Onde o Sol se Esconde (Capítulo 17)
O tempo passou.
Como quem não quer nada, os anos foram carregando as dores, as cicatrizes — e trazendo, no lugar, novas sementes: de esperança, de amor, de futuro.
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Teo e Samuel cresceram juntos.
Estudaram, trabalharam nas hortas, ajudaram na biblioteca da casa.
Faziam tudo de mãos dadas com o amanhã.
E quando completaram 18 anos, sabiam que era hora de dar um passo que sonhavam havia muito tempo.
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Antônio Bastos, o milionário que havia mudado a vida deles, os presenteou com algo especial:
uma pequena casa, na cidade vizinha — de tijolos brancos, jardim simples, e janelas que recebiam o sol da manhã.
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Dona Clarice chorou quando os ajudou a arrumar as malas.
Cada peça de roupa dobrada era uma memória.
Cada livro, uma lembrança viva do quanto eles tinham vencido.
Ela abraçou Samuel primeiro, depois Teo, com a força de quem sabia que, mesmo longe, o amor os manteria unidos.
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Guto ficou.
Ele ainda era um menino.
E mais do que isso:
Dona Clarice decidiu adotá-lo oficialmente.
Foi um processo demorado — papéis, visitas de assistentes sociais — mas no final, Guto pôde assinar seu novo nome:
Guto Clarice Alves.
O sorriso dele, ao receber a certidão, foi como um sol inteiro explodindo no refeitório.
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No dia da mudança, Guto chorou escondido atrás de uma árvore.
Teo o encontrou e ajoelhou-se na frente dele.
— Vamos estar sempre aqui, Guto. Sempre. Você pode vir quando quiser. Você é nosso irmão.
Samuel bagunçou os cabelos dele.
— Só toma cuidado, viu? Você vai crescer e vai ser mais forte que nós dois juntos.
Guto riu entre lágrimas.
E os três se abraçaram tão apertado que doía — mas doía de felicidade.
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A casa nova de Teo e Samuel era pequena, mas para eles, era um castelo.
Na primeira noite, sentaram-se no chão da sala vazia, comendo pão com leite em caixinhas.
Riam de tudo.
Do eco dos passos.
Das goteiras que precisavam arrumar.
Do armário que já rangia.
Era a casa deles.
O lar deles.
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Montaram um quarto juntos — simples, com a cama de casal encostada na janela.
As paredes ganharam fotografias:
- dos dias felizes na casa de Antônio,
- da formatura do ensino médio,
- de Guto sorrindo com o diploma na mão.
Cada foto era uma vitória contra o passado.
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Samuel encontrou trabalho como assistente numa oficina mecânica.
Teo, com seu jeito calmo e atento, conseguiu uma vaga como bibliotecário numa escola.
À noite, dividiam sonhos e planos: talvez cursar a faculdade algum dia, talvez viajar para ver o mar que nunca tinham conhecido.
Tudo parecia possível agora.
Tudo parecia permitido.
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E todas as noites, Teo e Samuel se deitavam juntos, entrelaçados no silêncio quente da casa.
Falavam sobre o dia.
Falavam sobre o futuro.
E, às vezes, sem precisar dizer nada, apenas se olhavam.
Se amavam.
Se pertenciam.
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Eles não eram mais órfãos.
Não eram mais vítimas.
Eram sobreviventes.
Construtores da própria história.
E no fundo dos seus corações, sabiam:
Onde o sol se escondia, era também onde ele renascia.
Onde o medo os tentou destruir, o amor