Onde o Sol se Esconde (Capítulo 16)
A nova casa parecia outro mundo.
Os dias começaram a se organizar em uma rotina tranquila:
aulas pela manhã, oficinas de música e arte à tarde, rodas de conversa com psicólogos, brincadeiras no jardim.
E, pouco a pouco, os sorrisos foram voltando aos rostos dos meninos.
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Teo e Samuel estudavam juntos, sentados lado a lado nas mesas da pequena escola montada dentro da propriedade.
Dividiam cadernos, cochichavam durante as aulas, e às vezes se olhavam com um carinho tão grande que mal conseguiam se concentrar.
Era como se todo o sofrimento tivesse feito o amor deles ainda mais forte.
Mais bonito.
Indestrutível.
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Guto também melhorava, dia após dia.
Ainda tinha pesadelos de vez em quando, mas Samuel sempre ia até ele, segurava sua mão até o medo passar.
Às vezes, Teo também deitava ao lado dele, como dois irmãos protegendo o caçula.
Guto começou a sorrir mais.
E uma tarde, jogando bola com os outros meninos, ele caiu na grama e riu tão alto que Samuel e Teo se olharam emocionados.
Era um pequeno milagre.
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Dona Clarice e Irmã Helena cuidavam de tudo com o carinho de verdadeiras mães.
Nada era imposto com gritos.
Ninguém era castigado com violência.
Agora, quem errava, aprendia com paciência.
E quem sofria, era acolhido com amor.
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À noite, no quarto, Samuel e Teo faziam pequenas descobertas.
Pequenos momentos só deles.
Samuel lia livros em voz alta para Teo adormecer.
Teo escrevia poemas simples para Samuel e deixava embaixo do travesseiro.
Beijavam-se suavemente antes de dormir, como se confirmassem a cada noite:
"Você é real. Você está aqui. Você é meu."
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Teo ainda tinha medo do futuro.
Medo de que aquilo tudo fosse um sonho frágil, que pudesse desmoronar a qualquer momento.
Mas Samuel sempre o segurava.
Sempre o lembrava:
— Nosso lugar é onde estivermos juntos, Teo.
— E ninguém vai nos separar.
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Lá longe, no mundo que continuava girando, o escândalo do orfanato ainda rendia manchetes.
Padre Buzzi e Maurício aguardavam julgamento em prisões diferentes, isolados por segurança.
A igreja, pressionada, prometia reformas — mas ninguém ali acreditava muito.
O que importava, de verdade, é que agora os sobreviventes tinham voz.
Tinham vida.
Tinham futuro.
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Num fim de tarde dourado, sentados na varanda da casa principal, Teo e Samuel assistiam o sol se pôr, com Guto dormindo encolhido entre eles.
Teo encostou a cabeça no ombro de Samuel e sussurrou:
— A gente conseguiu, né?
Samuel sorriu, olhando o horizonte avermelhado.
— Estamos conseguindo. Um dia de cada vez.
Teo sorriu de volta.
E naquele momento, enquanto o vento morno balançava os cabelos dos dois, eles souberam:
Era só o começo.
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E era o começo deles.