GAROTO, EU ODEIO AMAR VOCÊ [46] ~ Despedida e Liberdade

Um conto erótico de Lucas
Categoria: Gay
Contém 2641 palavras
Data: 29/05/2025 14:46:18
Assuntos: Gay, Romance, homem

No outro dia acordei no quarto do Paul. Ele ainda dormia, respiração tranquila, cabelos desalinhados sobre o travesseiro. Fiquei ali, observando-o, e uma melancolia estranha tomou conta de mim. Faltavam apenas dois dias para ele ir embora, e essa realidade me atingiu como um soco no estômago. O que seria da minha vida depois? O que eu iria fazer? Como lidar com os sentimentos que nem eu mesmo conseguia compreender? Eram perguntas que ecoavam na minha mente sem encontrar respostas.

O Paul acordou pouco tempo depois, me puxando para perto com aquele sorriso sonolento que já conhecia tão bem. Fizemos aquele amor matinal intenso, cheio de urgência, como se tentássemos capturar cada segundo que nos restava. Depois tomamos um banho juntos, a água quente escorrendo entre nossos corpos enquanto nos abraçávamos em silêncio.

Descemos e quase todo mundo já tinha acordado. Meus amigos estavam na casa do Luke — Yan e Taty —, e o clima estava descontraído apesar da tensão que só eu parecia sentir. Em um determinado momento, enquanto Paul ajudava seu pai no churrasco, eu estava na piscina com Yan. A cerveja gelada na mão não conseguia aplacar o nó na minha garganta.

— E então, já já o Paul vai embora, hein? — disse Yan, tomando um gole longo da cerveja. — Acaba sua lua de mel.

— Nem fala — respondi, mergulhando os pés na água. — Não queria que ele fosse embora.

— Você tá gamado nele, hein? — Yan me observou com aquele olhar penetrante. — Mas também, o Paul é muito gostoso mesmo.

— Sim, mas sabe? — hesitei, procurando as palavras certas. — Eu tava refletindo... eu gosto do Paul, mas é um gostar diferente. Não é como eu gostava do Carlos ou do Luke. Não sei se você me entende.

— Eu acho que te entendo — Yan se aproximou, baixando a voz. — Na real, você não ama o Paul. Você ama o sexo que faz com o Paul. Essa é a realidade. Pelo que você me fala, vocês praticamente só transam, diferente do Carlos e do Luke. Que bom, enfim, né!

Senti um aperto no peito. Ele tinha razão, e isso doía mais do que eu esperava.

— Você tem razão — admiti, a voz saindo mais fraca. — Eu e o Paul somos algo mais carnal. Não vou mentir, mas é bom, muito bom. O Paul é uma máquina, amigo.

— Eu imagino — Yan riu, mas havia compreensão em seus olhos. — Queria eu que o Isaac fosse uma máquina assim.

— E o Carlos e o Luke, hein? — mudei de assunto, não conseguindo mais falar sobre Paul.

— Não tem nada a ver eles juntos — Yan balançou a cabeça com desdém. — Eles estão juntos só pra tentar fazer ciúmes em você. Não sei qual dos dois é mais infantil.

— Você sabe de algo?

— Não, mas não é difícil de imaginar. Eles se odeiam e do nada estão juntos? — Yan me lançou um olhar cético. — Tudo bem que os dois são gostosos, mas sei lá, é estranho eles... Eu acho que o Luke tá naquela de vingança e pegou o Carlos só pra te provocar.

— Eu tô nem aí pro Luke, você sabe — menti, e pelos olhos do Yan, ele percebeu.

— Será mesmo? — ele questionou, arqueando uma sobrancelha. — E pro Carlos?

— Bom, o Carlos é diferente — suspirei fundo. — Sei lá, eu gosto dos dois. Não vou mentir pra você.

— Por que vocês não fazem um trisal? — Yan sugeriu com um sorriso malicioso.

— Trisal? Tá maluco, isso não existe — respondi, quase engasgando com a cerveja.

— Uai, claro que existe! É maior moda lá fora. Você vai ver, daqui a alguns anos isso será super normal.

— Não me vejo namorando com o Carlos e o Luke ao mesmo tempo — balancei a cabeça vigorosamente. — Eu não dou conta de um, imagina de dois.

— Pelo menos você não ia precisar trair um com o outro — Yan deu uma risada provocante.

— Você é muito engraçadinho, isso sim.

Yan ficou sério de repente, me olhando nos olhos.

— Vem cá, me fala: se você pudesse escolher somente um hoje, quem você escolheria? O Luke ou o Carlos?

— Que pergunta é essa? — tentei desviar. — Hoje eu tô com o Paul.

— Esquece o Paul — Yan insistiu, sua voz ficando mais intensa. — Quem dos dois você escolheria? Você é meu melhor amigo, seja honesto comigo.

Fiquei em silêncio por um longo momento, sentindo o peso da pergunta. Yan esperou pacientemente, sabendo que eu precisava desse tempo.

— Posso ser sincero? — perguntei finalmente, minha voz quase um sussurro.

— Sempre.

— O Luke me machucou... — comecei, sentindo a dor familiar no peito. — Mas apesar de amar ele, de gostar, eu escolheria o Carlos.

— Jura? — Yan pareceu surpreso.

— Aham — confirmei, mais seguro agora. — Eu gosto da maneira que o Carlos me tratou. Apesar de ele ter jogado sujo também, é diferente, sei lá. Ele e o Luke são diferentes. Sabe, eu amo o Luke, eu sinto que vamos ficar juntos, mas não agora, não hoje. Acho que a gente vai se machucar ainda mais, pra quem sabe termos nosso final feliz.

Yan me olhou com aquela expressão de quem vê através das mentiras.

— Então você não quer o Carlos. Você quer o Luke e está se enganando pra si próprio. É o Luke que você ama.

— Hoje eu quero o Carlos — insisti, mas minha voz soava fraca até para mim. — Mas é como eu te disse, o Luke mexeu comigo. Eu gosto do beijo, do sexo, eu só não acho ele bem da cabeça. Enfim, melhor encerrar esse assunto.

— Você não me engana, Lucas — Yan disse com suavidade, mas firmeza. — Você não me engana.

— Para, deixa de ser bobo! — protestei, mas sabia que ele tinha razão.

A conversa com Yan realmente me fez mexer por dentro. Ele tinha razão sobre tudo. Talvez, por mais que eu admitisse que queria o Carlos, era o Luke que eu queria para meu final feliz. Mas a verdade era que eu não queria esse final feliz, não era algo que estava nos meus planos, pelo menos não agora.

Os próximos dois dias, eu e Paul ficamos mais intensos do que nunca. Cada beijo carregava o peso da despedida, cada transa, cada toque tinha o aroma melancólico do fim. Paul havia me convidado várias vezes para ir embora com ele, e por um breve momento pensei em aceitar. Quem sabe não seria bom fugir de tudo, recomeçar do zero?

Mas então me lembrei de uma música da Ivete Sangalo, "Quando a Chuva Passar", que dizia numa parte: "fugir agora não resolve nada". E não adiantava eu fugir dos meus problemas sem querer resolvê-los. Outra coisa que me fez cair na real foi o que Yan tinha falado: entre eu e Paul não existia amor, era atração, desejo, sexo. Talvez se eu fosse embora seria a maior burrada da minha vida. Afinal, minha vida era em Natal, na minha cidade, com minha família e amigos.

A despedida se aproximava, e eu sabia que depois dela teria que enfrentar a realidade que tanto tentava evitar.

Chegou o dia. Estávamos no aeroporto, e o peso da despedida pairava no ar como uma nuvem densa. Paul me abraçava com força, como se pudesse me prender ali apenas com a intensidade do gesto. Fomos para o banheiro, onde transamos pela última vez — nossa despedida íntima, sem uma possível data de retorno. Ali, entre as paredes frias daquele cubículo, era como se estivéssemos selando o fim de algo que nem sabíamos direito o que tinha sido.

Ele tinha seu trabalho e faculdade em Nova York, então era realmente o fim da nossa "lua de mel". No meio do nosso último momento juntos, Paul mencionou desistir de tudo e ficar comigo. Por um segundo, meu coração disparou, mas logo a razão falou mais alto.

— Isso seria uma burrada — disse a ele, segurando seu rosto entre as mãos. — Você não deveria fazer isso.

Talvez no fundo eu quisesse dizer, em outras palavras, que eu não iria ficar com ele. Não sei se isso o machucou ou se fez a ficha dele cair, mas vi algo mudar em seus olhos. Paul iria sim deixar saudades. Se tem uma palavra que resume a gente, eu diria que era intensidade. Fomos intensos em cada dia, em cada beijo, em cada transa, em cada olhar. E somente as coisas boas ficariam na minha memória — era isso que importava.

Trocamos um beijo demorado e forte no meio do saguão do aeroporto. Pela primeira vez não tive medo. Beijar em público assim, outro homem? Quem era eu e o que eu estava me tornando? Talvez uma pessoa mais livre, mais verdadeira comigo mesmo. E então Paul entrou no portão de embarque, e houve finalmente a nossa despedida definitiva.

Cheguei em casa no final da tarde, o silêncio do meu quarto contrastando com o burburinho do aeroporto que ainda ecoava na minha cabeça. Entrei no quarto, peguei o celular e fiquei navegando no Instagram, vendo alguns stories e olhando o feed sem muito interesse. Foi quando olhei pro lado e vi a foto da Chanel na mesinha de cabeceira, e me bateu uma saudade profunda dela — do riso contagiante, da voz carinhosa, dos conselhos certeiros. Sem dúvidas eu jamais iria esquecer a Chanel.

E então pensei em várias coisas que ela me disse, e sabe o que eu fiz? Peguei uma cerveja que tinha na geladeira, liguei minha TV e coloquei Valesca Popozuda pra tocar. "Agora eu tô solteira e ninguém vai me segurar" — a música ecoava pela casa como um manifesto. Comecei a beber e dançar sozinho, sentindo uma energia estranha e libertadora correndo pelas veias.

Liguei pro Yan e chamei ele pra vir à minha casa.

— Quero sair pra curtir, beber e dançar — falei, minha voz já um pouco alterada pela cerveja.

— O Isaac foi pro interior e eu tô "livre" — ele respondeu com uma risada cúmplice.

Pouco tempo depois ele chegou em casa, trouxe mais cervejas e bebemos enquanto dançávamos pela sala. Quando deu 22h já estávamos um pouco altos e decidimos ir para uma balada gay que tinha na cidade. Como dizia a música da Valesca: agora eu era solteiro e ninguém ia me segurar.

E foi exatamente isso que eu fiz. Me joguei sem pensar no Paul, no Luke ou no Carlos. Bebi, dancei, beijei desconhecidos na pista, e me senti livre pela primeira vez em muito tempo. Paul estava longe, não estávamos mais juntos, eu não tinha Luke ou Carlos, então estava livre, leve e solto. Assim iria começar minha nova vida de solteiro.

Yan não chegou a ficar com ninguém, mas somente porque não quis. Ele não queria trair o Isaac, apesar de eu ter falado para ele que não tinha problema, que eu não iria contar nada.

— Relaxa, cara — eu gritava por cima da música. — Vive a vida!

Mas ele balançava a cabeça, sorrindo, mas firme em sua decisão.

Saímos da balada eram quase 6h da manhã e cheguei podre de bêbado em casa. Havia beijado quatro, cinco, dez — perdi as contas. Rostos que se misturavam na neblina do álcool e das luzes coloridas da pista. Mas pela primeira vez na vida eu estava me sentindo completamente livre.

Caí na cama ainda de roupa, o mundo girando ao meu redor, mas com um sorriso no rosto. Era o começo de algo novo, algo que eu ainda não sabia bem o que era, mas que parecia promissor. Era o começo da minha verdadeira liberdade.

Duas semanas se passaram como um borrão de dias que se misturavam entre ressaca, aulas de direção e uma ansiedade crescente que não conseguia nomear. Nesse tempo, adiantei o máximo que pude na autoescola — dirigir tinha se tornado minha válvula de escape, aqueles momentos em que só existia eu, o carro e a estrada à frente, E então chegou o dia. O dia que mudaria tudo, finalmente saiu a nota do ENEM. Lembro como se fosse ontem: estava deitado na cama, ainda de pijama, quando o celular vibrou com a notificação. Meu coração disparou. As mãos tremiam enquanto digitava minha senha no site. A tela carregou devagar, cada segundo parecendo uma eternidade. E quando finalmente vi os números ali, na tela do meu celular, não consegui acreditar. Havia sido uma nota boa. Melhor do que eu jamais imaginei, me surpreendi até. Ali, naqueles números frios na tela, estava a chave para o meu futuro. Mas qual futuro eu queria?

Chegou então a hora de fazer a escolha mais difícil da minha vida até aquele momento. Colocar a nota para alguns cursos. Eu estava dividido entre duas opções que pareciam viver em universos paralelos: uma era o meu sonho, a outra seria algo que me desse um bom emprego. A verdade? Eu queria ser jogador profissional de vôlei. Sonhava com isso desde criança, quando assistia aos jogos na TV, e a cada campeonato que eu havia ganhado pelo LEI. Mas sabia que isso seria quase impossível. A realidade batia forte: quantos conseguem viver realmente do esporte no Brasil?

Passei noites em claro pensando, analisando cada possibilidade, pesando prós e contras. Conversei com minha mãe, com amigos, comigo mesmo no espelho. E depois de muito pensar, de muito quebrar a cabeça, tomei uma decisão que veio do coração: coloquei minha nota para Educação Física.

Havia grandes chances de passar, mas ainda assim cada dia até o resultado final foi uma tortura doce. A expectativa me consumia. Eu mudava e remudava as opções no sistema, sempre voltando para Educação Física. Não era exatamente o que eu queria, mas era uma porta para me manter próximo ao esporte, ao vôlei que tanto amava. Fiquei tentado a ir para Direito ou Odonto — cursos que meus pais consideravam "mais seguros", "com mais futuro". Mas meu coração, teimoso e apaixonado, mandou ir para Educação Física.

E então chegou o dia do resultado final, eu estava na varanda de casa bricando com o Thanos quando o celular tocou. Era o Yan, gritando do outro lado da linha:

— Lucas! Saiu! O resultado saiu!

Corri para dentro do meu quarto, as pernas bambas, o coração batendo tão forte que parecia que ia sair pela boca. Abri o site com as mãos tremendo tanto que errei a senha duas vezes. E lá estava, APROVADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA - UNIVERSIDADE FEDERAL

Gritei. Gritei tão alto que minha mãe veio correndo, achando que tinha acontecido alguma coisa grave. Quando viu minha cara de felicidade pura, ela começou a chorar junto comigo. Meu irmão apareceu logo depois, e ali no meio da sala, nos abraçamos os três, chorando e rindo ao mesmo tempo. Era o começo de tudo. Finalmente, Yan e Isaac passaram em Medicina — e que orgulho eu senti deles! Dois dos meus melhores amigos realizando o sonho de salvar vidas. Luke passou para Odonto, e por um segundo senti uma pontada estranha no peito, lembrando de todas as nossas conversas sobre o futuro. Carlos e Taty passaram para Direito, e não pude deixar de sorrir imaginando os dois debatendo casos jurídicos pelos corredores da faculdade. Em algumas semanas, cada um de nós iria seguir um novo caminho, uma nova estrada. Novos desafios nos esperavam. Novos amigos. Novas descobertas. Novas versões de nós mesmos.

E como dizem: é na faculdade que a gente muda. É na faculdade que a gente se prepara para ser finalmente adulto. É lá que descobrimos quem realmente somos, longe dos olhares protetores da família, longe da zona de conforto do ensino médio.

Olhei pela janela do meu quarto, vendo os carroa passarem, e imaginando como seria esse novo mundo. A vida real estava começando, e pela primeira vez em muito tempo, eu não estava com medo do futuro. Estava ansioso, sim. Nervoso, com certeza. Mas também estava empolgado, porque finalmente, finalmente, eu tinha um rumo. E esse rumo me levaria para onde meu coração sempre quis estar: próximo ao esporte que me fazia feliz, próximo dos meus sonhos. A faculdade me esperava, o futuro me esperava, e eu estava pronto para abraçá-lo de braços abertos.

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Comentários

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Esse capítulo foi bem mais esclarecedor, e ao mesmo tempo, me deixou muito curioso com o que vem no futuro. Perfeito como sempre!

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Vai começar a segunda fase do conto! A vida na faculdade! Novas paixões, novas brigas e novos personagens rssss

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Ansioso por essa nova fase. Que saudades a nossa Chanel faz! E a relação de Lucas com pai dele? Queria entender como está e se eles vão se resolver.

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Vai ter um momento polêmico q eles vão voltar a morar juntos rssssss mas n vou soltar spoilers rs

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Iiiiiiii! Para que eu fico ansioso, sei que sua rotina é ocupada, mas não demore de postar....😁

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❤Qual­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­­­pas) Por favor, ava­­­lie ➤ Ilink.im/nudos

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