Eu amo o Jorge. De verdade.
Acordar com ele me olhando com aquele sorriso calmo, preparando meu café, me fazendo rir com piadas bobas… é o tipo de coisa que me faz acreditar que o mundo ainda tem conserto. Jorge é aquele tipo de homem raro. Gentil. Seguro. Doce. Um pouco distraído às vezes, mas... bom. Profundamente bom.
E talvez por isso eu me sinta ainda mais suja por tudo o que tenho feito.
Ou melhor: por tudo o que tenho sentido.
Porque não é só um deslize, nem uma fraqueza. É um chamado. Quase um veneno.
E o nome desse veneno é Rodolfo.
Rodolfo foi meu ex por pouco mais de um ano. Um ano que pareceu uma guerra. Ele era aquele tipo de homem que entra em um lugar e o ambiente muda. Um predador. Olhos frios, voz firme, um perfume amadeirado que ainda me deixa molhada quando sinto algo parecido em outro homem.
Ele me tratava como um objeto. Me usava. Me fazia sentir uma coisa e seu oposto ao mesmo tempo. Quando terminamos, jurei nunca mais voltar.
Mas ele sabe. Ele sempre soube que tem um poder sobre mim que Jorge nunca terá.
Começou com mensagens. Curtidas antigas em fotos minhas no Instagram. Um emoji aqui, outro ali. Eu resisti. Ignorei.
Até que ele mandou:
“Você ainda sonha comigo?”
Apaguei a mensagem. Mas ela ficou gravada no meu corpo. No meu ventre.
Naquela noite, transei com Jorge com mais fome do que nunca.
Gozei pensando em Rodolfo.
Duas semanas depois, marquei de encontrá-lo. Eu disse a mim mesma que era só para encerrar aquele ciclo.
Mas assim que vi seu rosto... aquele olhar de desprezo disfarçado de charme... soube que estava fodida. Literalmente.
Ele me encostou no carro ainda no estacionamento do bar. Me beijou com violência. Me apertou os seios como se fossem dele.
E eu deixei. Com a calcinha ensopada e o coração acelerado.
— Então agora você é casadinha? — ele disse, rindo. — O otário ainda acredita em você?
Eu não respondi. Só fechei os olhos e deixei ele levantar meu vestido e me comer ali mesmo.
Jorge tem desconfiado. Ele me observa mais do que antes. Toca meu rosto com carinho, mas demora um segundo a mais olhando nos meus olhos.
— Está tudo bem, amor? — ele pergunta.
Eu sorrio.
Minto, enquanto visualizo Rodolfo me fazendo.
— Claro que sim, meu bem. Está tudo ótimo.
Na semana seguinte, recebo uma mensagem de Rodolfo, queria um encontro, já tinha até marca local e hora. Sabia que eu apareceria.
E eu fui.
Foi no motel mais barato da cidade. Rodolfo nunca se preocupou com elegância. Ele se importava com controle. Com fazer as coisas do jeito dele.
O quarto cheirava a desinfetante barato e lençol gasto. O papel de parede descascava em uma das pontas. Eu me senti uma adolescente envergonhada entrando ali, mas também me senti... viva.
— Tira a roupa. — ele ordenou, sem nem me olhar direito. Estava sentado na poltrona, fumando.
Eu hesitei por um segundo. Ele riu.
— Ah, vai me dizer que o maridinho não deixa?
Senti o rosto queimar. Tirei tudo. Fiquei em pé, nua, como ele queria. Rodolfo se levantou lentamente, como quem aprecia o espetáculo de um troféu recuperado.
— Você ainda tem esse fogo sujo que eu amo — disse, puxando meu cabelo para trás e me fazendo olhar nos olhos dele. — E aposto que o corno lá em casa nem imagina.
Eu devia ter saído dali. Devia ter me vestido e voltado para o Jorge.
Mas a verdade é que eu fiquei molhada quando ele disse aquilo.
Ele me jogou na cama. Transamos como animais. Brutal. Sujo. E eu deixei ele me usar do jeito que quis.
Deixei ele gozar dentro de mim. Deixei? Ou queria. Sim, pedi pra ele encher minha buceta de porra. Não que ele não fosse fazer de qualquer jeito, mas eu me sentia mais safada assim.
Naquela noite, cheguei em casa tarde. Jorge já estava dormindo no sofá com a TV ligada. Me senti um monstro ao vê-lo tão tranquilo, tão desprevenido.
Me ajoelhei no chão e encostei minha cabeça no colo dele.
Chorei em silêncio.
Ele acordou com meus soluços, me envolveu nos braços, e perguntou baixinho:
— Foi um dia difícil, meu amor?
Só consegui responder com um beijo.
Os encontros com Rodolfo se tornaram mais frequentes. Quase uma rotina. Sempre em lugares cada vez mais baixos. O carro dele, o depósito de um galpão abandonado, até mesmo o banheiro de um restaurante.
A cada novo encontro, eu dizia a mim mesma que seria o último.
Mas nunca era.
O que me prendia a ele não era amor. Era desejo. Uma fome que Jorge nunca provocou. Jorge me trata como uma flor delicada. Rodolfo me trata como uma vadia, da tapas na minha bunda, me chama de vadia safada— e é isso que me faz voltar.
Eu odiava isso em mim. Mas não conseguia parar.
Uma tarde, tudo quase desabou.
Estávamos no nosso quarto. Jorge tinha ido ao mercado. Eu sabia que tinha tempo. Rodolfo veio até minha casa. Era a primeira vez. Quando o vi parado na porta, senti meu coração congelar.
— Você tá louco?
— Você que deixou a porta aberta, docinho.
Entrou sem pedir. Me pegou ali mesmo, na minha cama, de bruços, como se fosse uma conquista antiga que ele quisesse marcar.
E foi nesse momento que o mundo tremeu: o som da chave girando na fechadura.
— Merda, ele voltou! — gritei, empurrando Rodolfo.
Mas ele riu. Ele queria que acontecesse.
Ele gozou rápido, de propósito. Como se fosse uma marca. Um carimbo. Um escarro.
Corri pro banheiro, em pânico. Jorge subiu com sacolas, chamando meu nome.
— Pris? Você tá em casa? — ouvi a voz doce dele.
Rodolfo já tinha pulado pela janela dos fundos.
Naquela noite, Jorge me olhou diferente. Como se algo em mim tivesse mudado e ele não soubesse explicar.
— Você tem estado... estranha. — ele disse. — Parece sempre em outro lugar.
— Tô só cansada, amor. Só isso.
Ele tocou meu rosto. Foi suave. Com amor.
E eu senti culpa e tesão ao mesmo tempo.
— Você me ama, Priscilla?
A pergunta me cortou.
— Eu te amo mais do que tudo, Jorge.
E era verdade. Do meu jeito quebrado, do meu jeito errado.
Eu o amava. Mas também amava o que Rodolfo me fazia sentir.
Foi um detalhe minúsculo.
Depois de mais uma tarde com Rodolfo — sentando dentro do carro dele, no estacionamento da antiga fábrica onde ele agora tomava conta do turno da noite — voltei para casa com as pernas ainda bambas, os lábios levemente marcados por mordidas, e o cheiro de cigarro e suor barato grudado na minha pele, a calcinha ainda cheia de porra.
Tomei um banho corrido. Troquei os lençóis. Passei perfume.
Achei que era suficiente.
Mas Jorge, como sempre, me surpreendeu na sua doçura silenciosa.
Naquela noite, depois do jantar, ele me abraçou pela cintura. Apertou com carinho, colou o rosto no meu pescoço e respirou fundo. Por um segundo, o corpo dele congelou.
— Esse perfume é novo? — ele perguntou.
Meu estômago se revirou. Rodolfo tinha passado algum desodorante barato em mim enquanto sentava nele no carro.
— Ganhei uma amostra na farmácia — respondi rápido demais.
Jorge não disse nada. Apenas assentiu. Mas os olhos dele… os olhos ficaram mais quietos. Mais distantes.
Na manhã seguinte, encontrei meu celular fora do lugar.
Desconfiada, fui até a aba de mensagens arquivadas. Nada. Rodolfo nunca mandava mensagens diretas. Mas as fotos… as que eu havia esquecido de apagar… não estavam mais ali.
Ou seja: Jorge viu.
Mas não falou nada.
Naquela noite, ele me procurou na cama com uma urgência diferente. Me beijou com mais força. Me penetrou com mais intensidade, como se a cada estocada tentasse apagar a existência do Rodolfo. Não conseguia.
Mas havia tristeza no toque dele. E raiva.
E talvez… medo.
Gozei com ele. Mas a imagem de Rodolfo me rondava, mesmo nessa hora, como um espectro. Um demônio que eu mesma convidei pra entrar.
Passei os dias seguintes tentando ser a esposa perfeita. Cozinhei seus pratos preferidos. O abracei mais. Fui mais carinhosa. Jorge parecia sorrir, mas seu sorriso estava vazio.
E uma noite, eu o encontrei na varanda, sozinho, olhando o nada.
— Tá tudo bem?
— Só pensando.
— Em quê?
Ele demorou.
— Em você. Em nós.
Depois virou o rosto e disse:
— Às vezes eu sinto que você não tá mais aqui, Priscilla.
Me aproximei. O abracei por trás.
— Eu tô aqui, amor. É só o estresse. Nada mais.
Ele virou e me beijou. Mas o beijo dele era... diferente.
Era como se estivesse tentando me prender com a boca. Como se, com os lábios, ele dissesse: não me abandona, mesmo que eu saiba que você já foi.
No dia seguinte, recebi uma mensagem de Rodolfo:
“Ele tá sentindo, né? Que delícia.”
Eu devia ter bloqueado. Mas minhas mãos tremiam. Meus dedos escorregaram sobre o teclado.
Respondi:
“Você vai acabar com tudo.”
A resposta veio em segundos:
“Sou eu que sou tudo. O resto é ilusão.”
E talvez… parte de mim concordasse.
Dias depois, Jorge chegou mais cedo em casa. Me encontrou deitada na cama, recém-saída do banho, ainda enrolada na toalha. Ele se deitou ao meu lado, ficou me olhando em silêncio. E disse:
— Pris…
— Sim? — perguntei, tentando sorrir.
— Se um dia você… se envolvesse com alguém… você me contaria?
Meu coração parou por um segundo.
— Claro que sim, Jorge. Eu jamais esconderia algo assim de você.
Mentira.
Mas uma mentira que doía mais em mim do que nele.
— Mesmo que fosse algo... difícil de explicar? — ele insistiu. — Mesmo que fosse só desejo?
Virei o rosto. Não consegui encarar aqueles olhos castanhos tão doces.
E ele soube.
Mas, mesmo assim, me puxou pra perto. Me abraçou. E cochichou:
— Eu só quero você, Priscilla. Com tudo. Até com o que você acha que me destruiria.
Foi aí que chorei. De novo.
Só que dessa vez, ele sentiu cada lágrima.
A primeira vez que Rodolfo me mandou uma foto de Jorge, eu estava no trabalho.
Ele devia estar me seguindo.
A imagem mostrava Jorge saindo do nosso prédio, mochila nas costas, o passo sereno de quem ama uma rotina, como se ela fosse parte de si. Estava com a mesma jaqueta marrom que eu escolhi no Natal passado. Sorri, por reflexo. Mas aí veio a mensagem, segundos depois:
“Tão bobo. Nem imagina a vadia que tem em casa.”
Me faltou ar.
Demorei para conseguir apagar a imagem. E mesmo assim, por horas, ela ficou na minha mente como um grito silencioso.
Não respondi.
Rodolfo sentia que eu estava começando a recuar. E fez o que sempre soube fazer: me desestabilizar. Ele sabia como me desmontar, onde apertar.
Começou a me mandar mensagens provocativas em horários aleatórios.
“Você sonhou comigo ontem, não sonhou?”
“Tenho vontade de chamar ele pra ver você gozando no meu colo.”
“Acha mesmo que ele não percebe?”
No começo, eu deletava.
Depois, comecei a guardar.
Como se quisesse, inconscientemente, ser punida.
Uma noite, depois de um jantar especialmente silencioso, Jorge me surpreendeu.
— Pris… posso te perguntar uma coisa e você promete que vai ser honesta?
Senti meu corpo inteiro congelar. Meu estômago virou uma pedra.
— Claro.
Ele respirou fundo, me encarou com olhos marejados.
— Você ainda me ama?
Eu podia mentir. Ou podia fugir.
Mas fiz algo que nem eu esperava: fui sincera.
— Amo. Mas… eu me perdi.
O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Mas Jorge, como sempre, teve uma força que eu nunca entendi.
— Você pode se encontrar. E se um dia quiser, eu ainda vou estar aqui.
Chorei no ombro dele. Como uma menina. Como uma covarde.
E naquela noite, sonhei com Rodolfo me puxando pelos cabelos… metendo com força em mim, enquanto Jorge nos assistia de longe, sem poder me alcançar.
Alguns dias depois, Rodolfo me esperava no estacionamento do mercado.
Sem convite. Sem aviso.
— Entra no carro — ele disse, janela entreaberta, cigarro aceso.
— Não posso.
— Pode. E vai.
Entrei.
Ele me beijou ali mesmo. Não me deu tempo de respirar. Suas mãos invadiram meu corpo como se eu fosse dele por direito, e não por escolha.
— Tá ficando mole, Priscilla? — ele sussurrou no meu ouvido. — Tua casinha tá confortável demais?
— Jorge me ama — eu disse, quase como um grito.
Ele riu. Aquele riso cínico, cruel.
— E eu te faço gozar. É isso que importa, no fim das contas.
As palavras dele me machucavam. Mas o que doía mais era saber que era de verdade.
Algo em mim ainda desejava aquele toque rude. Aquela rola grossa e peluda pulsando, seja na minha boca ou buceta. Bastava uma frase dessas pra molhar a calcinha e ficar de perna mole, ele nem precisou forçar, né um única vez, eu sempre me entregava facilmente pra ele, sempre me enganado, jurando pra mim mesmo que seria a última vez.
Ainda ansiava pela punição.
Mas algo estava mudando.
Quando voltei para casa naquela noite, de pernas bambas e cheia de porra na calcinha, Jorge estava me esperando na varanda. Silencioso. Com um copo de vinho pela metade.
— Fui te buscar no mercado. Você já não estava mais lá.
Senti o chão fugir dos meus pés.
— Passei na farmácia depois. Te mandei mensagem.
— Eu vi. Só… não reconheci você no tom.
Fiquei em silêncio.
Ele me olhou nos olhos, e dessa vez, havia algo diferente nele. Algo quebrado.
Mas não fraco.
— Pris… se você quiser ir embora, só me avisa. Não precisa mentir. Nem esconder. Eu já te conheço até no silêncio.
E então… ele levantou. Me beijou na testa. E entrou.
E foi nesse momento que Rodolfo perdeu um pouco do poder.
Porque Jorge, mesmo ferido, ainda me amava com uma dignidade que o outro jamais compreenderia.
Na noite seguinte, mandei uma mensagem para Rodolfo, fui até a casa dele. Queria encerrar aquilo. Olhá-lo nos olhos e dizer que estava fora. Que precisava me reconstruir.
Mas ele me recebeu diferente.
— Tava esperando. Preparei algo pra você.
No quarto, estavam dois homens. Nus.
E eu entendi tudo.
Ele queria me fazer parte de um espetáculo. Me usar. Me reduzir.
— Isso é o que você merece, Priscilla. A santa do Jorge sendo a vadia que realmente é.
Minha mão tremeu.
— Eu vim encerrar isso, Rodolfo. Acabou.
Ele se aproximou, os olhos ardendo em fúria.
— Você acha que pode sair assim? Eu tenho fotos. Eu tenho vídeos. Posso acabar com você.
— E eu tenho alguém que ainda me ama, mesmo ferido. E por ele, eu vou me salvar.
— Então é só sair pela porta. — Rodolfo falou em tom de deboche.
Tremia, não conseguia tirar os olhos dos rapazes nus, por um momento meus pensamentos se perderam no que eles fariam comigo, molhei a calcinha. Os bicos dos meus seios começaram a marcar o vestido, estava sem sutiã. Rodolfo percebeu na hora.
— Então, não vai embora? — Volta pro seu maridinho.
Não conseguia mais me mexer, já estava entregue, os rapazes me pegaram pelas mãos e me deitaram na casa, só fechei os olhos e deixei que fizessem o que desejavam comigo. Rodolfo só observava, rindo, quando gozei com o primeiro rapaz ele tirou o celular e registrou o momento. Quando o segundo rapaz gozou na minha boca ele também fez questão de registrar.
Saí dali com as pernas trêmulas.
Cheguei em casa. Jorge estava na cama, acordado.
— Fui até ele. Encerrar tudo.
— Eu imaginei.
— Ele me ameaçou. Me usou. E eu… acabei cedendo ao desejo. Me perdoa, prometo que nunca mais vou fazer isso...
Ele me olhou por um longo tempo. Seus olhos estavam marejados.
Mas ele sorriu.
— Obrigado por não ter me destruído por completo.
— Você nunca mereceu isso.
— E você… merece se reencontrar.
Jorge voltou a sorrir comigo.
Ele passou a fazer pequenas coisas como antigamente — preparar meu café, ajeitar o travesseiro à noite, tocar minha cintura de leve ao passar por trás de mim. Eu via o esforço nos olhos dele. A ferida ainda estava ali, mas ele a cobria com ternura. Com esperança.
E eu queria, de verdade, merecer aquilo.
Passei a evitá-lo na cama por uns dias, com medo de que meu corpo ainda tivesse o cheiro de Rodolfo grudado em algum canto da pele. Me olhava no espelho e, mesmo limpa, me sentia suja.
Mas Jorge… ele esperou. Não cobrou. Apenas continuou ali.
E quando, numa noite fria, me deitei sobre seu peito e fiz amor com ele, senti uma lágrima escorrer. Era dele. Ou minha. Talvez dos dois.
Por um instante, eu acreditei que podia recomeçar.
O problema é que o desejo tem memória.
E o corpo... mente.
O primeiro deslize veio numa terça-feira cinza. Eu estava indo ao trabalho, de ônibus, quando o celular vibrou.
“Passa aqui. Estou sozinho. Só por 10 minutos.”
Ignorei.
Segundos depois, outra mensagem.
“Posso provar que você ainda geme por mim.”
A respiração falhou.
Jorge havia me beijado naquela manhã, com carinho. Me desejando um bom dia.
E mesmo assim… eu desci do ônibus no ponto seguinte.
Foi rápido. Sujo. Quase sem palavras.
Ele me pegou de pé, no corredor escuro da garagem do prédio dele. Um aperto forte nos pulsos, a respiração quente e animalesca no meu ouvido. Nenhum beijo. Só pele, carne, e vergonha. Me sentia como um objeto que ele conhecia de cor, e como conhecia, sabia exatamente onde e como me tocar— e usava esse conhecimento sem cerimônia.
Quando tudo acabou, ele se afastou com um meio sorriso e acendeu um cigarro, sem me olhar.
— Ainda é minha — disse, como quem carimba uma propriedade.
Voltei pra casa com a calcinha cheia de porra e culpa. Passei horas no banho, debaixo da água quente, esperando que a sensação de traição escorresse ralo abaixo. Não escorreu.
Jorge estava lendo no sofá quando saí do banho. Olhou pra mim como sempre fazia: com doçura.
— Tudo bem?
— Tô com dor de cabeça, amor… o dia foi pesado.
Ele assentiu, sem insistir.
Naquela noite, me deitei ao lado dele e senti vontade de chorar. Mas me mantive firme. A boca dele roçou meu pescoço e eu fechei os olhos. Queria sumir. Queria gritar.
Mas Jorge era silêncio. Paz. E eu estava virando uma tempestade.
As recaídas se repetiram.
Nunca planejadas. Sempre impiedosas.
Bastava uma mensagem. Uma imagem. Às vezes, nem isso. Bastava o vazio. Aquele minuto em que a rotina me sufocava, e Rodolfo surgia como uma fuga cruel e excitante, e lá estava eu, dentro do carro, em um banheiro sujo, ou mesmo na cama de um motel barato, de pernas arreganhadas enquanto ele me comia impiedosamente.
Depois de cada encontro, eu dizia que seria o último.
E mentia. Pra mim. Pra Jorge. Pra tudo que um dia fui.
Até que, um dia, Rodolfo mudou o tom.
— Cê vai viver nessa palhaçada por quanto tempo? Não cansa de brincar de esposa feliz e vir se arrastar pra mim depois?
— Eu não me arrasto — rebati.
Mas até minha voz soou fraca.
— Claro que não. Você só me procura cada vez que a realidade te enjoa. Quando cansa de bancar a princesa. — Quando vai assumir que é uma safada que gosta de ser tratada como uma puta?
— Eu quero parar. De verdade.
Ele riu. Aquele riso debochado.
— Você vai voltar. Vai voltar porque é o que você é. E sabe o que mais? Um dia eu vou contar pro seu maridinho. Mas só depois de gozar vendo ele chorar.
Senti o chão sumir.
Naquela noite, Jorge cozinhou pra mim. Macarrão com molho de tomate fresco. Ele não era bom com panelas, mas sempre tentava.
— Hoje é o dia em que nos conhecemos, lembra? Sete anos atrás.
Olhei pra ele. Os olhos brilhando.
Eu não merecia aquele homem.
E talvez, por isso mesmo, fiz o que fiz.
— Eu preciso ir. Preciso pensar. Respirar.
Jorge me olhou sem entender.
— Tá tudo bem?
— Não. Mas vai ficar.
E fui embora. Sozinha. Com uma mochila e um coração estilhaçado.
Liguei pra Rodolfo. Pedi abrigo.
Ele riu.
— Sabia que voltaria. Bem-vinda de volta ao seu lugar.
Agora estou aqui. Num quarto estranho, ouvindo a TV ligada na sala. Ele está lá fora, com outro amigo. Bebendo. Rindo.
Me chamou de "minha vadia" hoje mais cedo. Na frente de outro homem.
E eu... calei.
Jorge deve estar procurando por mim. Ou chorando. Ou talvez tentando não se culpar.
E eu? Eu estou aqui, me perguntando em que ponto comecei a me destruir.
E o pior?
Uma parte de mim… ainda quer voltar.
Não pro Jorge.
Mas pra mim mesma.
Se é que ainda há algo de mim que possa ser resgatado.
Foram seis dias longe de casa.
Seis dias naquele apartamento gelado, onde o cheiro de cigarro se misturava com a sensação de derrota. Rodolfo entrava e saía como queria, e às vezes nem dormia lá. Quando voltava, me tratava como se eu fosse um depósito de porra— algo útil, descartável, sempre ali quando ele quisesse. Eu enfiava as unhas nas costas dele quando gozava, tirava sangue, queria machuca-lo, mas isso só inflava ainda mais o seu ego. As vezes me batia durante o ato, eu pedia mais, e mais forte, encheu minha cara de tapa enquanto apertava meus pescoço com a outra mão, eu gozei assim. Como eu odiava esse homem, ainda sim minha buceta desejava aquele pau, seu cheiro sua pegada, quando ele dormia fora me masturbava pensando nele. Que doentio, deixei tudo para trás só por isso? Talvez eu não odiasse ele, e sim me odiasse mais que tudo
Achava que era punição. Mas no fundo… sabia que era escolha.
Minha.
O pior de cair é quando ninguém mais te empurra.
Na manhã do sétimo dia, um sábado, eu estava deitada no sofá, vestida só com a camisa dele, sem maquiagem, sem força. A TV ligada sem som, os olhos fixos em nada. Ouvi a campainha tocar e Rodolfo se levantou com um suspiro impaciente.
— Quem diabos vem aqui a essa hora?
Abriu a porta.
E lá estava Jorge.
Ele usava a camisa azul que eu adorava, a de tecido macio, com as mangas dobradas. Estava calmo. Mais magro. Mas os olhos… ah, os olhos estavam firmes.
Rodolfo riu.
— Olha só quem resolveu sair do buraco. Veio buscar sua cadelinha?
Jorge não respondeu. Apenas olhou para mim. Os olhos seguravam algo entre dor e ternura.
— Priscila. Eu vim porque te amo. E porque sei que você ainda pode voltar pra casa.
Meu coração disparou.
— Jorge…
— Eu sei de tudo — ele continuou. — Eu sempre soube. Ou, talvez, sempre senti. Mas fiquei em silêncio porque tive medo de perder você. Medo de encarar a verdade. E mesmo assim… eu nunca deixei de te amar.
Rodolfo gargalhou, debochado.
— Que homem patético. Você ouve isso? Ela me procura. Me implora. Eu gozei nela ontem enquanto ela chorava. E você quer levar essa mulher de volta? Como é que dorme com alguém assim?
Jorge olhou pra ele como se estivesse vendo uma criança mimada. E aí, disse:
— Porque eu amo ela. E amor é pra quem tem coragem. Você nunca soube o que é isso. Nunca vai saber.
Rodolfo estreitou os olhos, mas Jorge nem esperou resposta.
— Você acha que está por cima. Mas foi usado. Ela foi fraca, sim. Mas você… foi só uma fuga. Uma válvula. E isso acaba hoje.
Ele então olhou pra mim. E eu vi algo diferente ali. Não era piedade. Nem súplica. Era aceitação. Era um convite à verdade.
— Priscila, eu sei que você errou. Sei que você caiu. E eu… ainda assim, escolho você. Se você ainda me ama. Se ainda há algo em você que queira viver esse amor… vem comigo. Sem promessas. Sem máscaras. Só com verdade.
Eu tremia.
Rodolfo cuspiu no chão e virou as costas. A cortina caiu. A pose ruiu.
E, naquele instante, eu soube: ele nunca teve poder nenhum.
Chorei no caminho de volta. Jorge dirigia em silêncio, respeitando o tempo que eu precisava.
— Eu… eu não mereço você — sussurrei, depois de quilômetros.
— Talvez não. Mas amor não é prêmio. É escolha. E essa… ainda é a minha.
Reconstruir não foi fácil. As recaídas não foram apenas físicas, mas emocionais. Eu tinha que reaprender a olhar Jorge nos olhos. Tinha que enfrentar meus próprios abismos. Minhas vergonhas. Meus impulsos.
Terapia. Silêncio. Choro. Conversas difíceis. Sexo cheio de pausa, de dor, de carinho.
Mas toda noite, ele segurava minha mão.
E isso… me salvava.
Rodolfo tentou me procurar depois. Mensagens. Áudios. Ofensas. Depois súplicas. Depois mais ofensas.
Eu bloqueei, foi difícil,.mas bloqueei
Comecei a sentir não precisava mais dele pra me sentir viva.
Hoje, quando Jorge me olha enquanto lavo os pratos, ou quando passamos por aquele parque onde demos nosso primeiro beijo, eu percebo…
O desejo pode queimar.
Mas o amor…
O amor reconstrói.
O tempo passa. E as cicatrizes viram parte do relevo do corpo.
Voltei pra casa. Construí com Jorge uma nova rotina. Café da manhã com pão quente, silêncio confortável no sofá aos domingos, respiração compassada dividindo o mesmo lençol.
E às vezes, também, o peso do que não se diz.
As recaídas voltaram — não com Rodolfo, que agora é apenas um número esquecido. Mas com outros. Homens mais jovens, desconhecidos, passageiros. Um toque aqui, uma transa anônima num motel afastado, um gemido abafado entre paredes que não pertencem a ninguém.
Eu me sentia suja? Às vezes. Livre? Também.
O mais estranho, talvez, fosse a calma de Jorge.
Ele nunca mais perguntou nada.
Nunca mais vasculhou, nem confrontou, nem mencionou sombras. Ele sorria, cozinhava, me abraçava com ternura. E às vezes, quando eu voltava de uma "noite fora com amigas", ele me olhava… e havia algo ali. Algo que não era ingenuidade. Nem suspeita.
Era uma escolha.
A mesma escolha que ele tinha feito quando veio me buscar naquele apartamento.
Ele não precisava saber os detalhes.
Talvez soubesse.
Talvez até gostasse de saber.
Ou talvez estivesse apenas me deixando ser quem eu era, na plenitude da minha imperfeição — amando como sabia amar, aceitando como conseguia aceitar.
Uma noite, voltando de mais uma dessas escapadas, encontrei Jorge acordado no sofá, lendo um livro.
Ele me olhou. Sorriu.
— Te esperei com um chá. Deve estar frio agora.
— Obrigada… — respondi, com a voz um pouco trêmula.
Sentei ao lado dele. Peguei a xícara. Estava morna, ainda.
Bebi um gole, e nossos olhos se cruzaram por um momento mais longo que o necessário.
Ele não perguntou onde eu estive.
Eu não disse.
E naquele silêncio, havia tudo.
Desejo. Amor. Dúvida. Culpa. Perdão. Luxúria. Entrega.
E talvez… cumplicidade.
Dizem que a fidelidade é um contrato.
Mas eu acho que, entre nós, ela virou outra coisa.
Algo mais instintivo, mais animal.
Mais honesto.
Ou mais cruel.
Não sei.
Só sei que, toda noite, continuo voltando pra casa.
E ele continua me esperando.