Olá, leitores. O meu nome é Rogério. Atualmente estou com 28 anos e sou casado há quatro anos com a Jéssica. Esta série conta nossas desventuras no prédio onde moramos, onde alguns vizinhos e vizinhas (e os nossos melhores amigos) parecem querer testar nosso amor. Quem puder ler os primeiros capítulos, só procurar pela série.
A Jéssica tem 26 anos, é médica e tem o corpo esculpido por horas de academia e uma disciplina invejável. Ela tem 1,71, pele amendoada e lindos cabelos castanho-claro. Barriga tanquinho, seios e bundinha pequenos, mas bem proporcionais ao seu corpo escultural. Não temos filhos ainda, mas isso está no nosso radar depois que os dois trintarem.
A minha melhor amiga, Lorena, acabou de se mudar para o apartamento ao lado do nosso. A Lorena tinha 27 anos e era minha amiga desde o primeiro período da faculdade. Éramos tão próximos que ela havia sido madrinha do meu casamento com a Jéssica. Ela tinha se tornado sócia da empresa da minha família depois de formada e, com isso, trabalhávamos juntos no mesmo ambiente. Ela era morena de praia, magra, seios pequenos e bundinha redondinha e empinadinha, além de um belo par de coxas. Estava solteira e, segundo ela, muito bem assim.
No capítulo anterior, depois que a Lorena eu e a Jéssica decidimos pregar uma peça na Lorena e “inaugurar” o apartamento dela antes dela. Este capítulo começa na noite seguinte à mudança da Lorena.
Era segunda-feira, nossa primeira noite “a sós” há semanas. Depois de um dia inteiro de reuniões e planilhas, eu finalmente iria fazer um pouco de amor gostoso com a minha querida esposa. E ela estava daquele jeito.
A Jéssica usava uma daquelas camisolas que não servem para absolutamente nada a não ser me deixar desesperado. Cetim fininho, preto, transparente nos lugares mais criminosos. O cabelo solto, meio bagunçado, e aquele sorrisinho nos lábios que dizia: “vem que tem”.
Me deitei ao lado dela, mal conseguindo conter a vontade de arrancar aquele tecido com os dentes. Comecei a beijá-la, de leve, no pescoço, descendo devagar pela clavícula...
— Quando é que é seu próximo dia de home-office? — perguntou, entre um beijo e outro.
— Quinta. Por quê? — falei, sem parar o ataque.
Ela me empurrou gentilmente para o lado como quem empurra um cachorro que tá ficando animado demais.
— Então pronto. A gente vai se guardar até quinta.
— O QUÊ?
— Calma, amor. É estratégia.
— Eu não quero estratégia.
— É por um bem maior.
Ela se virou de lado, como se fosse a coisa mais natural do mundo largar um marido com testosterona fervendo.
— Se você se guardar até quinta... e não se masturbar nem uma vezinha... Eu topo fazer sexo anal mês que vem.
— Isso é chantagem.
— Vai ser o mês “só por trás”.
— Mas vamos pela frente hoje.
— E se você chegar cansado na quinta? Eu quero você acumulado pra gente inaugurar a casa da Lorena.
— Eu nunca neguei fogo! Nunca! Te comi até com dor nas costas!
— E eu sou grata. Mas quero garantir. Quinta-feira, a gente vai transar em todos os cômodos da casa da Lorena. Começando pela cama.
— Mas hoje é segunda, Jéssica! Isso são TRÊS dias sem nada!
— Hoje já acabou. Amanhã você dorme cedo. Quarta você medita. Quinta é o grande dia. São dois dias no máximo. Olha que nem estou pedindo castidade de convento.
Bufei. Deitei de costas. Ela puxou o lençol, toda satisfeita. Peguei o Kindle no criado-mudo como quem pega um calmante.
— Tá lendo o quê? — perguntou, se espreguiçando. Os seios dela se moveram sob a camisola e eu quase joguei o Kindle pela janela.
— Um romance pós-apocalíptico em que não existe mais sexo no mundo.
— Inspirador. Se quiser posso ler em voz alta enquanto você treme de desejo ao meu lado.
— Eu devia processar você por tortura psicológica.
Ela riu. Aquela risada leve que me desarma. Se virou de lado de novo, colando o corpo quente no meu. A boca perto do meu ouvido.
— Quinta-feira, amor. Vou te deixar tão louco que você vai querer fazer um tour guiado da casa da Lorena com o seu pau de guia.
— ... Isso foi poeticamente obsceno.
— Boa noite, meu garanhão enjaulado.
Ela me deu um selinho e se virou de costas. Deixando, claro, a bunda perfeitamente empinada na minha direção. Fiquei lá, com o Kindle tremendo nas mãos, tentando prestar atenção numa distopia sem sexo, enquanto vivia exatamente isso.
Dois dias, ela disse. Dois dias. Ela só não falou o que ia aprontar nesses dois dias...
Terça-feira começou normal. No café da manhã, a Jéssica apareceu com um robe fino demais para ser considerado decente e um sorriso largo demais para ser honesto. Sentou de frente pra mim, e fiquei na dúvida se ela estava comendo a banana ou fazendo um boquete na fruta. Pelo menos, a mordida final deixou bem claro qual das duas era.
No trabalho, tentei me concentrar nas planilhas. Tentei MESMO. Mas toda vez que o celular vibrava, a Jéssica mandava mais uma foto por WhatsApp. Ao longo do dia, recebi um verdadeiro compilado dos nudes que ela me mandara desde o nosso noivado. Aquela sádica tinha uma paciência de Jó para sair procurando e catando esses nudes numa conversa com milhares de fotos normais e memes só para reenviar pra me deixar subindo pelas paredes.
De noite, ela passou o jantar me contando calmamente os planos para quinta. Cada cômodo da casa da Lorena tinha uma função sexual diferente, que ela contava como quem está planejando uma festa de aniversário.
Na quarta, as coisas degringolaram. A Jéssica, talvez em um pacto formal com as forças do caos e da luxúria, resolveu liberar a Lisandra para me mandar fotos sensuais. “Pra manter o seu entusiasmo”, ela disse, com a serenidade de quem está me oferecendo um probiótico e não uma bomba erótica.
A Lisandra, aquela loirinha de olhos doces, mostrou que tinha uma bela bunda e uma criatividade erótica inacreditável. Fotos em poses que desafiavam a gravidade, a decência e, em alguns momentos, as normas da ABNT. Iluminação natural perfeita, uso absolutamente questionável da cadeira da sala de jantar, e um talento inesperado para fazer parecer que estava nua mesmo quando tecnicamente não estava.
Uma das fotos era uma selfie dela de costas. Completamente nua. Cabelos loiros ondulados descendo como cascata até metade das costas, e abaixo disso... bom, abaixo disso estava a razão pela qual eu quase engasguei com meu próprio ar. Aquela bunda parecia esculpida por um escultor grego em fase erótica. Redondinha, firme, com uma curvatura suave e insolente. Não era exagerada, não era pequena. Era simplesmente perfeita. Uma obra de arte que por acaso estava localizada acima das coxas de uma estudante de odontologia.
E como se tudo isso já não fosse humilhação suficiente para meu autocontrole, veio a mensagem logo em seguida:
LISANDRA: “Olhe, mas não se toque.” Com emoji piscando.
Eu não sabia se ria ou se corria pro banheiro chorar. Estava à beira do colapso.
— Essa bunda da Lisandra é coisa séria, mesmo — comentou Lorena, olhando por cima do meu ombro. — Bem empinada. Compacta. É aquela bunda que te dá um tapa na cara e diz: senta e admira.
— Eu... Eu...
— Relaxa. A Lisandra contou no grupo que ia te mandar essa foto. A Jéssica pediu para eu tirar uma foto da tua reação.
A Lorena tirou uma foto da minha cara, mandou para as duas amigas e voltou ao trabalho.
Mas eu resisti. Juro por tudo que é mais sagrado, eu resisti. Resisti até ao vídeo da Jéssica dançando a dança da bundinha com a legenda “Mês que vem tá tudo liberado”. Não me masturbei. Quando me vi começando a ceder, fui tomar banho frio.
Na hora de dormir, com a digníssima esposa no plantão, recebi uma nova foto da Jéssica. Nada de decotes, nada de lingeries. Apenas o rosto dela. Sorrindo. Aquela carinha de anjo safado. Só o rosto. E foi o suficiente pra me fazer gemer baixo e morder o travesseiro.
Nunca pensei que diria isso, mas um sorriso me deixou mais excitado do que todos os nudes que já vi na semana.
Já acordei na empolgação. Mas ainda era 5h, a Lorena ainda tinha saído de casa e precisava esperar a Jéssica, que tinha chegado do hospital de madrugada, acordar, tomar banho, merendar, etc. Ansiedade é fogo! Comecei a trabalhar um pouco mais cedo que o normal para me distrair. Algo como 5h30 da matina. Quem nunca?
Depois de umas seis horas trancado no escritório e afastado do WhatsApp para não ver os nudes da minha esposa, ela bateu na porta me chamando e dizendo que tava pronta. Já abri a porta a pegamos em meus braços, puxando-a para mim e tascando um beijão.
— Calma, calma, calma. — Ela me empurrou contra a parede. — Vem em silêncio.
Abrimos a porta. Corredor vazio. Ela foi primeiro, andando até o apartamento da Lorena como se fosse algo normal, destrancando a porta e entrando. Eu esperei um pouco e sai, trancando a minha e correndo para o apartamento da minha melhor amiga. Agora sim!
Já fui a abraçando por trás e a encoxando. Agora que sua vingança era inevitável, a Jéssica tinha se entregado de vez. Fomos andando pela casa.
— Onde quer começar? — perguntei.
— Pela cama, óbvio! — Nunca imaginei que ela guardasse tanto rancor.
Menos de dois minutos, nossas roupas ficaram espalhadas pelo chão do apartamento e estávamos nus em cima da cama da Lorena, aos beijos. Detesto admitir que ela estava um pouco certa. Em vez do sexo romântico e mais intimista, eu estava mais ávido. Como se quisesse resolver a questão mesmo. Nossos beijos estavam mais ávidos e eu passava a mão pelas suas coxas.
A Jéssica conduziu meus beijos pro seu pescoço e depois para o colo dos seios. Aqueles seios pequeninos e durinhos, que tinham biquinhos rosas que apontavam para o teto. Com uma das mãos, apertava a sua bunda, deixando claro que não tinha esquecido a promessa, e sentia sua pele macia e cheirosa.
Ela me virou na cama, ficando por cima, e passou a beijar e morder meu pescoço. E foi descendo passeando pelo meu corpo, beijando cada centímetro até chegar no meu pau, masturbando-o devagar. Eu me controlava para não gozar logo, quando ela me olhou com uma carinha inesquecível de safadeza. Então, pôs o meu cacete quase inteiro na boca. E foi tirando devagar, movimentando a língua.
Aquele boquete estava me levando às nuvens, mas eu não queria ficar nisso. Estava na vontade de comer ela por inteiro, beija-la em cada centímetro de pele. Mas a Jéssica também devia estar na fissura, pois aumentava o ritmo do boquete. Ela me olhava fixamente nos olhos, tirava da boca para lamber inteiro, colocava minhas bolas na boca e me masturbava.
Não resisti e a puxei para mim em um beijo ardente, a girando na cama e ficando por cima. Fui descendo pelo seu pescoço, pelos seus ombros e comecei a brincar com seus peitinhos. Segurei os dois de maneira firme, mas sem apertar muito. Então os coloquei na boca após uma lambida, um de cada vez. Colocava o mamilo e mais uma boa parte dentro da boca e fazia movimentos circulares com a língua enquanto chupava. Ela me olhava com um sorrisinho besta enquanto eu a mamava.
— Gosta deles? — perguntou. — Não prefere os da Eliana ou da Carolina? São bem maiores.
— Os teus são perfeitos para mim.
Não é exatamente algo que se diz para uma esposa, mas eu sempre preferi seios pequenos e médios, como os dela, os da Lorena e os da Rebecca, do que seios grandões desses de fazer espanhola.
Fui descendo a virei de costas para ter vista e acesso da sua bundinha durinha. Ela soltou um risinho, empinou a bunda e rebolou um pouco.
— Gosta da minha bunda?
— Amo.
— Prefere a minha ou a Lisandra?
— A sua.
E não era mentira. A bunda da Jéssica era especial porque era da Jéssica.
— Mesmo sabendo que o cu não tá liberado hoje?
— Eu esperei todo esse tempo. Espero mais umas semanas.
Empolgada com o que ouviu, a Jéssica ficou de quatro na cama, apoiada na cabeceira, e eu aproveitei para começar a beijar e lamber a sua bunda. Coloquei a cabeça por entre suas pernas. Dei uma lambida lenta na sua bucetinha apertadinha. Seu sabor já estava na minha língua.
À medida que eu ia chupando sua bucetinha, ela passou a rebolar na boca. Eu conduzia o ritmo com a minha língua, aumentando e diminuindo conforme percebia o prazer dela pelos gemidos e reboladas. Estava decidido que ela teria a primeira gozada do dia. Não deu outra, um gemido mais alto, a respiração descompassada e alta. Ela se recurvou toda, se tremendo pelo seu orgasmo.
Enquanto ela caía na cama com um sorriso no rosto, se recuperando, eu aproveitava para vestir uma camisinha. Tão logo ela se recuperou, fui pincelando o meu caralho em sua bucetinha. Eu ia meter e a gente só ia parar quando estivesse realmente exausto.
Ela se apoiou na cabeceira da cama mais uma vez e empinou a bundinha para que eu fosse enfiando o meu caralho nela. Devagar. Centímetro por centímetro. Ela gostava dessa sensação de estar sendo possuída aos poucos e eu gostava de fazer isso com ela. Quando entrou tudo e ouvi o suspiro dela, esperei um segundo e comecei o vai-e-vem frenético.
A cada estocada minha, a Jéssica se curvava para baixo. Eu ia tirando quase tudo e metendo com força. Botava com força, para ouvir o barulho dos nossos corpos se chocando. Para ouvir os suspiros e gemidos dela. Em pouco tempo, estávamos começando a suar.
Foi quando a soltei para que ela se virasse de frente. Voltei a meter, agora com ela se contorcendo toda na cama, os seios empurrados para si, com os bicos durinhos. O barulho de nossos corpos se misturava com nossos gemidos compassados. Quanto mais ela gemia, mais eu avançava. Não demorou muito e tivemos o próximo orgasmo.
— Quer ir caminhando pela casa? — sugeri.
— Não... — respondeu ela, enquanto recuperava o fôlego. — Vamos esta primeira completa na cama.
Virei ela de bruços mais uma vez. Ela empinou a bunda mais uma vez, talvez para me lembrar da promessa. Com cuidado, fui enfiando o meu caralho todo mais uma vez. Então, voltei a meter. A cada estocada minha, sentia o corpo dela balançar. Eu a segurava pela cintura e ia imprimindo nosso ritmo usual.
— Mais forte! — exigiu. — Mais!
Empolgado com os gritos dela, passei a bombar mais e mais forte. Tive vontade de puxa-la pelos cabelos, chama-la de minha putinha, dar uns bons tabefes naquela bunda que era minha e só minha. Mas hesitei no último instante porque era algo que ela não estava acostumada na cama. No entanto, algo em mim, gritava que ela ia curtir, que ela queria isso, que ela esperava uns bons tabefes nas nádegas vez por outra.
Extravasei essa vontade, metendo com mais e mais força. A cada metida mais forte, a Jéssica me desafiava a meter mais forte ainda. Eu me danei a dar tudo de mim, sem pena e nem dó da minha esposa. Mas ela aguentava tudo. A cama tremia, os gritos deviam ter chegado na vizinhança. A gente não se importava.
— Fode! Fode mais!
Então, não consegui segurar mais. Os jatos começaram a espirrar na camisinha dentro da bucetinha dela. Foram quase uns nove. Acumulados de dias. Mas ainda tinha mais. Eu só precisaria de uma meia-horinha para me recuperar...
Caímos suados na cama, eu sobre ela. Demos um beijo longo e descansamos por alguns minutos, abraçadinhos. Acho que ela tinha conseguido outro orgasmo junto comigo naquela hora. Mas aquele era só o começo.
Até as 16 horas, toda vez que eu parecia semi-recuperado, a Jéssica me arrastava para outro cômodo. Depois, outro. No banheiro, no sofá, no tapete no chão, na cozinha. Quando o meu pau não se recuperava, ela pedia para eu me virar com a língua e os dedos.
Ao final dessa maratona sexual, eu estava morto. Estávamos os dois estatelados no chão frio da cozinha, um azulejo para cada nádega.
A Jéssica estava ao meu lado, com os cabelos grudados na testa e um sorriso idiota no rosto. Olhei pro teto por alguns segundos. Nem sei se conseguia piscar.
— Valeu a pena?
Ela riu. Aquele riso mole de quem tá mais líquida que sólida.
— Valeu. Cada minuto. Até o do tapete. Especialmente aquela do tapete. Não sabia que você conhecia aquela posição...
— Nada que uma boa imaginação não resolva.
— Ainda não acabou... — suspirou ela.
— Por favor, vamos continuar outro dia — pedi. — Não. Me dá só uma hora. Só uma horinha.
— Não, Rogério. A hora. Ela vai chegar em uma hora e meia. A gente precisa arrumar o apartamento.
Olhei para o caos que criamos ao longo das horas anteriores. Preferia que ela quisesse mais uma trepada com forças que eu não tinha.
Ficamos alguns segundos em silêncio. O tipo de silêncio que só pessoas muito felizes e muito sem forças conseguem manter. Um silêncio que dizia “eu te amo” e também “prefiro ser pego no flagra pela Lorena e sofrer as consequências a me levantar e faxinar essa casa toda”.
Respirei fundo e me levantei. Tínhamos pouco tempo e muito a fazer. No final, deu certo.
Até hoje, eu acredito que a Lorena descobriu ou desconfiou fortemente de parte do que fizemos em seu apartamento e foi fair-play o suficiente para deixar essa na esportiva. A outra alternativa envolve ela ser desatenta demais para não ter percebido nada estranho na própria casa.
Na sexta de noites, eu acabei tendo que fazer serão com a Lorena no trabalho. Negócio ia até quase 23h. Paramos um pouco perto das 19h para jantar na copa, que estava vazia, exceto por nós dois.
Eu usava minha calça social azul-marinho com uma camisa branca dobrada até os cotovelos e o colarinho, desabotoado. Lorena, como sempre, estava linda sem esforço: vestia uma saia preta de cintura alta que moldava bem o quadril, e uma camisa bege de tecido fino com os dois primeiros botões abertos, deixando um sutiã escuro meio visível quando ela se inclinava. Usava o cabelo solto, com algumas mechas caídas, e tênis brancos que destoavam propositalmente do resto do look — ela era assim mesmo, elegante e desleixada ao mesmo tempo.
— Qual o problema que aflige sua cabeça? — perguntou, que tinha o péssimo hábito de me conhecer bem até demais.
— Eu tô meio nervoso com uma coisa. — disse, empurrando o prato pra frente e me recostando na cadeira.
— A Jéssica tá considerando fazer uma coisa que, até pouco tempo, ela disse “não”. Um pequeno... fetiche meu.
— Ui! — Ela se inclinou na minha direção. — E você tá nervoso por quê? Isso devia ser bom, não?
— É que ela sempre foi contra. E agora tá cogitando. Aí, eu pensei que talvez fosse justo eu me esforçar mais pra realizar os fetiches dela também. Até agora, eu topei tudo que ela pediu, mas vai que falta algum...
— Madura essa atitude. Mas agora você vai me contar qual era o seu fetiche, né? O proibidão que a rainha Jéssica está cogitando liberar.
— Nem a pau.
— Rogério... — Ela cruzou os braços, dramática.
— Não.
— Por favorzinho, só uma diquinha!
— Não.
— Então, eu vou perguntar até você ceder.
— Você vai passar vergonha à toa.
— Qual era o fetiche, Rogério?
— Não.
— Qual?
— Ainda não.
— Qual?
— Lorena...
— Rogério!
— Tá bom! Sexo anal, pronto. Feliz agora?
Ela arregalou os olhos, e depois deu uma gargalhada.
— Meu Deus! E eu achando que era bondage, chicotinho ou aquelas coisas com uma bola na boca. Que puritano! — Ela me deu um tapinha no braço.
— Lorena...
— Acho que devo ficar preocupada. Algo me diz que as odaliscas do harém do sheik Rogério também não terão seus cus perdoados pela voracidade do sheik. Aposto que ele vai mandar a Lisandra vestir um cintaralho e mandar ver no meu cuzinho só para ele assistir e...
— Lorena! — Escondi o rosto nas mãos. — Você é impossível.
— Eu sou maravilhosa, você que é travado. — Ela riu mais, quase engasgando com o suco. — Mas sério, ela tá considerando isso mesmo?
— Sim... mas com vergonha. Muita. Ela disse que vai liberar o... você sabe, fazer sexo anal. Só não disse “quando”. Em algum momento este ano. E aí entra a segunda parte da questão. Eu sei que a Jéssica tem uns fetiches que ela não me conta. Eu sinto isso. Deve ser coisa que ela morre de vergonha até de mencionar.
— E você desconfia de quais sejam?
— Tenho minhas teorias — respondi, pensativo. — Mas é tão estranho que ela trave quando puxo o assunto. Ela é tão desinibida em geral, mas quando entra nisso, parece uma puritana.
— Bom... se ela não tem coragem de contar pra você, que é o marido e grande amor da vida dela. Então para quem ela contaria? Por que ela deve se abrir com alguém.
— Você acha?
— Ela já teria explodido se tivesse guardando isso até hoje. A questão é saber quem sabe o que você pode fazer para deixar a Jéssica realizada na cama. Eu descartaria de cara o Carlos. Homem. Ela não ia se abrir sobre sexo com um homem.
— Ele seria a primeira pessoa que eu pensaria que a Jéssica se abriria para algo envolvendo eu e ela — argumentei.
— Tá maluco? Com um homem? — desdenhou Lorena. — Nada a ver. E descarte o Enéias também.
— Faz sentido. E acho que a Odete também está descartada. Ela usaria isso para tentar levar para cama.
— Concordo. E comigo ela não falaria porque... né? Tá escrito na minha testa: "melhor amiga do Rogério".
— Contar para você seria apenas uma forma torta e longa de me contar.
— Então sobra alguma amiga médica. — Ela apoiou o queixo na mão, pensativa. — O problema seria descobrir qual delas.
— Exato — concordei. — Eu até conheço algumas das amigas médicas mais próximas, mas não tenho intimidade com nenhuma. Não faço ideia de qual delas seria de confiança pra Jéssica nesse tipo de coisa.
— Tem que ser uma que o Enéias não tenha comido ainda — disse Lorena, fazendo uma careta.
— Aí você restringiu bastante. Será que sobrou alguém além da Jéssica naquele hospital?
— Aquele homem é um nojo! — Ela empurrou o prato, já sem fome. — Não tenho problemas com sexo casual, mas ele olha para mim ao mesmo tempo como um troféu e como um “não é a Jéssica, mas dá pro gasto por meia-hora”. Enfim. É alguma amiga médica dela. Do hospital, ex-colega da faculdade, de algum canto assim. A questão é descobrir qual. E descobrir sem parecer que a gente tá investigando os segredos mais íntimos da rainha Jéssica.
— A Jéssica pode parecer aberta, mas em algumas coisas ela é mais reservada que eu. Dá pra acreditar?
— Pior que dá. E é por isso que vocês funcionam. São dois sem-vergonhas bastante envergonhados. — Ela me lançou um olhar cúmplice. — Mas eu ainda não superei o fato de você ter pedido o anelzinho da rainha. A cena tá viva na minha cabeça.
— Nunca mais vou te contar nada.
— Você não tinha opção. E eu vou querer saber todos os detalhes depois, viu?
Suspirei, arrancando outra gargalhada dela.
— Tá, mas você disse que tinha uns chutes de qual era o fetiche dela — disse ela, girando o copo na mão. — O que você acha que ela tá doidinha para fazer, mas tem vergonha de pedir?
— Algo que batesse de frente com a imagem de mulher forte e dona de si — comecei.
— Ah, tipo isso? Já sei! Ela quer ser sua dominatrix, né? Te dominar. Usar um cinto de couro, te amarrar, dar ordens, esse tipo de coisa. Ela já é tão poderosa fora da cama que consigo imaginar ela querendo te submeter na cama também.
— Hm... Não. — Fiz uma careta, considerando. — Nunca senti essa vibe nela.
— Beleza. Segunda hipótese: ela tem tara por lugares públicos. Tipo banheiro de restaurante, camarim de teatro, estacionamento. Sempre achei que ela tem uma adrenalina interna meio incontrolável. E isso combinaria com o fato de vocês dois adorarem um exibicionismo.
— Essa, a gente meio que já fez algumas vezes... — murmurei, mas depois respirei fundo. — Mas quer saber qual é minha aposta? Que o fetiche dela é ser uma putinha na cama. Ou, mais especificamente, a MINHA putinha na cama. Tipo... ser mandada, xingada, usar uma coleira com meu nome, levar tapa na bunda... esse tipo de coisa.
A Lorena me encarou como se eu tivesse acabado de soltar uma bomba.
— Caralho, Rogério.
— Eu sei, eu sei. Parece muito, mas escuta. Teve uma noite que ela me mandou tratar ela assim. Mandou mesmo. E ela ficou tão acesa que parecia outra pessoa. Ficou gritando que era minha putinha e me mandando chamar ela de putinha.
— Rogério, eu sei. Eu ouvi tudo. TUDO!
— E teve aquela nossa noite do pseudo-harém.
— Do harém mágico das odaliscas do sheik Rogério — corrigiu Lorena. Ela ia tirar sarro da minha cara com isso enquanto estivesse solteira.
— Que seja... Sabe aquela hora que eu disse que vocês eram minhas? Quando eu me empolguei demais e comecei a mandar nela e em vocês duas? Ela ficou toda entregue, rindo, muito mais excitada. Curtiu demais. Era aquilo que ela queria.
— Tá, pausa. — Lorena levantou um dedo. — Primeiramente, na noite do harém mágico das odaliscas do sheik Rogério, ela estava realizando o SEU fetiche, meu querido. Todas ali estavam cientes disso.
Ela levantou o segundo dedo.
— Segundamente, ela mandar você tratar ela como putinha meio que invalida a ideia de que ela queira isso de verdade. Se fosse um fetiche real dela, ela ia travar. Ia morrer de vergonha de pedir.
— Não necessariamente — retruquei. — Às vezes, o fetiche é tão reprimido que a pessoa só consegue trazer à tona quando fantasia o controle. E eu me pergunto se aquilo não fazia parte do prazer dela.
— O fetiche daquela noite era claramente exibicionismo, Rogério. Ela tava louca para mostrar seu corpão de gostosa para gente e doidinha para que a Lisandra visse teu pau durão. — Ela me olhou de lado. — E não duvido que ela quisesse dar uma olhadinha na bunda da Lisandra. Até eu tinha curiosidade porque tinha roupa que ela era bunduda e roupa que ela era lisa.
— Achei que era uma bela poupança.
— Uma poupança na qual, se você aplicar, eu me encarrego pessoalmente de te levar amarrado para a rainha Jéssica capa-lo.
— Um bom acordo. Mas continuando: dá pra ter mais de um fetiche ao mesmo tempo, Lorena. Eu, por exemplo, adorei ver você e a Lisandra se pegando naquela noite. Foi... — Suspirei, lembrando da cena.
Ela bufou, rindo.
— Você é muito besta. Aquilo foi pura encenação, tá? A gente tava fazendo showzinho pro casal de tarados românticos. — Ela me deu uma cotovelada. — E nem me olha assim. Foi de leve.
— Foi de língua, bem demorado. As duas se empolgaram, sim! E teve mão naquilo e aquilo na mão das duas que eu vi!
— Tarado. Eu não sou lésbica por mais que você queira me ver comendo a Lisandra para se projetar em mim, já que não pode e não quer comer a Lisandra. — Ela tomou o último gole do suco e olhou pra mim com os olhos semicerrados. — E é por isso que você tá confundindo as coisas. Você quer muito que o fetiche dela seja esse, porque é o SEU fetiche.
— Não tô confundindo... — comecei, mas ela me cortou.
— Você vai mesmo chegar pra ela e perguntar se ela quer ser sua putinha? Rogério, essa seria a maior idiotice que você podia fazer.
— Eu não falei que ia usar essas palavras!
— Não importa. Ela vai saber o que você quer dizer. E olha só: a Jéssica passou metade da vida convivendo com o Enéias, o tipo de homem que trata todas as mulheres como se fossem suas putinhas. E escolheu se casar com o oposto disso. Um cara romântico. Sensível. Que fala “eu te amo” em vez de “puta”, “vaca”, “vou te rasgar ao meio” na cama.
Fiquei em silêncio por uns segundos. O argumento bateu.
— Com todas as letras: sim. Isso é mais fetiche seu do que dela. — Lorena cruzou os braços, séria. — E vou além: se você parar pra pensar, ela sempre preferiu um sexo mais íntimo. Mais afetuoso. Eu fui obrigada a ouvir, nas últimas semanas, praticamente todos os gemidos, sussurros e palavras de orgasmos de vocês dois. E posso te garantir: o que vocês têm na cama é ternura com tesão. Não tem essa energia de dominação. Ela geme seu nome como quem tá apaixonada, não como quem tá sendo usada. Você entende a diferença?
Fiquei calado, digerindo aquilo.
— Ela topou brincar uma vez, talvez por você. Mas se fosse dela mesmo, ela teria dado um jeito de repetir, de testar mais. E ela não fez. — Lorena se recostou na cadeira, com aquele tom de quem tá protegendo uma amiga. — E quer saber? É bom que você entenda isso. Porque se você tentar forçar essa ideia, vai acabar criando uma insegurança desnecessária nela. Algo que ela nem tem.
— É. — Murmurei. — Talvez eu tenha mesmo projetado.
Ela me olhou com um meio sorriso, mas os olhos ainda sérios.
— Mas fica tranquilo. Isso só te faz humano. Querendo descobrir como agradar sua rainha. Só... não toca no assunto “putinha” com ela. Nem com jeitinho. Nem com rodeio. Nem com carinho. Nada. Porque só de levantar isso, você pode por sementinhas na cabeça dela. Sei lá, fazer ela começar a temer que precisa ser assim para não te perder. Por favor, não estraga o que vocês têm por causa de uma curiosidade sua.
Como sempre, a lógica e pondera Lorena estava absolutamente... errada. Só não tinha como sabermos disso naquela época.
Ao longo daquele mês, passei a prestar mais atenção na forma como a Lorena e o seu Raimundo se tratavam. Não era algo que eu fazia de forma ativa, tipo detetive encanado. Era mais um daqueles olhares meio automáticos, quando você já sabe demais sobre uma coisa e seu cérebro não consegue simplesmente ignorar.
Era curioso que eles realmente se tratavam como bons amigos. Nada na linguagem corporal, no tom de voz ou no jeito com que se despediam dava a entender que já tinham transado. Em certos momentos, eu mesmo chegava a duvidar se aquilo tudo tinha acontecido de verdade ou se minha mente tinha inventado.
Eu sabia que a Lorena era bem desencanada e que já tinha deixado claro pro seu Raimundo que não ia rolar de novo. Mesmo assim, com esse comportamento exemplar do seu Raimundo, eu não conseguia deixar de achar que ele ainda alimentava uma pontinha de esperança. Não aquela esperança do tipo “um dia ela vai voltar pra mim”. Era algo mais cálculo frio, jogo longo. Como quem se posiciona e espera o melhor momento para o bote. Nunca falei isso pra ninguém. Porque provavelmente era só paranoia minha.
E ainda tinha o Lucério por aí.
Fazia vinte dias que o Lucério estava agindo como uma tentativa falha de ser humano decente. A Jéssica me contara que ela tinha o ajudado quando ela se engasgara durante um dos seus planos malignos de corromper minha esposa. Dramático como era, aceitou a derrota e, “pela sua honra”, exigiu que a Jéssica o ordenasse fazer algo. Ela pediu que ele agisse como uma pessoa boa por um mês inteiro. Desde então, eu contava esses dias, porque era isso que ele fazia também: tudo cronometrado, tudo contado, tudo friamente calculado.
A Jéssica dizia que ele estava sendo (o mais próximo que ele conseguia de) “legal”, mas pra mim, ele parecia mais um vilão interpretando um personagem de gente boa. Era como ver o Hannibal Lecter distribuindo sopa na Cracolândia com um sorriso assustador e uma prancheta escondida na manga.
Aquilo tudo tinha uma energia de ator canastrão tentando imitar um ator do Método: a entonação exagerada, o olhar ensaiado, os gestos repetidos como se ele estivesse tentando convencer a si mesmo de que acreditava naquele papel.
A Jéssica não era ingênua, claro. Ela sabia que era forçado, sabia que era encenação. Mas além do mês de folga que ela tinha ganho das picuinhas dele, ela acreditava que, com o tempo, ele podia acabar gostando de fazer o bem. Como se, repetindo as ações boas dia após dia, ele se acostumasse com a sensação de ser alguém decente e passasse a gostar do papel que antes fingia interpretar.
— Hoje ele ajudou a Dona Dirce a separar o lixo reciclável. Conversou com os síndicos de toda a vizinhança a reforma da praça. E ficou quase meia hora ajudando a Sarah a montar caixas para doação. — Jéssica comentou na mesa do café.
— Caixas para doação? Ele normalmente atravessa o saguão só pra não cumprimentar ninguém — retruquei, levantando a sobrancelha.
— Mas agora ele está tentando.
— Passar trinta dias distribuindo gentileza programada não muda o fato de que ele sempre agiu como se empatia fosse doença contagiosa.
— Eu não disse que apaga. Disse que ele está tentando. Só isso. — Ela deu de ombros, com aquele sorriso que ela usava quando sabia que ia me contrariar.
O antigo Lucério pularia de um prédio antes de ter que se esforçar para ajudar alguém sem ganhar nada em troca. Agora, como um relógio, seguia o cronograma: três horas diárias de bondade performática, com direito a roteiro pré-definido e expressões faciais treinadas no espelho. Imaginava a felicidade desaparecendo do rosto dele no segundo que a porta do apartamento fechava.
Mas o pior não era isso. O pior era que a Jéssica estava mesmo se dedicando a essa missão de redenção como se fosse um experimento social. Tinha virado amiga do Lucério. Visitava ele de vez em quando. Discutia com ele sobre as coisas que ele tinha feito e o que ele achava que poderia ajudar a comunidade. Analisavam juntos demandas de acessibilidade, propostas de melhoria, coisas que antes ela resolveria com qualquer outra pessoa.
Isso me incomodava é que eu sabia que o Lucério sempre foi doido pra comer a Jéssica. Eu sabia. A Jéssica sabia. Ele nunca escondeu. E se a Jéssica nunca foi boba para cair nessa, também era teimosa demais pra admitir que ele tinha enrolado ela e esse projeto de “bondade forçada” era, no fundo, uma forma de se manter perto dela.
E agora o safado estava jogando o jogo dela. Estava bancando o civilizado. Estava se fazendo presente. Isso não era a história de um vilão sendo redimido. Era a história de um vilão virando uma aparente derrota e enganando a mocinha.
Eu avisava, mas a Jéssica não queria acreditar.
— Você reparou que ele sai sempre às 14h e volta às 17h? — perguntei dia desses.
— Reparei. E?
— E que ele tem claramente uma lista de missões. Hoje foi: ajudar a carregar sacolas, dar bom dia a todos com um sorriso rosto, elogiar os jardins da dona Judite, perguntar se a Carolina precisa de algo... Amanhã vai ser: catar lixo do chão, elogiar o vestido da Odete, oferecer doce pra crianças. Certeza de que ele tem uma planilha.
— Ele não tem planilha. — Jéssica riu. — Ele usa o One Note para isso.
A Jéssica brincava, mas eu precisava de um jeito de mostrar para ela que ele estava manipulando tudo do jeitinho que queria. A cada sorriso forçado, a cada gesto mecanicamente gentil, ele não ficava mais humano. Ficava mais perigoso.
O pior é que eu também tinha certeza de que ela não se importava muito com o que eu dissesse sobre o Lucério. Como mencionei antes, a Jéssica era teimosa quando botava algo na cabeça. Se ela botou na cabeça que o Lucério era o “inimigo” dela, não havia nada que eu falasse que a fizesse mudar de ideia. Pois ela não deixaria que eu “roubasse” seu inimigo, que ela já tinha marcado para que ela mesma derrotasse e redimisse.
A criatura mais teimosa do mundo.
Eu a amava mesmo assim.
E, naquela semana, amava mais ainda trepar com ela.
Durante a semana toda, eu e a Jéssica metemos excessivamente no apartamento da Lorena. Eu inventei uma desculpa para voltar pra casa mais cedo, fiz home-office, trabalhei de madrugada. Tudo isso para liberar momentos que a Lorena estivesse no trabalho enquanto eu e a Jéssica estivéssemos em casa.
E a gente abusou. Fodemos tanto que duvido que a Lorena consiga igualar essa maratona sexual com um futuro namorado ou marido. Em todas as posições, em todos os cômodos. Em pé, no chão, sentados. Quarto, cozinha, sala, banheiro, varanda, escritório. No apartamento, fodemos em tudo quanto é lugar, marcando cada cômodo com nosso suor, nossos fluídos.
O apartamento da Lorena exalava uma mistura de sexo e limpeza recente. Os bom ar que a gente espirrava pelo local mal conseguiam competir com o que a gente tinha feito ali dentro nas últimas horas. A Jéssica, de regata sem sutiã e calcinha enfiada apressadamente, molhava as folhas da samambaia da Lorena com um borrifador enquanto terminava de passar um pano rápido no balcão da cozinha, onde, uma hora antes, eu tinha feito ela gozar com as pernas penduradas, empurrando os temperos da Lorena pro chão.
Quando terminei a cozinha, fui direto pro sofá. Levantei as almofadas uma por uma, conferi as dobras, passei o pano com desinfetante e ainda coloquei um pouco de álcool só pra garantir. Tinha uma manchinha suspeita ali no canto — não sei se era nossa ou se já tava ali antes, mas limpei mesmo assim. Depois virei pro tapete. Aquele tapete grosso de fios longos era um campo minado. Me ajoelhei, peguei uma escovinha e comecei a escovar em zigue-zague.
Segui pro rack da sala. Os porta-retratos estavam desalinhados. Um deles eu tinha derrubado quando puxei a Jéssica pela cintura. Recoloquei tudo como lembrava que estava antes, mas a dúvida me roía. Será que aquele vasinho pequeno ficava à esquerda ou à direita da vela aromática? Bufei e deixei centralizado. Melhor neutro do que errado.
Fui até o corredor e conferi a parede, onde ela tinha encostado com as mãos quando eu a segurei por trás. Tinha marcas, leves, mas visíveis. Pano úmido. Detergente. Reza braba.
Jéssica voltou com uma toalha na mão:
— Tinha gota de esperma no espelho. Eu limpei. — Ela me olhou com um sorriso torto. — A gente exagerou, Rogério.
— Eu sei. Mas agora não tem mais nada, certo?
Ela olhou em volta.
— Acho que tá tudo sob controle. Pelo menos se ela não usar luz negra.
Dei risada, mas era um riso nervoso. A adrenalina misturada com o prazer e o medo transformava tudo numa espécie de droga. E o pior: eu tô viciado.
— Acho que a gente já se vingou o suficiente, né? — falei, sem conseguir disfarçar um sorriso, olhando pro rastro que o pano deixava sobre a madeira. — O apartamento inteiro tem nosso DNA agora.
Ela não riu. Continuou regando, os olhos fixos numa jiboia que pendia de um vasinho suspenso.
— Sabe o que é doido? Isso é, sem sombra de dúvida, a coisa mais errada que eu já fiz. — Ela virou o rosto pra mim, séria, mas com aquela expressão que eu já conhecia: um misto de culpa e tesão. — Tipo... a Lorena não merecia isso.
— Eu acho que a gente passou da linha, Jéssica. — Me encostei na parede e deslizei até ficar sentado no chão, ao lado do cesto de revistas da Lorena.
— Parte de mim queria que ela descobrisse. Que pegasse a gente no flagra. Como uma punição.
A Jéssica era um redemoinho de contradições, e eu estava no olho do furacão desde que a gente começou essa "sessão de terapia" sexual disfarçada de vingança. Toda quarta-feira. Toda maldita semana. Eu dizia pra mim mesmo que era pra ela, pra aliviar a tensão, pra provar um ponto. Mas a verdade é que eu esperava por isso. Que eu queria mais.
— E se ela souber? A Lorena não é burra. Mais uma semana dessa e ela vai sacar.
— Eu sei. — Ela sentou no braço do sofá e cruzou as pernas, cansada. — Eu fico achando que a gente precisa parar. Mas toda vez que você me encosta, meu corpo decide por mim.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Dois minutos depois, estávamos no banheiro, fodendo lá pela terceira vez naquele dia. A última coisa que pensei foi: a gente pode até tentar parar, mas se continuar sendo tão errado e tão bom assim, vai ser complicado.
Naquela noite, a gente estava deitado lado a lado, meio largados na cama. A TV estava ligada em algum programa qualquer, mas nem eu nem ela prestávamos muita atenção. A luz azulada da tela iluminava de leve o rosto dela, que descansava no travesseiro virado para mim. Ela passou a ponta dos dedos na minha barriga devagar, como se desenhasse alguma coisa sem pressa. Nós aproveitávamos para repassar as novidades ainda não ditas da semana.
Infelizmente, nessa hora, a Jéssica estragou todo o romantismo falando do Lucério.
— Ele me convidou pra ver uma série de problemas estruturais que ele identificou no prédio. Disse que, se a gente não fizer reformas preventivas agora, a gente pode ter um problemão daqui a uns anos.
— Se esses problemas forem reais, o que sinceramente preciso ver para crer primeiro, eu concordo que algo precisa ser feito — respondi, suspirando. — Mas tanta obra assim não vai ser fácil de passar na votação. Não são obras emergenciais e vai ter muita cota extra envolvida. Muita gente vai chiar.
— Ele sabe disso. Disse que o “antigo” Lucério conseguiria convencer as pessoas certas a votarem a favor. Mas agora, a menos que eu o libere, ele não pode mais usar esses... recursos.
— Claro que isso tudo era um plano de fazer uma boa ação ao mesmo tempo que te induz a te fazer livrar ele do acordo antes da hora.
— Eu sei — falou ela, com calma. — Eu sei exatamente o que ele está fazendo. Mas ainda não sei como fazer essa votação passar sem dar munição pro discurso dele.
Ela não era ingênua. Isso nunca foi o problema. O problema era que ela acreditava que podia transformar intenções através de práticas. E o Lucério, safado como era, tinha entendido isso muito bem. Queria saber se conseguiria “corromper” a Jéssica com o pretexto de uma suposta boa causa.
— Como você acha que ele vai ser quando o mês acabar?
Ela ficou em silêncio. Por um segundo, vi a dúvida no rosto dela.
— Se ele voltar a ser o mesmo idiota de antes, então a gente lida com isso. Mas se não... bem, talvez ele aprenda alguma coisa.
Fechei os olhos, mas não consegui dormir por um tempo. Porque eu conhecia esse tipo de homem. E conhecia a minha esposa. O Lucério era um mestre do xadrez e a Jéssica, por mais brilhante que fosse, tinha uma coisa que a deixava vulnerável:
Ela era teimosa e orgulhosa demais para aceitar que podia estar sendo enganada.
PRAZO PARA O FINAL DA APOSTA ENTRE JÉSSICA E LUCÉRIO: 2 meses e 2 semanas.
Pois bem, leitor. Nos próximos capítulos, vamos ter começar a apresentação dos primeiros pretendentes a namorado da Lisandra, a volta das odaliscas do harém do sheik Rogério e a noite que o Lucério resolveu jantar lá em casa e o que ele está aprontando. Além do plano maluco da Jéssica para salvar o casamento do Carlos e da Odete, uma “viagem double date” e um maluco querendo comer tanto a Jéssica quanto eu(!).
Coloquem nos comentários para o que vocês torcem que aconteçam nos próximos capítulos. Daqui a duas semanas, teremos a continuação.