• O ANJO DA MÚSICA: Capítulo 2 ~ Nas Profundezas do Desejo

Um conto erótico de Sativo
Categoria: Homossexual
Contém 1672 palavras
Data: 26/05/2025 00:24:14
Última revisão: 26/05/2025 00:49:26

• Capítulo 2 ~ Nas Profundezas do Desejo

Christine acordou com os ecos de seus próprios gemidos ainda ressoando na mente. Ela estava de volta ao seu camarim, a seda de seu vestido colada à pele quente e úmida, a respiração em um ritmo desajustado. Por um momento, ela se perguntou se tudo não havia sido um sonho, uma ilusão nascida de sua imaginação febril.

Mas então, seus dedos encontraram uma marca em seu pescoço — uma leve mordida, quente ao toque, como uma assinatura deixada por seu Fantasma. Um arrepio percorreu sua espinha, um misto de medo e excitação.

Por um momento, ela se deu conta da ausência de Raoul na plateia naquela noite. Ele não aparecera, tampouco mandara notícias, e isso a feriu mais do que gostaria de admitir. Pensou que poderia ter o ferido também e uma pontada de culpa atravessou seu peito — teria se entregado aquele "sonho" com Erik porque ele não estava lá? Ou porque algo mais profundo a atraía de fato para o Fantasma? Ela não sabia, e a incerteza a incomodava.

Daaé se levantou lentamente, os passos leves enquanto se aproximava do espelho, onde a figura mascarada costumava aparecer. De repente, um som melódico de violino começou a ressoar em sua mente, despertando uma lembrança longínqua e dolorosa: a de seu pai, tocando canções para embalá-la quando criança. Ele dizia que o som do violino podia atravessar mundos e conversar com os anjos da música, e Christine, ainda menina, acreditava que era por isso que sua voz era tão especial. A melodia despertava nela não só saudade, mas também um desejo infantil de proteção, de voltar para um tempo em que o amor era puro e incondicional.

Christine acreditava, com uma fé quase sagrada, que Erik era seu anjo da música pessoal. Desde que sua voz começara a brilhar nos ensaios noturnos conduzidos por aquela presença misteriosa, ela sentia que ele havia desbloqueado algo profundo dentro dela — um poder oculto, como se a própria alma se convertesse em melodia. Erik não apenas a ensinara a cantar com técnica; ele a conduzira à transcendência, fazendo-a atingir notas tão etéreas que pareciam flutuar entre o real e o divino.

— Você me sente, Christine? — era Erik, o Fantasma.

— Sim — ela respondeu, os lábios trêmulos, os olhos fixos no espelho. — Eu te sinto, Erik.

De repente, o espelho se abriu como uma porta secreta, revelando um túnel escuro que descia para as profundezas do teatro. Antes que pudesse hesitar, Christine atravessou a passagem, seus passos ecoando pelas pedras úmidas e antigas. A escuridão parecia viva, cada sombra sussurrando seu nome, cada passo a levando para mais perto do desconhecido.

Ela não precisou andar muito para encontrá-lo. Ele estava ali, de pé, os olhos brilhando como chamas azuis na escuridão. Quando ela se aproximou, ele a puxou para si novamente, os corpos colidindo com uma intensidade que roubou o fôlego de ambos. As mãos dele exploraram suas curvas, enquanto os lábios se encontravam em um beijo ardente, selvagem.

— Você é minha, Christine! — ele murmurou contra seus lábios, as mãos já deslizando para desamarrar as fitas de seu vestido, expondo a pele quente e macia. — E eu nunca vou deixá-la ir.

Antes de ser guiada pelo calor daquele momento, um turbilhão de pensamentos roubou a atenção de Christine. Em sua mente, Raoul surgia como uma lembrança incômoda e dolorosa — o homem a quem ela prometera seu amor, aquele que havia segurado suas mãos sob a luz da lua e jurado protegê-la de todo mal. Daaé tentou afastar o pensamento, mas ele persistia, como uma âncora prendendo-a à realidade. Seu coração dividia-se entre a lealdade e a luxúria sedutora, entre a promessa de um amor puro e a tentação sombria que agora a seduzia com música.

Foi nesse instante que Erik retirou um violino da escuridão. Ele o posicionou sob o queixo, e quando o arco tocou as cordas, o som que emergiu foi arrebatador. A som era quimérico, carregado de tensão e beleza, como um lamento de amor. Christine estremeceu. Cada nota parecia dissolver suas resistências, penetrando suas defesas, despertando memórias e desejos.

A música a envolveu como um feitiço. Ela fechou os olhos, deixando-se guiar por aquela melodia hipnótica. Um calor profano se espalhava por seu ventre, e suas pernas fraquejavam em espasmos sutis — estremecimentos que pulsavam entre suas coxas, como se aquela música despertasse nela um desejo que não podia mais conter. Seus lábios começaram a se mover, improvisando versos que, entre leves gemidos, brotavam do mais profundo de seu ser:

"Nessa cova onde o amor não pode brilhar... Brota um fogo que insiste em queimar... Entre sombras e véus, não posso negar... Meu anjo, meu vício, me ensina a pecar".

Christine abriu os olhos e viu Erik se aproximar. O violino caiu suavemente de suas mãos, mas a música continuava a ecoar de forma inexplicável. Sem dizer uma palavra, ele a envolveu num abraço quente, seus corpos colando-se como se pertencessem um ao outro desde o início dos tempos. Ela se deixou guiar, a consciência nublada por um torpor de luxúria e paixão indecifrável. O conflito ainda queimava dentro dela, mas, por ora, ela se rendia à música, ao toque, ao desejo. Raoul era a razão... mas Erik era o fogo.

Em transe, Daaé se entregou ao desejo com uma intensidade quase selvagem, sentia-se imersa em mais um sonho com o Anjo da Música. O Fantasma tocava seu corpo como a um instrumento divino, arrancando dele melodias profundas e úmidas. Seus gemidos se transformavam nas notas de uma sinfonia lasciva, as respirações se confundindo com o murmúrio das águas que corriam nas profundezas do teatro — e o estalo úmido das águas entre as coxas dela. Tudo ao redor desaparecia, restando apenas os dois, perdidos no escuro e consumidos pelas chamas do desejo que os consumia.

* * *

Antes que pudesse se entregar completamente àquele transe lascivo, Christine, em um instante, viu o mundo ao seu redor girar. O calor do corpo de Erik, o som distante da água e até a música pareciam dissolver-se no ar. De repente, ela estava de volta ao camarim, deitada, diante do espelho, como se tivesse despertado de mais um sonho vívido. Seu peito ainda arfava, os lábios ainda trêmulos de desejo e o aroma inconfundível do seu Anjo da Música ainda impregnado em sua pele. Perguntou-se outra vez em pensamento o quanto daquilo seria real. E então, uma batida suave à porta quebrou seus devaneios.

— Christine? — era a voz de Raoul, do lado de fora. A realidade a alcançava novamente, cruel e inevitável, e ela sentiu o peso da promessa que ainda não conseguira cumprir.

— Raoul?! Querido... estou indo! — respondeu Daaé, ainda perturbada pelo choque da realidade que sentira. Enxugou o suor rapidamente com um lenço de renda e borrifou sobre o colo e o pescoço um pouco de seu perfume preferido — uma mistura envolvente de jasmim e âmbar, doce e terroso. Com os olhos ainda um pouco perdidos, caminhou até a porta e a abriu para o Visconde de Chagny, seu amado.

— Christine — a voz de Raoul soou firme, porém carregada de dor. — Eu estive aqui na última noite. Vi sua apresentação... mas foi uma que eu jamais quis testemunhar. Você ao lado daquele homem mascarado, entregando-se a ele como se eu não existisse.

Mais uma onda de choque percorreu o corpo de Christine. Não era apenas grave por Raoul ter testemunhado — aquilo confirmava que não fora apenas um sonho vívido. No fundo, ela sempre soubera disso, mas tentava se agarrar à ilusão mais confortável.

Raoul respirou fundo, tentando conter o nó na garganta e continuou:

— Eu te amo demais para ficar em silêncio, para fingir que não sinto meu coração se despedaçar.

Os olhos de Raoul buscaram os dela com toda a sinceridade...

— Christine, eu sei que esse... "Anjo da Música" mexe com você, mas eu peço que olhe para mim, para nós.

Ela baixou o olhar, com a voz trêmula, respondeu:

— Raoul, eu... sinto muito. Eu não queria que fosse assim. Prometo que vou acabar com isso, com essa ilusão que o Anjo da Música criou em mim. Quero encontrar meu caminho de volta para você, para o amor que sempre prometi.

Ele sorriu, um pouco mais aliviado e com alguma esperança, estendendo a mão para ela:

— Então vamos reescrever essa história juntos, Christine.

* * *

Do outro lado do espelho, o Fantasma observava em silêncio, os olhos velados por uma tristeza profunda. Cada gesto de Christine com Raoul era como uma lâmina cravada em sua carne. Pela primeira vez, sentia que estava perdendo o controle — não apenas sobre ela, mas sobre o frágil mundo que construíra em torno de sua música e obsessão.

Quando Raoul deixou o camarim de Christine, o espelho tremeu levemente — como se respirasse — e, por debaixo de sua moldura, deslizou um bilhete escrito com tinta escarlate, a caligrafia marcada por elegância e urgência. Christine se abaixou e o apanhou com dedos trêmulos, o coração disparado.

·························

"Minha querida Christine,

O momento chegou. Não posso mais viver na sombra dos teus silêncios e dúvidas. Está na hora de acertarmos tudo — de uma vez por todas.

Venha a mim.

Atrás do espelho, como já fez antes, o túnel a levará até minha casa. Lá, poderemos falar... ou calar com os lábios o que as palavras já não alcançam.

Teu Anjo da Música,

— E."

·························

Na noite seguinte, após mais uma apresentação esplêndida de Christine na ópera, Raoul foi até seu camarim. Bateu na porta, mas não obteve resposta. Ao empurrá-la, percebeu que estava destrancada. O cômodo estava tomado pelas flores que Daaé costumava receber dos inúmeros fãs. No entanto, o que realmente chamou sua atenção foi um bilhete deixado sobre a escrivaninha, assinado apenas por "E.". Uma onda de raiva invadiu o Visconde de Chagny. Estava certo de que o maldito Fantasma a arrastaria para algum esconderijo sombrio. Seus olhos recaíram sobre o espelho — ligeiramente fora do lugar — e naquele instante, Raoul soube o que precisava fazer: ele iria resgatar sua amada, a qualquer custo.

[CONTINUA...]

** Obra original: O FANTASMA DA ÓPERA, de Gaston Leroux **

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