Uma Presença Confiável

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1138 palavras
Data: 26/05/2025 20:30:34
Assuntos: Homossexual, Gay, Fantasia

Com um leve rangido, a porta se fechou pesadamente atrás do Lobo Mau, selando o momento e isolando-nos novamente no interior da casa. “Tiago, meu neto querido”, disse minha avó, a voz suave e permeada por uma doçura genuína que aquecia a alma, “às vezes eu realmente penso que certas pessoas são verdadeiros anjos que caem do céu em momentos de profunda necessidade, enviados para nos estender a mão quando mais precisamos.” Ela fez uma pausa, a contemplação pintando seu olhar. “Esse rapaz, o Johnny… é claramente um deles. Um jovem tão bom, tão generoso, com um coração enorme!”

Meu peito, no entanto, se apertou dolorosamente com o peso esmagador de saber a verdade sombria que se escondia por trás daquela fachada impecável de bondade e altruísmo. Eu sabia que a generosidade de Johnny não era pura, e que aquele dinheiro vinha de um lugar escuro. Mas, diante da felicidade momentânea e da fé inabalável no olhar de vovó, não consegui dizer nada. Somente a abracei com força, sentindo a fragilidade de seus ossos sob meu toque protetor e inalando o cheiro confortável e familiar do seu avental, uma mistura de sabão e temperos que sempre me remetia à segurança do lar e da infância.

“Que bom ver a senhora feliz assim, vó”, sussurrei contra seu ombro, a voz um pouco embargada, lutando para conter a mistura de alívio por vê-la segura e o medo persistente do que seguiria. Eu realmente queria transmitir um pouco da gratidão genuína e profunda que sentia naquele instante, não pela ajuda do predador, mas por ela estar ali, bem e amparada, apesar da presença ameaçadora e perturbadora que acabara de deixar nossa casa, como uma sombra que se retira temporariamente.

Dona Adelaide correspondeu ao abraço por um momento, antes de se afastar gentilmente, dando um tapinha carinhoso nas minhas costas, um gesto simples que carregava todo o seu afeto. “Agora eu preciso ir tomar um bom banho quente e tentar descansar um pouco, meu bem”, disse ela, seu tom voltando a ser mais pragmático, mas ainda tingido pela satisfação. “Amanhã o dia será puxado. Preciso estar bem disposta para ir ao mercado com o xerife.” Concordei com a cabeça, observando-a enquanto, com seus passos leves e um pouco cansados, ela se dirigia ao banheiro pelo corredor. O som de seus passos foi diminuindo até que o silêncio, denso e carregado, se instalou novamente na casa, que parecia maior e mais vazia sem a presença de Johnny.

Voltei lentamente para o meu quarto, sentindo o frio do chão sob meus pés, e o silêncio ao meu redor pareceu amplificar os ecos inquietantes dos meus próprios pensamentos. A figura do vilão, que momentos antes parecia um benfeitor aos olhos da minha avozinha, reassumiu imediatamente suas proporções ameaçadoras e sombrias em minha mente. Como ele conseguiu tanto dinheiro? Duzentos e cinquenta reais… assim, dando-os sem pestanejar, como se não fossem nada. Era gritante, óbvio demais, que aquele dinheiro não era limpo, não condizia de forma alguma com a fachada simples de um “encanador” que ele tentava manter. Havia algo de profundamente errado e perigoso ali.

Uma onda gelada de ansiedade me atingiu com a força de um choque ao pensar no dia seguinte. A inevitabilidade me sufocava: Johnny viria. E o pior, eu estaria sozinho com ele. A lembrança da minha condição física trouxe consigo uma nova pontada de apreensão. Eu ainda não estava cem por cento recuperado da penetração, longe disso. Cada movimento ainda me custava um pouco, meu corpo ainda se sentia frágil, vulnerável. A vulnerabilidade me consumiu por completo, como uma maré fria e incontrolável.

Cai na cama, não encontrando conforto, mas sim um refúgio forçado. O sono me alcançou rapidamente, não por tranquilidade ou paz de espírito, mas sim por pura e simples exaustão física e psicológica, um apagão necessário para escapar da opressão dos pensamentos. Na manhã seguinte, fui despertado suavemente daquele torpor pelo toque leve e familiar da mão da minha avó no meu braço. “Tiago, meu amor, acorde. O café já está na mesa, quentinho, esperando por você!” Sua voz soava alegre, cheia de vida e do otimismo inabalável que tanto a caracterizava, um contraste gritante com o peso que eu carregava.

Levantei-me com dificuldade, sentindo meu corpo ainda um pouco dolorido e rígido. A ansiedade pelo encontro iminente com Johnny já se manifestava, pesando no meu estômago como uma pedra fria. Fui até a cozinha, onde o aroma do café fresco e do pão caseiro pairava no ar, um pequeno oásis de normalidade. Sentamos juntos à mesa, tentando encontrar refúgio na rotina matinal como um escudo contra a incerteza e o medo, conversando sobre amenidades, mas por baixo da superfície da conversa banal, a espera pela chegada do Lobo Mau me corroía incessantemente, minando qualquer tentativa de paz.

Um som distinto ecoou pela casa: batidas firmes na porta da frente. Não era um toque tímido, mas uma série de batidas propositadas que de imediato prenderam nossa atenção. Dona Adelaide, com sua energia habitual, já estava a caminho da porta antes mesmo que o último eco das batidas se dissipasse. Pelo olho mágico na parte superior da porta, vislumbrou uma figura familiar. Era o xerife Charles.

Ao abrir a porta, lá estava ele, imponente e confiável em seu uniforme impecável — o distintivo brilhava discretamente em seu peito, a aba larga de seu chapéu projetava uma leve sombra sobre seus olhos. No entanto, apesar da presença de autoridade que seu título e sua estrutura física impunham, seu rosto suavizou-se instantaneamente, revelando aquele sorriso característico, caloroso e amigável, que parecia irradiar simpatia e alcançar seus olhos azuis, dissipando qualquer formalidade. Não era o semblante austero da lei, mas sim o rosto acolhedor de um membro respeitado da nossa comunidade.

“Bom dia, xerife! Entre, entre, por favor! Não fique aí na porta”, ela convidou, sua voz naturalmente calorosa e cheia de hospitalidade, gesticulando para que ele entrasse. “O senhor já tomou o café da manhã? Aceita um copo do meu suco de laranja fresco? Talvez uma fatia quentinha desse pão caseiro com a minha geleia de uva?” Sua hospitalidade era uma resposta automática, um reflexo profundamente enraizado de sua natureza generosa, sua maneira de expressar cuidado e respeito por quem chegava à sua porta.

Charles, com aquele sorriso que transmitia tanta tranquilidade, agradeceu a oferta generosa. “Bom dia, Dona Adelaide, muito obrigado”, ele respondeu, sua voz, grave e constante, tão acolhedora quanto seu sorriso. “Aceito, sim, com muito prazer. Parece delicioso.” Ele cruzou o limiar, deixando para trás a luminosidade crescente da manhã e entrando na atmosfera acolhedora e perfumada da nossa cozinha. Movimentou-se em direção à mesa, seus passos firmes e deliberados, puxou uma cadeira e se acomodou nela com um suspiro discreto, como se estivesse em casa, como se aquela visita não fosse uma obrigação, mas um encontro amigável.

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Comentários

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Tenso e preocupado com chapéuzinho. Queria que o lobo mau virasse o lobo bom.

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