Paixão e Sangue - Parte 6 - A grande família

Um conto erótico de Nanda e Mark
Categoria: Heterossexual
Contém 3779 palavras
Data: 08/05/2025 20:55:46

Ricardo não insistiu, mas sabia que agora seria questão de dias para ele avançar sobre aquela nova sensação. No dia seguinte, retornaram radiantes para suas casas. Seus pais não perguntaram, nem queriam, mas sabiam o que havia acontecido. A vida de sonhos parecia perfeita. Apenas parecia…

[CONTINUANDO]

A vida parecia ter ganhado um novo sentido para ambos. Agora, além de seus afazeres cotidianos e o noivado que mantinham, passaram a se esmerar para repetirá as sensações daquele dia tão especial. Foi assim que se tornaram quase coelhos, transando em todos os lugares possíveis e ainda fazendo referência ao bicho fofinho, quase sempre rapidamente, temerosos de serem flagrados. Foi um mês muito intenso em que se esbaldaram um no outro.

No mês seguinte, seguiam naquele ritmo louco de estudo, trabalho, noivado e sexo. Num certo dia, quase no meio do mês, Bruna pediu para Ricardo ir até sua casa, pois ela estaria sozinha e precisavam resolver um sério assunto. Ricardo, imerso nas sensações dionisíacas que o sexo proporciona, já imaginou que a última barreira seria quebrada, naquele caso específico, um certo buraco ainda não explorado.

Na hora combinada, ele foi quase correndo para a casa de Bruna, ansioso, bolsos cheios de camisinhas e uma vontade ainda maior de se acabar nas carnes da noiva. Foi recebido com um sorriso tímido e um semblante meio assustado dela, mas ele sabia que era normal, afinal, era a primeira vez dela. O beijo entre os amantes foi quente, intenso e ela logo sentiu o volume do noivo sobre o seu ventre. Ela então o encarou:

- Estou grávida.

- Oi!?

- Eu… estou grávida, amor. - Bruna repetiu, os lábios agora tremendo de nervosismo.

- Grávida!? Como assim grávida? Eu pensei que… mas como?

Bruna o encarou e apenas balançou os ombros, antes de dizer o óbvio:

- A gente exagerou, ué! E abusou muito… Quase todo dia a gente… - Ela fez um movimento de quadril exemplificando o óbvio: - Né!?

- Ai, meu Deus. Grávida!?

- É… - Bruna resmungou, desabando a bunda grande e redonda no sofá: - Já fiz dois exames de farmácia, mas o que me derrubou mesmo foi o de sangue.

Ela então foi até a sua bolsa e voltou com um papel dobrado nas mãos, entregando-o ao noivo que o abriu e, ao ver a palavra positivo, desbundou igualmente nervoso no sofá:

- Grávida… - Ele falou num tom de lamentação.

- Ricardo…

- Não! - Ricardo a interrompeu e mesmo sem saber o que dizer, falou: - Tá! Vamos pensar… com calma.

- Eu não vou tirar! - Ela se adiantou.

- Tirar!? Cê tá louca? Claro que não! Se aconteceu, aconteceu, ué! Vamos ter que pensar como seguir daqui por diante.

Ela suspirou aliviada ao ouvir as palavras dele e pela primeira vez naquele dia, sorriu de verdade. Ele continuou:

- Quem mais sabe?

- Ninguém ainda. Aliás, ninguém fora o seu Agenor Assis do laboratório, né?

- Tá! O que você quer fazer?

- Como assim?

- Ué… A gente tem que falar para alguém, não tem?

- Meu pai vai me matar e é bem capaz dele te matar também…

Ricardo não acredita que o pai dela o agredisse, mas sabia que iria ouvir um verdadeiro sermão das montanhas dele e também da mãe dela, e também dos seus próprios pais, talvez até mesmo de seus avós, tios, enfim…

- Não dá para esconder isso, Bruna. A gente tem que falar, ué, e seja o que Deus quiser.

Bruna ficou tão feliz com o comportamento honrado do noivo que decidiu naquele momento, entregar seu último limite para ele. Entretanto, ao apalpar o pau do noivo, não encontrou a mesma resistência de quando se beijaram:

- Desanimou, amor?

- Sério que você tá com tesão? - Perguntou ele, respondendo obviamente.

- Nem se eu falar que quero dar o meu “anelzinho”?

- Ah, Bruna… - Resmungou Ricardo, arqueando os ombros para a frente e para baixo, sentindo todo o peso do mundo recair sobre si: - Hoje, desculpa, não tenho cabeça mais para isso.

Ela compreendeu sua situação e o levou para a cozinha, onde lhe serviu bolo de fubá e um café quentinho. Ficaram conversando sobre como proceder dali por diante, decidindo se morariam juntos, se parariam os estudos para trabalharem, enfim, passaram a ter as típicas preocupações de adultos num momento em que adultos não precisariam ser ainda.

Já passava das 17:00 quando os pais de Bruna retornaram e encontraram os dois na cozinha. Eles haviam comido quase metade da travessa de bolo e a garrafa de café se mantinha cheia e fervendo, pois a primeira havia acabado e Bruna coara um novo instantes atrás:

- Ó! Café quentinho, pai! Nossa filha está mesmo querendo casar. - Brincou a mãe de Bruna.

- Melhor cê ter as melhores intenções com a minha filha, Ricardo, senão a cinta vai comer. - Brincou o pai dela no pior momento possível.

Ricardo, embora soubesse ser uma brincadeira, não pode evitar de se encolher na cadeira. Os pais de Bruna então se entreolharam e entenderam que alguma coisa havia acontecido. Sentaram-se à mesa e se serviram de café e bolo. Após a primeira mordida, seu Zé foi direto:

- Certo… O que tá acontecendo?

Bruna e Ricardo se entreolharam por um instante, o silêncio falando mais do que palavras. A mãe dela, dona Maria, arregalou os olhos e depois “firmou a vista” olhando para a filha, cuja pele parecia diferente. Bruna nem teve tempo de falar…

- Cê tá… grávida, fia?

- O quê!? Grávida! - Bradou seu Zé, levantando-se da mesa com as mãos apoiadas sobre o tampo, encarando o jovem casal.

Bruna começou a chorar, confirmando as suspeitas. Só após algumas lágrimas, conseguiu falar:

- Aconteceu, pai…

Seu Zé ficou boquiaberto e as mãos que estavam espalmadas, se fecharam involuntariamente. Dona Maria, sabendo que o marido tinha um antigo problema de pressão alta, colocou gentilmente sua mão sobre a dele e pediu que se acalmasse. Os olhos de seu Zé faiscavam na direção de Ricardo que não ousava encará-lo, mantendo seu foco na sua xícara de café. Após alguns instantes, seu Zé se sentou, ainda sem tirar os olhos deles, mas não aguentou e se levantou novamente, passando a andar de um lado para o outro:

- Ahhhhh, Deus! Gravidez!? Poxa, logo agora? - E passou a repetir sem parar: - Não pode ser uma coisa dessas, não pode ser! Não pode ser uma coisa dessas, não pode ser! Não pode ser uma coisa dessas, não pode ser!

Dona Maria se levantou e foi buscar o tensiômetro para medir a pressão do marido. Trabalhoso foi fazê-lo se sentar. Quando conseguiu convencê-lo e mediu a pressão, já batia 17x11, o que a fez correr para buscar o seu remédio, obrigando-o a tomar com um copo de água do filtro de barro da casa. Esperta, ela também lhe deu um calmante fraquinho que ela usava para dormir em certos dias mais tensos, aproveitando ela própria para também tomar um:

- Cê tá com a pressão alta, mãe? - Perguntou seu Zé, ao vê-la colocar um comprimido na boca e virar o restante do seu copo de água.

- Não, Zé, é que… - Ela titubeou: - É que eu dei um remedinho procê relaxar…

- Remedinho, Maria!? E eu sou lá de homem que precisa de remedinho para se controlar? - Disse seu Zé, invocado, novamente se levantando e saindo da cozinha para a sala da casa, sempre resmungando.

Maria ficou olhando na direção dele até ele sair do ambiente e tão logo sumiu de seu campo de visão, virou-se para os dois e falou:

- Mas que bonito, hein, Bruna!? Grávida! Tantas vezes a gente falou para você se cuidar e você agora me vem com uma dessas!

- Mãe, não foi por querer, só… aconteceu.

- Aconteceu… Aconteceu… - Dona Maria resmungou, esticando a cabeça na direção da porta que separava a cozinha da sala: - Não podia ter acontecido. Vocês são novos demais para isso, nem casados estão ainda.

- Então, dona Maria, a gente estava justamente conversando sobre isso. - Falou Ricardo.

- Ah, é? E o que decidiram?

Na verdade, Ricardo e Bruna haviam conversado a tarde toda sobre vários assuntos, inclusive este, mas ainda não haviam chegado a conclusão nenhuma, fato que ficou estampado em seu rosto quando ele olhou em direção à Bruna:

- Ainda nada, mãe. A gente está perdido.

- Eu sei. Vocês são só duas crianças grandes. - Dona Maria se levantou e foi até a porta, olhando para o marido que, não acostumado ao “remedinho”, já ressonava sentado no sofá: - Bom, pelo menos o Zé dormiu. Seus pais já estão sabendo disso, Ricardo?

Ele apenas balançou a cabeça negativamente e completou:

- Eu acabei de ficar sabendo. A Bruna me contou hoje.

- Então, é melhor você ir para casa e conversar com eles. Mas conta com calma. Tudo o que a gente não precisa é outro velho passando mal.

Ricardo entendeu a “deixa” e se levantou, despedindo-se de todos. Elas o acompanharam, mas dona Maria foi se sentar ao lado do marido, enquanto Bruna foi até a porta, onde lhe deu um beijo. Ricardo saiu andando rápido, mas diminuindo as passadas até quase parar, afinal, não sabia como abordar a questão com seus pais. Nem se deu conta de que já havia chegado, somente notando isso, quando tomou um tapa amigável na nuca de sua irmã mais velha, Esmeralda. Ricardo lhe deu um sorriso amarelo e ela já foi brincando:

- Ihhhh! Brigou com a noiva? Se for isso, é dia da gente ir pra zona! Bebeeer… Bebeeer… Mulher… Meter! Bebeeer… Bebeeer… Mulher… Meter! - Começou a cantarolar.

- Mas você não é mulher, Memê? Pensei que gostasse de homem!

- Ué! Sou muito mulher sim, mas sou uma alma livre, irmãozinho, se eu gostar de alguém, esse alguém é meu, seja homem ou mulher. - Retrucou a irmã, sorrindo.

Ricardo nem se dignou a contestar e já foi entrando em casa. Esmeralda, alheia a tudo, seguiu o irmão mais novo, ainda cantarolando, só parando quando sua mãe apareceu no caminho dos dois:

- Ricardinho brigou com a noiva. É hora de eu levá-lo para a gandaia. - Insistiu a irmã, voltando a cantarolar a musiquinha.

Dona Chiquinha, mulher criada na vida, professora aposentada, deu um tapa que, diferente do de Esmeralda, estalou bonito na bunda da filha mais velha, advertindo-a:

- Cala a boca, pirralha! Não tá vendo que o seu irmão está chateado?

- Ai! Mãe!? Porra! Pequenininha, mas tem uma mão pesada da peste…

Outro tapa ecoou na mesma banda da bunda, seguido de um olhar severo da mãe para ela. Esmeralda entendeu que as regras deveriam ser seguidas naquela casa:

- Desculpa, mãe, foi sem querer. - Disse Esmeralda, resignada, enquanto esfregava a bunda.

Dona Chiquinha abraçou então o Ricardo e o puxou para a cozinha. Esmeralda também foi no embalo, seguindo os dois com um sorrisinho sapeca no rosto. Dona Chiquinha e Ricardo se sentaram à mesa, enquanto a irmã foi bisbilhotar o conteúdo da geladeira, fazendo um barulho característico e se virando com uma lata de cerveja na mão:

- Querem? - Perguntou, sorrindo.

- Agora é hora, Memê? - Perguntou a mãe.

- Toda hora é hora, mãe. - Retrucou a filha, dando uma golada: - Háááá! Além do mais, está um calor infernal hoje.

Nem mesmo as gracinhas da irmã animavam Ricardo que, nesse momento, já rendido pela situação, falou numa objetividade assustadora:

- A Bruna está grávida, mãe.

Dona Chiquinha arregalou os olhos, surpresa. A irmã cuspiu a cerveja que tinha na boca, chamando a atenção de todos e já foi se desculpando, dizendo que iria buscar um pano para limpar a sujeira. Ricardo era a imagem da desolação…

Passados alguns segundos, talvez minutos, em que o único som que se ouvia era do pano escorregando pelo piso de cerâmica fria, como se isso fosse fácil, a mãe decidiu falar:

- Como assim?

- Aconteceu, mãe. A gente… Eu… Ela… Engravidou. É isso!

- Meu Deus do céu… Seu pai vai te matar… - Resmungou a mãe, segurando a testa com uma mão: - Menino… Como que… Camisinha, caramba! Você não sabe usar uma camisinha? É claro que sabe! Fui eu mesma que te ensinei a usar numa banana…

- E eu estava junto! - Falou Esmeralda ainda limpando, de quatro no chão com a bunda empinada num shortinho curto para eles.

- Ah, mãe… A gente pensou que não teria risco. Era a primeira vez, ela não estava no período fértil. Daí… aconteceu.

- Ah, Ricardo… - Chiquinha se endireitou na cadeira, olhando brava para o caçula e criticou num tom zombeteiro: - Quando o pintinho entra na casinha e vomita, pode dar sujeira, filhinho, mesmo que seja no “Open House”.

Chiquinha desviou o olhar para Esmeralda que agora olhava curiosa de baixo para cima, parecendo preocupada com o irmão. Ela então se conteve, respirando profundamente, ainda mais por notar que o caçula se encolhia ainda mais na cadeira, perdido:

- Tá. Aconteceu… - Ela resmungou, respirando profundamente outra vez: - E o que vocês estão pensando em fazer? Não estão pensando em tirar essa criança, né? Porque senão…

- Não, mãe, claro que não! - Ricardo a interrompeu.

- Ah, bom, menos mal…

Esmeralda se levantou e arremessou o pano de chão pela janela da cozinha diretamente no tanque de lavar roupas. Depois, se sentou à mesa e disse:

- Até que a senhora vai dar uma vozinha bem enxuta, hein, dona Chiquinha? Tô até imaginando a senhora nas quermesses de igreja, fazendo bordado ou uma “blusdifri”... - Falou antes de dar outra golada na lata de cerveja, sempre com um sorriso maroto nos lábios.

- Es-me-ral-daaaaa… - Dona Chiquinha a encarou e pôs a própria mão sobre a dela, apertando: - É melhor você sair e me deixar ter uma conversa séria com o seu irmão.

- Mas, mãe…

- Sai! Agora!

Esmeralda sabia que não adiantava argumentar, afinal, quando seu nome era pronunciado lentamente. Levantou-se e saiu na direção da sala, sumindo na porta. Antes mesmo que Chiquinha dissesse algo, ouviu um barulho e um grito:

- Pai! Fala aí, velho? Tá bombadinho, hein? Tá querendo impressionar alguma piriguete, é isso? - Disse Esmeralda, seguido de risadas e gargalhadas.

Chiquinha sabia bem o que significava aquelas gargalhadas, seu marido estava de volta e, como de costume, aplicava uma chave de abraços, seguidos de uma surra de cócegas na primogênita, fazendo-a gargalhar até ficar mole. Ela encarou rapidamente Ricardo e ele mordeu os lábios, nervoso. Assim que o som de farra na sala cessou, Esmeralda novamente gritou:

- Não acredito! Você!?

O semblante de Chiquinha agora mudou. Ela estava curiosa e se levantou rapidamente para bisbilhotar quem seria a visita. Viu de relance a pessoa que havia chegado e sorriu, feliz e satisfeita, retornando à mesa e novamente se sentando. Foram segundos até seu marido entrar na cozinha de braços dados com a Esmeralda, seguidos ainda de Frederico que já abria uma grande sorriso ao rever sua “mãe” e irmão.

Chiquinha novamente se levantou e foi em direção ao marido, dando um beijo suculento e desavergonhado na boca dele, enquanto empurrava a filha na direção do Frederico:

- Ô, mãe, para! - Resmungou Esmeralda.

Somente após saciar seu desejo nos lábios do marido é que ela se dignou a responder a filha:

- É meu marido! Cheguei antes na vida dele e ninguém tomará o meu lugar.

Chiquinha então se soltou do marido e foi cumprimentar a Frederico, seu outro filho de coração. Deu-lhe um abraço apertado e o convidou a se sentar à mesa para tomarem um café. Além disso, disse que seria bom todos estarem reunidos pois tinham que resolver uma questão urgente.

Ela assentou o marido na cabeceira da mesa e desalojou Ricardo de onde estava, afinal, do lado direito do marido, ficava ela, a mãe, sua companheira, sua cúmplice, seu amor. Os demais filhos foram se sentando onde quiseram. Chiquinha então colocou uma travessa de bombocado sobre a mesa e uma garrafa de café quentinho. Esmeralda havia se levantado e se incumbindo de trazer xícaras, pratos, talheres. Com todos sentados, Chiquinha os serviu.

Conversaram assuntos leves e diversificados, vários relacionados à viagem recente do marido e por ele soube que sua xará retornaria em breve de uma viagem aos “States”. Enquanto isso, Fred seria seu hóspede:

- Desde quando o Fred é hóspede, amorzin? Ele é meu filho também! Fico “muito é da feliz” que ele fique aqui conosco. Por mim, ficava para sempre. - Disse Chiquinha.

- Fala isso pra Manu… - Resmungou Marcel, olhando nos olhos da esposa: - Agora mudando de assunto, que questão urgente é essa que você falou há pouco.

Um silêncio pairou na cozinha. Esmeralda olhou para Ricardo que olhou para Chiquinha que olhou para Esmeralda. Marcel olhou para os três, alheio ao que acontecia e depois para Fred que também não entendia nada. Chiquinha olhou para Ricardo novamente e disse:

- Você fala. Seu pai é um homem justo e vai saber como te ajudar.

- O que você andou aprontando, Ricardo? - Marcel falou de imediato.

Ricardo colocou a mão à frente da boca e respirou pesadamente. Depois, correu um olhar rápido por todos, parando no pai. Chiquinha colocou a mão sobre a do marido, chamando a sua atenção, mas que rapidamente voltou ao filho, cobrando uma resposta com um olhar inquisidor. Ricardo, engoliu a seco, e gaguejou enfim:

- A… A Bruna… Então… A… Bruna está… grávida…

A mão de Marcel que até então estava espalmada sobre a mesa, segura pela de Chiquinha, se fechou de imediato, revelando a tensão que o dominou. Ele encarava o filho caçula, ainda sem acreditar no que havia ouvido. Marcel então olhou para a esposa que igualmente o encarava, tensa. Ele então se levantou, ficando de costas para todos, esfregando a mão na testa, enquanto olhava para a janela da cozinha em direção ao nada existencial. Ele ficou em silêncio refletindo até ser interrompido pela esposa:

- Amorzin… Ele disse que foi sem querer.

Marcel se virou em direção à mesa, mas permaneceu onde estava. Seu semblante estava fechado, carregado e ele não poupou no sarcasmo ferino:

- Há! Certamente… Ele deve ter caído com o pau descoberto dentro da xoxota da Bruna… Daí não conseguiu se levantar, não sem antes tentar várias e várias e várias vezes…

Todos o encaravam em silêncio, sabendo que, embora sarcástico, havia razão em suas palavras:

- Aconteceu!? Não tem essa de “aconteceu”... Vocês, todos vocês, sempre foram educados e orientados a se protegerem. Nunca faltou informação da gente ou liberdade para vocês perguntarem sobre qualquer coisa aqui em casa. Desde sempre a gente fala, “vai transar, usa camisinha” e não é só por conta de gravidez não, é para não pegarem uma doença, uma DST, uma AIDS…

Marcel se calou e se encostou na pia da cozinha, respirando profundamente, enquanto olhava para o teto da cozinha, inconformado com o caçula. Chiquinha se levantou e foi até ele, repousando a sua mão em seu peito, uma forma que aprendeu há tempos para lhe trazer paz e calma:

- Só respira, amorzin… - Ela cochichou próximo ao seu ouvido: - Eu estou aqui e vou permanecer o tempo que você precisar. Relaxa e foca em mim.

- Difícil, hein? - Ele resmungou ainda olhando para o teto.

Um silêncio novamente inundou a cozinha. Parecia que ninguém ousava sequer pensar naquele momento, sob pena de irritar o patriarca da família. Marcel finalmente voltou a encarar a mesa, mas logo olhou para a esposa que ainda estava ao seu lado, com a mão ainda em seu peito. Ele sorriu, um sorriso verdadeiro de gratidão pela calma e equilíbrio que a esposa sempre soube lhe passar, e a beijou na testa. Pegou então em sua mão e a colocou em seu braço, trazendo-a de volta à mesa, sentando-a e a ajeitando carinhosamente. Depois, ele próprio se sentou. Todos olhavam para ele:

- Quantos meses? - Marcel perguntou.

- Eu… Eu não sei. Acho que um, porque ela perdeu a virgindade comigo há pouco tempo.

- A Bruna já fez algum exame? - Perguntou Chiquinha.

Ricardo tirou um papel dobrado do bolso, o mesmo resultado do exame de sangue e entregou à mãe que deu uma lida, mostrando ao marido que fez o mesmo:

- Bom, não aconteceu. Esse termo não existe, é errado. Você engravidou a sua noiva, você foi imprudente e você irá arcar com as consequências.

- Eu vou, pai, é claro.

- Os pais dela já sabem?

Ricardo contou o que havia se sucedido na casa de Bruna. Esmeralda, a mais serelepe da casa, esboçou um sorriso que murchou com um simples olhar do pai. A conversa se estendeu e aquele café da tarde se transformou em jantar. No final, o clima estava bem mais ameno, Esmeralda e Fred já disputavam para saber quem seria o tio que mais desencaminharia o bebê. Até mesmo Marcel e Chiquinha já começavam a pensar na condição de avós:

- Você até pode estar gostando da história, caboclinha, mas ainda quero ver a cara da Manu ao saber que vai ser avó.

- Nossa! Ela vai surtar… - Gargalhou Chiquinha.

Coincidentemente, naquele momento Fred recebeu uma ligação, uma chamada de vídeo da mãe. Antes de atender, perguntou se poderia contar a novidade. Marcel disse que preferia contar pessoalmente.

Fred atendeu a mãe e conversaram. Logo, a chamada virtual se estendeu a todos e naturalmente a informação não ficou guardada por muito tempo, porque Memê, sendo a Memê, abriu o bocão carnudo:

- Cara, difícil saber quem será a vovó mais gostosa, se a minha mãe, ou se a minha mamãe…

Manu que segurava uma taça de vinho, pois jantava nos “States”, encarou séria a tela, piscou algumas vezes e pediu:

- Como é que é? Repete Memê!

- Ué! Eu… Eu… só disse que… - Esmeralda engoliu a seco, vendo que sua língua grande havia denunciado o irmão.

Todos a encararam e Marcel falou:

- Agora você conta, caramba!

Esmeralda deu um sorrisinho sapeca novamente, daqueles que desmontam a pior tempestade possível e falou, olhando para a tela do celular:

- Ricardinho emprenhou a noiva. Você vai ser vovó, Manu. Parabéns!

Manu ficou boquiaberta. Repousou a taça sobre a mesa e ficou olhando para o nada por segundos, em silêncio. Depois, voltou a encarar o aparelho e despejou uma série de críticas, praticamente repetindo tudo o que já havia sido dito, verdadeiros puxões de orelha virtual contra Ricardo e terminou dizendo:

- Sorte sua que eu não estou aí, menino, senão eu te daria umas boas palmadas.

A Ricardo só competia concordar. Esmeralda, entretanto, perdia a amizade, mas não perdia a piada:

- Acho que a mamãe Chiquinha vai se dar melhor. A mãe Manu é muito estressada. Daqui a pouco vai ficar ranzinza igual a “Bruxa do 71”.

A mesa virou uma algazarra: Fred cutucava Memê; Memê cutucava Fred; Marcel e Chiquinha davam risada; Manu discutia com Memê, mas sempre com um sorriso no rosto; e Ricardo? Bem, Ricardo sabia que a noite seria longa, mas sabia que a sua família nunca o deixaria desamparado.

[CONTINUA]

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DA AUTORA, SOB AS PENAS DA LEI.

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Comentários

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Caramba essa parte da estória foi encantadora, duas famílias maravilhosas, uma tradicional, reativa na dose certa, funcional e dando apoio ao ato irresponsável, com consequências irreversíveis, do jovem casal, ao invés de somente condenar; a outra nem tão tradicional, alternativa, extremamente funcional, também reativa na dose certa, mas também dando o devido suporte nessa situação delicada, muito amor envolvido nas duas famílias, gostoso de ler, é quase uma utopia, mesmo assim muito prazeroso observar reações tão ponderadas em famílias tão diferentes, me faz pensar que família ainda é muito importante para a humanidade, mesmo nesses tempos que o individualismo está isolando e consequentemente mudando comportamentos sociais, levando ao enfraquecimento dos laços familiares. Parabéns, muito bom.

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Não entendi essa parte final. O Ricardo tem duas mães??

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Ricardo vem de uma família poligamica, pelo menos foi a impressão que eu tive.

Neste modelo familiar o desejado que no caso de duas ou mais mães ou pais, todos os filhos gerados deste relacionamento, tenham direitos e deveres assegurados, por todos os membros adultos da família, independentemente do laço cosanguineo, ou seja, poderão ter duas ou mais mães (ou pais), conforme o caso.

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Não entendi nada esse trecho " Ricardinho emprenhou a noiva. Você vai ser vovó, Manu. Parabéns!" Quem é essa Manu ? Se a Mãe do Ricardo é a Chiquinha?

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