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Arrumamos tudo mais tarde e percebo que foi um erro ter dormido nua no sofá, pois acordo com a garganta arranhando. Se Deus quiser não será nada.
Mamãe agradece a Amanda por tudo, não só como babá, mas como amiga e estudante de psicologia. Dessa vez não tem o papo delas na cozinha. Eu e meu irmão também nos despedimos da nossa "babá". Mais um pouco e teria choro.
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Depois que ela vai embora, mamãe se troca e aparece com um pijaminha de seda. Normalmente ela só usa isso dentro do quarto.
- Antes que pergunte: cansei de ser a única passando calor nessa casa. Não foi você mesmo que disse: ‘Só os homens podem?’. Larguei de ser boba.
Considero a resposta dela meio reativa demais, mas prefiro não comentar. Só faço um comentário:
- Logo hoje que esfriou?
- Esfriou? Nesse calor infernal? Filha, você está com febre?
Ela bota a mão em minha testa e diz que não. Comento que realmente acho que estou começando a ficar gripada.
- Nem vem com esse papo só para me tapear, filha. E amanhã eu tenho uma surpresa relacionada a sua escola que você vai adorar.
Explico que não é desculpa, que realmente estou me sentindo gripada. Ela então ralha comigo por eu viver andando descalça em casa, inclusive agora (se o problema fosse só o chinelo, estaria bem…).
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No outro dia, na escola, me sinto péssima. A gripe me pegou. Até tomo um remédio na direção.
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Se tudo não estivesse ruim o suficiente, qual carro eu vejo estacionado na esquina quando saio?
- Mãe? O que você está fazendo aqui? A direção ligou para você?
- Surpresa! – ela diz.
Entro no carro sem entender, mas pelo menos sei pelo tom dela que não aconteceu nada grave.
- Você não deveria estar trabalhando?
- Essa é a surpresa! Agora estou dando aula no colégio do seu irmão, então consigo levá-lo de manhã cedo e ainda lhe dar carona à tarde, já que é bem mais perto que meu antigo trabalho. Não é ótimo? Agora você não precisa mais pegar ônibus.
- Era só meia hora de ônibus, mãe – digo.
- Eu achei que você ia amar voltar para casa de carro, filha. Guardei segredo desde ontem e nem te contei que ia levar seu irmão hoje cedo, só para ver sua reação, e você reage assim?
- Desculpa mãe. Eu amei. Estou meio desanimada porque estou gripada – falo.
(Não menti, mas o que mais me desanima é perceber que eu e meu irmão não teremos mais o tempo a sós no final da tarde e começo da noite).
Minha mãe olha preocupada para mim e coloca a mão na minha testa, enquanto a outra está no volante.
- Filha, você está ardendo em febre! Não devia ter te mandado para a aula. Eu achei que ontem você estava só me gozando por causa do pijama...
- Está tudo bem, mãe. Na verdade eu piorei de verdade agora à tarde, não estava tão ruim antes – amenizo, vendo sua cara de pesar e também relaxada de antialérgico que me socaram na escola.
- Nós deveríamos nos escutarmos mais… EU deveria escutar mais vocês. Foi o que combinamos… - ela diz, mais para si mesma.
- Relaxa, mãe – comento com voz fanhosa. – Você trabalha muito, tem muita coisa na cabeça. Que bom que agora você também poderá voltar mais cedo para casa.
Dou um tapinha em seu ombro.
Ela passa a mão na minha cabeça, carinhosa.
- Benza a Deus eu ter filhos tão maravilhosos…
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Minha mãe, exagerada, entra comigo no apartamento me apoiando pelos ombros, como se eu tivesse algum problema de mobilidade.
Meu irmão descamisado logo que me vê se levanta do sofá e vem perguntar o que aconteceu. Fico um pouco derretida com sua preocupação. Dona Juliana diz que estou doente e manda ele calçar um chinelo. Aproveito o papo e me desvencilho um pouco dela, emendando que posso passar gripe para eles.
Ela me ajuda a ir até meu quarto, trocar o uniforme e me deitar na cama. Mede minha temperatura com o termômetro e confirma que estou com febre.
Após me dar alguns remédios, dizendo que se eu não melhorar terá que me dar antibiótico, digo a ela pada ir se trocar e tirar o sapato do trabalho. - Estou bem.
Mamãe pede para meu irmão “me vigiar” (?) enquanto isso.
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- Já soube da novidade? – digo, baixinho, aproveitando o momento a sós com ele. Ele sacode a cabeça em sinal afirmativo, também desanimado.
- Acabou nosso clubinho da tarde – ele diz.
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Mamãe volta de camisola e meu irmão nem disfarça.
- O que foi? – ela fala meio encabulada, pois o Pedro fica encarando a roupa dela.
- Nada – ele responde, também constrangido.
Após mais alguns cuidados de sempre de quando eu ou meu irmão estamos gripados (VickVaporub, pano úmido com álcool embaixo do braço, etc), ela apaga a luz e me manda repousar.
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Mais tarde, dona Juliana me dá uma canjinha de jantar e me deixa repousar mais um pouco.
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Horas depois, escuto a TV baixinha, e meu irmão chamar minha mãe. Me levanto na ponta dos pés embrulhada no cobertor. Se minha mãe me ver descalça me mata, mas o ciúme é mais forte.
Pela fresta da porta, vejo quando ela aparece na sala, com sua meia taça de vinho costumeira. Pedro está no sofá.
- Assiste um filme comigo, mãe? Como quando eu era criança, lembra?
Ela fica em dúvida um instante, mas depois se senta, na outra ponta do sofá. Daqui vejo as costas do assento.
- Fico morrendo de preocupação quando vocês estão doentes - ela diz.
- Eu sei. Eu também estou preocupado com a mana. É por isso que a gente tem que relaxar um pouco. Deixa eu te fazer uma massagem.
Ele se levanta por trás do sofá e vejo sua bundinha de costas.
- Acho um amor que desde pequeno você tem essa atenção quando ela está doente.
- Lembra também que eu te fazia companhia até tarde nas suas insônias?
- Claro. Era meu companheiro.
- Mas depois que eu entrei na adolescência, nunca mais fizemos algo assim. Você parece que se afastou de mim.
Minha mãe não responde por alguns segundos, mas desconversa em seguida:
- E você, não deveria estar na cama, menino? Não tem aula amanhã cedo?
- Vamos assistir um filme só hoje, mãe. Você nunca tem tempo mais cedo – ele fala, voltando ao sofá após a massagem e colocando uma almofada no colo. Pervertido.
Mamãe olha para ele de lado, com um meio sorriso desconfiado, e depois diz:
- Tá bom. Mas só dessa vez que estou boazinha e você me fez essa massagem. Também já estou um pouco culpada de ter mandado sua irmã gripada para a escola e agora você vem com esse papo de que eu fiquei fria na sua adolescência…
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Após alguns minutos com eles assistindo TV, quando resolvo voltar para a cama, minha mãe pausa o filme. Volto para escutar.
- Filho, me diz uma coisa. Nós estamos sendo sinceros uns com os outros como combinamos, certo?
Ele balança a cabeça.
- Então...Desde aquele dia, vocês dois nunca… Você não sente nada por ela, né?
Gelo no meu quarto. Puta que pariu. Meu irmão demora a responder. Responde logo que não, idiota!
- Não, nunca mais fizemos nada – ele fala, por fim. - Você sabe disso, até colocou uma babá para nos vigiar.
- Não me faz ficar mais culpada, filho.
- Só que se eu disser que não sinto nada por ela, estarei mentindo.
- Mas… você sente algo normal de irmão, né? – ela diz, vacilante.
- Tá vendo? Não dá para ser sincero com você.
- Está certo filho, tem razão. Isso ainda é muito difícil para mim. Na minha criação, seus avós não aceitavam uma resposta minha. Era só "sim senhor, sim senhora". Por isso quis me casar logo e sair de lá. Pode ser franco comigo. O que você sente?
- Bem… não sei se é algo normal...
Mamãe fica muda. Parece arrependida da pergunta.
- Tem mais uma coisa... – ele diz por fim. Mamãe o encara apreensiva.
- Não é só pela Camila que eu sinto algo estranho...
- Por quem mais? – pergunta minha mãe vacilante, após uma pausa.
- Não consigo dizer... – ele responde. Minha mãe o encara firmemente por um tempo, mas sem dizer nada, e dá o play no filme novamente.
Após alguns minutos, vendo que não acontecerá mais nada, volto para minha cama e logo durmo.
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No outro dia cedo, minha mãe me deixa o número da portaria e de uma vizinha, para caso eu precise, e me diz para colocar os alarmes no celular para os remédios.
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Depois do almoço nós dois enfim ficamos a sós quando mamãe volta ao trabalho.
Ele me conta o que falou com a mamãe ontem e diz exatamente o que eu já sabia.
Obviamente essa tarde juntos será totalmente “family friendly”, mas brinco com ele um pouco.
- Mano… Quero leitinho…
- Eu pego para você. Quer com açúcar?
Sua inocência é tão fofa que quase desisto da brincadeira.
- Não mano… quero daqui – digo, levando a mão à sua bermuda. Ele afasta o corpo e me olha reprovador. Sorrio.
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De noite, já me sinto bem melhor, só com um pouco de coriza e a garganta arranhando. Meu irmão e minha mãe assistem mais um filme.
Ele também faz novamente uma massagem em seus ombros. Ela fica tensa quando ele a toca, mas também ofegante. “Que mão forte filho”, deixa escapar. Pelo reflexo da TV, vejo ele se deitar no colo dela em seguida, levando cafuné. Não acredito que estou com ciúmes da minha mãe.
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No outro dia, acordo praticamente 100%. Mas não conto, para ganhar mais um dia sem aula. Quando eles chegam para o almoço, estou na sala assistindo TV. Para disfarçar, cubro as pernas com o cobertor e depois fico morrendo de calor.
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Mal minha mãe tranca a porta para sair de novo para o trabalho, arranco o cobertor e digo:
- Melhorei! É um milagre!
- Que coisa feia, matando aula – ele diz sentado ao meu lado. Faço careta para ele.
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Alguns minutos depois ele comenta, pousando a mão em minha coxa:
- Mas pelo menos temos a tarde inteira juntos…
Mesmo sentindo um arrepio no baixo ventre quando sinto seu toque, sou obrigada a recusar:
- Desculpa, mano. Ainda não estou no clima. Meu nariz está entupido e…
- Tudo bem, mana, isso mesmo, descanse. Falei por impulso.
Sorrio para ele.
- Mas a gente pode ver um filminho juntos, igual você com a mamãe… - digo.
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Enquanto assistimos, com minha cabeça no colo dele, tenho a vontade irresistível de torturá-lo um pouquinho. Fico acariciando sua perna e me remexendo em seu colo, em cima do seu volume. Ele, tenso, não me encosta um dedo. Que cavalheiro…
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Quando o filme acaba, uma animação da Disney que ganhou um live-action recente, me levanto e resvalo a mão por cima da sua rola sobre o short, como quem não quer nada. Finjo normalidade, me espreguiço e pergunto o que ele achou do filme. Ele engole em seco e tenta ser natural na resposta.
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Fazemos uma pausa para um lanche. Prestativo, ele prepara um misto para mim. Depois, voltamos a assistir. Na verdade, assisto cinco minutos e durmo em seu colo. Acordo com o barulho da porta de casa. Instintivamente me levanto do colo dele às pressas. Ele também parece que acabou de acordar.
- Pode ficar, filha – diz minha mãe, nos olhando de esguelha ao passar para guardar algumas compras. Continuo onde estou e meu irmão corre para ajudá-la.
- Melhorou? – ela pergunta depois, colocando a mão na minha testa para sentir. – Graças a Deus está sem febre.
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Quando minha mãe volta para a cozinha para lavar louça, digo:
- Irmão, acho que estou ficando dodói de novo.
Ele pausa a TV apressado e pergunta onde está doendo. Aponto para meu pescoço e falo, com voz manhosa:
- Aqui… Dá beijinho para sarar…
Ele logo entende minha intenção, após tê-lo instigado a tarde inteira, e se aproxima. Meu coração acelera.
- Deixa eu ver – ele diz, tirando meu cabelo do pescoço e me dando um beijo suave onde aponto. Fico toda arrepiada.
- E aqui... – digo, mostrando outro ponto do pescoço mais acima. Faço isso até chegar à minha orelha, que ele mordisca. Minha calcinha está úmida.
De repente, escuto um barulho. Meu irmão se afasta rápido e nos viramos para trás ao mesmo tempo, meu coração está a mil. Não vejo ninguém e o Pedro também não. Contudo, não ousamos mais arriscar essa noite.
Na hora de dormir, vejo que ela não assiste filme com ele dessa vez. Não sei se fico feliz ou apreensiva.
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No outro dia, acho ela um pouco fria ao me dar carona para a escola. Temo que ela tenha visto eu e meu irmão ontem, mas pode ser também só minha imaginação.
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Na volta, ela pergunta se eu não quero ir com a Wanessa no shopping, pois ela precisa passar lá perto mesmo. Estranho a oferta, mas não deixo passar. Corro para o ponto de ônibus próximo da escola onde Wanessa ainda está esperando. Ela entra no carro antes mesmo de mandar mensagem para a mãe para saber se pode.
Fico aliviada pois parece que está tudo bem com a mamãe.
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Mais tarde, quando ela nos busca no shopping, fico tensa novamente. Como eu a conheço bem, reconheço em seu rosto o nervosismo. Aconteceu alguma coisa, mas não sei se tem relação com ontem. Não falamos nada durante o trajeto.
Após deixar Wanessa e chegar em casa, vejo uma mensagem da Amanda no Zap.
- Sua mãe está bem? Foi para casa?
Respondo que sim, que ela acabou de me buscar no shopping. Pergunto o porquê.
- Porque estava com ela agora mesmo numa cafeteria. E vocês não vão acreditar no que aconteceu.
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