O Sabor De Uma Doce Vingança! Cap.12 Segunda Temporada

Um conto erótico de Alex Lima Silva
Categoria: Gay
Contém 2157 palavras
Data: 21/06/2025 23:16:39

A ligação chegou num momento aleatório, quase banal. Eu estava sentado no chão da sala, em São Paulo, comendo um resto de lasanha fria, tentando não pensar em nada. Mas quando vi o nome do advogado na tela, algo dentro de mim já sabia. Algo pesado. Algo errado. Meu coração bateu mais forte, e antes mesmo de atender, os pelos da minha nuca se eriçaram como se algum animal selvagem estivesse me farejando de perto.

— Pedro... — a voz dele tremia, o que era raro — preciso que você mantenha a calma. Tenho uma notícia... grave.

Não respondi. Só ouvi. Meus dedos congelaram sobre o celular. Minha respiração falhou por um segundo.

— Pietro e Bernardo... foram encontrados mortos. No apartamento em que estavam morando.

Um silêncio mortal se instalou. Meu estômago virou. O gosto da lasanha azedou na boca.

— Como... como assim mortos? — minha voz saiu trêmula, quase infantil.

— Assassinados. Com requintes de crueldade. Estamos tentando entender o que houve, mas... — ele hesitou — as câmeras de segurança do prédio... estavam todas desligadas, Pedro. Misteriosamente. Ninguém viu nada. Ninguém sabe de nada.

A sensação foi como se tivessem me jogado num poço sem fundo. Senti uma vertigem. Uma pressão nos ouvidos. Olhei ao redor da sala, como se esperasse ver alguém ali, me observando. Nada. Mas o medo... o medo estava presente.

— Isso não é um acaso — sussurrei. — Alguém fez isso. Alguém sabia exatamente o que estava fazendo.

O advogado permaneceu em silêncio do outro lado. Como se também soubesse.

— Eu preciso voltar — falei, de repente. — Preciso voltar agora. Não posso deixar Clara sozinha. Se fizeram isso com eles, podem fazer com ela. Ou comigo.

— Pedro...

— Contrata seguranças — interrompi, firme, recuperando o controle. — Um grupo de confiança. Quero dois homens vigiando minha irmã à distância, discretos, mas atentos. E outros dois pra mim. Não vou andar mais sozinho até entender o que está acontecendo. Isso virou uma caçada. E agora eu sou a presa.

O advogado confirmou com um “vou cuidar disso”, mas sua voz denunciava o receio.

Desliguei. E por um longo tempo, fiquei parado, olhando pro nada, com a respiração curta e os olhos marejados.

A dor da perda ainda não tinha vindo com força total. Estava dormente, talvez esperando a adrenalina passar. Mas o medo... o medo já estava aqui. Dentro da minha casa. Dentro da minha pele.

Alguém estava enviando uma mensagem. Uma ameaça. Ou uma sentença.

E eu ia descobrir quem.

Peguei o celular com as mãos ainda trêmulas. O céu de São Paulo já escurecia pela janela, e uma brisa fria entrava pelas frestas, fazendo o ar parecer ainda mais pesado. Mas agora, precisava de uma pausa. De algo familiar. Precisei ouvir a voz de alguém que me lembrasse que eu ainda estava vivo. Que o mundo ainda podia ter um lugar quente.

Disquei o número de Flávio. Ele atendeu rápido, com a voz leve de sempre:

— Oi, sumido! Tava começando a achar que você tinha fugido do Brasil.

— Fugir… talvez fosse uma boa ideia — murmurei, tentando parecer mais calmo do que eu estava. — Mas não é por isso que liguei. A casa nova... ela já tá pronta?

— Tá quase! Faltam umas coisinhas pequenas — disse ele. — Os móveis chegaram, a cozinha tá funcionando, sua cama tá montada, suas roupas já estão lá… só falta instalar uma cortina no seu quarto e colocar o espelho no banheiro. Mas você pode se mudar amanhã se quiser. Tá tudo lindo. A sua cara.

— Obrigado, Flávio. De verdade. Eu precisava disso agora...

Ele silenciou por um momento e depois perguntou, com a voz mais baixa:

— Você tá bem, Pedro?

— Não — respondi, sincero. — Mas vou voltar amanhã.

— Amanhã?

— É. Preciso estar perto... de tudo.

— Você sabe que eu tô aqui, né? — a voz dele suavizou ainda mais, quase um carinho. — E não é só pela casa. Tô com saudade de você. Do seu jeito ranzinza. Da sua risada contida. Da sua boca nervosa.

Sorri, mesmo contra a vontade. Ele sabia como quebrar minhas defesas.

— E se eu disser que... quero te ver logo? — Flávio continuou, com aquele tom safado disfarçado de doçura. — Que eu tô te esperando na casa nova... na sua cama nova... pra gente comemorar como adultos?

— Flávio... — murmurei, rindo baixo. — Você não tem vergonha, não?

— Nenhuma. Principalmente quando é com você. E quando eu disser que quero transar com você até esquecer o mundo, você vai fazer o quê?

Fiquei em silêncio por um momento, sentindo um calor invadir meu peito, mesmo com todo o medo que me rondava.

— Eu vou voltar amanhã — repeti, mais firme. — E a gente conversa melhor... pessoalmente.

— Então vou deixar o espelho torto mesmo. Quero que você seja a primeira coisa bonita a refletir nele.

Sorri. Quase me permiti esquecer tudo. Quase.

Mas foi aí que o celular vibrou novamente, interrompendo o que poderia ter sido o único instante de paz do meu dia. O nome do advogado apareceu outra vez na tela.

— Preciso atender. Te ligo mais tarde — disse rapidamente a Flávio.

— Tá. Mas volta logo, tá bom? Tô aqui.

Atendi a ligação.

— Pedro… mais uma coisa. Mateus foi preso agora há pouco.

Senti o sangue gelar.

— O quê?

— A polícia o identificou como o principal suspeito pelos assassinatos de Pietro e Bernardo.Algumas provas circunstanciais colocaram ele no centro da investigação.

— Mas... — a voz me falhou. — Isso não faz sentido. Mateus?

— Não temos todas as respostas ainda. Mas a situação é grave. Muito grave.

Desliguei em silêncioO avião deslizava pelas nuvens com aquela leveza forçada que mais parecia fingimento. Como se aquele tubo de metal e promessas não estivesse a dezenas de metros acima do chão, e como se minha cabeça não estivesse uma bagunça silenciosa e caótica. A paisagem pelas janelas ia sumindo pouco a pouco entre nuvens espessas e cinzentas, e, apesar de tudo, havia algo de confortante naquele céu fechado, como se ele compreendesse minha escuridão interna.

Estava com os fones nos ouvidos. Adele cantava como se me conhecesse.

“I drink wine...”

Aquela música batia de um jeito diferente. Como se ela tivesse escrito aquilo após uma conversa comigo, em alguma mesa de bar que nunca existiu. A voz dela entrava em mim como um bisturi afiado, me abrindo devagar, expondo as partes que eu mais escondia. Inclusive dele.

Do Arthur.

Eu tentei evitar pensar nele durante toda a viagem. Tentei enterrar o nome dele debaixo das memórias dolorosas com Pietro, com Bernardo, com Clara... Mas a verdade é que bastava um segundo de silêncio e lá estava ele. Forte, orgulhoso, com aquele sorriso torto que misturava arrogância e desejo. O maldito uniforme apertado nas costas largas, as mãos firmes, os olhos sempre atentos e aquela boca quente que, mesmo quando me calava, dizia tudo com um beijo.

Arthur.

Policial, o cara que me feriu mais do que qualquer um. Que me agrediu fisicamente e mentalmente na adolescência...

E mesmo assim…

Mesmo com todo o ódio, com toda a dor, com todas as noites em que me prometi vingança…

Eu sentia falta dele.

Era humilhante admitir. Mas era verdade. Sentia falta daqueles braços que me seguravam como se eu fosse a coisa mais valiosa do mundo — e logo depois me deixavam cair. Sentia falta da voz dele no meu ouvido, das mãos dele nos meus ombros, de como ele me olhava como se enxergasse demais. Sentia falta até do cheiro da farda misturado com o perfume barato que ele usava, e de como ele me puxava pela cintura, mesmo quando eu fingia resistir.

Fechei os olhos. Quase pedi desculpas a mim mesmo por sentir isso. Mas não adiantava. Estava ali. Vivo. Latejando.

Adele agora cantava “Love in the Dark”, e eu precisei respirar fundo pra não me deixar afundar completamente. O avião começou a descer, e meu estômago girou junto com a aeronave. A cidade que me esperava não era a minha. Era a vizinha — a única da região com um aeroporto de verdade. O resto do caminho seria por terra. Como quase tudo na minha vida: difícil, tortuoso, incerto.

O pouso foi suave, mas meu peito pesava como se carregasse pedras.

Peguei minha mala ainda em silêncio, os fones ainda nos ouvidos, Adele ainda me sussurrando verdades que eu tentava ignorar. Cruzei o pequeno saguão do aeroporto com passos firmes, tentando manter a postura mesmo com o coração prestes a desabar.

Lá fora, o céu estava carregado, prestes a chover. O ar era diferente. Tinha cheiro de terra, de distância, de passado.

Um taxista com cara de cansado levantou uma plaquinha improvisada com meu nome. Assenti, guardei os fones no bolso e entrei no carro sem dizer uma palavra. Ele fez um comentário qualquer sobre o tempo, mas eu não ouvi. Já estava imerso de novo.

Imerso nele.

Arthur.

Será que ele ainda pensava em mim?

Será que ele sentia minha falta ?

Será que lembrava do gosto da minha pele como eu lembrava da dele?

O carro seguia em silêncio, cortando as estradas estreitas e esburacadas que ligavam a cidade vizinha à minha. O céu estava cinza, nublado como um presságio. A chuva parecia querer cair, mas se continha numa tensão no ar, como se o próprio tempo soubesse que algo estava prestes a acontecer. O motorista ouvia um programa de rádio antigo que falava sobre plantações e previsão do tempo, com uma voz arrastada que dava sono. Mas eu não conseguia relaxar. Não naquele dia.

Minha mala estava no porta-malas, e eu com o celular na mão, como quem se apoia em algo pra não desabar. Um novo e-mail havia acabado de chegar da construtora.

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Assunto: Atualização das Obras – Sorveteria

Prezado Pedro,Informamos que as obras na estrutura da sorveteria estão caminhando bem. A parte hidráulica e elétrica já está em fase de finalização, e iniciamos hoje o revestimento interno.

Houve um pequeno atraso na entrega das portas de vidro, mas já regularizado. A previsão de término total continua dentro do cronograma.

Permanecemos à disposição para quaisquer dúvidas.

Atenciosamente,

Equipe Construtora Cardeal

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Li o e-mail com atenção, e pela primeira vez em dias, algo em mim se acalmou minimamente. A sorveteria era o símbolo do meu recomeço. Um dos poucos projetos que ainda me pertenciam, que ainda estavam sob meu controle. Diferente de tudo o que havia acontecido com Pietro e Bernardo... aquilo eu não tinha como reverter. Mas ali, naquela obra, havia alguma coisa firme. Concreta.

Respirei fundo, o cheiro de terra úmida entrando pelas frestas da janela do carro.

Assim que terminei de ler, apertei o botão de chamada e procurei o nome que nunca deixava de me trazer calor: Minha irmãzinha. Era só ouvir a voz dela que o mundo parecia um pouco menos torto.

Toque.

Toque.

Toque.

Na quarta chamada, finalmente alguém atendeu. Mas não era Clara.

— Pedro?! — a voz do outro lado me atingiu como um soco. Era Jaci — Pedro, pelo amor de Deus, você conseguiu chegar? Você já tá aqui na cidade?

— Jaci? — franzi o cenho. — O que tá acontecendo? Cadê Clara?

Silêncio. Um suspiro fundo. E então, o pânico.

— Pedro, a Clara sumiu.— Aquelas palavras atravessaram meu peito como lâminas. — Ela saiu ontem à tarde pra andar de bicicleta no quarteirão, como sempre faz... mas... não voltou.... Tínhamos discutido... mas...A bicicleta tá na calçada, caída... e... meu Deus, Pedro, eu já fui na delegacia, já procurei vizinho por vizinho, já gritei o nome dela até minha garganta sangrar...

Eu parei de respirar por um instante. O carro continuava em movimento, mas tudo dentro de mim congelou.

— Como assim sumiu? Como assim a bicicleta tava caída? Jaci, por que você não me ligou antes?

— Eu tentei! Eu tentei ligar ontem à noite, mas o número dava fora de área... e eu achei que talvez ela tivesse só ido pra casa de alguma amiguinha sem avisar, ou que tivesse ficado brava por alguma coisa boba, mas... já se passaram quase vinte e quatro horas, Pedro. E nada. Nada! Nem sinal dela!

— E a polícia? O que disseram?

— Disseram que iam investigar, que provavelmente era uma fuga voluntária. Mas ela é só uma criança Pedro! Ela não sumiria assim. Não sem me avisar... Eu briguei com ela... Mas ela não sairia assim...

As palavras dela começaram a ficar embaçadas, afogadas em soluços. Eu me endireitei no banco do carro, engolindo seco.

— Você tá onde Jaci ? Cê tá em casa ?

— Sim! Tô em casa! Tô aqui esperando. A cada minuto acho que ela vai aparecer com aquele sorriso travesso e dizer que foi só uma brincadeira...

— Eu tô chegando, Jaci. Aguenta firme. A gente vai encontrar ela.

Desliguei antes que minha própria voz falhasse. Olhei para o lado de fora e percebi que já estávamos entrando no perímetro da cidade. O letreiro enferrujado que dava boas-vindas balançava com o vento. Meus olhos se enchiam, mas eu não podia permitir que a fraqueza vencesse. Não agora.

Clara estava em algum lugar. E eu jurei, comigo mesmo, que não ia parar até encontrá-la. Mesmo que isso significasse matar ou morrer!

Continua...

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