O acidente que mudou a minha vida - Cap. 1

Um conto erótico de Pedro
Categoria: Gay
Contém 991 palavras
Data: 30/06/2025 01:36:24
Assuntos: Gay

Por se tratar de uma história real, todos os nomes dos envolvidos serão preservados e substituídos por nomes fictícios. Sempre admirei muitas das histórias compartilhadas aqui, e hoje decidi começar a contar a minha. Admito que, mais do que um relato, isso é um desabafo, porque estou vivendo tudo isso sozinho, em meio a um verdadeiro turbilhão de sensações.

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Era madrugada. E, como toda boa madrugada em Salvador, o vento soprava úmido da orla, e a cidade parecia querer descansar de si mesma. Era 4 de maio, já passava de duas da manhã, quando um acidente absolutamente idiota, mas estranhamente marcante, virou a chave da minha vida de uma maneira que eu ainda tento entender.

Me chamo Pedro. Tenho 35 anos, sou engenheiro civil, baiano, morador do Itaigara. Tenho 1,81 de altura, corpo bem cuidado, construído com disciplina e treino. Faço artes marciais há anos, gosto de manter o físico em ordem, o rosto limpo, a barba sempre baixa, mas presente. Corte militar, olhos castanhos claros. Me considero um cara que se cuida, que sabe se portar. E por fora, tudo sempre esteve no lugar.

Naquela noite, voltava pra casa com dois amigos: Fernando, 28, e Ricardo, 26. Além de colegas de trabalho, são parceiros de verdade. Temos uma amizade leve, e como moramos no mesmo condomínio, às vezes revezamos o carro. Aquela noite era minha vez no volante, e seguimos na minha Hilux SW4, deixando o Rio Vermelho pra trás.

Eu estava sóbrio. Eles não. Estavam na energia da noite, das piadas soltas, dos olhares trocados com desconhecidas no bar. São bonitos, livres, acostumados a conquistar e a complicar a vida alheia. Eu, por outro lado, sou casado. Tenho dois filhos. Uma vida estruturada. Uma vida que, desde cedo, aprendi a respeitar.

Fui criado num ambiente tradicional. Pais religiosos, princípios rígidos, um certo medo silencioso de quebrar as expectativas. Nunca fui de sair da linha. Nunca trai. Nunca explorei desejos que, sim, existiram mas sempre guardei a sete chaves. Envolver-me com outro homem nunca foi uma possibilidade, embora às vezes a ideia surgisse. E eu empurrasse pra longe, como quem afasta uma faísca antes que vire incêndio.

Seguíamos pela orla. A cidade vazia, adormecida. O silêncio era quase terapêutico. Até que o inesperado aconteceu.

Parei num semáforo, e num piscar de olhos, uma moto surgiu pela lateral. Sem frear direito, derrapou, perdeu o controle e caiu ao lado da minha porta. A batida foi leve, mas suficiente pra gelar o corpo. O piloto tombou pro meu lado, e a moto escorregou para o outro.

Na hora, meus amigos desceram do carro irritados, prontos pra tirar satisfação. Eu respirei fundo. Estava tudo muito rápido, muito fora do ritmo. A pista estava vazia, só uns curiosos parando pra ver a cena. Mas eu só queria entender o que tinha acontecido.

O motoqueiro se levantava com certa dificuldade. Usava roupas escuras, uma jaqueta fechada, e o capacete vermelho destacava-se na noite. Parecia um personagem saído de uma série da Marvel, desses que ninguém espera encontrar numa avenida quase deserta. A moto era grande, imponente. Depois soube que era uma CBR650, Fernando reconheceu. Eu, sinceramente, nunca entendi de motos.

A confusão ainda fervia quando o cara tirou o capacete. E eu travei.

Ele era jovem. Mais novo que eu, sem dúvida. Barba rente, cabelo escuro e um pouco longo, com fios bagunçados caindo sobre a testa. Os olhos escuros, intensos, estavam úmidos. Chorava. Mas não era por causa da queda. Aquilo vinha de antes.

— Tá maluco, porra?! — Ricardo gritou.

— Calma. Baixa a voz — interrompi, firme, mas sem elevar o tom.

Cheguei mais perto. O cara respirava rápido, ainda assustado. Tirou um óculos da jaqueta, colocou no rosto e tentou recuperar o equilíbrio emocional. Pedi que ele colocasse a moto no acostamento, e eu fiz o mesmo com o carro. Não havia razão pra obstruir a pista. A última coisa que eu queria era chamar atenção de uma viatura.

— Me desculpa, de verdade — ele falou, com um ar quase desesperado. — Perdi o equilíbrio. Tô passando por uns problemas... saí de casa transtornado. Não quero envolver polícia nem nada. Meu nome é Daniel.

Estendeu a mão. Eu apertei.

— Pedro.

A mão dele era firme. A minha também. Mas havia algo naquele gesto... um tipo de contato que ficou. Que ficou demais.

O carro mal tinha sido danificado. Um arranhão superficial. Um polimento resolvia. Meus amigos, agora mais calmos, se desculparam. Daniel também. Ele parecia mais sereno, mas ainda com o olhar distante, como quem não voltou completamente ao presente.

— Madrugada dessas, ninguém resolve nada — eu disse. — Melhor a gente seguir, trocar contato e conversar depois.

— Claro. Aqui... — Ele puxou um cartão de visita da carteira e me entregou. “Daniel Oliveira – Advogado”.

Por algum motivo, sorri. Um gesto involuntário. E guardei o cartão no bolso, como se fosse mais do que um cartão.

Já dentro do carro, Fernando e Ricardo me esperavam. Eu me despedi. Daniel respondeu com outro aperto de mão, mais firme do que o primeiro. E eu, por reflexo, segurei por mais tempo do que precisava. Nossos olhos se cruzaram. Por um segundo, tudo parou ali. Foi estranho. Incômodo. E ao mesmo tempo, magnético.

— Vai conseguir chegar em sei lá onde você esteja indo? — perguntei.

— Sim... o susto me trouxe de volta pra realidade. Obrigado pela compreensão. Me manda mensagem pra gente resolver isso direito.

Ele sorriu de leve. E esse meio sorriso, despretensioso, ficou preso em algum lugar dentro de mim.

Voltei pro carro. Os meninos comentaram sobre como aquele tinha sido o acidente mais bobo que já presenciaram. E realmente foi. Mas dentro de mim, não era só isso.

Chegamos ao condomínio. Cada um pro seu bloco. E eu subi, com a chave na mão e a cabeça longe.

Na palma da minha mão ainda parecia existir a sensação do aperto dele. E na mente, uma pergunta que eu tentava não fazer:

Por que aquele olhar ainda tava em mim?

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Continua...

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Comentários

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Adorei. Escrita excelente. Pode mandar mais kkkkkk.

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