Rubens
O frio na barriga só aumenta quando o ônibus entra na rodoviária, as pessoas estão começando a acordar, diferente de mim que mau preguei o olho essa noite, não sei se vir foi mesmo uma boa ideia, mas é que perder o aniversário do Ben não era uma opção também. Só espero que dê tudo certo, no caminho Antônio me contou que Ben e Vanessa terminaram, é difícil de acreditar, eles eram tão apegados.
Faz tempo que não converso com meu irmão, não tô nem falando sobre conversar sobre algo se casa e sim de ter uma conversa mesmo, o tipo de conversa onde conto que cancelei um noivado e ouço sobre seu divórcio. O medo me brecou e ainda breca, um pouco de irmandade ainda é muito melhor do que irmandade nenhuma, Benjamin não entenderia e isso acabaria com nossa amizade para sempre.
— Chegamos amor, finalmente — Antônio é a única pessoa que conheço que preferia dirigir seu Fuscão de Tianguá até aqui na capital do que vir de ônibus — O Ben falou que está nos esperando na entrada.
— Vamos lá, e que Deus nos proteja esse fim de semana — faço o possível para parecer otimista.
— Vai dar certo — Antônio me beija uma última vez antes de descermos — pra dar sorte.
— Obrigado por ter vindo comigo.
Ben está fardado em pé próximo ao seu carro nos esperando. À medida em que o tempo passar Benjamin vai ficando cada vez mais parecendo com papai e não é por ser meu irmão, mas o cara é bonito, as mulheres que passam por ele só faltando babar e ele ainda me aparece aqui de farda ai ele quer atenção.
— E ai mano — Antônio e ele trocaram um abraço de brother.
— Oi Ben — digo mais tímido logo em seguida.
— E ai mano, como foi a viagem? — Nosso comprimento é um aperto de mão mesmo.
— Ruim, o Rubens não me deixou vir de carro — Antônio diz todo despretensioso, mas fico com medo dele acabar falando de mais.
— Ainda bem, senão ia ter que buscar vocês no meio do caminho — Ben me pega de surpresa brincando com o amigo, não estou acostumado com esse seu lado.
— Respeita meu Fuscão Preto que ele é melhor que esse teu carro de plástico ai — Antônio devolve e os dois começam a rir — e que porra é essa tu comprou um Kwid?
— A Vanessa fez um inferno por esse carro e agora tá como tá, nem o carro ela disse que quer — Antônio comentou comigo sobre o término do meu irmão, mas tem muitos detalhes que ainda não sei, tipo não sabia nem que estavam brigando.
— Ela vai esfriar a cabeça irmã, vai dar certo, pode confiar digo por experiência própria — Antônio o tranquiliza.
Não sei como entrar nessa conversa, então apenas fico em silêncio. Ben ajuda a pôr as nossas bagagens no porta malas. Depois Antônio se adianta e entra no carro só que no banco de trás, quero bater nele por isso pois sei exatamente o que está querendo, sem ter muito como disfarçar meu desconforto apenas entro no banco da frente e colocou o sinto.
— A gente pode passar em casa para deixar as malas e depois vamos na mamãe, a vovó queria vir buscar vocês comigo, mas tem que ficar com o vovô, ela tá louca pra ver vocês — Ben diz animado.
— De boas mano, bom que a de te toma um banho logo também — Antônio está conseguindo ficar mais de boas do que, mesmo com nosso segredo.
— Vamos almoçar na mamãe, depois tava pensando em pegarmos uma praia — meu irmão parece um peixe de tanto que gosta do mar, íamos muito com o papai quando éramos mais novos.
— Agora você está falando minha língua — nem sabia que Antônio gostava tanto assim de praia também, mas entendo ele querer aproveitar já que em Tianguá é serra, não tem praia.
— Você vai precisar trabalhar, Rubens? — Ben se dirige a mim.
— Não, estou de boas hoje.
— Você quer ir pra praia com a gente?
— Vocês podem ir, eu não dormi direito na viagem e estava pensando em descansar para está bem a noite quando fomos comemorar — digo me sentindo mal, deu pra perceber que ele não gostou da minha resposta.
— Tudo bem, depois do almoço eu te deixo em casa.
— Vamos ficar na sua casa? — Pergunto surpreso, pois não estava esperando por isso.
— O vô e vó estão no seu quarto e estou só em casa, a Vanessa já saiu do apartamento, vai ser melhor e mais confortável pra vocês ficarem lá em casa — parece que só estou piorando as coisas.
— Claro, tudo bem — preferia ficar com a Júlia no quarto dela, mas acho que já o decepcionei demais para ainda dizer que não quero ficar no seu apartamento.
O apartamento do meu irmão é pequeno, porém bem arrumado, tem uma sala, cozinha, quarto e banheiro, o banheiro tem duas portas uma pro quarto e outra para um corredor. Sou o primeiro a tomar banho, enquanto eles ficam na sala colocando a conversa em dias, é muito estranho que Antônio pareça muito mais irmão do Ben do que eu, eles conversam com tanta intimidade e até brincam um com o outro, já tem uns dez anos que todas as interações que tenho com meu irmão são limitadas.
Depois é a minha vez de ficar na sala com Ben enquanto Antônio toma o banho dele, nossos assuntos são sempre os mesmos, ele pergunta sobre meu trabalho, depois é minha vez de perguntar sobre o exército, depois falamos da mamãe, da Júlia e até de como está sendo a recuperação do vovô. Nem um de nós parece saber como aprofundar o assunto, nossa relação se fragilizou durante uma década, é muito difícil, mas sinto no meu peito que preciso dar um passo, só não sei como ainda.
— Estou pronto, já podemos ir — salvo pelo gongo, ou melhor pelo Antônio.
— Vamos, dona Teresa já mandou mensagem perguntando pela gente — Ben completa.
Tem um mês que estou morando em Tianguá, mas parece que faz muito mais tempo. Só em pensar que fui pra lá deprimido e acabei me apaixonando, não acreditaria se me falassem que isso iria acontecer. É bom estar em casa, está sentindo falta da mamãe e dos meus avós, até da Júlia que já foi me visitar lá.
Minha vó na cozinha junto com minha mãe e meu avô contando suas história — que já conhecemos de co, mas adoramos ouvir mesmo assim — não lembro da última vez em que me diverti assim em família. De alguma forma poder compartilhar isso com Antônio torna tudo ainda mais especial, fico pensando em como seria se todos aqui soubessem da gente e não fosse um problema. Uma grande família se divertindo todos juntos.
Isso era o que eu mais amava com Mariano, o quanto sua família me abraçou e fizeram me sentir parte deles, cada aniversário, cada comemoração, minha sogra organizando um jantar pra comemorar meu emprego novo, meu sogro me dando uma carona quando precisei resolver um problema no banco, minha cunhada me convidando pra ser padrinho do meu sobrinho. Quando Mariano terminou comigo perdi mais do que um amor, perdi uma família, como posso arriscar perder a única família que me restou?
— Você tá bem Rubens? — Antônio foi o primeiro a notar minha mudança de humor repentina.
— Tô sim, só cansado da viagem — minto pois não tenho como explicar pro meu namorado que sinto falta da família que perdi.
Não sinto mais tanta falta do Mariano em si, porém sinto falta do que tínhamos, e pensar que se tivesse casado com ele hoje estaria no nosso apartamento — que foi dado pelos meus sogros — e não aqui, só que não eu quero está aqui, só queria poder está de verdade, sem mentiras ou receios, Deus sabe o quanto Ben faz falta na minha vida, Julia faz o que pode para estar presente, não posso tirar seu mérito, só que não e tendo por que tenho que passar por isso, talvez meu pai entendesse, afinal ele sempre me mandou viver, “então pai o senhor aceitaria ter um filho gay?”
— O Rubens te deu um biquíni novo tava mesmo querendo ir na praia — Júlia diz toda empolgada então percebo que me perdi da conversa dentro dos meus próprios pensamentos.
— Eu o que? — Pergunto confuso.
— Você tem que parar de mimar seu irmão, meu filho, por isso não arruma uma namorada, mulher nenhuma gosta disso — mamãe se mete colocando sua opinião na mesa.
— Ele não acha uma mulher porque trabalha muito e ainda por cima é dentro de casa — pronto minha vó agora se juntando com minha mãe — Antônio você não tá tirando ele de casa não? Luana tem tantas amigas.
— Não saímos muito, não tenho muito tempo vó — odeio mentir para eles, sinto um gosto amargo na boca por nega o Antônio bem na sua frente — mas eu conheci uma pessoa.
Júlia é a primeira a arregalar os olhos pra mim, Antônio me encara com cuidado também sem entender — na real nem eu sei porque disse isso — de Repente todos estão me encarando esperando por mais informações.
— É de fora, vocês não conhecem.
— Ah então tá ficando sério mesmo que bom — Julia percebeu que meti os pés pelas mãos e veio em meu socorro — é só trabalho, até achei gente boa, mas tô esperando para ver se vai ficar sério mesmo para ter uma opinião sobre — ela completa olhando pro Antônio.
— Espero que dê tudo certo, afinal quero netos nessa casa antes de morrer — minha mãe não perde a chance de falar de netos — seu irmão está se divorciando e ainda nem entendi o motivo.
— Ela não serve pra ele e tambem pra se divorcia tem que casar primeiro né, agora Ben vai achar outra mulher logo, um homão bonito assim não fica sozinho — vovó e mamãe são quase a mesma pessoa.
— Vocês podem não falar da minha mulher por favor — Benjamin diz de forma dura.
— Ex meu neto, e pode acreditar Deus tem uma mulher de muito valor pra você.
— E pra mim vovó, será que deus também tem um varão? — Julia já está tão acostumada a ser a ovelha negra que se joga na jaula com os leões para salvar Ben e eu.
— Você primeiro tem que aprender a se dar o respeito minha filha — minha mãe é quem responde daí pra frente é a mesma novela.
Nosso almoço caótico de família segue como sempre, no fim sou aquele que vai morrer sozinho se não arrumar uma mulher logo, Ben precisa arrumar uma melhor melhor da próxima vez e Julia é uma perdida sem salvação que nunca será levada a sério por homem nenhum. Irônico que Júlia é a única dos três que tem uma relação sólida a anos e mesmo do jeito torto eles não se deixam. Problema é que Júlia tem um namoro aberto e minha mãe jamais vai aceitar isso, mesmo que o Tesão seja um cara trabalhador e bom pra Julia.
— Melhor a gente ir — Ben é o primeiro a querer sair de perto delas, ele deve está de saco cheio de ouvir reclamações sobre a Vanessa.
— Ótimo, vou só pegar minha bolsa — Júlia diz toda animada depois de se auto convidar pro passeio.
— Só vamos deixar o Rubens lá em casa, ele falou que quer descansar — Ben avisa quando entramos no carro.
— Você vai descansar quando morrer Rubens, deixa de frescura.
— Júlia, eu não dormi bem durante a viagem só isso.
— Problema seu meu chapa, você vai com a gente e pronto, é o aniversário do Ben, nada de se trancar em casa hoje senhor Rubens, pode tocar direto pro Cumbuco irmão, que ele vai com a gente.
Antônio se diverte com nossa dinâmica de irmãos, Ben infelizmente deu ouvidos a ela e não tenho escolha a não ser ir com eles para praia. Fortaleza tem praias muito bonitas, mas gostamos de ir na praia do Cumbuco que fica na região metropolitana da capital, tem uma barraca que é nossa preferida, as coisas são meio caras lá, mas vale muito a pena o atendimento é diferenciado.
— Irmão para onde você vai querer ir mais tarde? — Júlia pergunta.
— Tava pensando em irmos jantar no Ordones e depois pro Alenca’s.
— Tem o Bulls também — ela sugere outro bar.
— Lá é muito lotado e a Vanessa gosta de ir pra lá com as amigas, prefiro não arriscar — nunca vi Ben desse jeito, esse término parece ter sido feito.
— Eu gosto do Alenca’s o Bulls é muito lotado — Mariano também gosta do Bulls então então estou com meu irmão na intenção de evitar certos locais.
— Tudo bem, Antônio, meus irmãos são dois idosos, outra vez que você vier prometo que te levo em locais mais jovens.
— Opa vou cobrar prima — ele responde cheio de pernas, só porque não posso bater nele.
Demora um pouco mais chegamos, tava com um tempo que não vinha aqui, mas está tudo igual — a última vez foi com Mariano — tem umas mesas privativas que ficam mais perto das piscinas e Julia logo nos arrasta para lá, segundo ela é melhor pra tirar foto, mas ela só quer luxar mesmo, conheço a peça. Como é aniversário do meu irmão vou deixar, não me importo de gastar dinheiro com meus irmãos também.
— Ben se você quiser beber eu posso dirigir — Antônio se oferece.
— Não mano relaxa, quem vai levar a gente pra casa é a Júlia.
— Olha só que safado, por isso você não reclamou de eu vir também né? — Julia diz rindo — aproveita, mas mais tarde vamos todos lindos de carro de aplicativo, até porque depois do bar vou pra casa do Tesão.
— Fechado — Ben aperta sua mão — o Rubens tem medo de dirigir, logo o que menos faz questão de beber é o que não dirige.
— Relaxa que eu convenci ele a aprender, quando a gente voltar vou ensinar ele a dirigir para tirar a carta — Ben e Julia me encaram com espanto depois de ouvir Antônio revelar seu milagre.
— Ninguém conseguiu isso Antônio — Ben está rindo, mas conheço meu irmão, ele não gostou de alguma coisa.
— Essa eu pago pra ver — Júlia diz em tom de desafio.
— Só acho que já adiei demais, e não se animem, não vou comprar um carro nem nada, é só pra emergência mesmo.
— Ele era muito novo pra aprender quando o papai nos ensinou — Júlia explica pro Antônio — aí ele cresceu, mas nosso pai já não estava mais aqui pra ensinar.
— Eu pensei que você não dirigia por medo — Antônio me encara com seus olhos brilhantes por descobrir algo novo sobre mim.
— Papai vivia prometendo que ensinaria, mas nunca conseguiu — Ben coloca a mão no meu ombro e pela primeira vez em uma década me sinto perto do meu irmão de novo.
— Podemos mudar de assunto? — Não gosto de ser exposto, fico vulnerável e suscetível a escorregar no meu segredo.
Ben quis me ensinar, até o Mariano brigou comigo incontáveis vezes por mês recusar a aprender a dirigir, eles não entendem que não é algo que eu queria aprender, ou pelo menos não queria até ver o Antônio ferido em um hospital e me sentir um inútil por não poder levá-lo pra casa, ele mesmo sentindo dor e com um curativo teve que dirigir até em casa.
Passado esse assunto deixou se ser o centro das atenções, fica bem mais fácil relaxar assim. Admiro que Júlia chamar o Antonio para ir mergulhar me deixa com ciúmes, não deles especificamente, é mais por querer ir com ele e curtir na água, mas não posso. Acabou que os três entraram na água menos eu, Júlia também entrou na piscina só para que eu tirasse fotos dela, minha irmã é muito linda e mesmo acompanhada de três homens os caras não se inibem em olhar pra ela.
Quase no fim da tarde resolvemos voltar para casa, afinal preciso mesmo descansar um pouco para ter bateria social pra comemoração mais tarde. Ninguém chegou a beber muito, mas o suficiente para Julia realmente precisar nos levar para casa. Como a praia deixou a gente enfadado e não dormi, acabei pegando no sono no banco de trás usando o ombro do Antônio como travesseiro.
Antônio me acorda gentilmente avisando que chegamos. Peço um carro de aplicativo para Julia ir pra casa e enquanto espero com ela os caras vão indo na frente para o apartamento me deixando sozinho com ela.
— Nossa, sua sorte é que o Ben é tapado, porque o primo gostoso só faltou de comer com os olhos o dia todo.
— Deixa de história Julia.
— Irmão eu te conheço, você também ficou de olho nele, por que vocês não conversam com o Ben?
— Quer ir a pé Julia? — Digo irritado.
— Tá bom, não tá mais aqui quem falou, mas sério Rubens um dia você vai ter aceitar ser feliz — apenas a encaro sem dizer nada, mas também não preciso falar nada pra ela saber que quero um abraço de irmã.
Depois de um banho nossa eu tô morto, vou precisar dormir nem que seja só por uma hora se não, não aguento no bar mais tarde, Ben ligou o ar condicionado do quarto e deixou tudo no ponto pra mim dormir um pouco, agradeço mentalmente, a cama do meu irmão e de casal e bem confortável, então mal me deito já sinto o sono me pegar.
Acordei meio atordoado, dormi tão pesado que quando ouço Ben me chamar leva uns segundos para acordar e entender que estou na casa dele. O relógio no celular indica que são oito da noite. Estou com fome e eles também devem estar, não comi quase nada na praia, tô só com o almoço no estômago praticamente. Ainda bem que eles deixaram para me acordar no limite do nosso horário, assim tive quase três horas de sono, deu pra repor um pouco as energias.
Antônio está de jeans e uma camisa xadrez que está mexendo com meu imaginário, quero abrir botão por botão e fundar minha cara no seu peitoral peludo e gostoso, me embriagando com seu cheiro amadeirado com toques de gasolina — sério esse cheiro não sai dele, mesmo que não tenha dirigido o Fuscão a mais de um dia — Ben está com uma bermuda preta e uma camisa polo branca, bonito como sempre, acabei escolhendo uma polo preta e uma calça jeans mesmo, a intenção é ficar confortável e ainda bem que o clima está até agradável.
— Antônio esse relógio não é do Rubens? — Ben questiona quando estamos saindo.
— É, ele me deu.
— Ah sim, ele não tirava esse relógio, por isso achei estranho.
— Já não tava usando tanto assim, e achei que combinava com ele — digo, mas a verdade é que me dá muito tesão ver meu relógio favorito no pulso do meu homem favorito.
Peço nosso carro e já aproveito para mandar mensagem para Julia, que responde já essa caminho também. Ordones é uma churrascaria famosa na cidade e particularmente gosto muito, tanto o preço quanto a qualidade da comida são bem interessantes. Acabamos chegando um pouco antes da Júlia, mas mal sentamos e já avisto ela na porta, Antônio ta todo animado e meu irmão também parece está curtindo seu dia, gosto de ver ele assim sorrindo, sempre está tão sério.
— Podem pedir que hoje é por minha conta — Julia é a primeira a comemorar.
— Não precisa irmão a gente dividir — o aniversariante protesta.
— Relaxa Benjamin já tinha me programado pra isso, me deixe fazer algo pelo meu irmão — olhando nos seus olhos vejo um sorriso surgindo tímido no seu rosto.
— Tá certo irmão, obrigado.
Fazemos o pedido e pra acompanhar uma cerveja, dessa vez pego um copo para mim também, é aniversário do Ben, vou me permitir um pouco e Julia está aqui, ela é esperta vai ficar de olho em mim caso acabe falando alguma coisa que não devo — isso se por um acaso eu chegar a ficar bêbado.
Estou tão distraído que mau consigo notar a presença dos meus ex sogros três mesas depois da nossa, meu coração quase pula do peito quanto a terceira pessoa que noto é o Mariano e ele está olhando diretamente pra mim.
— Algum problema Rubens? — Antônio pergunta, percebendo meu extremo desconforto repentino — é a segunda vez que você fica assim hoje?
— O que foi? — Ben questiona também, nesse momento Julia percebe e troca olhares rápidos comigo.
— Nada, foi só a bebida, eu vou no banheiro rapidinho e já volto — já vou me levantando e caminhando pro banheiro.
Meu coração está a mil por hora, não esperava ver o Mariano ainda mais aqui e dessa forma também, não sei o que pensar, estou me sentindo tão estranho, só que tem algo novo na minha reação, não sei explicar, eu gosto dele, afinal íamos nos casar, só que o Antônio aqui, torna tudo isso mais complicado de entender.
— Sete anos tentando está naquela mesa e você nunca me deu isso, você conhece esse cara há um mês? — Sua voz mv pega de surpresa, quando me viro vejo Mariano vermelho de raiva e com os olhos marejados, porra isso me quebra totalmente — ele é o tau né?
— Mariano não é o que você pensa, o Antônio é melhor amigo do Ben, ele não está aqui comigo — o mínimo que posso fazer é me explicar.
— Você nem sequer me deixou ser amigo do seu irmão, você nunca me apresentou nem como seu amigo, o que ele tem Rubens? — Tem tanta dor nas suas palavras que me faz sentir que sou a pior pessoa do mundo por causar isso a ele.
— Eles já eram amigos antes de eu conhecer ele, desculpa Mariano eu não queria te encontrar assim — ele parece mais magro, tem algo de diferente nele, não consigo dizer o que é.
— Tudo bem Rubens, desculpa você não me deve nada, nenhuma explicação — sua voz falhada, ele está segurando o choro assim como eu.
— Mariano por favor me entenda eu não — antes que eu conclua me frase o Antônio entra no banheiro.
— Você tá bem Rubens? — Mariano olha diretamente pra ele.
— Antônio, esse é o Mariano, meu — a palavra morre na minha boca.
— Ex noivo — Mariano completa por mim e ergue a mão pra cumprimentar o Antônio.
— Prazer, eu sou namorado do Rubens — Mariano engole em seco, mas para piorar tudo ainda mais seus olhos vêem o relógio no pulso do Antônio.
— Parabéns Rubens — ele enxuga uma lágrima rebelde e sai do banheiro sem dizer mais nada.
— Desculpa amor, meu sangue ferveu quando vi esse cara te seguir aqui pro banheiro — Antônio está todo preocupado com minha reação.
— Tá tudo bem, só estou me sentindo mal por ele ter entendido errado.
— Não queria que ele soubesse da gente?
— Eu já tinha contado a ele, o que eu não queria era magoá-lo, mas acho que acabei fazendo isso — Antônio coloca as mãos na cintura e percebo que ele está com ciúmes.
— Antônio, o Mariano fez parte da minha história por sete anos, me preocupo com ele e sempre vou me preocupar, mas meu coração só bate por você agora, é você que eu quero beijar.
— Tem certeza que encontrar ele não mexeu com você?
— Não do jeito que você está pensando, só uma pessoa me faz tremer de tesão e não era mais ele — Antônio segura minha cintura e me puxa para um beijo, mas logo outra pessoa entra no banheiro então nos separamos por reflexo.
— Melhor voltarmos para a mesa — digo.
Quando volto não vejo mais Mariano e nem seus pais, ele deve ter ido embora. Durante vários dias pensei em como seria esse encontro e nunca na minha mente imaginei algo assim, nessas circunstâncias. Ainda bem que meu irmão não se ligou de nada e durante todo o resto da noite me esforcei para parecer o mais normal possível, mesmo que por dentro estivesse me sentindo mal por esse encontro inoportuno.
Meu irmão e o Antônio beberam bastante do bar, tive que pedir um carro pra gente e colocar os dois dentro, Antônio até até não ficou tão bêbado quanto o Ben. Meu irmão tomou todas a ponto de falar sobre Vanessa no caminho pra casa, sorte do Antônio está só meio bêbado, pois ele é quem me ajudou a pôr o Benjamin na cama.
— Ele vai dormir até amanhã de manhã — Antônio fala.
— Já é amanhã, ele vai dormir até a hora do almoço provavelmente, pior que também estou morrendo de sono.
— Antes de você dormir a gente pode só terminar o que começamos no banheiro — Ele sussurra pertinho de mim.
Acabou se deixando levar pela emoção e vou com ele pra sala, Ben tá em sono tão ferrado que não tem como acordar e mesmo que acorde tem como ouvirmos, então me permito beijar meu namorado ciumento no sofá da sala por um tempo — que saudades que eu tava dessa boca.
Quando o sono finalmente me pega vou pro quarto e deitei com meu irmão, Antônio ficou na sala pra dormir no sofá, vai levar um tempo até que eu esqueça os olhos cheios de lágrimas do Mariano, só queria que ele me desse a chance de me explicar, mas sei que no fundo o melhor a fazer é seguir a vida.