• O ANJO DA MÚSICA: Capítulo 3 ~ O Abismo das Escolhas {FINAL}

Um conto erótico de Sativo
Categoria: Heterossexual
Contém 1565 palavras
Data: 27/05/2025 09:48:30

• Capítulo 3 ~ O Abismo das Escolhas {FINAL}

A câmara subterrânea onde Erik esperava por Christine era um templo à obsessão. Candelabros lançavam luz trêmula sobre os corredores. O som das águas subterrâneas ecoava pelas paredes de pedra adornadas com retratos dela, partituras rabiscadas com notas de amor e loucura. Quando Daaé surgiu, ele estava ao piano, tocando uma melodia melancólica, só parou ao sentir sua presença.

— Você veio. — ele murmurou, sem olhar para ela.

— Eu precisava entender... — Christine respondeu. — O que isso significa de verdade para mim.

O Fantasma se levantou, aproximando-se. Os dedos trêmulos tocaram o rosto dela, e a dor em seu olhar era quase insuportável.

— E agora que será de nós? — a voz dele era grave, escapava com seriedade entre os lábios. — Diga-me, Christine... o que ainda queres de mim?

Uma expressão séria tomou o rosto de Christine, enquanto uma tempestade de sentimentos ainda fervilhava em seu íntimo. No fundo, ela sabia que amava Raoul — mas romper os laços com o Anjo da Música era como arrancar uma parte de si. A dor dessa escolha a consumia, dividida entre o amor seguro e a conexão profunda e inquietante que ainda a prendia a Erik.

— Toque para mim... só mais uma vez! — implorou ela, a voz embargada pela emoção. — Por favor, Erik... meu Anjo... deixa-me ouvir tua música uma última vez.

O Fantasma sorriu, um brilho ambíguo nos olhos — uma fusão silenciosa de dor, paixão e malícia. Sabia exatamente o que sua música despertava em Christine; podia tocá-la mais profundamente com suas melodias do que com as próprias mãos. E ali, entre sombras e desejo, ele se preparava para possuí-la uma última vez, não com o corpo, mas com cada nota impregnada de sua alma.

— Como desejar... minha Deusa da Música. Que minha última canção ecoe para sempre em teu coração.

Christine escutava, arrebatada, enquanto seu Anjo da Música iniciava a melodia. Cada nota parecia penetrar-lhe, vibrando através de seus nervos até alcançar o âmago do seu ser. Daaé aproximou-se por trás do Fantasma, os olhos fixos em suas mãos que deslizavam pelas teclas com uma maestria que beirava o indecente — havia uma sensualidade implícita em cada gesto, em cada pausa, era como se cada tecla do piano fosse parte do corpo dela. A música não era apenas som: era um toque invisível, uma carícia etérea que a envolvia e a dominava. Sentiu o calor brotar do ventre, espalhando-se como um incêndio lento e inebriante. Deitou-se no divã junto ao piano, o corpo entregue, o sexo pulsando e se umedecendo com cada frase da melodia de despedida. Christine estava presa àquele êxtase fantasmagórico e sensual do seu Anjo, não poderia suportar muito mais.

— Toma-me... meu Anjo... faz-me tua, uma última vez... — suplicou Christine, a voz escapando entrecortada por suspiros, como um lamento doce e desesperado, os lábios trêmulos entregues ao desejo.

O Fantasma a beijou. Foi suave, um sussurro de adeus e desejo. Em seguida, pegou-a nos braços, levando-a até seu leito improvisado de veludo rubro. Ali, fizeram amor com uma urgência silenciosa, seus corpos falando o que suas almas não ousavam. A última melodia do Fantasma ressoava, etérea, dissolvendo-se na penumbra daquele aposento espectral — mas agora, seu verdadeiro instrumento era o corpo trêmulo de Daaé. Tocava-a como quem executa uma obra sagrada, amava-a com devoção febril, misto de reverência e fome insaciável.

Os gemidos de Christine misturavam-se à melodia do adeus, não como mero acompanhamento, mas como parte indissociável da obra sublime que seu Anjo compunha — uma criação genial, onde até seus sons de prazer possuíam a mesma beleza etérea de sua voz cristalina. Sentia o Fantasma preenchê-la por inteiro, enquanto a música, como uma corrente invisível, percorria até sua epiderme, arrepiando cada fibra. Seus corpos colidiam num rito profano de despedida, um sacramento perverso selado sob as trevas daquele santuário tenebroso.

Por um breve instante, Christine recordou-se do temor que um dia sentira por ele — a sombra que a assombrava nas profundezas da Ópera. Mas agora... ele era seu Anjo da Música, senhor absoluto de seus sentidos, dono de um poder que ela não sabia nomear, apenas se rendia. E, ainda assim, amava Raoul... Esse êxtase sombrio, esse ato de entrega febril, deveria selar o fim, o ponto final de sua história com o Anjo. Ela deixou escapar uma lágrima, entendendo que era a última vez.

Christine sentia seu Anjo cada vez mais fundo. Seu corpo vibrava, e do ventre emanava uma ardência incontrolável, um incêndio de prazer. Os gemidos de ambos formavam agora um dueto fúnebre, entrelaçado à melodia derradeira — uma composição que parecia escrita nas partituras do próprio Inferno. O Fantasma a apertava com força sobrenatural, puxando-a contra si, enquanto os corpos, escorregadios pelo suor, deslizavam num bramido selvagem. As madeixas loiras e volumosas de Christine serpenteavam, soltas e indomadas, seguindo o ritmo impiedoso daquele enlace pagão. E ele, o Anjo caído, penetrava-a com crescente voracidade, enquanto os gemidos se elevavam, reverberando pelas paredes úmidas daquele antro profano.

Enquanto isso, no aposento vizinho — a indesejável e esquecida sala dos espelhos — Raoul, o Visconde de Chagny, jazia aprisionado. O pobre jovem, que se aventurara pelos corredores sombrios, procurando vestígios de Christine através da passagem oculta do camarim, agora encontrava-se perdido, cercado de reflexos distorcidos. A penumbra deixava entrever ossadas secas, vestígios de outros infelizes que ali estiveram antes dele. E aos seus ouvidos chegava, difusa, aquela melodia espectral, como uma trilha cruel de sua própria desgraça. Reconheceu, entre os acordes profanos daquela maldita música, os gemidos lancinantes de Christine, entrelaçados aos bramidos viscerais do Fantasma. Foi como se lâminas perfurassem seu peito: um turbilhão de tristeza abissal e fúria impotente tomou-lhe a alma, arrastando-o para os limiares da loucura.

Movido por um ódio que beirava a demência, Raoul urrava e se lançava furiosamente contra os espelhos que o cercavam como espectros de vidro. Sacou a espada da bainha num ímpeto desesperado, golpeando e esmurrando as superfícies reluzentes que apenas refletiam sua própria impotência e agonia. Até que, numa fenda ínfima e cruel, a visão se desvelou diante dele: sua amada, cativa e rendida, sendo possuída pelo Fantasma naquele antro escarlate de veludos e sombras.

Seus olhos, embora dilacerados pela dor, não puderam evitar contemplar a beleza carnal de Christine: os seios firmes e alvos, o corpo esculpido com a perfeição das deusas antigas, e até mesmo os gemidos — oh, os gemidos! — tinham a harmonia etérea das árias que ela entoava no palco. Pela primeira vez a via assim: entregue, sublime, profana... e por um instante terrível, ficou enfeitiçado por aquela cena que selava a sua própria condenação. Mas, antes que o silêncio sepultasse de vez o destino de ambos, num ímpeto desesperado, Raoul forçou a fenda, até que ela se escancarasse, rasgando-se diante dos amantes.

— Christine! — Raoul surgira do espelho, ofegante, a espada em punho. — Saia daí! Ele te seduziu outra vez!

Christine se cobriu às pressas, o peito arfando, aos poucos recobrava a consciência. Erik, o Fantasma, encarou o Visconde com os olhos flamejantes.

— Se ousares resistir, farei deste quarto o teu túmulo! — bradou Raoul, erguendo a espada em direção a Erik — Deixa que ela venha comigo, de bom grado, ou tua lenda nesta Ópera acaba nesta noite maldita!

— Raoul... — sussurrou Christine, a voz embargada pelo medo e pela vertigem do momento.

Erik fitava-o com a fúria contida, o olhar ardia, mas o corpo permanecia imóvel, disciplinado pela própria sombra. Sua espada repousava sobre o móvel ao alcance da mão — poderia empunhá-la a tempo, e dilacerar a arrogância daquele homem que, agora, se erguia amargurado, ameaçado pelo poder absoluto que ele detinha sobre Christine. Mas, antes que Raoul ousasse desferrar o golpe, o Fantasma, soberano em sua caverna de veludo e trevas, assumiu sua posição.

— Não lutarei, — disse Erik. — Ela deve escolher.

O momento, enfim, consumava-se. Christine vacilou, dilacerada pela dúvida em segundos que pareceram eternidades, até que, envolta ainda no lençol de veludo que carregava o perfume e a memória do seu Anjo-Fantasma, caminhou até Raoul, desnuda, frágil e decidida. Estendeu a mão trêmula, pousando-a com doçura sobre o rosto do visconde.

— Meu coração é teu, Raoul... — sussurrou, e, no íntimo, como uma prece silente que jamais ousaria confessar, completou: — ...mas parte de mim sempre será dele.

Erik desviou o olhar, incapaz de sustentar a visão da partida. As lágrimas, antes um luxo que jamais se permitia, escorriam silenciosas, escondidas sob a sombra da máscara. Christine se inclinou, num gesto de ternura quase sacramental, e beijou-lhe a testa — não como quem beija um monstro, mas como quem sela um adeus a um homem quebrado, consumido pelo amor e pela dor.

Então partiu, de mãos dadas com Raoul, atravessando as trevas daquele antro que por tanto tempo fora seu cárcere e sua catedral. Deixou para trás não a lenda, mas o homem por trás dela, despido de sua máscara e de sua última esperança.

* * *

Nas noites que se seguiram, ao erguer sua voz no palco, Christine sentia — entre cada nota que atravessava a imensidão do teatro — um acorde oculto, uma vibração fantasmagórica que ninguém mais parecia notar. E então compreendia: ele ainda estava ali. Não como carne, nem como sombra, mas como música entranhada em sua própria essência. E ela, discretamente, sorria, sabendo que o Fantasma da Ópera jamais a deixaria.

Seu Anjo da Música, para sempre, moraria em sua música, seu âmago e em seus tormentos.

[ F I M ! ]

** Obra original: O FANTASMA DA ÓPERA, de Gaston Leroux. **

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