** Obra original: O FANTASMA DA ÓPERA, de Gaston Leroux **
• Capítulo 1 ~ Notas de Luxúria
O silêncio do teatro vazio era quase absoluto, quebrado apenas pelo leve eco de passos apressados sobre as tábuas desgastadas do palco. Christine Daaé, a jovem soprano de olhos brilhantes e voz angelical, atravessava o cenário com o coração acelerado. Ela tinha terminado sua última apresentação e, embora o público tivesse se encantado com sua voz, havia algo mais profundo que a inquietava – uma presença, uma sombra que sempre parecia observá-la das trevas.
Ela parou no centro do palco, respirando fundo, tentando acalmar os pensamentos que rodopiavam em sua mente. Havia rumores entre os outros artistas, sussurros sobre um fantasma que habitava as profundezas do teatro, um ser que inspirava tanto medo quanto fascinação. Mas Christine sentia algo diferente – uma atração proibida, um desejo que queimava sob sua pele, como se a voz misteriosa que a guiava nas lições noturnas fosse parte dela, sussurrando em seus sonhos mais íntimos.
De repente, uma brisa fria tocou seu pescoço, arrepiando a pele delicada. Ela virou-se rapidamente, mas não viu nada além de cortinas pesadas que ondulavam levemente. Seu peito pesou brutalmente, a respiração ofegante, os lábios entreabertos, os sentidos despertos de uma forma que ela mal podia compreender.
— Você me sente, Christine? — a voz profunda e sedutora soou do nada, ecoando nas sombras. — Sempre me sentiu.
Ela fechou os olhos por um momento, tentando lutar contra a onda de calor que a invadiu. Aquele som, rouco e provocante, parecia deslizar por sua pele como dedos invisíveis, tocando cada nervo exposto. Christine não sabia se devia responder, se devia ceder mais àquele jogo perigoso.
— Mostre-se! — ela sussurrou, a voz trêmula, mas decidida. — Seja mais que um fantasma. Seja o Erik!
Houve uma risada suave, cheia de mistério, e então, como se a própria escuridão se curvasse à sua vontade, uma figura emergiu das sombras. Era Erik, o Fantasma da Ópera. Alto, imponente, vestindo um traje negro que parecia absorver a luz, uma máscara branca cobrindo metade de seu rosto, enquanto a outra metade revelava lábios cheios e uma mandíbula forte.
— Você tem sido mais corajosa do que costumava. — ele murmurou, aproximando-se com passos lentos. Cada movimento parecia planejado, cada gesto carregado de poder. Ele parou diante dela, tão perto que ela podia sentir o calor de seu corpo, a fragrância sutil de tabaco e notas amadeiradas.
Erik então se afastou por um momento, dirigindo-se lentamente ao piano que repousava na lateral do palco. Sentou-se com a solenidade de um maestro e, com dedos firmes e sensíveis, começou a dedilhar uma melodia que parecia ter nascido das entranhas da escuridão. A música tinha um tom fantasmagórico, inquietante, mas, ao mesmo tempo, havia algo de ternura oculta, como um apelo velado ao amor não correspondido. Christine, enfeitiçada, aproximou-se lentamente e, como se guiada por algo maior que si mesma, começou a cantar.
Sua voz divinamente notável improvisava versos que brotavam diretamente do coração:
“Na sombra onde te escondes, há algo em mim que vaga por lá... Cada acorde, um beijo, a melodia me levará... Entre máscaras e segredos, minha alma se desfaz… Estou imersa em um mistério, de um amor errante e voraz".
A intensidade da performance os envolveu como uma tempestade. Quando a última nota ecoou no teto do teatro silencioso, Erik se levantou bruscamente, os olhos acesos em chama. Caminhou até Christine e a envolveu num abraço quente, quase desesperado, como se quisesse gravar aquele momento em sua carne. Ela deixou-se levar, os corpos colados, respirando o mesmo ar, presos em uma bolha onde só existiam os dois.
Sem pensar, Christine ergueu a mão, os dedos trêmulos tocando a máscara que ocultava seu rosto. Ele não recuou, mas seus olhos — de um azul profundo, quase hipnótico — se estreitaram ligeiramente. Quando seus dedos finalmente deslizaram pela borda da máscara, a respiração dele se acelerou, o peito largo subindo e descendo rapidamente. Ela podia sentir o peso de seu desejo, a tensão que pulsava entre eles como um fio prestes a se romper.
— Christine, — ele sussurrou, sua voz agora mais próxima, grave, como se o controle que ele tanto prezava estivesse por um fio. — Se continuar, não haverá volta.
Ela não respondeu, seus dedos continuando a explorar, descendo lentamente até o pescoço dele, sentindo os músculos tensos e a pele quente. Quando seus olhares se encontraram, algo mudou — uma faísca acendeu.
Sem mais hesitar, ele a puxou para si, os lábios colidindo em um beijo ardente, intenso, que roubou seu fôlego e a fez esquecer de tudo ao seu redor. As mãos dele deslizaram por suas costas, puxando-a contra seu corpo firme, enquanto sua língua explorava a boca dela com uma fome que parecia acumulada por anos.
Quando ele a pressionou contra a parede do palco, os dedos dele já trabalhavam para soltar os laços do corpete dela, seus gemidos ecoando pelo teatro vazio, misturando-se ao som de respirações ofegantes e beijos úmidos. Christine arqueou o corpo para ele, sentindo o peso, a pulsação, o desejo incontrolável que ele tinha entre as pernas.
— Finalmente. Você é minha! — ele murmurou contra a pele exposta de seu pescoço, enviando ondas de prazer por todo seu corpo. — Sempre foi.
Ela sentiu as palavras como uma marca e uma condenação ao mesmo tempo, enquanto a escuridão ao redor deles parecia se fechar, envolvendo-os em um manto de luxúria e mistério.
Enquanto os sons de suas respirações ainda reverberavam pelo teatro vazio, uma figura observava das sombras mais profundas, os punhos cerrados, o maxilar travado em fúria silenciosa. Raoul, o Visconde de Chagny, estava lá, havia se atrasado para ver Christine, mas decidiu ir vê-la depois de sua apresentação. Mas o que viu deixou seus olhos claros cheios de incredulidade, viu o que jamais esperaria de sua doce Daaé.
Raoul, embora tomado pelo ciúmes, não conseguia acreditar que sua amada prometida pudesse ter cedido por vontade própria. Em seu coração, ele culpava o tal Erik por seduzi-la, como se sua Christine estivesse sob algum feitiço ou veneno que nublava seu juízo. Aquela cena ardente o ferira profundamente, mas sua raiva era voltada principalmente ao Fantasma, aquele ser mascarado que, para ele, havia prendido Christine em uma teia obscura de sedução e manipulação.
[CONTINUA...]