O FANTASMA DO PASSADO X - Entre a lápide e o desejo

Categoria: Heterossexual
Contém 3049 palavras
Data: 19/05/2025 00:46:57

O silêncio no apartamento era quase incômodo. Da cozinha vinha apenas o som espaçado da cafeteira, e da sacada, a luz amarelada da manhã filtrava-se pelas cortinas semiabertas, esbarrando na tensão que pairava entre os dois.

Amanda andava de um lado para o outro, inquieta, com o celular na mão. Matheus a seguia com os olhos, sem dizer nada. Havia algo naquele movimento dela que o fazia se sentir espectador de uma peça que não queria assistir — e ainda assim, não podia sair do teatro.

— Ele me chamou pra almoçar — disse Amanda enfim, parando perto da janela. Não olhou para ele ao falar. — Vai se mudar pra outro estado. É tipo... uma despedida.

Matheus não respondeu de imediato. Passou a mão pelos cabelos, respirou fundo e ajeitou-se no sofá como se precisasse de algum tipo de amparo físico para não afundar na própria angústia.

— E você vai? — perguntou baixo, seco.

Amanda assentiu com lentidão. Havia algo de confissão naquele gesto.

— Achei que fosse só uma mensagem — ele completou, num tom entre amargo e resignado. — Mas você pensou nisso desde o começo, né?

Ela se virou então, encará-lo era um esforço, mas não um gesto de culpa. Era franqueza.

— Eu pensei em tudo. Em não ir. Em fingir que não vi. Mas também pensei que talvez eu precise fechar esse ciclo com ele... de verdade.

Matheus se levantou devagar, pegou o celular da mão dela sem pedir permissão. Desbloqueou, deslizou as mensagens, leu com olhos atentos. A primeira, a mais recente. A que ainda não tinha sido respondida. Um convite direto, mas elegante. Sem exageros. Sem pressão. Uma armadilha feita de boas maneiras.

Ele passou o dedo pelas conversas anteriores. Mensagens antigas, algumas triviais, outras carregadas de pausas e reticências. Algo o incomodava.

— Engraçado... ele não escreve como quem esqueceu — murmurou. — E você... também não escreve como quem quer esquecer.

Amanda cruzou os braços. Ela odiava ser lida daquele jeito. Mas Matheus sempre soube. Sempre a decifrava no entrelinhar dos olhos.

— Você quer responder isso agora? — ele perguntou.

— Sim. Mas... eu não sei como.

Ele ergueu uma sobrancelha, devolvendo o celular. — Me deixa tentar uma coisa?

Amanda hesitou. O celular ainda quente na mão. Aquela mensagem aberta. O cursor piscando.

— Vai... — ela disse por fim.

Matheus se sentou ao lado dela. Apoiou o cotovelo no joelho, pensativo, como se estivesse redigindo uma peça de defesa no tribunal da própria vida.

— “Aceito o almoço, sim.” — começou a ditar. — “Mas não ache que isso é sinal verde pra nada. Só quero entender o que ficou sem resposta. E deixar o resto onde pertence: no tempo.”

Amanda sorriu. Um sorriso pequeno, mas que dizia tudo.

— Achei maduro. Mas um pouco... irônico.

— É. E verdadeiro também — respondeu ele. — Você quer deixar ele confortável? Ou quer ser você mesma?

Ela respirou fundo, apagou o que ele ditou, e escreveu de novo. Com os dedos mais firmes.

> “Acho que chegou a hora. O almoço tá de pé. Só não espere a Amanda de antes. Aquela ficou na sala de aula.”

— Agora sim — disse Matheus. — Essa é você.

Eles se olharam por alguns segundos, cúmplices de um jogo que não haviam escolhido jogar, mas que agora já tinha regras próprias.

— E... o que eu visto? — perguntou Amanda, num tom mais baixo.

Matheus andou até o guarda-roupa, abriu devagar, como quem vasculha não só roupas, mas memórias. Tocou em vestidos, afastou blusas, parou em uma camisa bege de tecido leve, que Amanda sempre usava nos dias de audiência.

— Vai com isso. Sem vermelho, sem decote, sem salto exagerado. Vai como se fosse advogar a favor de si mesma.

Amanda riu. Um riso sem alívio.

— Tá me preparando pra guerra?

— Tô tentando fazer com que você volte inteira.

Ela se aproximou dele, parando perto o suficiente pra sentir o cheiro familiar da pele de Matheus. Ele ainda a amava. Ela sabia. Mas também sabia que esse amor estava num campo de batalha, e ela mesma havia lançado a primeira flecha.

— Só me promete uma coisa — ele disse, sem encará-la. — Volta antes que o cheiro dele grude demais em você.

Amanda não respondeu. Apenas pegou a camisa das mãos dele e entrou no banheiro.

Quando a porta se fechou, Matheus afundou de novo no sofá. O celular ainda na mão. A mensagem enviada. A guerra declarada.

E o almoço... era só o começo.

11:26 da manhã.

Amanda encarava o relógio do computador como se ele zombasse dela. O ponteiro dos segundos parecia mover-se mais devagar. Abriu o e-mail, fechou. Checou o processo em andamento, digitou três linhas, apagou. O celular vibrou.

Matheus: "Vai dar certo. Vai doer, mas vai ser certo. Só volta."

Segundos depois, outra vibração.

Cadu: "Já estou aqui. Mesa perto das plantas, canto direito. Tem sombra."

Ela não respondeu. Pegou a bolsa, o blazer bege e, diante do espelho do banheiro do escritório, retocou o batom quase da cor da pele. Neutro. Impecável. Invisível.

O restaurante ficava a poucos quarteirões, e a caminhada pareceu mais longa do que deveria. A cada passo, Amanda se lembrava da noite passada, das palavras ditas, da entrega de Matheus, da mensagem redigida por ambos. Mas agora, sozinha, cada certeza escorregava pelos dedos.

Ele estava lá.

Sentado, como disse, perto das plantas. Óculos escuros sobre a camisa azul clara dobrada nos punhos. Rosto barbeado, o cabelo mais longo do que ela se lembrava. Um homem que sabia o que fazia com a própria imagem — e com a dos outros.

Ela se aproximou com passos lentos. Ele se levantou, educado, sutil. Mas os olhos disseram mais que o corpo. Ele a olhou como se soubesse tudo. Como se estivesse esperando por esse momento desde que ela desaparecera.

— Tá pontual — ela disse, tentando sorrir.

— Sempre estive — ele respondeu.

Sorriram sem rir. Sentaram-se. A brisa era leve, havia folhas de bambu sussurrando acima deles. Pediram dois pratos do dia e água com gás. Nada de vinho. Ainda não.

— Vai pra Santa Catarina? — Amanda perguntou, depois de um longo gole de silêncio.

Cadu assentiu, recostando-se na cadeira.

— Faculdade estadual. Professor de Direito Penal. E fui convidado pra atuar como assessor jurídico na prefeitura de lá. Duas paixões num lugar só.

Ela percebeu: ele não dizia isso para impressioná-la. Ele dizia porque tinha certeza de que ela se importaria.

— Parece um bom recomeço.

— Recomeço? — ele ergueu as sobrancelhas. — Pra mim, nunca foi fim.

Amanda desviou o olhar.

— Quando você saiu da faculdade... achei que fosse por mim. Aquele burburinho todo, as pessoas cochichando. Meu nome... o seu...

Cadu a interrompeu com um sorriso lento, quase debochado.

— Você realmente achou que eu deixaria tudo... por uma aluna? — fez uma pausa. — Não que você fosse qualquer aluna.

Ela arqueou a sobrancelha, confusa.

— Então foi pelo salário?

— Também. — Ele deu de ombros. — Mas você me desestabilizou, Amanda. Não naquele jeito óbvio. Era mais sutil... como quem quebra uma muralha por dentro, com toques leves. Quando vi, eu já pensava em você nos intervalos das aulas. Já imaginava seu rosto entre as pastas do gabinete. Já me pegava lendo jurisprudência e pensando se você ia discordar de mim.

Amanda respirou fundo. Estava quente, mas ela sentiu um arrepio.

— E ainda assim, você foi embora.

— Porque se eu ficasse, a linha entre o ético e o pessoal seria desfeita. Eu me conheço. Eu teria te procurado. Teria inventado monitorias extras, teria... te desejado além do possível. E eu precisava que você fosse possível — ele disse. — E agora você é.

A frase ficou ali, no meio da mesa, como um objeto incômodo e precioso.

Ela tomou mais um gole de água. O garçom trouxe os pratos, mas ninguém parecia com fome.

— Você... sempre planejou isso? — ela perguntou, de repente.

Cadu a olhou com um silêncio que parecia ter sido ensaiado. Demorou a responder.

— Não exatamente. Mas sempre soube que ainda não tinha acabado. Nem pra mim. Nem pra você.

Amanda se ajeitou na cadeira. Estava desconfortável. Não com ele. Com ela mesma.

— Eu sou casada, Cadu.

— Você acha que eu não sei disso?

— Então por que...?

— Porque você veio. E porque, mesmo casada, você guardou o "e se?" num canto do coração.

Ela ficou sem resposta.

— Me diz uma coisa, Amanda — ele prosseguiu, agora inclinando-se levemente sobre a mesa. — Você ainda dorme tranquila, todas as noites?

Ela demorou a responder. O garfo parado na mão, o coração acelerado.

— Algumas, sim. Outras... outras não.

— E hoje?

— Hoje... eu tô tentando entender se vim aqui pra esquecer ou pra lembrar.

Ele sorriu.

— Isso é você admitindo que ainda sente?

Amanda olhou ao redor, como se procurasse uma saída no ar. Não encontrou.

— Isso sou eu tentando não me perder de novo.

— Não se perca. Mas também não finja que nunca se encontrou comigo.

Eles se encararam por longos segundos.

A comida esfriava. Os pensamentos queimavam.

Amanda ainda segurava o garfo, mas não havia mais apetite. O que ele dissera reverberava por dentro como uma música incômoda: sutil, insistente, perigosa.

Cadu pousou os talheres, olhou ao redor como quem estudava o ambiente. Depois, olhou para ela — direto, como sempre fizera. Como se enxergasse o que ela nem sabia sentir.

— Amanda... — ele disse com uma calma proposital, — você lembra da última monitoria do semestre?

Ela congelou. Lembrava.

— Lembro — respondeu, tentando manter o tom neutro. — Eu fui a última a sair.

— Foi. E você sabia que seria. Ficou até depois da hora. Fingiu que não entendeu quando eu disse que o campus ia fechar. Você queria ficar.

Amanda abaixou o olhar. O som das folhas de bambu voltou a sussurrar.

— Eu fiquei... pra esclarecer dúvidas.

— Não. — A voz dele foi firme, baixa. — Você ficou porque sabia. Você sentiu. O clima já era outro. Aquela tensão nos dias anteriores, os silêncios longos, os olhares desviados que sempre voltavam. A gente já estava no fio da navalha.

Amanda sentiu o corpo esquentar, uma lembrança lhe atravessando como lâmina morna. Era verdade. Ela ficara. Ela quis.

— Você lembra que eu fechei a porta da sala, quando os últimos saíram?

Ela assentiu, devagar.

— Eu cheguei a me levantar, pegar minha bolsa...

— E eu disse: "Espera." Você parou na hora. Não hesitou.

Ela mordeu o lábio.

— Aquilo foi um erro.

— Então por que você olhou pra mim daquele jeito?

— Que jeito?

Ele sorriu.

— Como se já tivesse me imaginado entre suas pernas.

Amanda fechou os olhos por um segundo. Lembrava. O calor, o medo, a vontade. O beijo não aconteceu. Mas quase. E o "quase" fora mais forte do que um ato completo. Foi o beijo que morou nas entrelinhas da vida dela por anos.

— Você é cruel, Cadu.

— Não. Eu só não romantizo autoengano.

Ela se levantou. Cadu também.

Por um momento, os dois ficaram lado a lado, em pé, diante da mesa agora vazia. Amanda tentou se afastar, mas ele segurou levemente seu pulso — um toque discreto, mas preciso.

Ela o encarou. O mundo girava ao redor, mas ali, dentro daquele instante, tudo parecia imóvel.

— Você tá jogando comigo.

— Eu tô devolvendo o que você me deu — disse ele, sério. — Você me deixou com esse desejo preso por anos. Agora é sua vez de carregá-lo.

Ela engoliu seco.

— Isso não é justo.

— O desejo nunca é.

Ele soltou o pulso, devagar, como quem sabe que não precisa mais segurar.

Amanda virou-se e saiu, mas os passos estavam descompassados. Por dentro, a respiração era desorganizada. Ela não sabia mais se estava fugindo... ou se voltaria.

E ele sabia disso.

Amanda se trancou no banheiro do restaurante.

Encarou o espelho. Suas pupilas estavam dilatadas, os lábios entreabertos, a respiração irregular. Passou a água fria no rosto, mas o calor vinha de dentro — do ventre, da garganta, da memória.

“Você me deixou com esse desejo preso por anos. Agora é sua vez de carregá-lo.”

A frase martelava, como se tivesse cravado na nuca.

Ela inspirou fundo. Uma. Duas vezes. Tentou alinhar os pensamentos, lembrar de Matheus, do acordo, da vida real.

Mas a realidade não era um escudo contra o que ela estava sentindo. E isso era o que mais a assustava.

Saiu. Voltou à mesa com os ombros erguidos, mas ele percebeu.

Cadu estava de pé, ao lado da cadeira. Não tinha se afastado. Nem havia pago ainda a conta. Ele queria o último movimento.

— Respirou? — ele perguntou, sem sarcasmo.

Amanda não respondeu. Sentou-se, com um esforço calculado. Ele sentou logo depois, encostando-se na cadeira com um certo domínio morno, o tipo de segurança que sempre fizera ela se perder.

— Eu vou embora — disse ele. — Santa Catarina. Um novo campus, e um cargo no jurídico da prefeitura. Vaga antiga. Esperei o momento certo.

— Isso é uma despedida?

— Não. — Ele se inclinou levemente sobre a mesa. — Isso é um convite.

Amanda mordeu a parte interna da bochecha. Quis rir. Quis fugir.

Mas ficou.

— E se eu disser não?

Ele se levantou devagar. Puxou o celular do bolso, o destravou, digitou algo rápido. Depois o virou para ela: uma notificação agendada.

“Sábado – 19h – Amanda. Finalizar o que começou.”

— Você já sabe onde eu moro — disse ele. — E sabe o que eu quero.

Amanda franziu o cenho, sentindo o coração bater nas costelas.

— E se eu não for?

Cadu a olhou como quem lê um livro com final conhecido. Se aproximou um pouco, abaixou a voz. O mundo ao redor sumia.

— Seu tempo está acabando, Amanda. Termine o que você começou… ou morra com o inacabado.

Ela sentiu o peso das palavras cravarem dentro de si. Era uma frase, mas também uma sentença.

— Isso não é justo.

— A justiça nunca teve a ver com a gente. Mas o desejo… sempre teve.

Ele deu um passo atrás, pagou a conta com um aceno breve para o garçom, virou-se e começou a sair.

Na porta, parou, virou-se apenas uma vez.

— Sábado. Não atrase.

E sumiu entre os bambus e o sol em declínio.

Amanda ficou sentada, com as mãos trêmulas e os pensamentos embaralhados.

Ela não sabia se queria gritar… ou obedecer.

A chave girou na fechadura com um estalo discreto, mas o silêncio que aguardava do outro lado da porta fez tudo parecer mais alto. Amanda entrou devagar, como quem tem medo de ser percebida por si mesma. Carregava o peso de um corpo desperto e uma alma em colisão. As luzes do corredor estavam apagadas, mas uma claridade tênue vinha da varanda.

A cidade lá fora pulsava com luzes distantes, indiferente ao caos interno que ela arrastava nos passos. Ainda vestia a roupa do almoço — a blusa justa e sóbria que agora parecia marcada pelo calor do olhar de Cadu, os cabelos meio desfeitos, os olhos ainda marejados por dentro, embora secos por fora.

Amanda caminhou até a varanda como se fosse o único lugar possível de estar. Abriu a porta de vidro com cuidado e se deixou cair na poltrona baixa, onde tantas vezes dividira risos com Matheus. Agora, não havia risos. Havia apenas a respiração contida, como se o ar ali fosse emprestado.

Ela não o ouviu chegando. Mas sentiu.

Matheus estava de pé no vão da porta da sala. Tinha chegado há poucos minutos, deixado o tênis no canto do hall, largado a chave sobre a mesa da cozinha. Ao entrar, percebeu que havia uma luz acesa — e Amanda, imóvel, na varanda. Seu coração afundou com a cena. Não pelo que ela dizia. Mas por tudo que ela já não conseguia esconder.

Ele caminhou devagar. Parou atrás dela, sem dizer nada. Apenas observando. A forma como ela olhava para o céu, como se implorasse por um sinal ou por silêncio. Amanda não chorava, mas era como se estivesse derretendo por dentro.

E então ela falou. Baixo. Sem olhar pra ele.

— Você não precisa me perguntar nada...

A voz dela parecia gasta. Como se as palavras tivessem sido ensaiadas mil vezes e, mesmo assim, saíssem erradas.

Matheus não respondeu. Apenas se sentou na poltrona ao lado. Também virou-se para a noite.

Por um tempo, ficaram assim. Dois estranhos que sabiam tudo um do outro, menos como continuar sendo "nós".

— Foi só um almoço — ela tentou, mas a frase caiu no chão como um copo trincado.

— Eu sei. — Ele finalmente falou.

— Você não sabe.

— Sei que você não voltou do mesmo jeito que foi.

Ela apertou os olhos. Quis negar. Quis jurar. Mas não conseguiu.

— Ele vai embora no sábado — sussurrou.

— E você?

A pergunta ficou suspensa. Amanda não sabia responder. Ela não tinha partido fisicamente. Mas algo dentro dela tinha se deslocado. Algo antigo. Algo que ela tentou enterrar. Algo que agora pulsava, exigindo ser concluído.

— Ele me chamou... — disse com dificuldade. — Sábado. Às 19h. No apartamento dele.

— Como? — Matheus virou o rosto.

— Não foi um convite. Foi uma... ordem.

Matheus segurou o braço da cadeira com força. Não porque queria gritar. Mas porque precisava se prender a algo.

— Você vai? — ele perguntou, olhando fixo pra ela.

Amanda demorou. Sentiu o ar ferir os pulmões.

— Não sei.

E então veio o silêncio mais cruel de todos. Aquele em que nenhuma resposta é suficiente.

Matheus se levantou. Não por raiva. Mas por desespero mudo. Parou à frente dela e a encarou. O rosto de Amanda estava nu. Sem defesas. Sem máscaras.

— Você sempre foi boa com as palavras, Amanda. Sempre soube o que dizer. Mas agora... agora eu tô vendo uma parte sua que nunca vi. E não sei se ela me ama ou só está tentando sobreviver.

Ela quis responder. Mas travou.

Matheus então tocou o queixo dela com delicadeza. Levantou seu rosto. Os olhos dela estavam úmidos, brilhando à luz da cidade.

— Ele pode ter te desafiado, Amanda. Pode ter revirado sua mente, sua pele, seu passado. Mas sou eu quem te viu todos os dias nos últimos cinco anos. Sou eu quem te amou no silêncio e na rotina. E mesmo agora... sou eu quem vai dormir com esse rosto.

Amanda desmoronou em lágrimas silenciosas.

Matheus se afastou. Não como quem desiste. Mas como quem não sabe mais como lutar.

E antes de entrar, murmurou:

— Ele já ganhou, se você não souber o que quer perder.

A porta de vidro se fechou suavemente.

E Amanda ficou ali.

Sozinha.

Com a noite, a cidade...

E o inacabado.

"Alguns desejos não nascem para serem realizados — nascem para destruir. E entre a lápide do que se ama e o desejo do que se teme, Amanda caminha... sem saber o que deixará vivo no final."

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Comentários

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É....um texto digno de parabenizar o autor.A história em si é mais um amor do passado que não ficou no passado.Com certeza numa história real ela iria embora com o Cadu,deixando o marido que se serviu dela por um tempo, sem conseguir fazer ela amar ele.Um relacionamento comum que muitos vivem,e durante a vida vai aparecendo motivos,casos,frustrações, que colidem com a separação.Nao é um tema de traição,e de viver casos liberais,mas sim um amor que nunca se foi,e também nunca viveu.Cruel viver assim,com marido e pensando em outro.

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Novamente é impossível não elogiar a escrita do autor que é extremamente feliz e muito claro ao expressar dos sentimentos de cada personagem.

Já sobre o conto o certo é que alguém vai sair machucado não importa qual decisão ela tomará, seja o marido, seja ela mesma, seja o professor, alguém terá que perder.

Talvez o modo menos doloroso de fechar a história seria ela não ir, mas mesmo não indo sempre vai existir um (e se) “e se eu tivesse ido, martelando em sua cabeça”.

Já com o marido sempre vai existir uma sombra, “e se um dia ele voltar”.

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Situação complicada e personagens não maduros o suficiente.

O professor se passa como um jogador, voltou 05 anos depois e pensa apenas em si mesmo, ele iguinorou que ela é casada, não a respeitou, está prestes a destruir um casamento e pra ele isso tanto faz, ele pensa nele, nas suas conquistas e ao que tudo indica ela seria apenas mais um troféu, além do cargo na prefeitura e o novo emprego na faculdade de Santa Catarina. Eles não tem otina, eles não tem nenhuma sintonia, além de um desejo que ficou. Depois de conquistado Amanda quem garante que ele vai querer se manter com ela ou vai em busca de outro prêmio, outro desafio ? Desejo, tesao e paixão não é amor.

Amanda está perdida, voltou a ser a garotinha da escola, está totalmente entregue, hoje como adolescente, se comporta como uma, a mulher casada, vivida e vem sucedida está morrendo e dando lugar a uma jovem apaixonada que não está conseguindo medir as consequências de seus atos, está deixando se levar, sabe que não está certa, mas não está sendo vonfrontada, receb apoio, ela não está vendo o que vai perder. Além de machucar uma pessoa que ama ela como ela é de fato (mulher, advogada, dona de si) está colocando a suas fixas em alguém que a vê como ela era há anos atrás.

Uma hora o sonho de princesa vai acabar, uma hora ela vai acordar sendo a mulher que ela é e não mais sendo a aluna de anos atrás, e quando isso acontecer ? O professor vai se sentir confortável? E ela ? Quando o fogo passar ? Vai se sentir confortável e se perdoar pela sua escolha ? Uma coisa é uma paixão mal resolvida enquanto solteira, outra é por fim em uma relação de verdade, com alguém que de fato ajudou ela a construir a sua vida.

André, é Maduro, poderia tranquilamente viver uma vida liberal, mas acabou caindo não na sacanagem, não no meio liberal e sim no meio de um co feito entre a mulher que ama e o passado dela.

Ele não a proibi, ele não joga pesado com ela, ele não diz que ela pode perde-lo, ele deixa ela fazer suas escolhas. A depender do que ela escolher ele pode lavar as mão deles ? Mas poderá passar a vida inteira pensando que não lutou por ela, que não deu o melhor de si.

Vamos ver os próximos passos, espero não ter mais 03 capítulos de dialogos repetitivos kkkkkk

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Quem já não esteve numa situação dessa?? eu já. E tomei a decisão acertada de não ir. Simplesmente não ir, sem explicação, sem despedidas. SE ficou um vácuo, um vazio de algo que nunca aconteceu que corroeu para mim, ficou para ela também. É a vida, sempre há uma relação que não deu certo, que existe arrependimento, que poderia fazer diferente em algo, .... e se eu fizesse??? não daria certo??

Pois a vida não é só desejo, é companheirismo, dia a dia, risadas do nada que fazem o teu dia mais feliz. Se ela é tão "honesta" com seu marido, e quer dar fechamento a isto, ela deveria ir com ele no sábado. Assim os dois dizem que não juntos, pois se estava "indisponível" por ser aluna e ele era super "ético", agora muito mais pois está casada. A água desse rio passou e o rio não é mais o mesmo. Não tem como se voltar atrás e dar certo.

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Concordo plenamente com suas colocações, principalmente quando lembra que no passado devido ao status ele não estava disponível e agora ele quer de forma totalmente anti ética destruir a relação dela com o marido que tem sido um cara exemplar. Realmente a vida seguiu e ela precisa entender isso. o cobertor é curto e ela precisa escolher o que vai deixar de fora, mas se ela tiver o mínimo de bom senso.....

3 estrelas

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Também concordo, com perdão da palavra o Cadu é um Cuzão, um conquistador barato, um egocêntrico prepotente e nada mais, ainda que o autor tente amenizar, o comportamento e atitudes dele são extremamente repreensiveis, até mesmo deploráveis.

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❤Qual­­­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­­­pas) Por favor, ava­­­lie ➤ Ilink.im/nudos

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