Capítulo 3 — Cativeiro Voluntário
A viagem caiu sobre eles como uma armadilha perfeita, de mandíbulas de aço forradas de veludo. Uma reunião de última hora com investidores em Campinas, a duas horas de carro de São Paulo. Era inadiável, irrecusável. Nenhum dos dois poderia se ausentar sem levantar suspeitas que não podiam arriscar. O protocolo corporativo, com sua ironia cruel, decretou o inevitável: dividiriam o carro executivo e o mesmo hotel. Duas suítes no mesmo andar, as portas se encarando como duelistas antes do amanhecer.
Desde a saída da garagem, o ar dentro do sedã blindado era uma mistura de faíscas contidas e silêncio hostil. O motorista, um homem de meia-idade acostumado ao tédio de executivos, parecia sentir o peso anômalo no ar, seus olhos alternando nervosamente entre a estrada e o espelho retrovisor, como se transportasse dois predadores de espécies diferentes numa mesma jaula.
Rafael, impecável num blazer de linho bege sobre uma camisa branca e calça de alfaiataria azul, mantinha os olhos fixos na paisagem que voava pela janela. Mas ele sentia.
Sentia a presença de Bruno como uma radiação de calor ao seu lado. O perfume amadeirado e masculino preenchendo o espaço confinado, a coxa dele a poucos centímetros da sua, uma promessa de contato que era ao mesmo tempo uma ameaça. A memória da última transa ainda estava grudada em sua pele.
"Se ele me tocar agora", pensou Rafael, a mandíbula tensa, "eu juro que estilhaço a porra deste vidro."
Mas uma parte sombria e honesta de si mesmo sussurrou a verdade: ele queria.
Bruno também sentia. Por fora, era a imagem do relaxamento. Camisa branca de algodão com as mangas dobradas até os cotovelos, expondo os antebraços fortes e bronzeados. Mas por dentro, a vontade de ignorar o motorista, arrastar Rafael para o banco de trás e foder sua arrogância até que ele se esquecesse do próprio nome, fervia como o calor que emanava do asfalto.
"Esse filho da puta se arma todo, como um porco-espinho.
Mas o cheiro dele quando goza... eu lembro perfeitamente."
O jantar com os investidores foi o pretexto para estender a tortura. Restaurante do hotel, um ambiente de luxo genérico, comida internacional e um vinho chileno caro o suficiente para lubrificar as engrenagens da diplomacia corporativa. A conversa foi formal, fria, sem incidentes notáveis. Mas sob a superfície, a guerra continuava. Cada frase perfeitamente articulada de Rafael era uma demonstração de intelecto superior. Cada sorriso de escárnio de Bruno, cada vez que sua voz se sobrepunha à de Rafael, era um ato de marcação de território.
Até que veio o brinde. Os investidores se despediram com apertos de mão e promessas vagas. E então, restaram os dois. Sozinhos, numa mesa para quatro, o eco de uma batalha silenciosa entre eles.
Bruno ergueu sua taça, o vinho tinto girando, quase negro sob a luz baixa. Seus olhos brilhavam.
— Ao futuro CEO.
Rafael sorriu de canto, um sorriso frio e afiado. Ergueu sua própria taça, o cristal tilintando suavemente contra o de Bruno.
— Ao submisso.
O brilho no olhar de Bruno se transformou num incêndio.
Foram para o elevador em silêncio. Um silêncio denso, pesado, quebrado apenas pelo zumbido suave da cabine subindo. Os corpos próximos demais, o cheiro de álcool, comida cara e pele quente depois de um dia inteiro juntos.
Nenhum falou. Nenhum desviou o olhar. Quando a porta se abriu no andar deles, o corredor parecia um corredor da morte.
Rafael abriu a porta de sua suíte. Mas antes que pudesse dar um passo para dentro, Bruno o alcançou. A mão dele em seu peito o empurrou com força contra a parede do corredor. A boca de Bruno prensou-se contra a sua como uma maldição.
Não era um beijo, era um ato de possessão. Uma mão firme agarrou sua cintura, enquanto a outra se enterrou em seu cabelo, puxando sua cabeça para trás.
Rafael respondeu com a mesma raiva, a mesma fome. Cravou as unhas no peito de Bruno, sentindo o músculo duro sob o tecido fino da camisa. Empurrou-o, mas era um empurrão sem força real, um gesto de rendição disfarçado de luta.
Foram para dentro da suíte de Rafael aos tropeços, sem se desgrudar. A porta bateu, selando o destino daquela noite. O blazer de linho voou para um canto. Bruno o empurrou na cama macia, e Rafael caiu de costas, arfando, o peito subindo e descendo, o cheiro de couro, suor e vinho impregnando o ar.
— Tira a porra da roupa — a voz de Bruno era um comando rouco.
Rafael hesitou. Não por pudor, mas porque aquele era o momento da capitulação. O momento em que o "cativeiro" se tornava "voluntário". Mas a vontade estava ali, pulsando em sua virilha, turvando seu raciocínio. Lentamente, o olhar preso no de Bruno, ele começou a desabotoar a camisa. A boxer preta, mais uma vez, desenhava o contorno exato de sua excitação.
Bruno despiu-se com uma urgência contida. A calça jogada no chão. A cueca branca, de microfibra, mal continha o membro grosso que apontava para cima. O cheiro de pele, suor e desejo no quarto era tão palpável que parecia que o lugar jamais seria limpo, jamais seria profanado daquela maneira novamente.
Bruno avançou, subindo na cama. Pegou Rafael pelo pescoço, mas sem apertar. Era um gesto de posse, não de violência. Encostou a glande úmida contra os lábios dele.
— Prova.
Rafael hesitou por um segundo. Um único segundo onde o orgulho e a lógica travaram sua última batalha perdida. Então, ele abriu a boca e o tomou.
O gosto era amargo, salgado, quente, terrivelmente familiar. A cabeça lisa, a pele grossa do corpo do membro. O cheiro amadeirado de seu perfume misturado a um fundo de suor fresco.
"Filho da puta. Ainda mais duro que da última vez."
Bruno gemeu, a mão firme nos cabelos de Rafael, ditando o ritmo. As estocadas de seu quadril faziam a glande bater contra a garganta de Rafael, que lutava para não engasgar.
Mas a cada segundo, o orgulho cedia mais um pouco de terreno. O som molhado, a pressão, a respiração irregular.
Bruno o puxou para longe, o membro latejante e brilhante. Os olhos dele eram pura lascívia.
— Vira de costas.
Rafael obedeceu. Ajoelhou-se na cama, o cheiro dos lençóis limpos de algodão egípcio agora misturado ao seu próprio suor. Bruno desceu a boxer dele com força, expondo as coxas firmes, a entrada já contraída de antecipação. A visão fez Bruno crescer ainda mais, se possível. Ele passou a ponta do membro ali, sentindo a textura quente e macia. Cuspiu na própria mão.
A penetração veio de uma só vez. A glande larga rasgando caminho, o latejar dentro de Rafael se misturando a um grunhido rouco, um som que era dor e prazer em igual medida.
"Faz de novo, desgraçado."
E ele fez. As estocadas eram firmes, profundas, impiedosas. O cheiro de ambos se tornando um só no quarto fechado. O suor escorria pelas costas de Rafael, que se agarrava ao lençol, a cabeça baixa. Bruno inclinou-se, a barba roçando sua orelha.
— Gosta de ser meu, não gosta? — sussurrou.
Rafael não respondeu com palavras, apenas com um gemido sufocado que era uma confissão.
Bruno acelerou, a cama batendo ritmicamente contra a parede. O som de pele contra pele, abafado pela respiração pesada deles. O clímax veio em ondas violentas. Bruno o preencheu por dentro, o líquido quente marcando-o como propriedade. Rafael gozou sobre o lençol, o corpo convulsionando sem que ele sequer se tocasse.
O silêncio que se seguiu foi pesado, absoluto. Apenas o zumbido do ar-condicionado e duas respirações tentando voltar ao normal. O cheiro de sexo no ar era quase sólido.
Bruno se levantou. Pegou sua cueca branca do chão e a vestiu com uma normalidade assustadora.
— Reunião amanhã, oito da manhã. Não se atrase.
E saiu, fechando a porta suavemente atrás de si.
Rafael ficou, deitado de bruços na cama profanada. O corpo suado, a pele marcada, a mente queimando. Ele sentiu o calor dentro de si, a evidência da posse de Bruno. O estrategista dentro dele, o homem que planejava tudo, estava em guerra com a criatura que acabara de se render completamente. E naquele momento, ele entendeu a aterrorizante verdade daquela relação.
"Eu vou te destruir. Ou me perder completamente em você."
Não havia meio-termo.
Continua…