Capítulo 8 – Três Donas e Um Segredo
1 – O Chá da Verdade
O domingo amanheceu abafado. As nuvens pesavam no céu como o peso dos segredos que Laura estava prestes a compartilhar.
Henrique chegou de volta à casa antes das nove, ainda vestindo a camisola rendada emprestada por Vanessa sob o sobretudo escuro. A maquiagem borrada e o hálito de morango denunciavam mais do que ele gostaria. Mas Laura apenas o recebeu com um sorriso calmo, quase maternal.
— Vá tomar banho, boneca. E use o sabonete de baunilha. Hoje, quero você doce. Suave. Servil.
Henrique obedeceu sem uma palavra. Sentia-se sujo, mas não de um modo ruim. Era como se cada resquício da noite anterior fosse uma camada a mais em sua nova pele.
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Duas horas depois, a campainha tocou. Laura estava pronta. Vestia um vestido vinho que moldava suas curvas com perfeição. O salto preto riscava o chão a cada passo. Henrique já havia preparado a mesa para o chá: porcelana floral, guardanapos de linho, torradinhas com geleia de damasco e uma torta de limão com suspiro que ele próprio havia feito.
Luciana chegou primeiro. Bianca logo depois. Ambas exalavam confiança — e curiosidade.
— Então, é hoje que você conta tudo? — disse Bianca, tirando os óculos escuros com um sorriso malicioso.
— Hoje, sim — respondeu Laura, sentando-se no centro, como uma rainha entre cortesãs. — E quero que ele ouça. Tudo.
Henrique ajoelhou-se ao lado da poltrona. Mãos sobre as coxas, olhos baixos. Elas beberam o chá em silêncio por alguns instantes. O clima era denso, mas havia doçura nos gestos.
Laura pigarreou.
— Eu nunca contei isso a ninguém. Mas acho que é hora.
As duas se inclinaram.
— O Henrique sempre foi um homem... frustrante. — Ela tocou os cabelos com a ponta dos dedos. — Nunca gostou de malhar, nunca se impôs. Sempre me mimou com presentes, sim. Mas... na cama, era um vazio. Um tropeço. O máximo que fazia era gozar antes de me encostar.
Henrique corou. As mãos tremiam levemente sobre as coxas.
— Eu tentei. Dei tempo. Comprei brinquedos. Sugerimos posições. Mas ele sempre voltava ao mesmo ciclo: decepção, desculpa, presente. Eu estava me afundando num mar de orgasmos fingidos.
Luciana segurou a xícara com as duas mãos.
— Nossa... e ele?
— Ele achava que bastava trazer flores. Até que um dia eu explodi. Disse: ou você me faz gozar, ou vai enfrentar as consequências.
— E... ele falhou? — perguntou Bianca, mordendo o lábio inferior.
Laura assentiu.
— Falhou. Em menos de dois minutos. Aí... eu comecei o processo.
Ela olhou para Henrique, que agora suava discretamente.
— Primeiro, castiguei com silêncio. Depois, com recusa de toques. E então, fui moldando. Disse: se não consegue me dominar, será dominado. Se não me dá prazer como homem, será minha boneca. Minha propriedade.
As amigas se entreolharam, fascinadas.
— E foi aí que ele começou a se transformar — continuou Laura. — Eu o vesti. O ensinei a andar. A servir. A implorar por um olhar. E quando vi, já era meu.
Ela esticou o pé. Henrique o beijou instintivamente.
Bianca suspirou.
— Isso é mais do que controle. É arte.
Luciana ergueu a sobrancelha.
— E dá prazer?
Laura sorriu, satisfeita.
— Mais do que qualquer homem tentou me dar.