Uma Confirmação Devastadora

Da série Putinho Vermelho
Um conto erótico de Tiago Campos
Categoria: Homossexual
Contém 1091 palavras
Data: 28/05/2025 08:58:55
Assuntos: Homossexual, Gay, Fantasia

“Mais uns minutinhos e eu já saio!”, a voz familiar e gentil da minha avó ecoou pelo corredor, vinda do banheiro. Era um som que, em incontáveis manhãs, trazia uma onda de conforto e segurança, um lembrete reconfortante da rotina diária. Mas agora, naquele instante tenso, funcionava como um gatilho de pânico puro, um alarme estridente soando dentro da minha cabeça e no meu peito.

Charles, que estava fodendo minha boquinha, parou abruptamente. Cada músculo do seu corpo congelou, atento ao som. O ar entre nós, já pesado com a intimidade forçada dos minutos anteriores e a ameaça de descoberta, tornou-se quase sufocante. Ele não hesitou, reagindo com uma rapidez instintiva. Com uma força surpreendente, agarrou meu braço e me puxou para cima, meu corpo mal tendo tempo de reagir, sentindo o leve tremor que percorria o dele — um tremor que eu não sabia dizer se era de excitação macabra, de pânico ou de uma mistura perversa de ambos. E então, em um gesto inesperado que me pegou completamente desprevenido, sem aviso ou preâmbulo, seus lábios encontraram os meus. Foi um beijo apressado e voraz, quase violento na sua urgência, um ato de posse e desafio, com um sabor perturbador de pecado e segredo, de algo proibido e sujo que se espalhava pela minha boca e pela minha mente.

Afastando-se somente o suficiente para que a ponta dos nossos narizes se tocasse e eu pudesse sentir seu hálito quente e irregular no meu rosto, ele sussurrou novamente, a voz rouca e baixa, mas carregada de uma intensidade fria e sádica. Os olhos azuis dele estavam fixos nos meus, a perversidade inalterada cintilando nas pupilas. “Estou louco para contar para a Adelaide que o netinho dela é uma putinha tão safada quanto ela!”, ele sibilou, as palavras pingando malícia e diversão cruel. “Seria delicioso ver a reação dela.” Uma pausa curta, um sorriso fino que mal tocou seus lábios. “Mas… ela ficaria com ciúme, não é mesmo? E eu não seria burro de perder a bucetinha da sua avó.” A crueza das palavras, a ligação explícita que ele fez entre Dona Adelaide e ele mesmo, e o meu próprio papel nisso tudo, me atingiram com a força brutal de um soco no estômago, tirando-me o ar.

As implicações eram devastadoras e instantâneas: a pessoa que eu sempre vi, que eu amava, como um pilar inabalável de virtude, moralidade e decência, tinha uma vida secreta, uma conexão suja, carnal e transacional com aquele homem. E agora, eu, o garoto ingênuo que ela tanto parecia proteger, fazia parte, de alguma forma insidiosa, dessa teia sórdida e perigosa. Minha visão dela estraçalhava em tempo real, desmoronando sobre mim.

Para meu horror e confusão, o oficial se recompôs rapidamente. Como se estivesse trocando de máscara, a tensão desapareceu da sua postura, substituída por uma calma assustadora e perigosa. Ele ajeitou o uniforme, alisando os ombros e o colarinho, com a precisão de alguém que realiza uma tarefa mundana, como se nada extraordinário tivesse acontecido nos minutos anteriores, o profissionalismo impecável contrastando violentamente com a monstruosidade que acabara de revelar e o ato que cometera.

Enquanto Charles voltava a se sentar à mesa, com a tranquilidade de quem somente conversava sobre o tempo, meu instinto de sobrevivência, antes afogado pelo choque e pelo pânico, assumiu finalmente o controle. Precisava agir, disfarçar, apagar qualquer rastro físico ou olfativo. Peguei o bule e tomei muito café amargo, engolindo-o rapidamente, quase queimando a língua e o paladar, na desesperada esperança de disfarçar o bafo de pica que eu sabia que certamente impregnava meu hálito, um lembrete físico revoltante da profanação e da minha nova cumplicidade forçada.

Por fora, eu podia estar tentando manter a fachada, realizando ações simples como beber café, agindo “naturalmente”. Mas, por dentro, eu estava completamente em pedaços, meu mundo virado de cabeça para baixo, o chão sob meus pés desabando. A imagem que eu tinha de vovó, construída sobre anos de admiração, respeito e amor incondicional, não estava somente trincada; ela estava se estraçalhando em mil fragmentos dolorosos e irreconhecíveis, o som do vidro quebrando ecoando incessantemente dentro da minha alma atordoada. Eu estava preso entre o horror do presente e a destruição do passado.

Os minutos se arrastaram, cada um deles uma eternidade líquida que escorria por mim. Tentei, com todas as minhas forças, acalmar o martelar frenético do meu coração contra as costelas, forçar ar para o interior dos pulmões trancados pela ansiedade e recompor meu semblante para algo que se aproximasse do normal, antes que Dona Adelaide me visse.

Quando ela, finalmente, emergiu da névoa perfumada do banheiro, vestindo um lindo vestido florido que parecia trazer a primavera consigo, a atmosfera tensa que construí em torno de mim ruiu. Seus olhos perspicazes, cor de esmeralda e sempre tão atentos, pousaram diretamente em mim. Foi instantâneo. Vi o brilho da familiaridade dar lugar a um alarme súbito, como uma luz de alerta piscando em sua expressão. “Meu Deus, querido”, ela exclamou, dando um passo em minha direção, a voz embargada por uma preocupação tão genuína que meu nó na garganta apertou ainda mais, “você está pálido feito um fantasma! Aconteceu alguma coisa, meu neto?”. Aquela aflição evidente em sua voz, destinada a me confortar, somente serviu para ampliar a vergonha que me queimava por dentro.

Levantando-se, Charles caminhou até a porta é se encostou no batente, as mãos nos bolsos da calça cáqui, interveio com uma pontualidade calculada, antes mesmo que eu conseguisse reunir as peças esfarrapadas da minha mente para formular qualquer desculpa minimamente plausível. “Ah, Adelaide”, o xerife começou, o tom de voz leve, contrastando perigosamente com o sorriso que pairava em seus lábios — um sorriso que ele queria que parecesse inocente, mas que para mim era uma máscara transparente de malícia contida. “O garoto está assim porque contei uma coisinha para ele.”

E foi ali, naquele instante preciso, que reparei na mudança sísmica na minha avó. Ao ouvir o homem da lei usar aquela frase, associando meu estado ao que ele havia falado, o nervosismo que ela tentava disfarçar explodiu com força total. O ar ao redor dela pareceu vibrar com a tensão que ela agora irradiava. Naquele olhar fixo, naquela expressão repentinamente tensa, eu vi a confirmação silenciosa e devastadora. Era verdade. Tudo. Tudo o que Charles havia sussurrado, as palavras que me congelaram, ganhava uma realidade aterradora diante daquele par de olhos angustiados. E essa certeza pesou no meu coração como uma âncora de chumbo, afogando qualquer resquício de esperança de que fosse somente um delírio cruel do xerife.

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