Jack de LOST (2)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 1385 palavras
Data: 07/05/2025 10:25:38

O sol começava a sair quando acordei. O Jack estava do meu lado. A sua respiração era tranquila e profunda. Dormi agarrado ao braço dele. Depois do ocorrido de ontem, não achei que fosse dormir tão bem. Talvez não tivesse se o Jack não estivesse ali.

Acariciei o braço dele, cheio de pelos, pele macia. Ele tossiu, então, deixei-o em paz. Me sentei na areia e observei ao redor. Algumas pessoas já tinham acordado também.

Apesar do acontecimento desolador, o cenário era lindo. A brisa, o mar, o céu. Um lugar paradisíaco.

— Bom dia.

— Bom dia, Jack.

Ele sentou ao meu lado.

— Como estão as suas costas?

— Bem. Só dolorido, mas eu estou bem. Você fez um ótimo trabalho.

— Que bom. Obrigado.

— Ué. Sou quem agradeçe.

Que sorriso lindo.

— Você está sentindo esse cheiro? É café? — indaguei.

— Parece que sim. Vou ver se consigo um pouco pra gente. Não saia daqui.

Que homem bom, cuidadoso. Não achava que existiam pessoas assim. Não demorou muito e ele voltou com alguns biscoitos e dois copinhos de plástico com café.

— Café da manhã? Humm. Obrigado, Jack.

— Por nada.

Ao tomar o café, não demorou para chegar uma mulher morena e de olhos azuis. Ela e Jack trocaram sorrisos. Pareciam já se conhecer.

— Oi. Sou a Kate.

— Eu sou o Donnie.

— Jack, podemos conversar?

— É claro, Kate.

Sim, se conheciam.

Imaginei qual seria o assunto, que não poderia ser dito ali comigo. Mas em alguns minutos eu saberia.

— O que ela queria? — perguntei ao Jack, quando ele voltou.

— Mais tarde vamos entrar na mata, vamos ver se conseguimos encontrar a cabine do avião.

— Mas e aquele barulho de ontem? Ninguém sabe o que foi. Não é um tanto arriscado?

— Sim. Mas temos que fazer alguma coisa. Temos que tentar.

— Certo. Então, eu vou junto.

— O quê? Não. Aqui é mais seguro. Você fica.

— Jack, eu vou junto. Eu quero ajudar.

Ele fez uma ligeira pausa e disse:

— Está bem — Sorriu.

— Aliás, Jack. o resgate ainda não chegou.

— Pois é. Por isso, vou te pedir um favor.

Jack me levou até um homem caído no chão. Ele tinha um estilhaço do avião cravado na barriga. A cabeça estava enfaixada.

— Ele pode acordar ou ficar se mexendo muito. Você segura ele pelos ombros, tá?

Assenti.

E então, Jack esterelizou as mãos e retirou o fragmento de metal. De repente, o homem despertou por um momento.

— Onde está ela? Onde está ela? — disse ele, com as mãos seguras na camisa do Jack.

E eu tentava conter o homem.

— Ela quem?

O homem desmaiou sem responder o Jack.

— Você encontrou antibiótico? — indaguei.

— Sim. Tive que entrar na cabine do avião.

— Lá dentro?

— Lá dentro.

Os mortos estavam todos lá.

Ao terminar de costurar o corte, Jack enfaixou a barriga do feriado com uma atadura — cobrindo a sutura. Depois pois um comprimido na boca do homem e tentou fazê-lo engolir com um pouco de água. Ele tossiu muito, mas conseguiu tomar.

— Ele vai ficar bem?

— Eu espero que sim, Donnie. Mas, mesmo com esse antibiótico, é um ferimento muito grave para se curar assim. Bom, nessas condições... Vamos torcer para que se recupere. Se a barriga dele ficar rígida, significa que o antibiótico não está funcionando.

— Ele vai ficar aqui jogado? — indaguei.

— Não. Nós vamos tentar fazer uma tenda pra ele.

— Nós?

— É, nós — Jack riu. — Vamos fazer ali do lado. Você me ajuda com o material?

— Ajudo.

E, enquanto colhiamos o material, eu aventurei:

— Podemos fazer uma tenda pra gente também, você não acha?

— Claro. Podemos sim.

Usamos lona como cobertura e outros pedaços do avião para fazer a tenta. Depois, colocamos o homem lá dentro.

Algumas pessoas já tinham montado abrigos, claro, não eram grande coisa. Usaram o que conseguiam.

Tudo pronto, então, era de partir. Pegamos alguns mantimentos, depois fomos encontrar a Kate para irmos à floresta.

— Está pronta?

— Estou, Jack — respondeu Kate.

— Ouvi diz que vocês vão procurar a cabine do avião. Eu também quero ir — disse um rapaz loiro, ao chegar correndo até nós.

Ele não estava com uma cara muito boa. Não deve ter pregado o olho, e parecia estar com frio.

— Não sei se é uma boa ideia, Charlie — Jack contestou.

— Quatro é melhor que três — Kate falou e sorriu.

Jack pensou por quase um minuto e falou:

— Tá legal. Vamos.

E entramos na mata tropical.

Jack e Kate caminhavam lado a lado, enquanto eu estava com o Charlie, um pouco atrás.

— Sabe, eu tenho a impressão que te conheço — falei.

Charlie sorriu e disse:

— Sou de uma banda chamada Drive-Shaft. Já ouviu falar?

— Talvez.

E Charlie começou a cantarolar.

— É. Eu já devo ter ouvido sim — falei. — A propósito, eu sou o Donnie.

— Sou o Charlie.

Um pouco a frente, Kate e Jack pararam. Eles olhavam para cima, para um homem pendurado nos galhos de uma árvore. A pele dele estava com cor de morte.

— Devemos estar perto — disse Jack.

E continuamos andando. Mais um pouco e notamos que alguns galhos das árvores estavam quebrandos e haviam alguns destroços pelo caminho. Mais a frente estava a cabine do avião. Estava com o bico para cima, pendendo numa árvore.

Que bom que achamos porque a chuva estava grossa. Logo, fomos averiguar a cabine do avião.

— Me dê a sua mão, Donnie.

— Obrigado, Jack.

Foi difícil difícil escalar lá dentro, nos agarramos em alguns bancos e no que podia. E enfim, chegamos até os controles do avião.

O estava morto, mas tinha o piloto.

— Ele está vivo? — perguntei.

Jack checou o pulso dele, mas não seria necessário, pois o homem acordou repentinamente.

Jack conversou com ele.

— Perdemos a comunicação antes de fazer o desvio. Eles não sabem onde procurar — disse o piloto. — E o rádio não funciona. Eu já tentei.

— Rádio? — indagou Jack.

— Não funciona. Aqui, peguie.

Jack segurou o rádio e tentou usá-lo.

— Viu só. Tem algum tipo de inferência aqui. Precisam tentar em outro local.

— Vocês viram o Charlie? — Kate indagou. — Ele estava logo atrás da gente. Charlie!

Ela saiu da cabine para procurá-lo. Um minuto depois, encontrou ele. Ouvi as vozes deles:

— Onde estava, Charlie?

— No banheiro.

— No banheiro?

De repente, foi outra coisa que ouvimos. O mesmo estrondo de ontem. Estava perto, vindo até nós, parecendo arrancar as árvores.

— O que é isso? — indagou o piloto.

— Temos que ir — disse Jack.

— Mas o que é isso? — repetiu o homem.

Ele subiu no comando do avião, para sair pelas janelas da cabine.

— Por aí não. Vamos, por aqui — Jack tentou convencê-lo.

— Eu preciso saber o que é isso — insistiu o piloto. E saiu pela janela.

Depois, só ouvimos os gritos dele, enquanto saíamos o mais rápido possível dali. E corremos mata a dentro.

O Charlie prendeu o pé em um cipó e caiu. Eu corria ao lado dele.

— Jack! — chamei-o, para que ele viese me ajudar com o Charlie.

A Kate tinha sumido. Depois que soltamos o Charlie, este correu para um lado e eu segui com o Jack, por outro. O barulho rodeava a gente.

— Vamos, me dê a sua mão — disse-me Jack.

Corremos mais um pouco e chegamos em alguns arbustos cheios. Nos escondemos lá dentro. Jack ficou atrás de mim, meio que me protegendo.

A coisa passou por cima de nós, balançando as árvores. Não deu para ver o que era, não só por conta da chuva mas o terror tomou conta de nós. O aquela coisa fez com piloto não deve ter sido nada bom.

Mas, logo, a coisa sumiu.

A respiração quente do Jack batia na minha orelha esquerda. As mãos dele seguravam forte os braços. E o cheiro dele me sentir algo, uma sensação de prazer, de desejo. Era tão bom estar perto dele.

— Tudo bem, Donnie?

— Sim.

— Então vamos procurar a Kate e o Charlie.

Saímos dos arbustos e voltamos para o caminho onde havíamos nos separado.

A chuva parou.

A Kate e o Charlie já vinham em nossa direção. Então, voltamos para o acampamento na praia. Eu fui bem ao lado do Jack. Aliás, ele que estava ao meu lado o tempo todo. Atento ao caminho, vendo por onde era seguro passar, olhando para mim e sorrindo para mim de vez em quando.

Ali, naquela ilha, depois daquele desastre, naquele fim de mundo, eu estava feliz. Porque, bom... Acho que tinha encontrado o homem da minha vida.

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 0 estrelas.
Incentive L.D. Amaral a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários