Capítulo 1 – O Match Improvável
Se existe uma lição que o Tinder me ofereceu, é que a realidade, ainda que menos polida que as vitrines digitais, guarda surpresas deliciosas para os que insistem. Eu, com meus quarenta e tantos anos, permaneço ali, movido por uma curiosidade teimosa, acreditando que cada novo encontro pode ser um presente, ainda que mal embrulhado, mas, sem dúvida, um presente.
O nome dela era Laura. Vinte e três anos. Último período do curso de Psicologia, com aquele olhar que oscilava entre o desejo de abraçar a vida adulta e a vontade de permanecer flertando com o caos das próprias vontades. Usava óculos de armação fina, um detalhe que, em qualquer outra mulher, significaria apenas miopia, mas que nela transformava-se em convite. Um quase fetiche.
Para completar, usava aparelho ortodôntico. Os pequenos brilhos metálicos realçavam o desenho preciso do sorriso, acrescentando um charme inesperado ao conjunto. Cada gesto seu parecia medido por uma coreografia invisível, como se a beleza, nela, fosse uma consequência inevitável de existir.
Morena de pele dourada, cabelos escuros que desciam até a metade das costas, olhos grandes, de um castanho puxado para o mel, com aquele brilho líquido que só surge quando a luz encontra o ângulo exato. Lábios carnudos, com um desenho generoso, uma provocação natural. O corpo não obedecia ao padrão das academias, nem precisava. Quadris largos, coxas firmes, e um par de seios médios que pareciam conspirar contra qualquer tentativa de decote comportado. Uma anatomia desenhada para o pecado da contemplação.
O perfil dela exibia apenas três fotografias. A primeira mostrava-a na biblioteca da faculdade, sentada no chão entre pilhas de livros, os óculos escorregando pelo nariz, e uma expressão de concentração que, sem esforço, já era indecente. A segunda exibia-a no laboratório de Psicologia Experimental, segurando um bloco de anotações, com a blusa levemente amassada, como quem permanecera ali mais tempo do que o planejado. A terceira... a minha favorita: deitada de bruços na cama, com um livro de Freud aberto à frente, os pés balançando no ar e aquele sorriso meigo, de quem sabe que está sendo observada. Vestia um top branco e um short jeans curto, justo o bastante para sugerir mais do que revelar.
Deslizei para a direita sem hesitar. Ela também. O encontro virtual aconteceu com a rapidez de um desejo que não pede licença.