Capítulo 2 — O Jogo Continua
A manhã seguinte chegou como uma punição. A chuva cessara, mas deixara para trás um céu de um cinza doentio sobre São Paulo, uma ressaca atmosférica que se recusava a dissipar a tensão acumulada na noite anterior. O ar era pesado, úmido, e a cidade parecia mover-se em câmera lenta.
Rafael chegou cedo à sede da Omnia Corp, a torre de vidro e aço que era o novo campo de batalha. Os vidros fumês do arranha-céu refletiam seu rosto como uma máscara impassível. Vestia um terno azul-marinho perfeitamente ajustado, a camisa branca engomada como uma armadura, e uma gravata cinza-escura, um nó de seda discreto, mas de poder inquestionável. Por fora, era o executivo gélido e cerebral de sempre. Por dentro, cada músculo, cada terminação nervosa, guardava a memória violenta de como havia sido pressionado contra o vidro da cobertura poucas horas antes. Uma leve dor no ombro, onde dentes haviam cravado, era um lembrete secreto e latejante.
O aviso no ecrã do celular vibrou com uma urgência silenciosa: “Reunião de Conselho — 9h00 | Sala Orion”.
Ele sabia que Bruno estaria lá. Não apenas porque a fusão os colocara no mesmo núcleo estratégico, mas porque aquele desgraçado jamais desperdiçaria uma oportunidade de marcar território, de exibir seu poder em terreno neutro.
Provocar era, para Bruno, tão natural quanto respirar.
Ao empurrar a pesada porta de vidro da sala de reuniões, o ar condicionado gelado atingiu seu rosto. E lá estava ele.
Bruno não estava sentado; ele reinava sobre a poltrona de couro na cabeceira oposta da mesa. Recostado, com as pernas abertas numa postura de dominância casual, o terno cinza-claro parecia moldado sob medida para destacar o volume de seu corpo. A gravata, afrouxada de propósito, era uma afronta silenciosa à formalidade do ambiente. Assim que Rafael entrou, os olhos azuis de Bruno cortaram a sala com a precisão de um laser, encontrando os seus. Um sorriso mínimo, quase imperceptível para os outros, mas gritante para Rafael, curvou seus lábios. Era a lembrança silenciosa do caos que haviam criado, um "bom dia" carregado de subtexto.
O maldito sabia. E adorava o fato de que Rafael também sabia.
A reunião começou. Um balé corporativo de gráficos, projeções e jargões. Estratégias de fusão, sinergias operacionais, cortes de despesa. Rafael forçou sua atenção para os números projetados na tela, mas cada palavra que saía da boca de Bruno parecia escolhida a dedo para desestabilizá-lo. A voz grave e ressonante preenchia a sala, e para Rafael, cada frase tinha um eco.
— "Precisamos de uma abordagem mais agressiva no mercado europeu. Algumas decisões exigem... firmeza, senhores."
A palavra firmeza pairou no ar, carregada de um peso que só Rafael compreendia. Ele sentiu um calor subir pela nuca.
— "Alguém com mão forte e coragem para fazer o que precisa ser feito, sem hesitação."
Rafael manteve a compostura, mas as lembranças eram como flashes de um filme proibido, atravessando seu autocontrole: a boca quente e exigente, a língua áspera de Bruno explorando sua pele com uma fome predatória; a forma como o homem mordera sua clavícula no clímax da invasão, a voz rouca e gutural em seu ouvido: "Porra, você é ainda melhor do que eu imaginava, Rafa."
Ele apertou a caneta com força, os nós dos dedos brancos.
Quando a reunião terminou, os outros executivos se levantaram, conversando em voz baixa. Bruno esperou.
Deixou que todos saíssem, movendo-se com uma lentidão deliberada. Então, ao passar por trás da cadeira de Rafael, sua mão roçou as costas dele, um toque disfarçado que pareceu queimar através do tecido caro do terno. Ele se inclinou, como se fosse comentar algo sobre a reunião, e sussurrou, a voz quente e íntima contra a sua orelha:
— Sala de arquivos. Cinco minutos.
Não era um pedido. Era uma ordem.
Rafael fechou os olhos por um segundo, respirando fundo o ar gelado e artificial da sala. Orgulho e desejo se engalfinhavam em seu peito como bestas selvagens. Ir era ceder. Não ir era fugir. E ele não fugia.
Cada passo pelo corredor acarpetado em direção à ala de arquivos era uma negociação entre o orgulho ferido e o pulso que martelava em suas veias. Cinco minutos depois, ele estava lá.
A sala de arquivos era um espaço frio e funcional, um labirinto de estantes de aço e pastas suspensas. A iluminação vinha de lâmpadas fluorescentes que zumbiam baixo, e o ar tinha o cheiro característico de papel velho e toner. Não havia câmeras ali. A porta tinha uma trava manual. Bruno já esperava, encostado numa estante, braços cruzados, como se fosse o dono do lugar.
— Veio rápido — provocou, erguendo uma sobrancelha.
Rafael não respondeu. Apenas fechou a porta e girou a trava. O clique metálico foi o único som.
— Cala a porra da boca.
O avanço foi instintivo, mútuo. Eles se colidiram no corredor estreito, um choque de corpos e vontades. A gravata de Bruno foi puxada com violência, trazendo seu rosto para um beijo raivoso, desajeitado, uma mistura de puro ódio e luxúria desesperada.
Bruno o empurrou contra a parede fria de metal, o impacto ressoando baixo. Uma de suas mãos grandes agarrou a nuca de Rafael, os dedos se embrenhando em seu cabelo, enquanto a outra descia sem cerimônia, abrindo o cinto e o zíper com uma facilidade humilhante. As calças de ambos deslizaram pelos quadris, amontoando-se nos sapatos caros.
A boxer preta de Rafael, de algodão macio, já estava úmida, colada à pele, denunciando a traição de seu corpo. Bruno, por sua vez, usava uma boxer de microfibra cinza-escura, e o volume impressionante e pesado sob o tecido fez Rafael prender a respiração.
Bruno sorriu, um sorriso perverso, vitorioso.
— Sentiu falta?
Sem esperar resposta, ajoelhou-se. A barba por fazer roçou a pele sensível do interior da coxa de Rafael enquanto ele puxava a boxer para baixo. O membro de Rafael, duro e latejante, apontava para ele, as veias salientes, a cabeça brilhando com a excitação. Bruno o tomou na mão, o polegar circulando a ponta antes de abocanhá-lo com uma fome que era tanto sobre prazer quanto sobre poder. A língua ágil, a sucção forte. Rafael mordeu o lábio inferior com força para não gemer.
Mas era só o começo.
Bruno se levantou, empurrando a própria cueca para baixo.
Seu pau era uma arma. Grosso, longo, com veias marcadas e um tom de pele bronzeado que contrastava com a palidez do ambiente. Rafael o encarou, o desafio queimando em seus olhos. Num ato de desafio e entrega, ele próprio se virou, apoiando as mãos na estante de arquivos, oferecendo as costas. Era uma submissão, mas nos seus termos.
Bruno se aproximou por trás. O som de cuspe na palma da mão foi obsceno naquele silêncio. Ele umedeceu a ponta do membro e o pressionou contra a entrada de Rafael. A invasão foi lenta, deliberada, cada centímetro uma tortura e um alívio. A primeira estocada, mais funda, rasgou um gemido abafado. Rafael mordeu o próprio punho para abafar o som.
O ritmo aumentou, selvagem, primitivo. Cada estocada era um lembrete físico de quem comandava ali — ao menos naquele momento. O som da pele contra pele ecoava entre as estantes, um ritmo secreto no coração da empresa. Bruno se inclinou, os dentes cravando de leve o ombro de Rafael, a respiração pesada e quente em seu pescoço.
— Nunca mais… — ele rosnou entre as investidas — ...duvide de quem te fode, Rafa.
A frase, a posse, a humilhação. Foi o gatilho. A explosão veio violenta. Rafael sentiu o calor líquido preencher seu interior no exato momento em que seu próprio corpo se desfazia, o prazer arrancando um grito rouco e contido contra seu punho.
Por longos segundos, apenas o som de duas respirações ofegantes preencheu a sala. Bruno recuou lentamente, ajeitando a cueca e as calças com uma eficiência fria.
Rafael virou-se, as pernas ainda trêmulas, o olhar queimando de fúria e vergonha.
— Isso não acabou.
Bruno terminou de ajustar a gravata, o sorriso predatório de volta no lugar.
— Nós dois sabemos, Rafa. Nunca acaba.
E saiu, deixando para trás o cheiro de suor, sexo e desafio impregnado no ar estagnado. Rafael ficou sozinho, apoiado no metal frio, o corpo marcado, a mente já calculando o próximo movimento. Aquele não era o fim da batalha. Era apenas a escolha de um novo campo. E no seu campo, a estratégia sempre superava a força bruta.
Continua…