Capítulo 2 – A Primeira Impressão
Segundo ela, havia baixado o Tinder por puro tédio. "Nunca saí com um homem mais velho... mas sempre quis conversar com um", confessou, com aquele tom que misturava curiosidade e provocação suave. Falamos pouco, mas o suficiente para que eu soubesse que ela gostava de música antiga, detestava academias e nutria uma admiração por homens com histórias para contar. Eu não era chef, mas dominava um spaghetti alla puttanesca honesto. Este detalhe, aparentemente trivial, selou o encontro.
Marcamos em um bar pequeno, em Botafogo. Um daqueles espaços que servem IPAs artesanais e onde os garçons exibem bigodes dignos de um festival de jazz em Berlim. Cheguei antes. Pedi uma cerveja apenas para disfarçar a ansiedade e ensaiar a pose de um homem interessante.
Ela chegou pontual. Seu andar tinha a leveza de quem deseja agradar, mas ainda carrega a hesitação própria de uma juventude inexperiente. Vestia um vestido floral de tecido leve, com fundo escuro e pequenas flores coloridas espalhadas com discrição. O decote, sutil, sugeria a maciez de um colo que ela começava a descobrir como ferramenta de encantamento. Por cima, uma jaqueta jeans clara, que equilibrava a delicadeza com um toque casual. Nos pés, um par de botas de couro marrom, polidas, contrastando com as meias de renda preta que surgiam discretas sempre que ela cruzava as pernas.
Os cabelos, soltos em ondas suaves, emolduravam o rosto com a desordem calculada de um acidente estético. A maquiagem era mínima: apenas um rímel leve e um batom em tom de boca. Aquele tipo de beleza que insiste em parecer espontânea, mas que, evidentemente, exigira longos minutos diante do espelho.
O rosto iluminado, o sorriso fácil, o olhar curioso. Laura era o tipo de mulher que ainda acreditava na força das primeiras impressões. E, naquela noite, ela tinha toda a razão.
A conversa fluiu melhor do que eu esperava. Apesar da pouca idade e da timidez evidente, Luara era simpática, educada e surpreendentemente inteligente. Havia uma leveza meio atrapalhada nas palavras dela, como quem ainda ensaia o próprio jeito de ser mulher adulta. Até que veio a confissão:
— Na verdade… eu tenho namorado.
Pausa breve. Avaliação de danos. Ela respirou fundo e continuou:
— Meu primeiro e único, na verdade. Namoramos desde o primeiro período da faculdade... Não sei por que ainda continuo com ele. É aquele clichê de aluno de Direito: filhinho de papai, mimado, cheio de certezas sobre o mundo e nenhuma sobre mim. Mesmo eu sabendo tudo isso, não tenho coragem de terminar. Ele é inseguro, imaturo… paranoico com a ideia de me engravidar. Mesmo eu tomando anticoncepcional desde os dezesseis, ele nunca teve coragem de transar comigo sem camisinha. Sempre aquele medo infantil, aquele sexo rápido, com pressa… sem emoção. E quando acontece… é sempre aquela coisa ridícula, tipo bate-estaca, sabe? Como se tivesse aprendido tudo vendo pornô ruim. Dois minutos de investidas mecânicas e ele já goza. Fico lá, com cara de paisagem, fingindo que foi incrível, enquanto ele vai pro banheiro se sentir o macho-alfa do condomínio. Ridículo.
Ela respirou de novo, como quem se livra de um peso antigo. Depois me olhou com um sorriso enviesado, quase sujo:
— Parte de mim só queria saber como é… de verdade.
Lançou a isca no meio da minha vaidade. Mordi com gosto.