A noite caiu pesada e sedutora sobre Del Sol Valley, carregando consigo o perfume do poder e dos segredos bem guardados. Os convites haviam sido meticulosamente selecionados — apenas aqueles que entendiam os códigos não escritos da alta sociedade do jogo de dominação e submissão. Não era uma festa para os curiosos, mas para os iniciados. Um lugar onde os verdadeiros donos do jogo se encontravam, onde os acordos eram selados com olhares e os limites, testados com toques calculados.
O Dom latino adentrou o salão com a elegância de quem sabia que todos os olhos se voltariam para ele. Seu terno escuro, cortado sob medida, destacava seus ombros largos, e seu olhar afiado varria o ambiente como um predador avaliando seu território. À sua esquerda, a loira, de vestido curto e transparente, movia-se com a confiança de quem sabia ser desejada — e, ainda assim, mantinha os olhos baixos, submissa. À direita, a atriz famosa, com seu salto agulha e vestido de couro justo, exalava uma aura de perigo contido. Ambas usavam coleiras discretas, adornadas com um pequeno símbolo em dourado: Δ, o Delta — a marca do domínio absoluto, reconhecida apenas por aqueles que pertenciam ao círculo mais fechado.
O salão era um espetáculo de luzes baixas e sombras dançantes. Pessoas conversavam em grupos, taças de champanhe tilintando, risos contidos ecoando como suspiros abafados. Alguns convidados se afastavam para abrir caminho, outros observavam com curiosidade mascarada de indiferença. Havia respeito naqueles olhares, mas também desejo — o desejo de pertencer, de ser notado, de ser escolhido.
No centro da sala, um grupo de submissos ajoelhados serviam canapés e bebidas, movendo-se com precisão militar, seus olhares sempre voltados para o chão. Eram bem treinados, cada gesto calculado, cada movimento uma demonstração de obediência. Mas o Dom não se deteve neles. Seus olhos foram atraídos para duas mulheres sentadas próximas à piscina coberta, iluminadas apenas pela luz suave das velas flutuantes.
A primeira era uma morena de olhos frios e cabelo preso em um coque impecável. Ela observava o ambiente com a postura de uma predadora — relaxada, mas pronta para atacar a qualquer momento. Seus dedos longos tamborilavam levemente no braço da cadeira, um ritmo lento e controlado, como se medisse o tempo daquela noite. A segunda, uma ruiva de traços delicados, estava recostada no sofá, pernas cruzadas de forma provocante, um sorriso jogador nos lábios. Mas o detalhe que não passou despercebido foi o bracelete de couro no pulso esquerdo dela — um símbolo discreto, mas significativo. Quem sabia, entendia.
Era um casal. E era evidente que se revezavam no poder.
O Dom se aproximou, suas submissas seguindo em silêncio, posicionando-se atrás dele como haviam sido treinadas. A loira mantinha as mãos entrelaçadas à frente do corpo, enquanto a atriz cruzava os braços, seu olhar desafiador, mas nunca diretamente nos olhos de ninguém — apenas no Dom, quando permitido.
Quando ele parou diante das duas mulheres, a ruiva foi a primeira a sorrir, um sorriso que era tanto provocação quanto reconhecimento.
— "Você deve ser o Dom que todos comentam..." — disse ela, a voz melíflua, mas com uma ponta de desafio.
A morena completou, sem levantar o tom:
— "A perfeição da obediência, em dose dupla. Impressionante."
Ele não respondeu imediatamente. Não precisava. Sua presença já dizia tudo — a postura, o controle, a maneira como suas submissas se mantinham imóveis, como extensões perfeitas de sua vontade.
— "Sou Júlia" — apresentou-se a ruiva, estendendo a mão com a palma para baixo, um gesto pequeno, mas cheio de significado. "E essa é Rafaela. Costumamos alternar… mas esta noite estamos apenas observando."
— "E aprendendo" — completou Rafaela, os olhos escuros fixos nele, avaliando.
O Dom analisou as duas com atenção. Não havia arrogância naqueles olhares — havia técnica. Dominância refinada, mútua. Ele podia ver nos pequenos detalhes: o modo como a ruiva ajustava levemente a postura quando a morena a tocava, o controle contido no olhar de Rafaela, a elegância com que ambas se moviam, como quem sabia punir com a mesma precisão com que recompensava.
Sem pressa, ele pegou duas taças de champanhe de uma bandeja próxima e as entregou às suas submissas. Imediatamente, elas se ajoelharam e estenderam as taças às mulheres, cabeças baixas, oferecendo o que lhes havia sido confiado.
Rafaela aceitou a taça, mas não sem antes erguer o queixo da loira com um dedo, inspecionando-a como se avaliasse uma obra de arte.
— "Essa aqui sabe manter os olhos baixos com orgulho. Ele ensinou bem."
Júlia, por sua vez, acariciou a atriz com as costas da mão, um toque leve, quase casual, mas que fez a submissa estremecer levemente — não de medo, mas de antecipação.
— "E essa… é selvagem domada. Deve ter sido um desafio delicioso."
O Dom sorriu pela primeira vez naquela noite, um sorriso lento, satisfeito.
— "Elas não competem. Elas servem em sincronia. É assim que mantenho a ordem."
Rafaela o encarou com um respeito que não era dado, mas conquistado.
— "Gostaria de vê-las servindo em nossa casa algum dia."
Júlia inclinou-se para frente, o sussurro dela carregado de promessa:
— "Ou talvez nós sirvamos junto a elas, só por uma noite."
Silêncio. Sorrisos contidos. E promessas não ditas pairando no ar como fumaça de um cigarro luxuoso.
A festa seguiu, a música suave preenchendo os espaços entre as conversas, os corpos se movendo em um balé de desejo e poder. Mas naquele canto do salão, quatro predadores — cada um com seu próprio estilo, sua própria marca de dominação — haviam se reconhecido. E quando olhares como esses se cruzavam, a noite ainda mal havia começado.