ALERTA VERMELHO: Emergência Escolar

Um conto erótico de Lore <3
Categoria: Lésbicas
Contém 4262 palavras
Data: 12/05/2025 17:19:30

~ Só para deixar claro: não fui acordada com uma sentada violenta 😞

Não foram as férias mais perfeitas das nossas vidas. Eu não pude estar tão presente quanto gostaria. Já havíamos combinado de não ir a lugares tão distantes por causa da mobilidade de Loren, então um resort na Praia do Forte foi a melhor escolha. Kaique e Milena tinham participado de um passeio escolar recentemente e curtiram muito; isso também contribuiu na decisão, sem falar que é um point que nos traz boas recordações.

A grande indecisão mesmo se deu por causa dos meus tantos afazeres. Eu teria que me ausentar do lazer, e isso também implicava na minha permanência por alguns dias em Salvador. Pela cruz chamada ansiedade que eu carregava, foi uma preocupação para a minha gatinha, e combinamos que ela me acompanharia de vez em quando. Mas isso acabou não se concretizando muito bem, porque eu consegui reverter a situação na maioria das vezes. Não quis comprometer as férias com minhas obrigações.

Foi um tempo muito bem gasto e aproveitado. Apesar da saudade, consegui adiantar muita coisa. Dei o meu sim oficial ao Psiquilord e tratei com o pessoal dele, já tendo acesso às informações necessárias para me organizar melhor na nova rotina. Supervisionei, na companhia do meu pai, o final da obra. O meu coroa é realmente muito bom em ficar à frente desse tipo de coisa. Foi só ele chegar que o processo andou. Finalizei a consultoria para o curta-metragem — o filme estava para ser lançado ainda naquele ano. Já consegui agendar a mudança do mobiliário para a clínica e fazer toda a compra dos novos equipamentos.

Ao mesmo tempo que era uma realização tornar a clínica no que eu sempre sonhei, não estar tão à frente inicialmente mexeu comigo. Era a concretização de um sonho que tinha ganhado corpo, forma, mais espaço, e que naquele momento precisava de mais mãos, mais corações. Eu ia necessitar de uma equipe bem maior agora, e eu tinha contato com pessoas muito boas que trilharam árduos caminhos comigo. Era imensurável a alegria no meu coração em entrar em contato para poder fazer uma proposta. Era quase como um reencontro com pedaços da minha própria história — gente que segurou minha mão nos momentos mais incertos, que me viu carregar o peso das minhas próprias escolhas, testemunhou o meu crescimento profissional, presenciou a minha gravidez, acompanhou o crescimento de Mih... No fundo, essa expansão era mais do que paredes, consultórios e equipamentos novos. Era sobre pessoas. Sobre reencontrar aqueles que, de alguma forma, também tinham deixado um pedacinho de si em tudo isso!

~ Graças a Deus eu não tive problemas em resolver esse emaranhado de afazeres em que estava envolvida, porém é bom vocês observarem a quantidade de coisas em que me envolvi de uma só vez e sem perceber.

2020 prometia muitas coisas... 🤦🏽‍♀️😂

Quando as férias acabaram, se ouvia falar em COVID-19, mas não na magnitude que hoje conhecemos. Ainda não havia chegado ao Brasil e, para falar a verdade, eu não estava muito inteirada no assunto por estar resolvendo tantos B.O.s.

Então eu estava ali, planejando um final de semana em família e outro somente com Juh. Eu tinha encontrado um lugar bem aconchegante no Instagram, com umas casas e cabanas interessantes. Parecia ter uma vibe quietinha no meio da natureza, do jeito que nós duas gostamos, e não ficava muito longe — menos de 1h30min da nossa casa, bem próximo à Praia do Forte. Eu ainda não sabia, mas o nosso novo ninho de amor se encontrava em um distrito chamado Imbassaí.

A primeira semana de aula foi tranquila. Infelizmente, não dava mais para almoçar com Júlia de vez em quando, como estávamos fazendo, e também não conseguia mais buscá-los no colégio — eu chegava um pouco mais tarde. Apesar dessas mudanças pequenas, mas impactantes, eu me sentia bastante entusiasmada com tudo. E Juh... essa muié é incrível. Ela sabia que era importante para mim me sentir viva em relação ao meu trabalho e festejava cada passo junto comigo, mesmo a gente evidenciando a saudade que sentíamos a cada segundo.

Eu levava um dia normal (corrido) na filial, quando recebo uma ligação da gatinha.

— Amor, você está muuuuito ocupada? — ela perguntou.

Em poucos instantes haveria um processo seletivo, no qual a minha presença não era essencial, porém eu queria estar presente. Fora as inúmeras tarefas que dependiam de mim para serem executadas.

— Aconteceu algo, amor? — questionei, sem responder à pergunta.

— Não tenho como sair daqui e Mih precisa de uma roupa — ela me disse.

De fundo, ouvi Milena choramingar algo que não entendi.

— Aconteceu algo? Ela se machucou? — questionei.

— Não, ela tá bem, só esqueceu mesmo — Juh me respondeu, o que me deixou mais calma.

— Tá bom, vou pedir para alguém entregar aí... É uniforme ou roupa normal? — perguntei.

E, após alguns segundos em silêncio, Júlia suspirou.

— Lore, tem como você vir? — minha muié disse, em um tom sério.

— Eu vou... — falei, derrotada.

— Entra, nós vamos conversar — Juh me disse antes de desligar.

Nesse momento, eu tinha certeza de que o meu paraíso estava prestes a ruir. Com certeza a paciência de Júlia havia chegado ao fim em relação à divisão injusta do meu tempo.

Fui em casa, peguei um uniforme e uma roupa comum, já que ela não tinha especificado, e me dirigi rapidamente para o colégio. Logo na portaria, disseram que ela estava à minha espera. Entrei no elevador e percorri o corredor até a sala dela com o coração na mão.

Mesmo que fôssemos começar uma discussão, eu não poderia demorar... Minha cabeça estava a mil!

— Mãe! — exclamou Kaique, me arrancando dos meus pensamentos catastróficos.

— Oi, filho, por que tá fora da sala? — perguntei.

— Ainda bem que a senhora chegou, tem algum problema com Mih, acho que ela se machucou — ele me informou, e a preocupação dobrou dentro de mim.

Entramos juntos na sala, e Milena estava toda encolhida no colo de Juh, com o rostinho inchado e avermelhado de tanto chorar.

— Não, Kaique, não!!! — ela exclamou, se debatendo.

— Calma aí — a repreendi. — O que está acontecendo? Não precisa falar assim com seu irmão que só tá preocupado contigo.

Kaká estava sem entender nada e se assustou um pouco, preferindo retornar para a sala.

— Amor... — iniciou Juh.

E Milena correu para junto de mim, em lágrimas.

— O que aconteceu??? — perguntei para as duas, querendo entender o motivo daquele desespero.

Júlia levantou-se e veio até nós. Com toda calma do mundo, carregou Mih, fazendo carinho em suas costas.

— Conta, filha, você não queria que a mamãe viesse até aqui? — ela disse, dando alguns beijinhos.

Milena estava novamente encolhida nos braços de Juh, parecia vulnerável.

— Mãe, eu tive menstruação e quero ir pra casa agora — Mih falou, se jogando de uma vez em cima de mim.

Lembro de arregalar os olhos para Júlia enquanto processava a informação que nem por um minuto havia passado pela minha cabeça — por mais óbvio que parecesse, se eu apenas ligasse um fato ao outro.

— Calma, linda, não precisa ir para casa... Tá tudo bem, viu?! — dizia Juh, agora com um sorriso sutil no rosto.

E eu seguia calada. Sem dúvidas, não esperava que ocorresse tão cedo.

— Quero ir para casa, quero ir para casa... — Mih insistia.

— Ei... — comecei a dizer e fui sentando em um sofazinho atrás de mim. — A gente sabia que isso ia acontecer um dia, não sabia? — perguntei, e ela confirmou, balançando a cabeça positivamente de forma lenta. — Eu confesso que não imaginava que teria uma mocinha tão cedo, mas eu devia prever isso, sabe por quê? — questionei, e Milena negou, me olhando nos olhos. — Porque você sempre foi pra frente — brinquei, e ela deu um sorrisinho. — Estou brincando. É porque você é diferente... Eu deveria saber que a menina mais especial dessa família iria me surpreender novamente... — expliquei, fazendo carinho em seu rosto. — Então, não precisa ter medo, ok? A mamãe e eu estamos aqui para te ajudar nessa nova fase. Você vai ser incrível como sempre foi em todas as outras. Não tenho dúvidas disso! — concluí.

— Eu também não — completou Juh, dando muitos beijinhos nela.

— Mas eu não quero isso... — Milena disse, depois de algum tempo.

— Olha, filha, eu não quero até hoje... Então, te entendo muito bem — falou Júlia, suspirando, e eu ri.

— É um pouco chatinho mesmo, ninguém gosta... Porém, é um jeito novo do seu corpo informar que você está se desenvolvendo, que tá tudo bem com ele, entende? — questionei.

— Mas eu sou criança, não vou ter um bebê agora. Meu corpo não precisa me dizer que não tem bebê aqui dentro porque eu sei que não tem, eu sou criança — ela me respondeu, voltando a chorar.

~ Às vezes é difícil ter uma filha inteligente que tem resposta para tudo na ponta da língua 🤣

— Tem coisas que nós não escolhemos, filha, e essa é uma delas... E você, assim como a gente, vai aprender a lidar da melhor maneira. Tem dias que serão mais difíceis que outros, mas em todos nós estaremos contigo — falou Juh.

— Não posso ir pra casa? — Mih perguntou, mais calma.

— O problema é que não tem ninguém em casa. Já tenho que voltar para o trabalho, tenho muitas coisas para fazer hoje ainda — disse-lhe.

— Você tá sentindo alguma dor? — Juh questionou, e ela negou. — Então, amor...

— Mas eu estou me sentindo nojenta — Mih falou, em um tom extremamente chateado.

— Vem, vamos tomar um banho... — Júlia a convidou, e ela foi, mas me puxando pela mão.

Foi então que eu vi que não tinha nada de errado com o uniforme que ela usava, provavelmente foi somente a sensação.

— A mamãe ensinou a usar — Milena falou, mostrando o absorvente, cheia de repulsa.

— A mamãe é nota dez — falei, segurando Juh pela cintura para um beijo.

Fiz menção em fechar a porta, mas Milena não deixou, me impedindo com a mão.

— Não quero ficar sozinha e não vai embora... Vai que eu perco todo meu sangue e morro — ela pediu e nos fez rir.

~ Coitada, nem sabia que aquelas manchinhas que ela via naquele momento não se comparavam ao que viria pela frente...

Ela trocou de roupa, guardou o uniforme em não sei quantos sacos e deixou na sala de Juh, como se fosse algo que ninguém mais pudesse saber que ocorreu. Milena parecia estar escondendo os trajes de alguém que cometeu um crime, e isso deixou a situação um pouco engraçada.

A mandamos para a sala de aula e, assim que Mih saiu, Juh me abraçou, sorrindo de forma doce.

— Meu Deus, ela era um toquinho de gente até outro dia... — falou, me empurrando para o sofá.

— Pra você ver... Meu Deus, achei que ia chegar aqui e encontrar um cenário totalmente diferente, com você braba comigo... — desabafei, relaxando o meu corpo.

— Ah, é? Por que eu estaria brava contigo? — Juh questionou, de um jeito sensual, antes de tomar minha boca em um beijo.

Foi um beijo inesperado, pelo desejo que a gatinha demonstrou, o jeito que segurava no meu rosto, com firmeza, controlando a intensidade em movimentos lentos. Sem nem perceber, fui deitando naquele estofado, sem desgrudar minhas mãos do corpo dela, trazendo aquela bela mulher para mais perto de mim.

E, percebendo que vários limites estavam sendo ultrapassados, Júlia em um rápido movimento, virou meu rosto, deixando o seu cair sobre o meu pescoço.

— Agora deu vontade de criar uma emergência todos os dias pra ter você por mais alguns minutos — ela disse, ofegante, em um sussurro.

— Pra você me agarrar desse jeito na sua sala... Eu tô deixando a desejar em casa mesmo... — falei, rindo.

E acho que foi aí que Juh teve dimensão de onde estávamos, porque levantou imediatamente, até um pouco sem graça.

Eu queria muito brincar com a situação, chamá-la de assanhada e deixá-la toda vermelhinha, lembrando quem foi que me agarrou. Porém, precisava partir o quanto antes.

Recebi uma ligação e, logo depois, entrou uma professora para tratar algo com Juh. Não deu nem pra nos despedirmos direito.

— Amor, vou indo... A cabeça do Kaká deve estar a mil, sem entender nada. Quando der, passa por lá e diz que conversamos com ele melhor à noite, tá? — e me estiquei para um selinho.

— Tá bom, amor — ela respondeu, bem desconcertada.

~ A bichinha ficou com vergonha 🤏🏽🤣

Voei para o hospital e coloquei a mão na massa. Infelizmente, perdi toda a seleção feita. Contudo, haveriam outras fases em que eu poderia me fazer presente. Foi um longo dia, cheio de pequenas e grandes intercorrências, tanto que precisei mandar uma mensagem pra gata avisando que chegaria um pouquinho mais tarde.

Quando entrei em casa, Milena estava deitada no colo de Kaique, que parecia visivelmente confuso. Ele quase gritava por socorro enquanto fazia um medroso cafuné no cabelo da irmã, que assistia a um desenho qualquer na televisão.

— Mãe, a senhora demorou muito. Eu queria conversar com o papai e com o Kaká — ela disparou ao me ver.

— Demorei, mas cheguei. Dá tempo de fazer tudo isso... — falei, dando um beijinho em cada um.

Kaique estava mudo. Parecia que, se ele parasse aquele carinho, uma guerra aconteceria. Mas era inegável que ele havia conseguido amansar a fera.

Perguntei por Juh, e Milena me informou que ela estava no banho. Eu segui para acompanhá-la e me inteirar sobre o que estava acontecendo.

— E aí, amor, como foi depois que saí? — perguntei, a abraçando e deixando meu cabelo ser molhado.

— Nossa, amor, você ia rir muito do Kaká — ela disse, já rindo. — Fui conversar com ele e ele todo confuso: "Mamãe, não tô entendendo... agora ela chegou carinhosa, mas antes ela estava muito brava e eu não tinha feito nada, eu juro!" — e eu comecei a rir também. — Eu só falei que a gente conversava em casa e pra ele ser o irmãozinho mais amoroso do mundo inteiro porque ela ia precisar.

— Ele está lá, coitado, fazendo carinho como se estivesse sob a mira de uma arma — brinquei.

— Foi o Kaká que chegou com a Mih lá na sala, desesperado, dizendo que ela viu sangue... E como ela já sabia mais ou menos o que era, ficou com vergonha, não queria falar nada na frente dele. Agora é até engraçado, mas na hora achei que Mih havia se machucado — Juh contou.

— Imagino. Quando eu cheguei também senti um certo desespero por não entender direito o que estava acontecendo... — falei, e dei um beijinho nela.

— Tô com tanta saudade... — Júlia disse, se agarrando a mim.

— Eu percebi lá na sua sala... — ironizei.

— Ai, amor... Me passei, me passei... Fiquei me sentindo uma idiota depois. Poderia ter dado muito errado — Juh falou, em um tom chateado.

— Pior que sim. Logo depois, aquela muié lá entrou... Ia dar de cara com seus dedos trabalhando longe de uma caneta — brinquei, e ela me deu um tapinha, rindo.

— Eu sei que você tá pensando que a gente vai fazer amor agora, mas não vamos, porque Milena pode estar arrancando os cabelos de Kaique nesse exato momento. E ela quer que o pai dela saiba, mas tá com vergonha... Então você vai ter que bater um papinho com ele — Juh disparou, me deu vários selinhos e saiu enrolada em uma toalha.

— Ei... — A chamei, ainda tonta de tantas palavras que ela soltou de uma vez — Eu não estava pensando em nada... — Tentei parecer convincente — Essa privação involuntária de sexo por falta de tempo tá te fazendo mal, em? Aceita resolver isso hoje a noite? — Tentei e ela confirmou, sorrindo.

Me dirigi para a sala ao finalizar o meu banho e Juh estava mostrando uma conversa com o novo adestrador do Brad. Ele havia dito que estava caindo fora porque, para ele, era um caso irreversível. As duas estavam rindo, e Mih agora estava com a cabeça apoiada em cima do dog.

Ficamos um tempo ali, nos divertindo ao lembrar das pataquadas que aquele cão já havia aprontado, até que olhei o horário e percebi que era melhor adiantar o assunto, ou ficaria muito tarde para uma ligação.

— Quer conversar com o Kaká primeiro e depois ligamos para seu pai? — perguntei.

— Não, mãe, os dois de vez, pra não precisar falar duas vezes — ela pediu.

Fiquei sentada com Milena entre as pernas e Juh, de frente para nós, com Kaique na mesma posição, segurando o celular. Mih que nos organizou metodicamente.

O pai dela não demorou a atender, e ela mesma fez uma breve e direta introdução:

— Papai, aconteceu uma coisa, e minha mãe vai explicar para o senhor e para o meu irmãozinho. Vocês são meninos e eu tenho vergonha — disse minha filha.

— Aprontou? — ele perguntou, e Mih negou, já segurando minha coxa para que eu me apressasse.

De qualquer jeito que eu falasse, o meu ex entenderia, então foquei em falar de um jeito que meu filho compreendesse e que minha filha não se sentisse envergonhada.

— Então... Todos nós passamos por fases — comecei, respirando fundo e tentando ser o mais clara possível. — E hoje, Mih passou por uma que acontece com todas as meninas, normalmente quando o corpo começa a mostrar que está crescendo. Milena menstruou — falei, finalmente.

Kaique e o pai de Milena arregalaram os olhos quase que no mesmo instante.

— Meu Deus, filhaaaa! — ele disse. — Parabéns, minha mocinha! — falou de um jeito carinhoso.

Mih segurava minha mão com força e não dizia nada.

— Não precisa ter vergonha do papai, o papai entende... E aí, como foi pra você? — ele questionou.

— Papai, eu só queria contar... Tchau, beijo, te amo, tô com vergonha — ela disse, apertando o celular várias vezes para desligar o mais rápido possível.

Eu comecei a rir do desespero que o assunto causava nela.

— Dói? — perguntou Kaká, repentinamente.

— Dói... — Mih respondeu.

— Ah! Dei um remédio pra ela, amor, sentiu cólica — Juh me informou, e eu assenti.

Kaique engatinhou até ela para dar um abraço. Ele parecia bastante preocupado, e eu quis tranquilizá-lo.

— Mas ela tá bem, filho. Não é uma doença, não tem nada de errado com ela. É só uma mudança natural do corpo da mulher — falei.

— E por que ela ficou tão triste, tão... brava? — ele perguntou, de maneira sincera, olhando para a irmã cheio de carinho.

— Porque mexe com os hormônios, porque é novidade, porque dá vergonha no começo e porque pode ser desconfortável às vezes. Mas Mih é forte, inteligente e tem a gente com ela. E você também pode ajudar muito, só sendo o irmão incrível que sempre é — falei, acariciando os rostinhos deles.

— Eu fiquei com medo quando a vi chorando... — Kaique confessou, apertando o abraço.

— Isso mostra que você se importa. E olha, você já sabe que isso faz parte da vida das meninas, tá bom? É algo íntimo, que merece respeito e cuidado. Se Mih quiser conversar, ela fala. Se quiser só um carinho ou um chocolate, você dá um jeito! — Juh completou, sorrindo.

— E também, Mih, é bom ser consciente, aprender a lidar com esses dias. Ninguém tem culpa de nada, e não podemos despejar o que sentimos em quem não tem culpa alguma... Mas isso você aprende com o tempo. O seu próprio corpo vai te mostrar, e nós vamos marcar direitinho para te ajudar — falei, e ela assentiu.

— Não pode contar pra ninguém, Kaká — Mih falou, num tom baixinho.

— Não, é o nosso segredo — ele disse, sorrindo docemente para ela.

— Mais um? — brinquei.

— Mais um!!! — eles confirmaram juntos, com as carinhas mais relaxadas que conheço.

Fomos colocar os dois para dormir, primeiro Kaká. Enquanto ele se ajeitava na cama e Juh enfatizava o quanto ele tinha sido um ótimo irmão e o aconselhava a dobrar a paciência porque Mih ficaria mais sensível nesses períodos, eu fui pensando: “Poxa, a menarca é tão comentada... Obviamente por ser algo recorrente e involuntário, chama mais atenção. Eles ouvem falar e aprendem no colégio. E a semenarca, não...”

Eu, pelo menos, nunca tinha conversado com Kaique sobre isso e nem sabia se já havia acontecido com ele. Sei que, para meninos, é mais simples, mas com certeza deve causar estranheza perceber seu corpo mudar e não ter ninguém ali para te amparar, dizer que é normal e instruir no que deve ser feito.

Apesar deles terem a mesma idade, como vocês sabem, eu sou mãe de menina há mais tempo, e por ser mulher casada com uma mulher, o assunto menstruação era bem comum e nunca foi tabu. Ou seja, eu estava tecnicamente preparada para aquele momento. Até aquele instante, eu nunca havia pensado em ir além com Kaká. Já havia falado sobre pelos, odor corporal e voz mais grave, porém decidi aproveitar a oportunidade para deixar claro que era completamente normal.

— Filho, você já sentiu alguma mudança no seu corpo? Não sei... Já acordou com a cueca meio melada? Algo assim... — iniciei.

Juh me olhou atenta, e Kaique ficou bem pensativo. Ele é um garoto bem expressivo, então logo percebi que ele tinha algo a contar.

— Às vezes... — ele começou a contar, sussurrando, como se fosse um segredo — tenho uns sonhos muito esquisitos... — Eu estava prestes a interromper quando ele continuou — É sempre na água, tomando banho, na praia, na piscina... Sonho que estou fazendo xixi e tenho que acordar e correr muito rápido pro banheiro, porque senão faço na cama. Aí molha um pouquinho a cueca. É isso? — ele finalizou, questionando.

Definitivamente — e graças a Deus — não era o que eu achei que ouviria quando ele iniciou esse papo de sonho esquisito.

Júlia prendeu o riso, e eu também. Então demos continuidade à conversa.

— Não, Kaká, mas seu corpo também vai apresentar sinais de que está mudando... Pelos onde não tem — e fui tocando nas partes, fazendo cócegas — sua voz vai mudar, começa oscilando, ora fina, ora mais grossa. Seu cheiro vai ficar mais forte. Você terá que caprichar no banho, no desodorante e no perfume, porque eu não quero ter filho fedido aqui em casa — brinquei, e ele ria — E há outra coisinha também. O seu corpo vai começar a produzir as sementinhas que geram filhos, e ele vai te dar sinais, assim como o da Mih também deu.

— Espermatozoide? — ele perguntou, curioso.

~ Às vezes é duro ter filho inteligente, que nomeia tudo corretamente e te deixa parecendo uma besta quadrada usando meias palavras 🤣

— Exatamente. É "semenarca" o nome, e essas coisas acontecem normalmente, pode ser até enquanto você dorme. É completamente normal, todo menino passa por isso, cada um no seu tempo... Só quero te assegurar que, quando acontecer, não precisa se preocupar e pode chamar a gente pra conversar, tá bom? — falei.

— Tá bom, mãe — ele confirmou, com um sorriso.

— Não te obriga a virar adulto da noite pro dia. É só o seu corpo te dizendo que está crescendo e amadurecendo... — complementou Juh, perfeitamente.

— Eu vou ser um rapazinho — Kaká concluiu, e nós assentimos.

— Mas pra sempre nosso bebê — brinquei, enquanto o abraçava para me despedir.

Quando já estávamos na porta, ele disse, agora com um sorriso mais tímido:

— Eu vou contar quando acontecer.

— Certo. Nós vamos conversar direitinho pra te aconselhar — falei.

Foi um diálogo importante e muito bom. Ele tinha o total direito de não contar, mas ouvir que, pelo menos até ali, Kaique tinha o desejo e a confiança de se abrir com a gente foi bem satisfatório.

Partimos para o segundo round e entramos no quarto de Milena, que estava com um plástico imenso sobre a cama e já com outro pijama.

— Não quero sujar meu lençol — ela se justificou, ao nos encarar.

— Não precisa disso, filha. E se sujar, nós podemos limpar. Tá tudo bem! — falou a minha gatinha, já retirando o plástico.

~ Vocês não fazem ideia da realização que é, para Juh, poder dizer essa frase. Por isso que eu sempre digo que uma introdução das nossas histórias faz falta.

Mih se jogou no colo dela e deu um suspiro longo.

— É muito difícil ser mulher! — exclamou, com as mãos nas têmporas.

Foi inevitável conter o riso.

— Tenho que concordar contigo... — falei, me sentando ao lado dela.

— Agora eu não sou mais neném de vocês, não é? — Mih perguntou, visivelmente triste.

— Você dizia que não era mais... Ficou triste? — perguntei, em um tom desconfiado.

— Não, é que... — ela começou a se justificar, e eu interrompi.

— Claro que é... Sempre vai ser! — disse, a abraçando.

— E seu irmão também... — complementou Júlia.

Depois de algum tempo com ela, tirando algumas dúvidas, Juh teve uma ideia para que pudéssemos todas descansar sem deixar qualquer ponta solta.

— Que tal uma noite das garotas? A gente marca e nós contamos como aconteceu com a gente também — sugeriu o meu amor.

— Enquanto tomamos sorvete!!!! — Mih exclamou animada, pela primeira vez naquele dia.

— Fechado, então! — falei.

Demos mais um beijo de boa noite e eu fui jantar, estava morrendo de fome, e a gatinha preparou o meu prato enquanto a gente babava comentando sobre como nossos gurizinhos estavam crescendo.

— Esse é um daqueles dias que nós vamos lembrar pra sempre, não é, amor? — ela questionou.

— Sim... E vamos rir à beça — constatei, e dei um beijo em sua testa.

— Marquei um ginecologista pra nossa filha — Juh disse, toda feliz.

— Que frase estranha de ouvir — falei.

— Verdade... — ela concordou. — É no meio da semana. Você não pode, não é? — questionou, e eu neguei. Mas ela fez questão de me tranquilizar, dizendo que me contaria tudo.

Após o jantar, deitamos no sofá. Lembro de receber um cafuné muito gostoso, com alguns beijos carinhosos no pescoço... e acabou a mulher. Acordei somente no outro dia com uma gatinha em cima de mim completamente apagada e o meu lado direito completamente dormente.

PS: Prometi uma noite quente e entreguei uma noite inconsciente 🤣🤣🤣🤣🤣

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Foto de perfil de Lore Lore Contos: 112Seguidores: 42Seguindo: 4Mensagem Bem-vindos(as) ao meu cantinho especial, onde compartilho minha história de amor real e intensa! ❤️‍🔥

Comentários

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Legal a forma como vocês acolheram a Mih nesse momento delicado.

Quando eu tinha a idade da Mih e do Kaka, eu não tive praticamente nenhuma orientação neste sentido.

Sobre menstruação, por exemplo, eu fui entendendo de fato com namoradas que tive ao longo da vida. E a medida que fui compreendendo ajudou a mudar a forma como enxergo o corpo da mulher, as emoções, os ciclos, etc

Ajudou a entender melhor também o meu papel como companheiro.

Por isso a educação que vocês oferecem aos seus filhos é admirável.👏

É fundamental que meninos cresçam entendendo a menstruação de forma natural e respeitosa

O texto pode ter ficado longo, mas foi necessário👍

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A gente acredita muito que esse tipo de acolhimento e conversa precisa acontecer com naturalidade, porque é algo natural do corpo humano, só causa estranheza porque, como nós agora brincamos, é uma nova atualização desbloqueada 🤷🏽‍♀️

Juh e eu sempre reforçamos que nossa casa é um ambiente onde Mih e Kaká estão seguros para perguntar qualquer coisa, o fato deles não terem filtro sempre nos causou situações bem cômicas e que ficam guardadas na memória 🥰

O jeitinho que eles lidam com tudo e a parceria deles sempre me deixa com o coração quentinho e orgulhosa, não tenho do que me queixar ❤️

A gente diz que esse foi o último dia de paz de Kaique, mas que foi um ótimo treinamento para ele saber lidar com as negas dele hoje em dia 😂😂😂😂

Muito obrigada por acompanhar, Ryu! 😘

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Esse eu quero muito fazer um pov 🥹❤️

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Vai ser lindo, tenho certeza ❤️

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Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo 🥴

Ficou grande demais e com um início enfadonho, mas eu precisava fazer um apanhado geral em atualização e tudo relacionado a Mih e a Kaká nesse dia parecia muito importante para eu conseguir deixar de lado 🥲❤️

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