O que ficou 20

Um conto erótico de R. Valentim
Categoria: Gay
Contém 4594 palavras
Data: 18/05/2025 21:19:03
Assuntos: Gay

Benjamin

— Vanessa acho melhor a gente terminar — estando tendo a mesma briga e não tenho mais o que dizer a ela.

— Benjamin você prefere jogar fora uma vida inteira que construímos do que ter um filho comigo? — Ela está completamente incrédula.

— Não vou ser pai Vanessa, não quero e nem nunca vou querer, eu te amo, mas não posso te dar o que você quer — durante anos discutimos sobre o assunto, mas minha ideia nunca mudou, não quero ser pai.

— Você é um idiota Benjamin, um dia você vai rastejar me pedindo perdão e é bom você rezar para não ser tarde de mais — Vanessa pega sua bolsa e sai batendo a porta para não voltar mais. O som da porta batendo é alto e me acorda.

Tenho sonhado muito com o dia em que terminamos, acho que é porque tem poucos dias e ainda não consegui pensar em outra coisa, Vanessa e eu ficamos juntos desde o colégio, foi meu namoro mais sério, meu único namoro para falar a verdade. Minha cunhado veio ontem buscar as roupas dela, já brigamos antes — afinal mais de dez anos juntos não tem como — mas dessa vez não vai ter volta, ela quer ter um filho e eu, bem não tenho um pingo de desejo paterno dentro de mim.

Meu pai foi o homem mais escroto que já conheci na vida, alguns dos meus irmãos são muito novos e a lembrança que eles tem dele são bem diferentes das minhas, ele teve outras duas famílias além da nossa, tudo ao mesmo tempo. Lembro uma vez a muito tempo, Júlia ainda era bebê e Rubens nem tinha nascido, minha mãe quis expulsar meu pai de casa, ele acertou seu rosto com um tapa tão forte que a fez cair.

Cresci tendo medo dele, tinha medo de que ele fizesse algo de ruim com meus irmãos, o cara maltratava suas esposas, mas bancava o pai do ano com os filhos, isso se fizermos tudo que ele mandava. Uma vez Santiago pegou o carro dele escondido, quando chegou em casa meu pai o esperava com o cinto na mão, tentei intervir e ajudar o Santi, mas tudo que consegui foi irritar ainda mais meu pai, ele nos amarrou na coluna no alpendre e nos bateu até se cansar, depois saiu nos deixando lá amarrados, foi Ana Clara quem nos soltou depois de ter certeza que ele não voltaria.

Assim que ele morreu Santi pegou a irmã e a mãe e sumiu no mundo, de vez em quando nos falamos por telefone e ele sempre diz que não pensa em voltar por nada no mundo, sou o único da família até sabe para onde eles foram e isso porque ele me fez jurar que nunca contaria a ninguém. Santi chegou a me chamar várias vezes para ir morar com ele, mas não consigo deixar o Rubens e a Júlia, quando meu pai morreu eu meio que assumi a responsabilidade por eles, virando uma figura paterna para eles.

Já faz tempo que não bebo tanto assim, mas é que Rubens veio do interior só pra passar meu aniversário comigo, isso foi melhor que qualquer presente, ainda trouxe o Antônio que é quase um irmão para mim também, só faltou a Vanessa aqui também, mas acho que preciso me acostumar que ela não faz mais parte da minha vida.

O quarto está girando, mas não estou tão ruim, já fiquei muito pior do que isso, quando Andrey tá na cidade e se junta com o Zé Filhos eles me enchem meu saco até sair com eles, toda vez é a mesma coisa digo não e depois nem lembro como cheguei em casa, sei qual dos dois bebê mais. Dou uma olhada pelo quarto, mas não vejo Rubens, o relógio do celular diz que ainda é madrugada.

— Rubens? — Chamo com a voz fraca e meio sonolenta.

Ele tava reclamando de sono, estou começando a me preocupar — a bebida na mente não ajuda também — lembro que ele me colocou na cama, depois saiu? Vou até a sala pra ver se o Antônio sabe dele, mesmo bêbado conheço minha casa até vendado, então consigo chegar na sala tranquilamente sozinho, porém nada me preparou para isso.

Rubens e Antônio estão se beijando no meu sofá, meu amigo está deitado por cima do meu irmão e eles trocam beijos quentes cheio de intimidade. Meu primeiro impulso é voltar pro quarto o mais rápido possível. Estou bêbado, isso foi um sonho, com certeza foi um sonho, ainda estou sonhando. A imagem do meu irmãozinho se pegando com Antônio é tão perturbadora que me dar dor de cabeça, como assim, quando isso aconteceu, como não percebi, que porra está acontecendo, o quarto começar a girar mais rápido.

Deito na minha cama tentando assimilar o choque do que acabei de ver, não demora muito ouço Rubens voltando pro quarto, não sei por que, mas fico completamente imóvel, fingindo que estou dormindo, ele deita do meu lado e dorme como se nada tivesse acontecido, o que isso significa?

Não consigo mais dormir, até cochilo, mas me vem a lembrança do que eu vi e não sei o que fazer, não sei como agir, meu irmãozinho estava com outro cara, que loucura foi essa e por que ele não me contou? E Antônio, ele é meu amigo, como pode fazer isso e nem falar comigo? Estou tão puto e confuso com isso agora que não sei o que fazer ou como agir.

O sol começa a iluminar o quarto e tudo que passa na minha mente é que preciso de respostas, quero saber desde quando isso tá acontecendo e por que. Meus pensamentos estão desordenados, vejo Rubens dormindo do meu lado e mesmo estando puto de raiva, simplesmente não consigo acordá-lo, não posso confrontar o Rubens.

Levanto com um pouco de dificuldade, minha mente está totalmente escurecida com raiva e confusão, mas preciso pensar antes de tomar qualquer decisão. Tomo um banho, visto uma roupa limpa e saio do quarto, quando estou na porta ouço Rubens a me chamar.

— Pra onde cê vai Ben?

— Eu tenho que resolver uma coisa, mas volto logo pra buscar vocês e irmos para casa da mamãe — não consigo olhar diretamente para ele, pois não quero que perceba minha aparente raiva.

— Tá bom, se precisar de alguma coisa só falar — precisava que tivesse me contado a verdade sobre você.

— Tá.

— Ben, feliz aniversário — preciso sair desse apartamento antes que tudo dentro de mim exploda, são muitos sentimentos juntos.

— Obrigado, descansa eu volto logo.

Não tenho coragem agora para falar com Rubens, mas tenho certeza que outra pessoa tem todas as respostas que preciso. Entro no meu carro e já pego meu celular, procuro o número da minha irmã na agenda — por isso ele se afastou de mim, as coisas agora estão começando a fazer sentido.

— Oi Ben, que horas são, você dormiu? — Julia tem voz sonolenta e meio confusa.

— Onde você está? — Minha voz sai um pouco mais áspera do que a intenção.

— Estou no Tesão, falei que vinha pra cá — ela responde ainda confusa.

— Estou chegando aí — antes que Júlia diga algo desligo o telefone e viro a chave na ignição.

Não sou a favor de dirigir sob efeito de álcool, porém estou com tanta raiva e outros mil sentimentos diferentes na cabeça que o efeito da cachaça até passou. Demora um pouco, mas consigo chegar, Julia me espera na calçada em frente a casa, ela está com uma blusa grande — que deve ser do seu namorado — e um short curto que faz parecer que está só de blusa, seu cabelo assanhado preso de qualquer forma em um coque. Ela tem os braços cruzados e uma cara de poucos amigos, isso porque a acordei e também vim até aqui.

— Qual o problema Benjamin? — Ela se inclina até a janela para falar comigo.

— Entra no carro a gente precisa conversar.

— Não vou a lugar nenhuma até você me explicar por que está agindo dessa forma?

Estou sem a menor paciência para as rebeldias dela, então desço do carro dou a volta e abro a porta do passageiro, encaro minha irmã de uma forma tão séria que a faz parar de resistir e entra finalmente no carro. Respiro fundo, Júlia está com cara emburrada, mas tô pouco me fodendo para isso, ela vai ter que me falar o que tá rolando com Rubens.

— Benjamin, da pra me dizer que porra toda é essa!

— Há quanto tempo você sabe sobre o Rubens? — Sua feição de brava se desmancha na hora.

— Ele te contou? — Ótimo, ela entendeu que não estou pra joguinhos.

— Não, eu vi ele se pegando com Antônio no meu sofá porra! — Acerto o volante com força.

— O que você fez com o Rubens? — Nunca vi Julia reagir assim, feito uma onda querendo defender seu filhote — juro por Deus Benjamin se você tiver machucado ele, eu não respondo por mim.

— Não fiz nada, eu não machucaria o Rubens — me enfurece que ela ache que eu faria algo para machucar meu irmãozinho, não faria isso, não importa o quanto me sinta traído e puto.

— Benjamin, você não entende.

— Então me explica Julia, como você sabe disse e eu não? Porque ele está fazendo isso?

— Isso o que Ben, sendo feliz tentando seguir com a vida dele? — Agora sou eu quem estou sem ter o que dizer — já não basta ter estragado a vida dele uma vez agora você quer fazer isso de novo?

— Do que você tá falando Julia? — Agora sou eu quem está confuso.

— Benjamin escuta, o Rubens é gay, odeio ser a pessoa que esta te falando isso porque eu jurei para ele que jamais contaria.

— Meu irmão — não sei o que pensar.

— Ele é gay, sempre foi, eu já tinha minhas suspeitas, mas ele levou anos até ter coragem para me contar.

— Por que ele não me contou?

— Você é militar caralho, namora a mesma garota a vida toda, como ele ia te contar? — Julia me confronta, mas nada poderia me preparar para suas próximas palavras — Ben, o Rubens já tinha perdido o papai, você queria que ele arriscasse perder o único pai que lhe restou?

As palavras da Júlia entram no meu coração, lágrimas escorrem no meu rosto, não tinha pensado nisso. Quando meu pai morreu Rubens era muito jovem, eu fui quem ficou com ele e com a Julia, até eles terem idade de trabalhar e ajudar em casa acabei virando o provedor, o homem da casa, não ganhava muito no exército, mais todo o meu dinheiro era na mão da minha mãe para ajudar com as contas e dispensas dos meus irmãos, mamãe trabalhava muito então tive que ajudar a criar meus irmãos também. Mesmo quando meu pai ainda era vivo — mas já doente — era pra mim que eles vinham quando tinham problema.Com dezoito anos tive que ter responsabilidade de um adulto.

— Você disse que estragamos a vida dele, o que aconteceu Júlia — a raiva foi totalmente substituída por tristeza agora.

— Não devia falar, mas agora foda-se também, Ben uns dez anos atrás enquanto usava o computador do Rubens ele tinha esquecido de apagar o histórico e acabei vendo algo que não devia, enfim, ele me contou que era gay, mas estava confuso e muito deprimido.

— Como não percebi isso?

— Rubens sempre foi bom em esconder seus sentimentos Benjamin, nem eu tinha percebido o quão triste e solitário ele era, mas aí quando ele me contou fiquei do seu lado, apoiando e tentando amar por todos nós.

— Por que você não convenceu ele a cobrar pra gente?

— Sério isso, cara nossa mãe não fala de outra coisa que não sejam netos e você com sua farda realmente é muito alisado da causa — não gosto de sua ironia, mas por mais que me doa, Julia não está de toda errada.

— Tá bom, continua.

— Rubens me perdoa — ela disse pra si mesma — eu levei ele numa boate e comecei a incentivar que ele baixasse aplicativo de namoro e tudo isso, nessa ele conheceu o Mariano.

— O Rubens nunca namorou — não é possível que ele tenha arrumado a porra de namorado e nem isso eu percebi.

— O cara é gente boa, muito apaixonado pelo Rubens e os dois chegaram até a noivar — algo dentro de mim se quebra, meu irmãozinho ficou noivo e eu nem estava lá, quantas coisas ele teve que viver sem poder me contar? — O Mariano e eu não nos damos bem, ele acha que sou uma aproveitadora e enche o saco do Rubens para ele não pagar meu cartão de crédito, mas tenho que ser justa, durante sete anos ele foi a criatura mais paciente e amorosa possível.

— Sete anos?

— Sim e a gente quase perdeu o Rubens para sempre irmão, os ex sogros dele já tinham até comprado um apartamento pra eles, eu mesmo só tava convidada por casamento porque enfim né, sou irmão.

— Ele não ia me chamar? — Não consigo acreditar nisso.

— O Rubens queria muito, por mais que ele tentasse esconder ele chorou muito todos esses anos por sua causa Ben, nosso irmão sempre te amou e te admirou e para ele não ter você no casamento era a parte mais difícil, só que o Mariano começou a pressionar para que ele saísse do armário para o resto da nossa família e ele não conseguiu, então Mariano terminou tudo.

— Por isso ele ficou ainda mais estranho?

— Sim, foi um mês chorando escondido no quarto por causa do Mariano e pior, por causa dele o Rubens se mandou pro interior, para ficar longe e tentar superar.

— Não acredito nisso Julia, esse não é meu irmão.

— É sim Ben, e olha sinceramente se você puder colocar todo esse preconceito de lado você vai ter o prazer de conhecer o cara incrível que o Rubens se tornou — não tenho preconceito, só não consigo entender como ele viveu uma vida com esse segredo, mas, Julia ta certa, eu não entenderia antes.

— Antes talvez eu não entendesse, mas depois de passar dez anos longe dele e saber que a culpa foi minha, não sei mais de nada agora.

— O Rubens tá feliz, mais até do que estava com Mariano — Julia limpa suas lágrimas que assim como as minhas escorrem por seu rosto — não sei o que o Antônio fez e nem como conseguiu, mas em um mês o Rubens já parece outra pessoa.

— Antônio não é gay, ele estava com a Luana.

— Quando eu fui pra lá eles já estavam juntos então não sei o que rolou, só sei até foi depois que o Antônio se separou, conheço meu irmão, ele jamais aceitaria ser amante.

— Antônio terminou com a Luana pra ficar com Rubens? — Isso é tão inacreditável pra mim, por vezes meu amigo me disse o quanto Luana era a mulher da sua vida.

— Ele parece que ama o Rubens também, não conheço o Antônio tão bem, mas irmão por favor, eu te imploro, deixa o Rubens ser feliz, não vamos estragar tudo de novo.

— Júlia — ela segura meu braço com força.

— Nosso irmão caçula tem síndrome do impostor, ele acha que não merece ser feliz e acredita que ele mesmo se sabota, não entendo como, mas o Antônio parece fazer bem a ela, se o Rubens perder esse amor ele nunca mais vai ser feliz de novo Benjamin, nunca mais.

Ela enxuga suas lágrimas mais uma vez, respira fundo e saí do carro sem dizer mais nada, durante anos pensei que o Rubens me odiasse, que eu tinha feito algo e de fato eu fiz, não fui o irmão que ele precisava que eu fosse, por isso nunca quis ser pai, sou merda nesse papel. Meu irmão vivia deprimido a maior parte de sua vida e por conta do medo ele perdeu um grande amor. Antônio é um homem íntegro, honesto e totalmente apaixonado, não consigo pensar em alguém melhor pra fazer meu irmão feliz.

Nunca pensei que teria um irmão gay, isso é surreal, mas Júlia tem razão, já perdi dez anos, não posso mais perder tempo. Quero conhecer o Rubens, de verdade. Durante todos esses anos nunca prestei atenção nele, tenho sido um irmão de merda e ele está tentando se aproximar, ele veio pro meu aniversário, ele deu um passo na minha direção.

Volto para casa, pensando no que vou fazer, não posso contar o que vi, ele tem que me contar, só que dessa vez vou provar que pode confiar em mim, mando, Júlia não vai contar, ela não vai querer levar a bronca por ter me contado. Uma hora ele vai se sentir seguro comigo de novo, vou ter paciência e usar esse tempo para tentar entender melhor tudo isso, desconstruir alguns preconceitos e ser um irmão melhor.

Em casa vejo Antônio sentando no sofá com cara de quem acabou de acordar, Rubens está na cozinha preparando café — gosto que ele se sinta à vontade na minha casa — Antônio ao me ver levanta para me dar os parabéns. Um grande amigo e também meu cunhado, não sei o que pensar sobre isso, quero colocar ele na parede e dizer que se brincar com meu irmão vai se dar mau, mas porra é o Antônio, ele não faria isso.

— Antônio, como tá a Luana?

— Ah, ela tá na dela, a gente já não tava muito bem então terminar foi a escolha certa para ambos — só espero que ele esteja falando a verdade.

— Você não sente mais nada por ela?

— Sinto claro, tenho carinho por ela, mas não temos mais os mesmos sentimentos.

— E a tal pessoa com quem você está saindo, como estão as coisas? — Ele sorri de uma ponta a outra.

— Eu tô feliz, as coisas estão indo devagar, mas é a paixão da minha vida irmão.

— Quero conhecer essa pessoa sortuda então — ele toca no meu ombro, depois levanta ficando de pé.

— Você vai, melhor eu ir tomar meu banho pra gente não atrasar né, o Rubens tá fazendo café pra gente na cozinha.

O café ajuda, agora que o sangue tá começando a esfriar a ressaca tá vindo — não sou mais tão jovem — e tem muita coisa passando na minha cabeça agora. Depois do café seguimos para casa da minha mãe, ela e minha vó está cozinhando o almoço e bastou entrarmos em casa para começar o falatório sobre Vanessa de novo, como se a mamãe só não fosse o suficiente.

— Cadê a Júlia mãe já chegou? — Rubens pergunta.

— Já, ela está no quarto dela, filho, por que você não chama a Vanessa pra vir almoçar com a gente — minha mãe precisa decidir se quer ou não a minha ex como nora, estou ficando maluco.

— Melhor deixar ela lá, hoje é um dia para se passar em família — Vovó não gosta nenhum pouco da Vanessa e é que elas mal se conhecem.

— Ben aqui seu presente — Rubens me surpreende saindo do quarto da Júlia com um embrulho nas mãos.

— Espero que goste porque é meu e dele — Júlia é muito esperta, eu sei que o presente é do Rubens, mas ela todo ano mete esse louco de dizer que ajudou no presente.

— Obrigado — agradeço e já começo a rasgar o embrulho.

Rubens sabe que gosto muito de relógios, ele me deu um smartwatch — eu estava mesmo precisando — além disso uma camisa e uma carteira, mesmo sem saber ele acertou no relógio e na carteira, eram duas coisas que estava pensando em comprar.

— Poxa, valeu irmão — puxei ele pra um abraço o pegando totalmente de surpresa — gostei bastante.

— Ei o presente também é meu — Júlia entra no meio do nosso abraço também, essa minha irmã não tem jeito.

Ele parece feliz por ter acertado, faz tanto tempo que não vejo meu irmão assim feliz, sua tensão nos ombros ainda está aqui presente, só que Júlia tá certa, ele parece mais animado, menos na dele. Do nada me vem uma ideia na cabeça e sei que vou ter que ouvir muito depois, minha mãe não vai gostar, mas na real preciso disso.

— Antônio, mano, gostei muito de você ter vindo e taus, mas se importar de passar o dia com a Júlia hoje?

— Não mano, de boas, mas aconteceu alguma coisa?

— Não, só quero passar um tempo com meu irmão.

— Faz isso, vou ficar de boas e já conversamos muito ontem, tô tranquilo — Antônio abre um sorriso que se fosse antes não faria muito sentido, mas agora que sei que ele é meu cunhado é compreensível.

— Mãe, Rubens e eu não vamos comer em casa — ela e minha avó tem uma reação de imediato, e o Rubens parece meio chocado.

— Que história é essa Benjamin?

— Mãe a gente volta mais tarde, a senhora ainda vai ver ele antes de viajar.

— Não, meu filho não tem nem cabimento — minha vó se mete.

— Olha gente, não estou pedindo, estou avisando, é meu aniversário e eu vou almoçar com meu irmão, eu tenho umas coisas pra resolver com ele e tenho que aproveitar que ele está aqui, a gente janta todo mundo junto, vamos Rubens.

Meu irmão me segue em silêncio, deve está em pensando que quero brigar com ele ou algo assim, já minha mãe e minha avó ficaram reclamando da cozinha, mas não ligo, passei dias ouvindo elas falarem merda sobre meu relacionamento com Vanessa, mereço uma folga e também preciso desse tempo com o Rubens.

— Onde vamos almoçar? — Ele me pergunta.

— Não sei, estava pensando em comer no shopping, o que você acha?

— Pode ser — ele pensa um pouco antes de falar então solta — eu fiz algo errado?

— Não, olha Rubens, depois de terminar com Vanessa eu tô revendo algumas coisas na minha vida e só quero ter um tempo de qualidade com você só isso.

— Beleza, melhor a gente ir no shopping que assim já dá pra comprar o chocolate de aniversário.

— Verdade, obrigado pelos presentes, eu realmente estava precisando.

— Não foi nada, fico feliz que tenha gostado — é a primeira vez que ficamos sozinhos em mais de dez anos, e diferente do que pensei não é estranho, até parece que o tempo nunca passou.

No caminho pro shopping ele me conta sobre sua promoção no trabalho e em como está gostando do Tianguá mais do que pensou, ele fala sobre o sítio do Bosco que virou seu lugar favorito no mundo e é tão bom ter ele falando comigo, meu irmãozinho não é mais o moleque tímido de antes, ele tem um emprego foda onde é valorizado pra caralho e é também muito inteligente. Quando falo com ele sobre o exército e o que tenho feito ele se mostra uma pessoa muito bem informada sobre alguns assuntos e notícias.

Mas quero que nossa conversa vá além do raso como normalmente é então resolvo contar sobre meu término, com Rubens posso ser cem por cento honesto e preciso ser, preciso do meu irmão, ainda mais agora que sei que ele entende exatamente o que estou passando, a dor de terminar uma relação de longa data, assim como ele sou do tipo que esconde os sentimentos, então talvez com Rubens me sinto seguro, não sei se vou conseguir, porém início mesmo assim.

— Eu quis te chamar pra almoçar também, porque quero falar sobre a Vanessa — mantenho os olhos no trânsito.

— O que aconteceu? — Rubens pergunta.

— Você sabe que a gente tá junto desde o colégio, ela foi minha única namorada e também uma das únicas pessoas com quem transei e tudo mais.

— Sempre achei que vocês ficariam juntos para sempre — ele não é o único que pensava assim.

— Pois é, também já cheguei a acreditar nisso, tipo a gente brigava e taus, mas nunca tinha chegado a esse ponto.

— E o que rolou Ben, pode me contar, não vou te julgar e prometo guardar seu segredo se quiser — ele está se esforçando também, está cada vez mais nítido para mim que tudo que preciso é dar abertura e ele virá até mim.

— Cara ela sempre quis ser mãe, esse sempre foi o maior sonho dela, só que nunca foi o meu — respiro fundo e dou um tempo para ver qual será sua reação, mas ele apenas escuta em silêncio e sem julgamentos como o prometido — só que a Vanessa alimentou durante anos a ideia de que se acontecesse eu acabaria mudando de ideia.

— Você seria um bom pai Ben.

— Eu não sei Rubens e também não é algo que queira descobrir, ser pai não é para mim, a uns meses a Vanessa teve um atraso e começou a achar que estava grávida, fizemos um teste desses de farmácia e deu positivo.

— Nossa, você não falou nada com a gente?

— É que nem eu consegui acreditar, minha reação não foi boa e tivemos uma briga muito feia, tipo claro que assumiria e taus, mas não conseguiria ser um pai pra essa criança e provavelmente iríamos nos separar — não me orgulho de pensar assim, porém tenho que ser honesto comigo mesmo — fizemos um exame de sangue depois e aí veio a notícia de que o teste de farmácia havia sido um falso positivo, ela tem um problema no útero enfim não vem ao caso, o lance é que o médico que atendeu ela depois por conta desse problema disse que se quisermos ter filhos tinha que ser agora.

— Imagino que essa notícia tenha inflamado ainda mais a briga de vocês, né?

— E como Rubens, ela me jogou na parede e disse que era filhos ou nada e não sei não me pareceu justo deixar que ela perdesse mais tempo comigo.

— Sinto muito irmão — sua mão em meu ombro me causa um alívio que não achei ser possível encontrar em outra pessoa.

— Eu amo a Vanessa, ela foi a mulher da minha vida, só que acredito nos precipitamos, antes dela eu só tinha transado duas vezes na vida e foram com a mesma garota, durante esses anos eu tive situações muito complicadas.

— Você traiu a Vanessa Ben?

— Não, mas eu quis, só que sempre lembrava do papai e me recuso ser igual a ele — Rubens fica em silêncio, porém não me sinto que estou sendo julgado — apareceram algumas oportunidades até com amigas dela, só que nunca cheguei a trair.

— Então terminar foi o certo Ben, você pode viver o que não viveu por conta do relacionamento, mas você tem certeza que vale a pena trocar o que vocês tinham por isso? — Me fiz essa pergunta tantas vezes e nunca cheguei a uma resposta definitiva.

— Espero que sim, Rubens, porque não vou ser pai, não importa o quanto ela peça, não é o que eu quero, não posso ser.

— O importante Ben é que você não está enganando ela, vai doer, mas uma hora passa, quando você perceber que com outra pessoa ela vai realizar seus sonhos e ser feliz você vai ver que fez a escolha certa em deixá-la ir.

— Obrigado irmão, por me ouvir e por não me julgar.

— Jamais julgaria você, tenho meus erros e falhas também e eu sei o quanto pode doer perceber que você não é o que a pessoa que você ama espera — Rubens se permite ser vulnerável perto de mim como fazia antes, esse é um progresso na nossa relação.

— Espero que ela encontre um bom pai pros seus filhos, de verdade Vanessa merece ter tudo que sempre sonhou.

— Você também merece Benjamin, não querer ter filhos em nada diminui o cara bacana que você é irmão.

— E você Rubens, está feliz? — Rubens pensa um pouco antes de responder.

— Hoje eu estou feliz e no geral acho que estou buscando ser mais feliz ultimamente, então acho que sou sim, ou melhor estou sim.

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Comentários

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Show. Capítulo sensacional, li emocionado e agora estou ansioso pelo desfecho. Tomara que Rubens conte tudo antes de ir embora nem que seja só para o irmão ambos merecem isso.

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Essa narração pelo Ben veio em ótima hora, mais uma excelente sacada sua, Rafa!

Torcendo para Rubens se abrir!

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Só digo que chorei de emoção com a conversa do Rubens e Ben, queria ter um irmão assim!

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Você tem irmãos, PA? Fiquei curioso!

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Ansioso para ver Rubens e Antônio felizes juntos pra sempre juntos.

Parabéns pelos seus contos!!

Fico dando refresh toda hora esperando o próximo capítulo

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esse conto é um bálsamo. a narrativa cativante e os personagens tão realistas e humanos. Como.nao torcer para os irmãos se reconciliarem.

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que louco isso, no final do capítulo anterior tive essa intuição ao reler o texto. Agora, leio esse com um lágrima boiando no olho. A vida foi muito dura com Rubem. Ele merece muito a felicidade que Antonio pode dar a ele.

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