jeito me deixa louco...
- De que jeito? - provoquei com a pergunta.
- Com a boceta implorando pra ser fodida pelo resto da noite...
Ele enfiou seus dedos na minha boceta e o incômodo que eu sentia um pouco antes, desapareceu. Meu corpo queria mais daquilo e sem sentir, comecei a rebolar naquele membro delicioso. Eric grudou ainda mais seu corpo no meu e deixou que eu ditasse o ritmo.
- Isso minha delícia, rebola essa bunda gostosa no meu pau...
Agarrei o quanto eu podia no travesseiro e rebolava sem parar, desejando chegar no auge do prazer. Com as duas mãos, Eric agarrou na minha cintura e me colocou de quatro.
Todo o cuidado no início não existia mais, com aquele homem maravilhoso me amando de um novo jeito e eu sorri pois meu corpo chegou ao ápice do que estava acontecendo.
- Aaaaahhhhh...
Gozei, sentindo minha boceta pulsar e não conseguia parar de rebolar querendo prolongar aquele momento. Se possível, para sempre.
Eric acelerou as investidas, apertando com um bocado de força nas minhas coxas até chegar na sua vez e nos deitamos ao mesmo tempo com seu corpo por cima do meu. Sua boca beijou a minha pele úmida do meu ombro e ainda o sentia duro dentro do meu bumbum.
- Não podia imaginar que seria tão bom...
- Agora você já sabe.
- Vai me dizer o que era aquele negócio quente?
- Um lubrificante íntimo. Pra entrar mais fácil. - senti mais um beijo.
- E precisa colocar sempre?
- Pra evitar a dor, sim.
- Hum...
- Não me enganei nem por um momento quando comi sua bunda - revelou baixinho no meu ouvido - A mais gostosa que eu já comi.
- Para, Eric! - meu rosto ferveu de vergonha.
- A bunda mais gostosa, com o cuzinho mais apertado.
- Eu não estou ouvindo isso - enfiei minha cara no travesseiro - Para ou então eu não deixo mais!
- Duvido você não deixar... - continuou sussurrando, deixando a minha pele arrepiada e continuando uma sequência de beijos.
Foi tão gostoso rebolar pra ele que seria difícil não querer por mais. E só de lembrar, a minha boceta começou a esquentar novamente.
***
E de novo em forma de conchinha...
Foi assim que acordei pela manhã, sentindo o corpo do Eric envolvido no meu. Meus cabelos espalhados pelo travesseiro e o cansaço do meu corpo eram a prova de que a noite havia sido muito, muito intensa.
Me virei na cama e fiquei de frente para o Eric que dormia profundamente. Admirava aquele lindo rosto cuja barba estava um bocado cheia e sorri, começando a acariciá-la. E ele continuava a dormir tranquilamente.
De repente, olhei para a minha mão e não o vi. O anel que ganhei de presente da minha avó não estava no meu dedo. Aflita, me afastei um pouco do Eric e sentada, comecei a procurá-lo pela cama em meio aos lençóis e não o encontrava.
- Eric! - comecei a empurrar de leve o seu ombro na tentativa de acordá-lo - Eric, acorda!
- Hum... - ele apenas virou-se, ficando deitado.
- Eric!! - falei um pouco mais alto para que ele me escutasse.
- O que foi, meu amor? - sonolento, finalmente ele me ouviu.
- O meu anel! Ele sumiu!
- Não sumiu, não...
- Sumiu sim, ele não está no meu dedo!
Lentamente ele abriu seus olhos e me encarou, ainda acordando aos poucos.
- Eu guardei ele pra você. - disse com a voz rouca de sono.
- Como assim, guardou? - perguntei tentando entender.
Sem me responder, ele levantou-se da cama e sentado na beira, abriu a pequena gaveta da mesa de cabeceira onde ficava o abajour.
- Aqui - Virou-se para mim e me entregou.
Fiquei aliviada quando o vi intacto e o pus de volta em um dos meus dedos.
- Eu acordei de madrugada e enquanto você dormia eu o tirei. Fiquei com receio de você se arranhar durante o sono.
- Nossas poucas horas de sono você quer dizer.
- Sim - ele riu e me deu um selinho - Ele é muito importante pra você, não é? - perguntou e pegou na minha mão direita onde a joia estava, encarando pensativo.
- Foi um presente muito especial da minha avó. Minha mãe e minhas duas tias também ganharam de presente e ela fez o mesmo comigo e com a minha prima.
Eric não disse nada. Apenas continuou a admirar a joia e acariciou o meu dedo onde estava o anel. Suspirou profundamente e seus olhos azuis voltaram a me encarar.
- Ele é tão lindo quanto você.
Trocamos um beijo delicioso que me fez voltar a deitar na cama e todo aquele tesão que senti em vários momentos da madrugada voltava com força quando o Eric ficou por entre as minhas pernas.
- Eric - mordi um lábio quando senti sua boca no meu pescoço - Eu preciso ir pra casa...
- Só mais uma, ma petite... - e ergueu as minhas coxas, envolvendo na sua cintura e enfiou de uma vez. Foi inesperado e delicioso e tudo o que pude fazer foi me agarrar nas suas costas onde arranjei a sua pele - Essa boceta gostosa tem que ser fodida muito bem...
E começou a socar bruto e ligeiro gemendo no meu ouvido de um jeito que me deixava maluca. Agarrei no seu pescoço permitindo meu corpo se entregar ao homem que eu amaria para sempre.
Corpos e lábios unidos buscando o prazer que não demorou muito a surgir. Meu coração acelerava e senti meu ventre formigando a cada contato da sua pele se esfregando onde eu era sensível.
- Eu...
- Goza pra mim, meu amor... Isso... Faz essa boceta molhadinha esmagar o meu pau, faz...
Me senti nas nuvens quando o orgasmo me dominou e ele, conhecendo as reações do meu corpo, não demorou a ter o seu ápice ao estar dentro de mim.
Ainda por cima e com a respiração pesada, nossos olhos se encontraram e pequenos beijos foram deixados em cada parte do meu rosto.
- Você tá bem? - ele perguntou.
- Estou.
- Me refiro sobre ontem...
- Ah... - senti meu rosto ferver - Ainda sinto doer um pouco... Mas foi bom. - sorri fechado e sem jeito.
- Vai se acostumar aos poucos...
- Você vai querer sempre?
- Só se você quiser. Mas não vou negar que vou desejar essa bunda deliciosa rebolando no meu pau.
- Para! - dei um tapinha de leve no seu ombro e riu - Gostei do gel. Me ajudou a ficar mais à vontade.
- Vou fazer um estoque daqui pra frente.
- Tarado!
- Gostosa - me deu um beijo apertado em que nos abraçamos com mais força.
- Agora eu preciso ir mesmo, Eric...
- Tá bom. Só toma cuidado caso seus pais perguntem sobre como foi a ajuda na Luciana.
- Tenho que me lembrar disso.
***
O aroma de café foi a primeira coisa que eu senti no instante que cheguei em casa naquela manhã. Ainda não eram oito horas quando fui até a cozinha e me surpreendi ao ver o meu pai preparando uma bandeja de café da manhã.
- Bonjour Papa... Comme c'est beau !*
- Bonjour mon chère ! Que bom que chegou a tempo! Gostou?
- Muito. É para a minha mãe, acertei?
- Oui ! Hoje o dia é dela então vamos começar muito bem.
Na bandeja de tamanho médio havia o café servido em uma xícara de porcelana com algumas frutas vermelhas como morango e maçã cortadas em fatias, uma pequena taça com iogurte, um sanduíche de pão integral feito com queijo branco e peito de peru e para decorar, uma rosa vermelha colocada no canto direito. De imediato, tirei meu celular da mochila e tirei uma foto.
- Posso ajudar em alguma coisa?
- Pode. Levando o buquê de rosas vermelhas que está ali na mesa de centro da sala que eu encomendei para chegar bem cedo.
- Tá bom.
Fui até a sala e deixei a minha mochila e o aparelho no sofá. Fiquei encantada com o lindo buquê e o peguei com cuidado indo nós dois até o quarto.
- Ela ainda está dormindo? - perguntei em voz baixa.
- Te confesso que não sei.
Fui na frente e ao abrir a porta do quarto, o ar condicionado gelado arrepiou a minha pele de imediato. O grosso edredom branco estava embolado pela cama e minha mãe dormia usando sua linda camisola de cetim na cor champagne.
- Mãe? Acordaaa! - Chamei por ela.
- Bonne fête des mères !* - meu pai anunciou.
Minha mãe remexeu-se na cama e começou a se espreguiçar. Ao abrir os olhos e se erguer um pouco, ficar boquiaberta foi a sua primeira expressão. Era linda com o rosto limpo sem nenhuma maquiagem. Foi o que vi enquanto a admirava.
- Ah não, meus amores... Tudo isso pra mim?
Me aproximei da cama e dei a volta para ficar ao seu lado, lhe entregando o buquê e meu pai fez o mesmo pelo outro lado em um gesto perfeito para que ela fosse rodeada de amor.
- Você merece todo nosso amor, mãe. - e lhe dei um beijo no rosto.
- O nosso amor e muito mais. - meu pai cuidadosamente colocou a bandeja em frente à ela, que admirava cada detalhe, e os dois trocaram um singelo beijo apertado.
- Eu amei, ficou tudo perfeito. - foi a vez de ela admirar as rosas e retribuir com um beijo no meu rosto - Amo vocês.
Afastamos o buquê, colocando-o na beira da cama e meu pai fez questão de lhe entregar a xícara de café.
- Mas e vocês? - ela deu o primeiro gole e questionou.
- Depois eu e o meu pai preparamos alguma coisa. Mas o primeiro café da manhã de hoje é apenas seu.
- Hum... Vamos ver se esse sanduíche está bom. - e o pegou com as duas mãos, dando uma mordida.
- Me esforcei pra isso.
- Está ótimo - ela pôs a mão na boca, pegando a xícara de café para dar mais um gole. - O iogurte e as frutas ficarão por último.
- Marquei a reserva do nosso almoço para uma hora da tarde. Achei um horário razoável. - meu pai comentou enquanto colocava uma mecha de cabelo da minha mãe atrás da orelha. - No restaurante que você escolheu.
- Uhum. Um restaurante italiano no Leme que foi indicação de uma cliente.
- Poderia ser francês, não é?
- Papa !
- Em todos estes anos do nosso casamento, seu pai custa a aceitar que eu amo mais a culinária italiana do que a francesa. Gosto de ambas mas a italiana tem um lugarzinho especial no meu coração. O aniversário do Frederik foi a prova. Comi de tudo, mas claro em porções menores bem diferente da Melissa que repetia os pratos. - e rimos os três. - Mas me conta, meu anjo. Como foi ontem à noite na Luciana?
A tela azul no meu cérebro.
- Ah... Foi legal. - sorri do jeito mais amarelo possível - Conseguimos empacotar muitas coisas. Depois pedimos uma pizza e vemos um filme. Só isso. Teria sido mais divertido com a Melissa.
- Isso sem dúvidas. - meu pai concordou.
- Mas então - quis mudar rapidamente de assunto - Qual o nome do restaurante?
- Da Brambini e fica na orla. Espero que a comida seja boa. - meu pai deu de ombros.
- Então tá bom. Vou pro quarto, escolher um vestido e fazer alguns pães de queijo pra tomar café.
- Adorei tudo, meu anjo - minha mãe me deu um abraço apertado.
- Já disse, você merece. - lhe dei um beijo e saí da cama.
Fiz o que havia dito, peguei minhas coisas na sala e fui para o quarto. Postei a foto do café na manhã nos stories com a legenda em francês do dia das mães e deixei o aparelho de lado para focar no longo dia de domingo.
O almoço no restaurante escolhido foi o momento perfeito em família. Um lugar elegante e acolhedor que servia pratos italianos incríveis. Pela data comemorativa em questão, ele estava quase lotado mas isso não atrapalhou em nada. Após o restaurante, voltamos para casa e fizemos uma maratona com os filmes favoritos dela com direito a muita pipoca amanteigada. O dia era da minha mãe e ela merecia.
***
Deitada na cama e vestida para dormir, eu estava de bobeira vendo postagens no Instagram quando recebo uma mensagem:
Ní, já foi dormir?
Ainda não. Já chegou de viagem?
Cheguei tem meia hora, mais ou menos. Estou morta de cansaço e vou deixar pra desfazer a minha mala durante a semana kkkkk
E como foi lá na sua tia?
Foi bom. No sábado fomos pra uma churrascaria no Batel* e no domingo almoçamos em família em casa
Que bom.
E como foi no sábado? Eric ficou na seca sem vc? 🤣
Vc acredita que ele armou tudo com a Luciana e ela veio aqui em casa dando a desculpa de que queria a minha ajuda com a mudança dela em breve? Qdo cheguei na casa dela, adivinha só.
O Eric estava lá na casa dela esperando vc?
Exato
Kkkkkkkkkkkk
Mas antes de falar do sábado, tenho um babado pra te contar quando eu estava com os meus pais no Frederik
Me conta agr!
Não dá, a história é longa e tem q ser pessoalmente.
Mas é grave?
Nem tanto mas é babado 🤭
Hum... Agr vou ficar curiosa😑
Prometo te contar sem falta quando formos pra Ipanema...
Qro só ver... E vcs dois? Saíram da Luciana e o mesmo de sempre na casa dele né?
Ah... Então... Mais ou menos...😁
Como assim? Q q houve?
Eu deixei o Eric fazer uma coisa comigo
Que coisa?
Uma coisa que eu nunca tinha feito...
Nívea do céu, fala logo, vai!
Deixei o Eric fazer atrás 😶
Ué mas isso vc já fazia, ficar de 4 pra ele!
Não, Meli! Eu deixei ele enfiar... Lá 😶
Poucos minutos depois, veio a resposta...
Peraí, tu tá me dizendo que nesse tempo todo que vcs namoram, foi a primeira vez que o Eric comeu a sua bunda????????
Pelo amor de Deus amiga, me fala que isso é brincadeira pq se for é de muito mal gosto!!!!
Eu tinha medo de sentir dor... Ele pediu uma vez um tempo atrás e eu não deixei aí no sábado em meio aos beijos eu pensei e tentei arriscar...
Jesus amado, não acredito que tu rebolava no pau dele, sem saber como é literalmente tomar no cu!
🙄
Por isso que não dá pra te contar nada!
Mas óbvio que vai contar. Fala vai: vc gostou? Doeu?
Doeu no início mas o Eric foi super cuidadoso. Comprou um lubrificante e preservativos.
Aos poucos foi ficando bom e fui me soltando...
Gozou? Isso é o principal. Gozar no anal dizem que é raro mas graças a Deus eu spr cheguei lá com o Fê. Meia dúzia de putaria que ele fala no meu ouvido com o pau dele no meu cuzinho e eu já rebolo igual puta e gozo que é uma maravilha.
Kkkkkkkkk eu gozei sim kkkkkk impossível não gozar com um homem maravilhoso feito o Eric.
Isso aí, nossos machos gostosos provando que são machos de verdade. O Fê tbm usa camisinha qdo quer comer meu rabo. Me pega pelos quadris, dá um tapa na minha bunda e eu me empino toda na hora.
O Eric te deu uns tapas?
O q?? Óbvio q não!
Aff... Pq não, Ní? O tesão até aumenta !
Eu não gosto de tapas... Sexo pra mim não combina com violência...
Não sabe o q tá perdendo, viu ? E ngm tá falando em surra na hora da trepada, só uns tapinhas... Pode ser de leve ou mais forte. Eu levo cada um que as marcas dos dedos dele ficam na minha pele por uns dois dias kkkkkkkkkkkk
Doida
E vc certinha demais!
Tá bom, Meli. O papo tá ótimo mas eu acordo cedo amanhã como spr.
Sem problema, Ní. Tbm vou dormir. E não esquece de me contar esse babado aí.
Prometo não esquecer.
Beijão
😘
***
O trânsito na rua do Saint Vincent em dias comuns no horário de entrada do colégio era complicado...
Mas naquele dia, estava tudo literalmente parado.
- O que será que houve? - meu pai perguntou com as mãos no volante do carro - Nunca vi tudo parado assim.
- Talvez algum carro enguiçou. Eu posso ir andando até lá, papa...
- Queria te deixar mais próxima da entrada, mon chère...
- Está tudo bem. A rua é de ladeira mas eu vou caminhando ligeiro.
- Tudo bem - ele concordou - Se eu ficar aqui até esse trânsito melhorar eu vou me atrasar no trabalho.
- Não se preocupe - lhe dei um abraço me despedindo e ele correspondeu - Até de noite.
- Boa aula e se cuida. Toma cuidado.
Saí do carro e fui andando em direção ao colégio que realmente estava um bocado longe de onde o meu pai costumava me deixar. O curioso é que os outros alunos faziam o mesmo que eu: desciam do carro e iam caminhando até a entrada.
Quando cheguei, vi uma enorme movimentação de pessoas levando vários stands desmontados na cor branca em direção à quadra de esportes e então entendi o motivo do trânsito parado: havia dois caminhões estacionados em frente ao colégio.
Achei um pouco estranho o que estava acontecendo mas segui direto para a minha sala.
Ao entrar, quase todos da minha turma já haviam chegado, incluindo meus três amigos e ao me ver, Gabriele abriu os braços e fui até ela e a abracei. Senti seu caloroso beijo na minha bochecha e logo em seguida seus dedos limparam a marca de batom que com certeza havia ficado.
- Vocês sabem o que tá acontecendo no colégio hoje? - perguntei.
- Você não se lembra do que eu falei pra turma no dia seguinte da última reunião dos representantes? Vai ter o salão do estudante da quadra. - Frederik me explicou.
- Sério? Que horas vai acontecer?
- Depois da última aula - foi a vez do Patrick falar - A exposição vai ficar até um pouco depois do expediente do colégio.
- Então não vamos sair no horário?
- Com certeza não - Gabriele disse.
- Hum...
Realmente eu estava bastante desinteressada sobre o assunto. Além do Frederik ter feito o comunicado, me lembro de ter recebido um email sobre o evento mas eu nem sequer havia lido.
- Será que os meus pais receberam o e-mail?
- Com certeza. Quando cheguei em casa uns dias depois, o meu pai havia comentado comigo e gostou da iniciativa do colégio. - Frederik falou - Se você não se lembra do que eu falei, a Dona Jaqueline virá até aqui antes da aula do professor Schneider terminar para falar com os alunos.
- Entendi.
***
E foi na mosca.
Alguns minutos antes do término da aula, a diretora entrou na nossa sala e pediu a nossa atenção e a do Eric sobre o evento, dando início ao discurso.
- É muito importante a presença dos alunos do terceiro ano. Esta edição do salão do estudante foi idealizada em parceria do nosso colégio com as embaixadas dos países em língua francesa. Representantes das universidades estarão aqui para mostrar o que cada uma das instituições de ensino têm a oferecer. Realizamos isso pensando em vocês. Espero de verdade que seja algo produtivo para cada um e que ajude na escolha que irão fazer.
A turma junto do Eric ouvia atentamente o que ela dizia em absoluto silêncio. E continuou:
- Não comuniquei nada antes porque a confirmação de presença de algumas universidades foi demorada. Por isso, anunciei apenas na última reunião de representantes. Alguém tem algo a perguntar?
Sem jeito, ergui a mão.
- Eu, diretora.
- Sim, diga - disse no tom sempre amigável.
- A participação dos alunos é obrigatória?
- Obrigatória? Não, claro que não. Mas será uma pena, caso não queira ir, Nívea. A Universidade de Lyon estará presente e quando a participação dela foi confirmada, eu me lembrei de você na mesma hora.
- Claro... - suspirei de leve.
- Concordo com a diretora - Eric tomou a palavra - É importante vocês irem. Se o Saint Vincent está dando todo esse suporte é porque deseja que a escolha de vocês tomem forma.
- Exato - ela sorriu - Conto com a presença de vocês. Obrigada, professor. Estarei por lá em meio aos stands.
E ela saiu da sala ao mesmo tempo que o sinal tocou e o burburinho de vozes começou com a saída do alunos.
Suspirei de cansaço por mais um dia de aula terminado e enquanto colocava cada alça da minha mochila nos ombros, os olhos do Eric por trás dos óculos estavam atentos ao material que ele arrumava e colocava em sua mochila preta, alternando de forma séria na minha direção.
O típico silêncio entre nós dois que dizia muita coisa.
- Vamos até lá, Nívea. Vai ser divertido - Gabriele falou empolgada pronta para sair de sala.
- Além disso, o Evandro está ciente do evento e nem deve chegar agora para nos buscar - Frederik falou ao lado do Patrick.
- Anda - o irmão gêmeo deu a volta na sala até a minha direção, colocando as mãos nos meus ombros e me empurrando de leve - Você é nossa amiga e não vai ficar sozinha na entrada esperando o evento acabar.
- Se não tem outro jeito...
- Você também vai, professor? - a empolgação normal da Gabriele em relação ao Eric se fez presente.
- Nos esbarramos no stand da Sorbonne.
- e ele saiu com a mochila nas costas - Até mais, crianças.
***
Bandeiras da França, Bélgica, Suíça e Canadá.
Foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando chegamos na quadra de esportes e vimos o banner de anúncio do evento e o ponto turístico de cada país. Depois disso, a presença de um número maior de estudantes no local.
- Não tem apenas os alunos do terceiro ano aqui...
- Então, no dia da reunião, os representantes das turmas do primeiro e segundo ano pediram à Dona Jacqueline para participarem também e e ela cedeu ao pedido. - Frederik explicou enquanto caminhávamos em meio aos alunos.
- Praticamente tá todo o ensino médio aqui e eu aproveito pra fazer uns conteúdos, uhuull - Gabriele estava com o celular na mão e eu revirei os olhos.
Continuei caminhando e quando passei pelo stand da Sorbonne, ele tinha um grande número de alunos presentes. Dei um sorriso fechado quando o vi: Eric estava com a pequena alça da sua mochila em mãos posicionada entre as pernas e conversando com um representante. A conversa parecia acalorada e achei melhor não incomodar. Seria difícil disfarçar o que sempre acontece quando estamos frente à frente.
Por sorte, meus amigos não perceberam nada. Gabriele tirando fotos e filmes, Frederik já estava no stand e Patrick... Bom, Patrick estava entre duas garotas com os braços apoiados nos ombros de cada uma delas. Ambas sorriam à toa por ficarem ao lado de um aluno famoso mas que fazia questão de ignorar a própria fama.
Apesar do meu desinteresse, o evento estava divertido. Vi a Nicole em um stand de uma universidade representada pela bandeira da Bélgica e quando estava quase chegando do outro lado da quadra me deparei com um lindo banner representado pelo cartão postal da cidade natal de toda família do meu pai: a Basílica de Notre-Dame de Fourvière.
Era o stand da Universidade de Lyon. Tinha um bom espaço com vários panfletos bem organizados e expostos em pequenas estantes em formato de grades com os cursos que a instituição oferecia.
Alguns alunos já possuíam panfletos em mãos e apenas observavam com atenção o local. Como eu já estava ali, decidi entrar.
- Bon après-midi, mademoiselle ? - um jovem rapaz aproximou-se - Posso ajudar em algo?
- Fala português? - fiquei surpresa.
- Oui, oui um pouco...
- Bom, eu... Queria informações sobre a graduação em Economia.
- Intéressant... O nosso curso de Economia na Université é oferecido por diversas instituições que compõem o sistema universitário da cidade - Ele explicou.
- Como assim? - fiquei sem entender - Quero dizer... Eu sei que a Universidade é dividida por filiais como chamamos aqui no Brasil e cada uma delas oferecem diferentes cursos de Economia? É isso?
- C'est exact ! - ele foi até um panfleto específico e me entregou - Aqui estão todas as informações que irão tirar as suas dúvidas.
Fiquei parada com o panfleto em mãos e quando o abri, vários cursos estavam listados e onde cada "filial" oferecia. Nas ocasiões em que visitei o campus com a minha tia Sophie, fiquei apenas onde ela lecionava História. E com essa nova informação, as dúvidas sobre o que estudar triplicaram na minha cabeça e senti que uma avalanche estava em cima de mim e eu não conseguia saber como escapar dela.
- Parece assustador a quantidade de informações mas leia com calma - o representante do stand se preocupou em me acalmar - Está tudo muito bem explicado.
- Merci... - saí do local petrificada e fiquei no meio do caminho, sentindo os esbarrões dos alunos e um bolo se formando na minha garganta.
- Quero ir pra casa... - disse baixinho para mim mesma.
E saí sozinha em meio aos outros alunos deixando a quadra de esportes para trás. Ao chegar no corredor que nos guiava até a saída, senti um leve frescor. O panfleto nas minhas mãos úmidas de suor pela aflição eu joguei na primeira lata de lixo que encontrei e tudo o que eu queria era sair dali.
A movimentação do horário de saída aos poucos já acontecia na rua porém nem sinal do Evandro. Me sentei em um dos bancos de madeira que ficam próximos ao portão e apenas esperei. Tentando não pensar em nada mas ao mesmo tempo em tudo.
Foi quando senti meu celular vibrar.
Tirei o aparelho do pequeno bolso da minha mochila, desbloqueando a tela e vi a ligação do Eric. Ainda aflita, achei melhor atender.
- Nívea, cadê você???? Passei pelo stand da Universidade de Lyon e achei que você estaria lá mas não te achei!!!!
Por sorte não havia ninguém por perto e não precisei falar baixo.
- Eu já estou aqui fora esperando o Evandro pra ir embora.
- Por que você está com essa voz? O quê que aconteceu? Me fala!
- Não aconteceu nada, só quero ir embora...
- Não vai embora, estou indo aí falar com você!
Com receio de que o Eric viesse atrás de mim, saí do colégio caminhando ladeira abaixo entrando na primeira rua de esquina. E comecei a chorar sem parar não conseguindo acalmar a angústia que me consumia. Passaram-se alguns minutos, abri o app do uber e pedi um carro. Enquanto esperava, enviei uma mensagem para o Frederik:
Tô indo pra casa de uber, avisa ao Evandro por favor. E pede desculpas a ele e ao seu pai por ir pra casa sozinha. Quando eu chegar em casa, te aviso. Bjs.
Enxuguei as lágrimas e não demorou muito quando o carro chegou me levando para casa. Senti novamente o meu aparelho vibrar. Sabia que era o Eric. Sendo assim, decidi ficar off de celular pelas horas seguintes pois sabia que receberia uma enxurrada de mensagens e ligações.
- Tá tudo bem, jovem? - o motorista percebeu o quanto eu havia chorado - Só para confirmar, seu nome é Nívea, certo?
- Isso. Me leva pra casa, por favor...
- Tá certo. Aqui está - e me entregou uma caixa com lenços de papel, dando a partida no carro no mesmo instante.
- Obrigada.- agradeci e comecei a limpar o meu rosto.
- De nada.
***
Ainda com roupão de banho, os cabelos molhados e os olhos inchados de tanto chorar, o colo da minha mãe foi a única coisa que me trazia alguma forma de conforto.
- Falei com o Simon e o tranquilizei dizendo que você estava em casa - meu pai me observava enquanto falava - O Evandro é responsável pela sua volta pra casa, ma fille... Foi arriscado você vir sozinha e não retornar a mensagem do Frederik.
- Eu não queria falar com ninguém, papa...
- Meu anjo, não fica assim - minha mãe acariciava os meus cabelos ainda molhados - Ficar indecisa sobre o que estudar é normal, já conversamos sobre isso...
- Eu achei que o evento do colégio iria me ajudar mas piorou tudo! - falei em meio ao soluçar - Agora tô mais confusa.
Depois de um fim de semana onde eu me diverti ao lado dos meus pais, descobri uma nova forma de amor, a minha semana de aula começava da pior maneira possível. Era um turbilhão o qual eu queria que passasse logo e que finalmente eu pudesse enxergar uma luz no fim do túnel sobre o meu futuro universitário.
- Uma pena você ter jogado fora o panfleto - meu pai lamentou - Com ele em mãos, iríamos te ajudar a escolher com calma qual área da Economia você poderia achar mais interessante.
- Verdade - senti um beijo da minha mãe nos meus cabelos.
- Eu fiquei em pânico quando vi a lista gigante de vários cursos dentro do próprio curso.
Ouvimos a campainha tocar e me levantei do colo da minha mãe.
- Deve ser a Melissa. Deixa que eu atendo - e saí da cama, deixando o quarto, fechando meu roupão no corpo, indo em direção à porta da sala.
- Eu e sua mãe estaremos no nosso quarto - meu pai avisou.
Abri a porta e dei de cara com a ruiva usando sua inseparável calça xadrez de dormir e blusa regata branca.
- Você está viva e isso é um bom sinal.
Saí e fechei a porta ficando encostada na parede do corredor.
- Quero saber o que aconteceu pro Eric me enviar trocentas mensagens querendo saber de você e que cara é essa de choro? Se vocês dois brigaram de novo me fala logo que eu coloco abaixo aquela Universidade onde ele dá aula.
- Nós não brigamos, Meli...
- Menos mal. Então o que foi?
Falei resumidamente o que aconteceu no salão do estudante e como eu estava me sentindo com tudo aquilo.
- Poxa, Ní. Sinto muito.
- Eu tento não pensar nisso mas parece que eu sou sugada para o assunto, sabe? O Eric me prometeu que não ia mais me cobrar mas os olhos dele me dizem o contrário. No fim da aula foi exatamente assim. Que eu tenho que decidir logo o que estudar.
- Manda ele ir se foder!
- Meli!
- É isso mesmo! Se os seus pais não te cobram, nada mais importa.
- Ele tá preocupado com isso...
- Eu não duvido, mas ele acaba se tornando chato. E eu só vim aqui pra saber de você por causa dele. Vai enviar mensagem ou continuar off ?
- Não sei.
- Na dúvida, fica off. Se ele realmente te ama e te entende, vai respeitar o seu espaço.
- Só avisa a ele que estou viva e conta o que aconteceu. Se eu retornar ele vai me encher de perguntas e capaz até de vir aqui e me esperar na esquina querendo me ver ao vivo.
- Aviso sim.
- Era eu quem deveria fazer isso mas depois nós dois conversamos a sós.
- Isso aí. E ainda quero saber sobre o tal babado.
- Vou te contar, prometo.
Trocamos um abraço apertado e voltei para casa, fechando a porta atrás de mim.
O que eu poderia fazer para me mostrar mais interessada na minha vida universitária e agora com mais esse dilema do curso de Economia onde existiam várias áreas a serem escolhidas?
Agir por impulso e jogar fora o panfleto foi uma péssima atitude.
Continua...
Nota da autora:
Tenho certeza de que muitos(as) aqui por diversos momentos chegaram a pensar que eu não iria voltar, não é mesmo?
Pois é, nem eu acredito que estou aqui finalizando mais um capítulo depois da montanha-russa emocional a qual eu passei e ainda passo desde o dia 18 de novembro de 2024.
Não é fácil viver dois processos de luto em um intervalo de pouco tempo e por consequência enfrentar a solidão.
Arrisco dizer que este capítulo tenha se tornado o mais difícil para escrever, não apenas por não ter muitas ideias para compor mas principalmente por todas as razões pelas quais eu precisei interrompê-lo. Só não será mais difícil do que o último, rs...
Nestes últimos meses enfrentei mudança de casa, um novo emprego no final de janeiro, o qual estou até hoje, e praticamente vivendo no piloto automático. Ainda assim eu agradeço por isso e rezo todos os dias para continuar a ter força para seguir em frente.
E a partir de agora com a minha retomada, infelizmente terei apenas os dias de domingo para escrever, porém caso eu tenha um bom rendimento, os intervalos entre um capítulo e outro serão menores. Claro que com o meu emocional em frangalhos, isso não é garantia de nada.
Quero aproveitar mais uma vez para agradecer a todos vocês pelas mensagens de carinho, força e compreensão pela minha ausência. Se não fosse a "audiência" que recebo, a minha motivação para continuar escrevendo estaria em níveis bem piores.
Espero que tenham gostado deste capítulo, estiquei ele ao máximo para suprir a saudade que muitos sentiram do romance no geral. Não está sendo nada fácil para a nossa protagonista decidir sobre sua vida universitária.
Comme c'est beau ! = Que lindo!
Bonne fête des mères ! = Feliz Dia das Mães!*
Bon après-midi, mademoiselle = Boa tarde, senhorita.
Batel = Bairro nobre e sofisticado localizado na região centro-sul de Curitiba.
Da Brambini = Restaurante italiano localizado na Avenida Atlântica, 514, Leme - Rio de Janeiro.
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