Onde o Sol se Esconde (Capítulo 18)
A noite estava morna, e a janela do quarto deixava entrar o cheiro doce da terra molhada pela chuva da tarde.
Teo e Samuel estavam deitados na cama, lado a lado, ainda vestidos, a luz fraca do abajur desenhando sombras suaves pelas paredes.
Tinham passado horas conversando, relembrando a infância difícil — os dias cinzentos do orfanato, as noites em que choraram escondidos para não serem ouvidos, o medo, a solidão.
Mas agora, ali, era diferente.
Agora, eles tinham um ao outro.
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Samuel virou de lado, olhando Teo com ternura.
Passou os dedos pelos cabelos dele, afastando uma mecha da testa.
Teo sorriu, um sorriso pequeno e triste, como quem ainda não acreditava que o amor podia ser tão real.
— Você lembra — sussurrou Samuel — da primeira vez que a gente se abraçou de verdade?
Teo fechou os olhos, deixando a memória vir como uma onda morna.
— Lembro... Você tremia mais que eu.
Samuel riu baixinho, encostando a testa na dele.
— E agora... — disse, a voz rouca — é você que tá tremendo.
Teo sorriu contra os lábios dele.
— Não de medo...
— De amor.
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O beijo veio devagar, tímido no começo.
Uma troca de calor, de promessa.
As bocas se encaixaram como se sempre tivessem pertencido uma à outra.
Samuel deslizou a mão pela cintura de Teo, puxando-o suavemente para mais perto, como se quisesse gravá-lo em sua pele.
Teo gemeu baixinho, um som perdido entre o beijo e a respiração.
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As roupas foram saindo aos poucos, entre carícias hesitantes e olhares carregados de emoção.
Nada era apressado.
Nada era bruto.
Era a celebração de tudo o que eles haviam esperado, de tudo o que haviam protegido dentro do peito durante anos.
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Samuel beijou o pescoço de Teo, descendo com beijos suaves pela clavícula.
Teo arqueou o corpo de encontro ao dele, os olhos fechados, sentindo cada toque como uma redenção.
As mãos de Samuel eram firmes e gentis, traçando caminhos pela pele de Teo como quem descobre um mapa antigo, precioso.
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Deitados juntos, misturados entre lençóis amassados e promessas sussurradas, eles fizeram amor pela primeira vez.
Com paciência.
Com entrega.
Com lágrimas discretas de felicidade.
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Quando terminaram, ficaram abraçados, o peito de Samuel contra as costas de Teo, seus corpos ainda entrelaçados, suas respirações se acalmando juntas.
O mundo lá fora podia ser duro, injusto, imprevisível.
Mas ali, entre os braços um do outro, Teo e Samuel tinham encontrado a eternidade.
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— Eu te amo — murmurou Samuel, beijando a nuca de Teo.
— Eu também — respondeu Teo, com a voz embargada — Sempre amei.
E adormeceram assim.
Seguros.
Inteiros.
Pela primeira vez, livres.
Onde o Sol se Esconde (continuação)
Aquela noite parecia suspensa no tempo.
Na pequena casa, a chuva batia leve nas telhas, um som quase de embalo.
Teo e Samuel haviam passado o dia trabalhando — arrumando o jardim, pintando a varanda, rindo como dois meninos que finalmente podiam inventar o próprio futuro.
Agora, deitados no sofá, sob um cobertor, Teo sentiu Samuel beijar devagar a curva do seu ombro.
O beijo não pedia nada.
Só dizia:
"Eu estou aqui."
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Teo virou-se e buscou a boca dele.
O beijo foi se aprofundando — lento, terno — até que Samuel o puxou para sentar em seu colo, as mãos firmes segurando sua cintura.
Teo riu baixinho contra os lábios dele.
— Você é meu lar — sussurrou.
Samuel encostou a testa na dele.
— Você é tudo.
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As roupas caíram ao redor como se o mundo inteiro desaparecesse.
Teo se aninhou contra Samuel, a pele quente contra a pele quente, e deixaram que seus corpos conversassem em uma linguagem só deles — feita de toques, suspiros e olhos fechados de entrega.
Sem pressa.
Sem medo.
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Ali, entre carícias silenciosas, eles se amaram de novo.
Teo sentiu Samuel dentro dele, preenchendo não só seu corpo, mas todo o vazio que o passado havia deixado.
E Samuel, com lágrimas nos olhos, segurou Teo como quem segura um pedaço de céu nas mãos.
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Quando adormeceram, abraçados no sofá, uma notícia estourava nas rádios e televisões do país:
Rebelião na Penitenciária Central.
Dois padres condenados por abuso são mortos por detentos.
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Padre Buzzi e Padre Maurício tinham encontrado o fim que o destino reservou para os covardes.
Não houve piedade.
Muitos dos detentos, ou seus filhos, eram vítimas como Samuel, Teo, Guto e tantos outros.
Entre eles, estava o jovem Rafael — que, ainda menino, sofrera nas mãos daqueles homens e que, agora, já adulto e preso, selou o fim deles.
O ciclo se fechava.
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No dia seguinte, quando Samuel e Teo acordaram, a luz do sol invadia a casa.
Era como se o mundo tivesse ficado mais leve.
Como se, finalmente, os monstros tivessem sido enterrados.
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Sentados na varanda, de café quente nas mãos, Samuel olhou para Teo.
Teo sorriu, os olhos cheios de paz.
E sem dizer uma palavra, os dois sabiam:
O passado não podia mais machucá-los.
O amor era maior.
A liberdade era deles.
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Mais tarde, naquela mesma tarde dourada, no quarto que agora era só deles, eles se amaram novamente — não por medo, não para esquecer a dor, mas para celebrar a vida.
O toque era suave.
O beijo, longo.
O mundo inteiro cabia na pele um do outro.
E assim, devagar, se reconstruíam.
Juntos.
Para sempre.