Capítulo 8 – Testes de Reflexo
O verdadeiro poder se prova quando é colocado em espera.
Era domingo de manhã quando o celular de Luísa vibrou. Uma mensagem discreta, sem emojis, sem insistência. Só texto puro, como uma súplica que não queria parecer frágil demais.
Henrique – 10:08
“Você pode tirar o cinto hoje? Pelo menos por algumas horas?”
Luísa olhou a mensagem por alguns segundos sem responder. Depois, lentamente, digitou:
Luísa – 10:11
“Não. Só depois do casamento. Até lá, você observa, aprende... e se prepara para merecer.”
Silêncio do outro lado. Ela sabia que a resposta doía — não pelo objeto em si, mas pelo que ele simbolizava. A espera. A entrega. A falta de controle.
Luísa fechou o celular e se levantou.
Era dia de conhecer os pais dele.
A casa de Henrique era organizada, silenciosa, com móveis tradicionais e almofadas perfeitamente alinhadas. A mãe o abraçou na porta com um carinho que misturava zelo e expectativa. Quando Luísa chegou, foi recebida com sorrisos calculados, olhares curiosos e um aperto de mão firme da irmã dele, Laura — um pouco mais velha, olhar clínico.
Henrique, visivelmente nervoso, fez as apresentações.
— Essa é a Luísa.
A mãe dela a olhou de cima a baixo. Um segundo a mais de silêncio. Depois, um sorriso.
— Já ouvi muito sobre você — disse, sentando-se à mesa. — Se meu filho escolheu te trazer aqui, espero que esteja levando isso a sério.
Luísa não se intimidou.
— Ele está. Ou melhor... está aprendendo a levar.
O pai de Henrique soltou um risinho discreto por trás da xícara de café.
Durante o almoço, conversaram sobre trivialidades. Mas os gestos diziam mais. Henrique evitava cruzar o olhar com Luísa por muito tempo. Sabia o que vestia por baixo da roupa — e o que isso representava. E cada vez que ela tocava o garfo ou ajustava o cabelo, ele parecia respirar mais curto.
A irmã dele notou. Observava tudo com olhos atentos, mas não dizia nada.
Ao fim da refeição, Luísa tomou a iniciativa:
— Eu gostaria de propor um almoço entre as nossas famílias. Aqui ou lá em casa. Para alinharmos expectativas.
A mãe de Henrique franziu a testa, surpresa.
— Expectativas?
— Sim. Se vamos seguir com isso, é melhor que todos saibam o que cada um espera do outro. Afinal... compromisso não se constrói apenas com carinho. Mas com clareza.
A mãe olhou para o filho. Depois, voltou o olhar para Luísa. E assentiu.
— Muito bem. Me avise quando.
No carro, na volta, Henrique estava em silêncio. As mãos entrelaçadas no colo.
— Você sempre vai me testar assim? — murmurou.
Luísa olhou pela janela. Depois respondeu:
— Não. Só até você parar de duvidar de si mesmo. E começar a me enxergar não como prêmio... mas como espelho.
Ele não respondeu.
Mas sorriu.
Porque, no fundo, sabia que aquela espera... estava o transformando.