Amor Sob Regime Fechado! Capítulo 14!

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 1966 palavras
Data: 21/06/2025 16:18:51

Encarei meu reflexo no espelho enquanto passava creme no meu cabelo, ajeitei o topete do jeito que sabia que chamava atenção. Vesti a camisa preta justa e a jaqueta de tecido fino.

Do quarto, ouvi os passos leves dele se aproximando.

— Vai encontrar ele de novo? — a voz de Bernardo soou suave, mas havia uma tensão por trás.

Virei pra ele com um sorriso. — Só uma conversa.

Ele se aproximou, e sem dizer nada, encostou os lábios nos meus. Um beijo lento, profundo, com gosto de medo e despedida.

Quando se afastou, encostou o nariz no meu pescoço, respirou fundo e sussurrou:

— Eu te amo, Pietro. Mas eu não tô gostando do rumo que as coisas estão tomando. Isso tudo... isso que o Pedro quer... A gente não precisa disso.

Vamos esquecer tudo. Vamos embora. Longe daqui. Só eu e você. A gente recomeça. Sem sangue, sem dor, sem passado.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, sentindo o calor do corpo dele colado ao meu, a respiração pesada no meu ombro. A mão dele apertava minha cintura como se me segurasse antes da queda.

E talvez estivesse mesmo.

— Isso é besteira, amor — falei, tentando soar firme. — Tá tudo sob controle. É só mais um encontro.Depois de acabar com o Mateus, Pedro vai se sentir em paz e a gente vai embora. Eu prometo.

Ele se afastou devagar, me olhando nos olhos, como se procurasse alguma parte de mim que ainda estivesse inteira.

— E se isso virar um buraco sem fundo?

— Eu juro que vai dar tudo certo — repeti, quase como um mantra. — Só mais um tempo! Tenha paciência! Depois é a nossa vez. Vamos sumir desse lugar e viver como a gente sempre sonhou.

Bernardo assentiu devagar, mas o brilho nos olhos dele me acusava. Ele não acreditava mais. Ou talvez estivesse acreditando por mim.

Antes de sair, ele me puxou de novo. Me abraçou forte. O tipo de abraço que a gente dá quando sente que pode ser o último.

Eu não disse nada, só lhe dei um beijo na testa!

Faltavam poucas quadras pra chegar na praça. O céu tava tingido daquele azul-escuro de fim de tarde, e o vento soprava leve, mas meu peito já vinha pesado. Eu caminhava firme, com a mente dividida entre o que precisava fazer com Mateus e as palavras de Bernardo que ainda ecoavam na minha mente!

A tela do celular acendeu no meu bolso.

Bernardo ligando.

Revirei os olhos antes de atender.

— Fala, amor.

A voz dele veio trêmula.

— Pietro... volta pra casa, por favor. Eu tô com um pressentimento ruim. Isso tudo tá ficando estranho demais.

Suspirei fundo, tentando controlar a raiva que já subia.

— Bernardo, a gente já conversou. Não começa de novo, por favor.

— Não é paranoia minha. Eu sinto que algo vai dar errado, Pietro. Por que você não escuta uma vez só? Uma vez! — a voz dele se ergueu, um pouco mais desesperada.

— Cê acha que é vidente? Pare de maluquice! — rebati, sem pensar. — Acorda, Bernardo! Isso aqui é o mundo real. Aqui ou você resolve ou você é engolido! Precisamos resolver as coisas e Pedro vai nos dar mais dinheiro...

Silêncio do outro lado.

Aquela pausa que machuca.

— Então é isso que virou? — ele disse, a voz embargada. — Cê virou isso aí agora?

Eu fechei os olhos, sentindo a raiva ferver junto com a culpa.

— Vira homem, Bernardo. Para de agir como se fosse minha mãe. Eu já tô de saco cheio das tuas crises!

E antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, eu desliguei.

Firme.

Cruel.

Como se aquilo não tivesse me cortando por dentro.

Fiquei parado na calçada, o celular ainda na mão.

O silêncio depois da chamada parecia mais alto que tudo ao redor.

Tentei respirar fundo, limpar a mente.

Mas por dentro, eu sabia.

Aquelas palavras que joguei tinham peso. E voltariam pra me assombrar.

Mas agora não dava pra voltar atrás.

Não com Mateus esperando.

Não com Pedro contando comigo.

E então, dei mais um passo.

Pra frenteMinha mão já tava ali, pousada na virilha do Mateus, quase sem que eu percebesse como chegou ali. Ele nem recuou. Pelo contrário — me olhou de lado, com um sorriso malicioso no canto da boca, como se estivesse esperando por isso!

A gente tava sentado naquele mesmo banco da praça onde nos encontramos dias atrás, e, dessa vez, o silêncio entre nós não era desconfortável. Era carregado. Denso. Cheio de uma tensão que eu fingia não existir, mas que queimava como brasa.

Eu devia tirar a mão. Eu sei que devia.

Eu tenho o Bernardo. Eu amo o Bernardo.

Mas tem alguma coisa em Mateus… alguma coisa que me puxa, que me deixa em dúvida do que é certo, do que é errado — do que é desejo e do que é armadilha.

— Você tá jogando sujo, Pietro — ele disse, com a voz mais rouca, ainda olhando pra frente.

— E você não? — devolvi, mesmo sem ter certeza do que eu queria dizer com isso.

Ele riu, baixo. Um riso que me arrepiou.

Não era só provocação… era como se ele estivesse lendo meus conflitos, minhas dúvidas, minhas intenções.

Pedro tinha sido firme. “Faz ele confiar. Faz ele se abrir. E quando ele estiver lá, vulnerável… a gente quebra ele.”

Mas como é que eu vou quebrar alguém que parece mais despedaçado que eu?

Porque ali, com minha mão ainda em cima dele, com os olhos dele me despindo sem vergonha, eu senti meu corpo gritar mais alto que minha consciência.

Mateus levantou. Me encarou.

— Vamo lá pra casa? — a pergunta saiu casual, mas o olhar… o olhar era convite.

Um convite perigoso.

Um convite que eu aceitei.

A rua até a casa dele parecia mais escura do que o normal, mas talvez fosse só minha cabeça mergulhada nessa confusão.

Eu ainda amava o Bernardo. Isso não mudava. Mas meu corpo já não obedecia às regras que eu achava que estavam bem definidas.

Talvez fosse o calor de Mateus, o mistério, ou a dúvida que ele jogava dentro de mim como quem joga gasolina em brasa.

Eu sabia que tava me envolvendo.

Sabia que era um erro.

Mas mesmo assim, quando ele abriu a porta de casa e me puxou pelo braço, eu entrei.

Sabendo exatamente onde aquilo podia acabar.

E mesmo assim… eu quis.

O quarto era pequeno, abafado, com um ventilador velho girando no teto fazendo mais barulho do que vento. A luz amarelada deixava tudo com um ar suado, íntimo… perigoso. E foi ali que Mateus me agarrou pela cintura, puxando meu corpo contra o dele com uma força que não deixava espaço pra dúvida.

Me beijou com vontade. Um beijo quente, urgente, cheio de desejo acumulado.

Por alguns segundos, eu me deixei levar.

Meu corpo respondeu no automático, meu peito apertado entre culpa e tesão.

As mãos dele passeavam pelas minhas costas, pela minha nuca, e depois desceram.

— Eu sabia que você era desses que curte ser dominado — ele murmurou no meu ouvido, com um tom que beirava o desprezo disfarçado de provocação.

Parei. Congelado.

— Como assim? — perguntei, tentando manter a voz firme.

— Ah, você sabe… esses passivozinhos que gostam de homem de verdade. Comigo é assim: quem é passivo aprende a obedecer. — Ele falou rindo, como se fosse piada, mas o gosto do beijo azedou na minha boca.

Era como se eu tivesse levado um tapa na cara.

O calor do momento sumiu, como se tivessem aberto a janela do quarto e deixado a realidade entrar de uma vez.

E ali tava ele. O mesmo Mateus que Pedro descreveu.

Não sei se era o mesmo de antes, o mesmo do passado. Mas essa frase… essa frase mostrou que alguma coisa ainda tava podre dentro dele.

Meu celular tocou.

Graças a Deus, meu celular tocou.

A vibração no bolso foi a desculpa perfeita, o gancho que eu precisava pra sair daquele quarto e daquele transe.

— Preciso ir. Urgente. — Falei seco, me afastando.

Ele fez cara de confuso.

— Sério? Agora?

— É. Agora.

Nem esperei resposta. Peguei minhas coisas, abri a porta e fui embora.

A noite lá fora me engoliu, e o ar fresco bateu no meu rosto como um tapa de realidade.

Caminhei rápido, os passos duros na calçada, como se estivesse fugindo de mim mesmo.

Eu quase fiz merda, quase me joguei numa armadilha só porque achei que podia brincar com fogo e sair ileso.

Mas ele não merecia isso.

O Bernardo… com aquele jeito calmo, com aquele sorriso que me traz paz mesmo dentro do caos. Ele nunca mereceu dividir espaço com os meus fantasmas.

E eu tava prestes a abrir uma porta que podia destruir tudo.

Por um cara que, no fim das contas, ainda não entendeu nada sobre respeito, sobre amor, sobre o que é ser homem de verdade.

Girei a chave na fechadura como sempre, mas o silêncio lá dentro tinha algo de errado.

Era denso.

A casa tinha cheiro de ferro e desespero.

— Bernardo? — chamei. Uma vez. Duas. Nenhuma resposta.

Dei dois passos, e o coração já batia no pescoço.

A sala tava revirada. Almofadas no chão, o vaso quebrado, a cortina arrancada. O mundo parecia ter sido jogado contra as paredes da nossa casa.

E eu ainda insisti em acreditar que ele tava bem.

Porque minha mente, teimosa, se recusa a aceitar o pior.

Mas então… eu vi.

Na porta do quarto, minhas pernas travaram.

O cheiro de sangue me invadiu como uma avalanche.

E ali, ao lado da nossa cama, estava ele.

Bernardo.

O corpo nu da cintura pra cima, o peito coberto de cortes profundos, o sangue encharcando o lençol e escorrendo pro chão como tinta escura.

Os olhos abertos, fixos no nada.

Um silêncio eterno.

— Não... — a palavra saiu sem ar, sem força. Meus joelhos falharam e eu caí.

Minha mão foi em direção a ele, trêmula, querendo tocar, acordar, negar.

Mas antes que eu pudesse, senti algo perfurar minhas costas.

Uma dor aguda, quente, queimando como fogo direto na carne.

Gritei. Ou achei que gritei.

Caí de lado, o rosto quase encostando no chão frio.

A vista turvou.

Vi a figura dela.

Uma mulher.

Rosto pálido, olhos fixos em mim.

Fria. Como se não tivesse acabado de tirar tudo de mim.

A faca — ou o que fosse — ainda na mão dela.

E eu sangrava.

Cada segundo, uma eternidade.

E então, começou a vir.

A vida em retrospecto, como filme mal editado.

As noites vendendo droga na rua, com o medo mastigando meu estômago.

O cheiro do concreto úmido, as sirenes, os becos.

O primeiro dinheiro que consegui.

A primeira vez que quase morri por ele.

Os sonhos.

Ah, os sonhos…

Tantos deles engavetados pela sobrevivência.

Estudar, ter uma casa decente, poder respirar sem olhar por cima do ombro.

Tantos sonhos. E todos agora manchados de vermelho.

A prisão.

A cela apertada, os gritos à noite, os olhares tortos.

E depois, Bernardo.

Ele segurando minha mão no pátio, me dizendo que eu ainda podia ser alguém.

Ele me chamando de “meu” com aquele sorriso meio bobo.

A gente dormindo junto mesmo sem cama boa, dividindo cobertor e esperança.

E eu tava tentando.

Porra, eu juro que tava tentando.

Me arrastei.

Com tudo que ainda restava.

Me arrastei até ele.

O toque da minha mão encontrou a dele, ainda quente.

Entre os dedos, firme. Como se, mesmo morto, ele ainda não tivesse me deixado cair.

— Desculpa... — sussurrei, com a boca cheia de sangue e arrependimento.

— Eu devia ter voltado antes...

Minha visão escureceu.

A dor se diluiu.

E ali, deitado ao lado dele, com a mão dele na minha, eu deixei tudo ir.

Os erros.

Os sonhos.

A vingança.

Nada mais importava.

A não ser que, no fim, a gente ainda tava junto.

Pelo menos por mais esse último segundo.

E então…

Eu fui.

FIM!

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