O SABOR DE UMA DOCE VINGANÇA ! Cap.10! Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2079 palavras
Data: 25/05/2025 22:14:40

Saí mais uma vez pela porta da delegacia, o sol castigando meu rosto como se quisesse me lembrar que o mundo lá fora continuava girando — mesmo depois de tudo. Meus passos eram lentos, quase calculados, como se o chão ainda estivesse carregando o peso daquela noite em que tudo mudou.

Não havia mais a tensão de antes, nem aquele medo de cruzar com Arthur nos corredores. Ele estava no hospital, entre sondas e máquinas, e ironicamente, tinha sido ele quem me salvara. Aquilo ainda me dava um nó na cabeça.

Eu não estava ali por ele. Eu estava ali por Wellington. Ou melhor, pelo fim de Wellington. A morte dele — mesmo sendo legítima defesa — tinha aberto um processo, e eu precisava prestar os esclarecimentos de forma oficial. Era assim que a justiça funcionava, mesmo quando tudo gritava que a culpa não era sua.

Ao meu lado, o delegado substituto — um homem baixo, de bigode grisalho e olhos atentos, com um leve sotaque do interior — caminhava comigo até o portão da delegacia.

— Não se preocupe, Pedro. Pelo que apuramos, tudo indica mesmo legítima defesa. Mas você sabe como é… tem que responder, assinar, cumprir o protocolo.

— Eu entendo. Só quero resolver isso logo, delegado — respondi, respirando fundo. — Já passou da hora de deixar essa história pra trás.

Ele assentiu, me entregando uma via do depoimento.

— Tá aqui. Teu advogado vai receber uma cópia também. Agora é só esperar o laudo final e o parecer do promotor.

— Valeu.

Caminhei até o portão com um alívio estranho no peito. Um alívio sujo. Eu não queria ter matado ninguém. Mas também não queria estar morto. E por um segundo, me perguntei se alguma parte de mim se sentia vingada.

Encostado no carro me esperando, Flávio levantou os olhos do celular quando me viu. Tava impaciente, como sempre, mas presente — o que já dizia muito.

— Terminou de explicar por que não é assassino? — ele perguntou com aquele sorriso torto que só ele sabia fazer.

— Por hoje, sim. — suspirei - Agora bora que a gente tem mais o que reolver!

Entramos no carro e seguimos direto pra sede da construtora que Flávio tinha pesquisado no dia anterior. Era uma casa adaptada num bairro afastado, com cheiro de tinta nova e som de martelos ao fundo. O gerente nos recebeu na hora, um cara jovem chamado Luan, que parecia mais animado que o necessário.

Ficamos mais de uma hora olhando planta, discutindo prazo, material, cor de fachada, novo letreiro. Eu queria algo moderno, resistente, e que mostrasse pra cidade inteira que a sorveteria ia voltar maior. Mais forte. E mais gelada que nunca.

— A demolição do que sobrou a gente faz em três dias. A fundação nova leva mais uns dez. Com esse ritmo, em um mês você tá reinaugurando — disse Luan, com o lápis atrás da orelha e um sorriso que parecia colado com super bonder.

— Menos, se chover pouco — emendou Flávio.

Eu ia responder alguma coisa, mas o celular vibrou. Um número desconhecido. Franzi a testa.

— Espera aí, rapidinho.

Afastei-me do grupo, encostando perto de uma pilha de azulejos empilhados. Atendi.

— Alô?

— Pedro?

Meu coração congelou.

— Arthur?

A voz dele vinha fraca, rouca, mas inconfundível.

— Sou eu… tô no hospital, ainda meio grogue… mas queria te ver. Dá pra você vir aqui?

Eu não respondi na hora. Só fiquei ali, segurando o celular contra o ouvido, sentindo a pulsação acelerar como se tivesse levado um susto. Ele queria me ver? Depois de tudo? Depois do que ele me fez e do que eu fiz de volta?

Mas... parte de mim sabia que, se eu não fosse agora, talvez me arrependesse.

— Tô indo — respondi, e desliguei antes que ele dissesse mais alguma coisa.

Voltei pro grupo sem olhar ninguém nos olhos. Flávio falava com o gerente, discutindo acabamento.

— Pedro, vê se prefere a fachada com vidro temperado ou...

— Depois a gente vê isso.

— Ué, que foi?

— Preciso ir.

— Mas...

Não esperei. Saí andando, apressado, atravessando a rua de terra batida, levantando poeira nos sapatos. No canto da calçada, perto de um boteco de fachada azul, vi um moto táxi parado, capacete pendurado no guidão. O motorista me olhou.

— Hospital Augusto Bittencourt, por favor!

— Sobe aí.

Nem me despedi de Flávio. Nem olhei pra trás. O vento bateu no meu rosto enquanto a moto acelerava, e eu só conseguia pensar numa coisa: que gelo era esse que me fazia correr de novo atrás do fogo?

(...)

Subi os andares do hospital como quem sobe degraus invisíveis de uma escada emocional. Cada passo em direção ao quarto de Arthur parecia me puxar para dentro de um redemoinho de lembranças e sentimentos misturados. As luzes frias dos corredores brancos me deixavam tonto, como se eu estivesse preso em uma realidade alternativa onde o meu antigo algoz agora era... o homem que salvara minha vida.

A recepcionista apontou o quarto. O 308. Quando cheguei à porta, respirei fundo. Bati duas vezes, hesitante, e ouvi uma voz familiar lá dentro.

— Pode entrar.

Empurrei a porta devagar.

Arthur estava acordado. Sentado na cama, com a cabeça parcialmente enfaixada, o braço preso por um suporte de soro. Havia um cansaço nos olhos dele, mas também algo que eu não via desde... talvez desde sempre: um silêncio que não era de arrogância. Era de dor.

Nossos olhos se encontraram.

Por um momento, ninguém falou nada. Apenas o som do monitor cardíaco preenchia o espaço. Eu entrei devagar, fechando a porta atrás de mim.

— Você tá vivo... — murmurei, quase sem acreditar. Ver ele ali, com vida, depois de tudo, era mais surreal do que tudo que tinha acontecido nas últimas semanas.

Arthur esboçou um sorriso fraco, e então disse com a voz rouca:

— O médico disse que eu não vou morrer. Pelo menos... não dessa vez.

Aquilo me desmontou. Não sei se foi a forma como ele disse, ou o fato de que, mesmo todo quebrado, ele ainda tentava parecer mais forte do que era. Me aproximei da cama, sem pensar. Fui tomado por uma vontade incontrolável de tocar, de agradecer, de... sentir.

E então beijei ele.

Foi um beijo longo, intenso, que misturava tudo: medo, raiva, culpa, desejo, passado, presente. Beijei Arthur como se quisesse arrancar dele todas as perguntas sem resposta. Como se, por um segundo, o tempo pudesse parar e eu pudesse entender o porquê dele ter feito o que fez. Por que ele tinha me salvado. Por que parecia olhar pra mim como se me conhecesse de verdade agora.

Mas quando me afastei, ele não retribuiu o gesto. Apenas me encarou, com os olhos brilhando não de emoção... mas de culpa.

— Pedro... — ele disse baixo, com a voz embargada — eu não te quero.

Fiquei parado. Como se um balde de água fria tivesse sido jogado no meu peito.

— Tudo isso... — ele continuou, — o que aconteceu comigo... tudo é culpa minha de certa forma. Se eu não tivesse ido atrás de você ... eu não teria levado aquele tiro. Eu não teria quase morrido.

— Você tá dizendo que ir lá me ajudar foi um erro? — perguntei, sentindo um nó na garganta.

Ele desviou o olhar. Uma lágrima escorreu pela lateral do rosto, mas ele não limpou.

— Tô dizendo que eu devia ter te deixado viver sua vida. Que eu devia ter seguido com a minha. Eu nunca vou me perdoar por tudo que fiz com você... e agora, depois de quase morrer por tentar consertar isso... percebi que não dá pra voltar atrás. Tem coisa que a gente não conserta, Pedro.

O meu nome saindo da boca dele ficou preso no ar. Mas ele me cortou antes que eu dissesse alguma coisa.

— Vai embora. Agora sou eu que não te quero mais por perto. Você precisa seguir... e eu também.

Fiquei ali por alguns segundos, sem saber se gritava, chorava ou simplesmente aceitava.

No fim, só dei um passo pra trás, abri a porta do quarto e saí.

Fechei a porta devagar, sentindo como se estivesse trancando mais uma ferida mal curada dentro daquele quarto. Atravessei o corredor, com o coração batendo rápido, mas não de paixão. De ódio. De frustração. De arrependimento.

Como fui burro.

Eu, o cara que tinha voltado pra cidade pra se vingar. Que passou fome em São Paulo, que viu a própria dignidade escorrer pelo ralo pra agora... tá aqui? Me humilhando por um cara que destruiu minha infância? Eu devia estar calculando meu próximo passo. Derrubando um por um. Deixando todos eles de joelhos.

Mas não. Lá estava eu. Me apaixonando pelo mesmo demônio que me fez querer sumir do mundo.

Idiota.

Cheguei no apartamento e tranquei a porta atrás de mim como se quisesse manter o mundo do lado de fora. Larguei as chaves na bancada da cozinha, chutei os sapatos num canto e encostei a testa na parede fria. A cidadezinha lá fora seguia no seu ritmo lento, como se não fizesse ideia do que tinha acabado de acontecer comigo. Como se nada importasse. E mesmo depois de ter passado o resto do dia andando sem rumo, algo ainda me incomodava!

Arthur.

O nome ainda me deixava com o estômago revirado. A cena dele me mandando embora, com aquele olhar vazio e ao mesmo tempo pesado, passava na minha cabeça como um filme velho em looping. E o pior de tudo? Eu ainda sentia alguma coisa. Eu, que jurei nunca mais me apegar, que voltei pra cá com a alma calejada e o coração blindado.

Bufei alto, como se isso fosse o suficiente pra expulsar ele dos meus pensamentos.

— Chega — falei em voz alta, pra mim mesmo. — Chega dessa merda.

Fui até a varanda e olhei a cidade lá embaixo. As luzes começavam a acender devagar, como olhos despertando no escuro. E ali, encostado no parapeito, eu decidi.

Eu precisava ir embora.

Não de vez. Mas o suficiente pra colocar as ideias no lugar. Um mês em São Paulo talvez fosse o que eu precisava. Voltar pra onde tudo começou, respirar outro ar, lembrar por que eu voltei em primeiro lugar. Minha vingança tinha começado com força, mas tava desandando por causa de sentimentos que eu não devia ter mais.

Mas antes de sumir por um tempo… eu precisava terminar o que tinha começado.

Mateus.

Ele era a próxima peça. E diferente do que fiz com Thales, dessa vez eu não ia me misturar. Nada de olhares, nada de duvidar, nada de deixar que a aparência dele me fizesse hesitar. Eu tinha dois nomes que estavam do meu lado agora. Dois que não me olhavam com pena nem com desejo: Bernardo e Pietro.

Meus aliados. Frio na execução, leais até onde o dinheiro e a mágoa alcançassem. Perfeitos pra missão.

Peguei o celular e digitei a mensagem:

"Amanhã cedo passo no apê de vocês. Preciso conversar pessoalmente e explicar o que quero que façam. Vai ser simples. Rápido. Sem rastros."

Enviei.

Logo depois, fui no contato de Sofia. Ela merecia saber.

"Oi, amanhã tô indo pra São Paulo. Preciso de um tempo. Não sei se fico só um mês, talvez menos. Te aviso quando voltar.

A mensagem ficou ali, azulada, lida em segundos. Mas não teve resposta imediata. Sofia ia entender. Ela sempre entendia.

Soltei o celular no sofá e fui direto pro banheiro. Liguei o chuveiro, deixei a água quente cair e enchi o ambiente de vapor. Abri o Spotify no modo aleatório, e como se o universo quisesse me humilhar mais uma vez, a primeira música que tocou foi Someone Like You, da Adele.

Soltei uma risada amarga.

— Claro, por que não?

Deixei a música rolar.

Me despi devagar, sentindo o peso do dia inteiro nas costas. Entrei no box e encostei a cabeça na parede azulejada. A água escorria, quente, mas por dentro eu só sentia frio. Aquele tipo de frio que vem depois de um tapa na cara da vida.

"Sometimes it lasts in love, but sometimes it hurts instead..."

As palavras batiam com força. Eu tinha sido burro. De novo. Eu devia estar pensando em planos, estratégias, formas de destruir quem destruiu minha infância. Mas ali, molhado, nu, e com Adele me desmontando verso por verso... tudo o que eu conseguia pensar era no beijo recusado, no olhar rejeitado e na voz fria dele me mandando embora.

E eu fui. Como um cachorro expulso de casa.

Mas agora... agora quem ia expulsar os outros da minha vida era eu.

Arthur, Mateus, todos.

Eu estava voltando pro campo de batalha. E dessa vez, sem coração.

Continua...

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