O ventilador fazia um chiado irritante no canto do quarto, cuspindo ar quente que mais espalhava o suor do que refrescava. A casa exalava cheiro de roupa lavada, arroz do almoço e leite de criança azedo, misturados num vapor doce e úmido que grudava na pele como o olhar de alguém que deseja em silêncio. Breno estava sentado na ponta da cama, de cueca furada e a barriga levemente pendendo sobre as coxas, os olhos fixos na sombra que o corpo de Jana fazia ao passar pela porta aberta do banheiro. Ela usava uma camiseta desbotada dos Racionais e uma calcinha de algodão rosa que já perdera a elasticidade, grudando entre as nádegas de forma quase indecente. O tecido molhado colava na pele morena, firme, viva. Aquela bunda larga, viva, cheia, ainda redonda mesmo depois dos dois filhos, balançava com um ritmo lento, quase como se dançasse sem querer.
Ela era do Norte como o chão da rua, de traços indígenas, pele queimada de sol, olhos escuros e quietos, seios médios, bicos escuros e duros, barriga firme com marcas do tempo e da vida. A buceta era bem marcada, carnuda, cheia, cabelinho sempre aparado, mas nunca liso — e por dentro, ela sabia fazer a bezerra. Quando queria, ela apertava a pica como se tivesse boca e língua lá dentro. E Breno sabia disso como se fosse um feitiço. Mas agora tinha medo de que aquilo que era só dele começasse a escapar.
Ele fechou os olhos. Tentou pensar em outra coisa, mas só vinha o cheiro: o sabonete barato misturado com o suor fresco do fim de tarde, com o mel leve que ele sabia que a buceta dela soltava quando estava de TPM. Era quase um cheiro de fruta fermentada. Ele sabia reconhecer. Era marido dela, porra. Doze anos. Doze verões úmidos. Doze janeiros no bairro São José, no mesmo quarto onde os filhos dormiam na rede ao lado, onde o calor acordava junto com o galo e não ia embora nem com reza.
Mas o que Breno carregava agora não era só desejo. Era outra coisa. Um bicho estranho crescendo na parte de baixo da barriga, na língua, na nuca. Era o pensamento que o fazia acordar duro às 3 da manhã. Era a imagem que voltava toda vez que ela contava as histórias da farmácia — os clientes, os velhos tarados, as perguntas sobre genéricos e a porra das receitas ilegíveis. Só que agora, na última semana, tinha um nome. Um cara. Um sujeito de camisa social e aliança frouxa no dedo, que pediu pomada pra queimadura e soltou, olhando nos olhos dela: “Essa tua boca deve curar qualquer coisa, heim?”
Ela contou rindo. Mas riu diferente. Riu com a boca meio aberta e o olho meio distante. Breno fingiu que era só bobagem. Riu também. Mas à noite, quando ela dormia com o braço jogado sobre o travesseiro e a bunda apontada pra ele como um farol, ele se masturbou com força, imaginando a cena toda. Não era o que o cara disse. Era o que ele viu no jeito dela ouvir. O que ele sentiu escorrer entre os dedos quando lembrou da calcinha dela pendurada no box do banheiro — úmida e quente ainda, como se dissesse que ela, mesmo sem querer, tinha gostado.
Na manhã seguinte, ela foi trabalhar com uma saia jeans curta e uma blusa de tecido leve, sem sutiã. Disse que era por causa do calor. E ele acreditou. Mas o pau dele endureceu no mesmo instante em que ela passou batom olhando pro espelho da sala. Aquela boca quente. Aquela boca que já fez ele tremer com um simples toque na cabeça da pica. Aquela boca que falava pouco, mas que dizia tudo quando engolia ele devagar, como se não tivesse pressa nenhuma no mundo. Breno sentiu o estômago revirar. Sentiu ciúmes. Medo. E um tesão que queimava como febre.
Pensou em segui-la. Pensou em ir até a farmácia disfarçado. Mas ficou. E ficou pensando. O que o outro viu? O que o outro disse que ele mesmo já não dizia há anos?
No meio da tarde, na pracinha onde a feira armava as barracas, Breno foi comprar limão e farinha. Viu o filho da vizinha — o rapazinho dos olhos verdes e braços tatuados, que entregava gelo pro bar do pai — encostado na sombra de um muro, mexendo no celular, suado, com a camisa pendurada no ombro. Ele olhou pra Breno e assentiu com a cabeça. Um gesto qualquer. Mas Breno, sem querer, pensou: “E se fosse ele?”
A ideia o golpeou como se fosse crime. Jana com aquele moleque. Ele não tocando nela, só vendo. Só ouvindo. A bunda dela subindo e descendo na pica do rapaz, suando, gemendo baixo como fazia quando estava por cima. A barriga dela tremendo, os seios firmes balançando no ritmo. A pele morena marcada de mãos jovens. A buceta suando mel por cima de outra carne. Não a dele. E ele... assistindo. Gozando sem tocar. Só de ver.
Voltou pra casa com a sacola na mão e o pau duro na bermuda. As crianças gritavam vendo desenho. O ventilador fazia o mesmo barulho velho. Jana chegou meia hora depois, os cabelos grudados na testa, a blusa com marca de suor entre os seios, o batom meio borrado. Disse que um cliente mexeu com ela. E que dessa vez ela respondeu. Disse que perguntou se ele falava com a mulher dele assim. Que o cara gaguejou. E que ela ficou com vontade de rir. Mas também com vontade de alguma coisa que não sabia nomear.
Breno ouviu tudo calado. Com o pau crescendo devagar, latejando. Olhou pra boca dela. Imaginou outro homem dizendo: “Chupa pra mim, só uma vez, escondido.” E ela dizendo não. Mas com aquele não cheio de talvez.
Naquela noite, fizeram amor no sofá. As crianças dormiam. A TV desligada. Ela estava com a mesma blusa da manhã. Ele puxou a saia até a cintura. Tirou a calcinha dela com os dentes. A buceta estava quente, viva, com os lábios carnudos e úmidos. Ele afundou o rosto ali. Lambia como quem reza. Como quem pede perdão. Como quem quer apagar um pensamento com a língua. Mas o gosto só confirmava: ela era real. Aquilo tudo era verdade. E ele queria mais. Queria o impossível.
Ela gemeu, puxou ele pra cima, passou a mão na pica dele e sentou devagar, olhando nos olhos dele. A carne se abrindo como fruta madura. A contração quente da buceta apertando, recebendo, reconhecendo. Ela fez a bezerra. Ele gemeu baixo. Pensava no moleque da rua. Pensava no homem da farmácia. Pensava nela sendo devorada por outros, mas olhando pra ele. Sempre pra ele.
Ela gozou sem gritar. Com um tremor que veio da barriga e parou nos olhos. Depois encostou a cabeça no ombro dele. Disse: “Às vezes eu queria sumir. Fazer uma coisa louca. Só pra lembrar quem eu sou.” E ficou em silêncio.
Ele não respondeu. Só ficou ali, com a pica ainda pulsando dentro dela. Sentindo o calor da carne, o cheiro do sexo, a dúvida crescendo junto com o desejo. Porque ele sabia — aquilo ali não era o fim. Era o começo.
No dia seguinte, Jana estendia roupa no quintal. Vestido colado, calcinha mínima. O sol batendo, o suor escorrendo, a buceta quente, viva. Sentiu o olhar. Virou devagar. O moleque da casa ao lado estava ali. Encostado no muro. Calção armado. Um volume grotesco. Pau grosso, latejante, desenhado no tecido. Jana travou. Mas não recuou. Estendeu a última peça devagar. O quadril empinado. A calcinha colada. O mel descendo. Queria que ele visse. Queria que ele soubesse.
E mais tarde, no ônibus parado, Breno pensava. Pensava sujo. Pensava fundo. A punheta mental vinha com força. Imaginava Jana com aquele moleque, a buceta aberta num pau mais grosso que o dele, gemendo com aquele grito que ela só dava quando ele apertava o ponto G por dentro, e ele, Breno, atrás, com a rola dele — preta, pesada, cheia de veias — encaixando no cuzinho treinado, o cuzinho que agora recebia bem, todo dilatado, todo vivo, dois paus ao mesmo tempo, os buracos escorrendo porra, os corpos suando, as bolas encostando, ela gemendo e rebolando feito puta de filme pornô, e ele, com o peito dividido entre orgulho e medo, sabendo que aquela mulher era dele, mas que o desejo dela talvez nunca fosse de ninguém.
E por fim, a lembrança mais escondida: Jana já tinha fantasiado também. Na cozinha, lavando louça, enquanto os amigos de Breno jogavam dominó na sala, ela pensou — e se eles todos largassem o jogo? E se viessem um a um me foder aqui mesmo? Um no sofá, outro de joelhos, outro me segurando pela boca, Breno olhando, sem dizer nada. Só vendo. E ela sendo servida como puta, como rainha, como bicho.
O ventilador seguia rodando. A cidade suava. O sexo ainda ecoava no ar. Mas o que se abria entre eles agora não era silêncio — era fome. Uma fome que ainda não tinha nome. Mas que não ia morrer fácil.