Uma Perfeita Farsa

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1268 palavras
Data: 26/05/2025 11:18:12
Assuntos: Homossexual, Gay, Fantasia

Fomos para a cozinha, o coração batendo um ritmo um pouco acelerado no meu peito, uma mistura estranha de antecipação e desconforto. O aroma familiar do bolo de fubá misturava-se ao cheiro doce e levemente azedo da torta de pêssego, criando uma atmosfera de lar que contrastava abruptamente com a tensão silenciosa que eu sentia pairando entre mim e Johnny. Enquanto minha avó, com sua energia incansável e surpreendente para seus bem-vindos sessenta e seis anos, servia o café, o Lobo Mau e eu nos sentamos nas cadeiras estofadas da copa, mantendo uma distância visível.

O tilintar suave dos talheres e pratos que Dona Adelaide arrumava preenchia o breve silêncio. Ela, sem levantar os olhos do que fazia, quebrou a quietude com uma curiosidade genuína que sempre a caracterizou quando conhecia alguém novo. “E com o que o senhor trabalha, Johnny?”, ela perguntou, a voz amável, enquanto finalmente se virava para nós, um sorriso acolhedor no rosto, pegando a faca para iniciar o corte da torta. Ela nos servia pedaços generosos, a massa quebradiça e o recheio brilhante.

O predador pausou por um instante, o garfo pairando no ar sobre seu prato antes de pousar delicadamente. O olhar dele pareceu ligeiramente vidrado por um microssegundo, como se estivesse acessando um arquivo ou formulando uma resposta cuidadosamente. Então, ele respondeu com a mesma voz suave e polida de antes, sem hesitação visível: “Ah, minha senhora, eu trabalho como encanador. Serviço pesado, mas gratificante.”

Meus olhos encontraram os dele por um nanossegundo fugaz através da mesa, um contato visual rápido e intenso. E pela ligeira, quase imperceptível contração em sua sobrancelha direita, pelo brilho ausente de qualquer faísca de honestidade ou paixão em seus olhos — que pareciam opacos, calculistas — eu soube instantaneamente, com uma certeza fria que me percorreu a espinha, que era uma mentira descarada. Um disfarce perfeito, talvez, mas transparente para mim. Ele continuou, elaborando a farsa com uma naturalidade que, para minha frustração, parecia horrivelmente convincente para minha avó, e que me irritava profundamente: “Gosto muito de consertar pias, sabe? Dar jeito no que está quebrado, especialmente vazamentos… É uma satisfação enorme ver a água parar de escorrer por onde não deve, quando você consegue selar o problema na origem.”

Enquanto ele falava sobre vazamentos, uma ideia, ou talvez um impulso puramente imprudente e provocativo, me atingiu de repente, uma faísca acendida pela sua mentira flagrante. Sem pensar muito nas consequências, guiado por um instinto que queria testá-lo, talvez até o expor sutilmente, atirei a pergunta: “Vazamentos? O senhor consertaria o telhado da gente então, Johnny?”, perguntei, talvez mais ousado — e definitivamente menos diplomático — do que deveria, o pensamento voando diretamente para as goteiras persistentes que apareciam na sala e no quarto de minha vozinha sempre que a chuva forte caía, um problema recorrente que tirava o sono dela e a deixava visivelmente preocupada.

“Tiago!”, minha avó me repreendeu imediatamente, o tom da sua voz mudando drasticamente de doce para carregado de desaprovação, o olhar fixo em mim com severidade. “Que modos são esses, menino? É muita falta de educação ficar pedindo favores para as visitas assim, do nada, na primeira oportunidade, meu neto! Tenha vergonha nessa cara!”

Senti meu rosto esquentar instantaneamente, uma onda de rubor subindo pelo pescoço, envergonhado pela bronca pública na frente dele, sentindo como se tivesse três anos de novo. Mas Johnny, com sua compostura inabalável e aquele sorriso polido que nunca chegava aos olhos, interveio suavemente antes que a situação escalasse ainda mais. “Não, não, Dona Adelaide, por favor, está tudo bem. Não tem problema nenhum, de verdade. Fico contente em poder ajudar se for o caso, de coração.” A facilidade com que ele dizia isso, a aparente boa vontade, somente aumentava minha desconfiança.

A torta de pêssego estava verdadeiramente divina. O aroma adocicado e fresco dos pêssegos maduros misturava-se harmoniosamente com o perfume amanteigado da massa. A cada garfada, o som delicado da massa quebrando revelava o recheio cremoso e levemente ácido, uma combinação perfeita. O predador, sentado à mesa conosco, pareceu sincero e profundamente apreciar cada porção que levava à boca. Seus olhos se fechavam brevemente em um sinal de prazer culinário puro. Por um momento precioso e frágil, a visão dele ali, desfrutando de algo tão simples e caseiro, me fez quase esquecer momentaneamente quem ele realmente era, o peso sombrio que carregava.

Ele terminou a última garfada, pousando o garfo com cuidado e empurrando o prato vazio para o lado com a ponta dos dedos. Seus olhos azuis brilhavam com satisfação. “Dona Adelaide”, ele começou, a voz quase reverente, “essa torta está simplesmente espetacular! Nunca comi nada igual.” Johnny fez uma pausa, como se estivesse considerando algo importante. “Dito isso…”, ele continuou, com um leve sorriso, “quanto a senhora cobra para fazer uma inteira para mim?”

Minha avó esticou a mão instintivamente, um sorriso cheio de ternura e lisonja abriu-se em seu rosto marcado pelo tempo. “Ah, meu rapaz”, ela respondeu, com a voz suave, “são trinta reais somente, um preço justo pelo trabalho e pelos ingredientes.” Ele, com uma rapidez e decisão que contrastavam com sua pose relaxada, não hesitou. Puxou novamente a carteira do bolso da jaqueta, com um movimento fluido, retirou uma nota de cinquenta reais, estendendo-a gentilmente para a minha vozinha. “Quero uma bem caprichada! E o Tiago, se não for incômodo, pode me fazer a gentileza de levá-la na quarta-feira de manhã? Ele sabe onde me encontrar…” Dona Adelaide, cujos olhos verdes agora brilhavam não somente de lisonja, mas de uma genuína admiração pela generosidade inesperada, pegou o dinheiro com as pontas dos dedos, como se fosse um diamante.

“O senhor é muito gentil e muito generoso, Johnny!”, ela exclamou, ainda com um leve rubor nas bochechas. Guardando a nota no bolso do seu avental, ela continuou com firmeza: “Pode deixar, fique tranquilo! Na quarta-feira, cedinho, meu neto leva a torta fresquinha para o senhor, sem falta! Será um prazer.” O vilão se levantou de supetão da cadeira, um movimento rápido que quebrou a atmosfera que se instalara. Ele pegou o guardanapo de pano e o jogou de qualquer jeito, sem cuidado, sobre a mesa ao lado do prato vazio.

“Preciso ir agora, Dona Adelaide”, ele disse, a voz agora um pouco mais apressada, “tenho um compromisso importante que não posso adiar.” Johnny fez uma pausa, seus olhos percorrendo o teto visivelmente danificado em alguns pontos. “Amanhã cedo, se a senhora permitir e se não for incômodo”, ele ofereceu, “venho dar uma olhada com mais calma e consertar essas goteiras para vocês. É um pequeno gesto pela sua gentileza e hospitalidade.”

Vovó se levantou prontamente junto a ele, a gratidão sincera e o sorriso caloroso ainda presentes em seu rosto. “Que bondade sem tamanho, meu filho!”, ela exclamou, colocando uma mão no peito. “Aceitamos de bom grado! Ah, mas que pena… amanhã cedinho, por acaso, eu não estarei por aqui. O xerife Charles se ofereceu para me levar ao mercado lá no centro da cidade. Preciso comprar uns mantimentos para a casa e também aproveitar para repor os ingredientes para fazer mais doces para vender.” Ela fez uma pausa, olhando para mim. “Mas pode vir assim mesmo! O Tiago”, ela disse, apontando na minha direção, “pode atender o senhor. Ele estará em casa o dia todo.”

O meu coração deu um salto brusco e descompassado no peito. A menção de ficar sozinho com Johnny no dia seguinte, sem a presença tranquilizadora de minha avó e a segurança implícita da menção ao xerife, atingiu-me como uma onda de gelo, reafirmando a sensação de perigo e a lembrança vívida de quem ele realmente era.

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Comentários

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Puta merda vovó colocou o netinho na boca do lobo literalmente ou seria na pica? Que sufoco.

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❤Qual­­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­­pas) Por favor, ava­lie ➤ Ilink.im/nudos

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