Fiquei paralisado. Não conseguia mover um músculo. Meu corpo estava rígido, congelado de puro terror, como se tivesse sido petrificado no lugar. A única coisa viva era o martelar insano do meu coração contra as costelas, e o som da minha própria respiração que parecia alta demais.
Ele não esperou por uma resposta. Sua voz se tornou mais firme, mais fria, com uma ponta inconfundível de ameaça que me fez gelar o sangue.
“Sei que tem alguém escondido”, ele continuou, e a certeza em seu tom era aterrorizante. “É melhor sair agora, devagar, com as mãos à vista… senão as coisas vão ficar bem piores para você. Eu prometo.” A última frase pairou no ar, uma promessa sombria de violência que anulou qualquer vestígio restante de desejo, deixando somente medo puro e avassalador.
Com os olhos marejados, não somente pela ameaça de lágrimas, mas pela picada da vergonha ardendo sob as pálpebras, e o peito opresso, comprimido por um choro que teimava em subir pela garganta, abafado e doloroso, arrastei-me para fora do meu precário esconderijo. A casca rugosa do carvalho arranhou minha pele enquanto eu me movia, mas a dor física era insignificante comparada à humilhação que pesava sobre mim. Minhas pernas, fracas e instáveis, tremiam incontrolavelmente, mal conseguindo sustentar o corpo que parecia de chumbo. Senti o frio do chão sob minhas mãos trêmulas antes de conseguir me erguer até uma posição cambaleante.
Do outro lado do pequeno claro, ele esperava. Ainda nu, uma figura imponente e vulnerável ao mesmo tempo, mas naquele instante, somente ameaçadora. Observou minha saída cambaleante com um leve sorriso, um sorriso que não alcançava seus olhos gélidos e penetrantes. Eram olhos que analisavam, julgavam e encontravam prazer na minha miséria. Ele riu, um som baixo, gutural e cruel, que ecoou no silêncio da floresta e em meus ouvidos, como um martelo.
“Ora, ora”, a voz dele ressoou, misturando um escárnio mordaz com uma diversão doentia. “O que o Chapeuzinho Vermelho está fazendo bisbilhotando por aqui, no meio do mato?”
Minha cabeça pendia, incapaz de suportar o peso do seu olhar, o peso da minha própria culpa. Eu não conseguia encarar a visão do seu corpo, a lembrança do que eu havia feito, a vergonha da minha própria reação. Tentei falar, tentei murmurar algo, qualquer coisa, mas minha garganta estava fechada, um nó apertado formado pelo medo e pela humilhação, sufocando qualquer som. Fiquei ali, mudo e paralisado, uma estátua de pura desgraça.
Ele deu um passo em minha direção. A curta distância que nos separava pareceu encolher ainda mais, transformando-se em um abismo onde eu me sentia completamente exposto. A sensação de perigo aumentou exponencialmente. Ele parou novamente, os olhos fixos em mim. E então repetiu a pergunta, mas desta vez sua voz havia perdido qualquer resquício de diversão. Era pura aspereza, pura ameaça, um som duro e perigoso que me fez estremecer violentamente, cada célula do meu corpo reagindo com pavor.
Num impulso desesperado, ou talvez somente cedendo à necessidade de verificar se aquilo era real, ergui meus olhos por um instante fugaz. E o vi. Completamente despido, o corpo ainda lustroso com a umidade do banho, a pele parecendo bronze sob a luz filtrada. Aquela mesma visão que, minutos antes, me havia prendido em um fascínio estranho, agora me aterrorizava profundamente. Era a beleza tornada monstruosa pela circunstância. E foi então que aconteceu, algo tão revoltante e absurdo que me deixou pasmo.
No meio do pânico que me inundava, da repulsa que eu sentia por mim mesmo, senti a traição do meu próprio corpo. Senti, com uma perplexidade e horror esmagadores, meu pau reagir novamente. Um calor vergonhoso subiu, a carne endurecendo, ficando rígida e ereta sob o tecido das minhas calças, inegavelmente visível. Como meu corpo podia reagir assim, agora, quando minha mente gritava terror?
Ele notou. Claro que notou. Seus olhos desceram, um brilho cruel acendeu neles, e a risada voltou. Desta vez, foi alta, estridente, carregada de um escárnio e desprezo tão intensos que pareceram me perfurar. “Olha só, olha só!”, ele zombou, cuspindo as palavras como veneno. “O Chapeuzinho Vermelho não é tão inocente assim, não é? Tiago, você é um putinho gordo que gosta de espiar homens pelados no meio do mato!”
Porra! Ele me conhecia. A combinação das palavras me atingiu como um soco no estômago: meu apelido, a humilhação do meu corpo, a cruel acusação. Minha mente, numa corrida febril contra o tempo e a humilhação, lutava desesperadamente para encontrar uma desculpa, uma mentira que pudesse me tirar dali, ou pelo menos amenizar a situação. Tentei forçar as palavras para fora, engolindo a vergonha e o pânico. Saíram tropeçando, gaguejando, frágeis e transparentes na sua falsidade.
“E-eu… eu só…”, balbuciei, a voz fina e trêmula. “Eu… eu me perdi na floresta, senhor. E… e tive medo… tive medo de pedir ajuda quando… quando o vi assim…”
“Não ouse mentir para mim! Fale a verdade, e fale agora, sem rodeios ou hesitação, ou juro por tudo que é mais sagrado, que vou quebrar esses seus braços desajeitados, os ossos pequenos e frágeis, um por um, até que não possam mais segurar nada!”, ele proferiu, puxando meus cabelos.
A imagem que as palavras dele pintaram na minha mente foi vívida, horrível: meus próprios ossos estalando e partindo sob a força inexorável daquelas mãos que eu acabara de observar, a dor indescritível, a mutilação. Aquela visão nauseante, aquele medo primitivo da dor física, me fez sucumbir completamente, rastejar e me desfazer ali mesmo. Com a dignidade estraçalhada, as palavras tropeçando umas nas outras e as lágrimas escorrendo quentes e incontroláveis, confessei. Despejei tudo: o que eu estava fazendo ali, a atração proibida que me trouxe, a observação furtiva, a vergonha, e sobretudo, o desejo avassalador que me consumiu, que me empurrou para aquele ato clandestino e arriscado.
Ele permaneceu imóvel enquanto eu falava, somente ouvindo. Seus olhos azuis estavam fixos nos meus, inabaláveis, penetrantes, como se pudessem ver através da minha alma, desnudando cada pensamento e intenção. A seriedade fria permanecia, mas algo mais começava a bruxulear no fundo de seu olhar.
Quando as palavras finalmente cessaram, deixando um silêncio pesado e aterrorizante, um sorriso lento, um sorriso que não alcançava os olhos de forma benévola, mas que distorcia seus lábios numa expressão de pura perversidade, começou a se espalhar por seu rosto novamente. Era um sorriso de quem sabia, de quem tinha o controle total. Ele riu então, não a risada estrondosa e quase honesta de antes, mas uma risada mais controlada, mais baixa, que ressoava com uma vibração sombria, ainda mais assustadora por sua contenção. Parecia o som de uma armadilha fechando.
“Ah, Chapeuzinho idiota…”, ele disse suavemente, o apelido soando como um escárnio cruel. Sua voz, rouca e agora carregada de uma insinuante malícia que arrepiou todos os meus pelos da nuca, parecia envolver-me como uma teia pegajosa. “Você não precisa só olhar e desejar. Não seja tímido. Você pode tocar… sentir… pegar também”. A implicação era inconfundível, brutal em sua crueza.